19- Teimosia

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Entrei no carro e pela primeira vez senti minhas mãos tremerem e minha perna fraquejar enquanto apertava o acelerador para dar a partida. A adrenalina começava a sumir do meu corpo e tudo que restava era o cansaço e as dores. Meu tornozelo doia como se tivesse sendo arrancado do meu corpo, minhas costas latejavam sem parar e eu podia sentir os pontos onde os futuros hematomas iriam aparecer. Aparentemente, desde que essa nova parte da minha vida surgiu, eu não passaria um mês com meu corpo intacto.

Quando estacionei em frente a garagem, senti meus olhos encherem-se de lágrimas e minhas mãos tremeram mais ainda, eu não iria conseguir caminhar até a porta. Encostei a cabeça no banco e respirei fundo. Eu não precisava de um ataque de histeria, era a última coisa que eu precisava para fechar o meu dia.

Fiquei por alguns segundos pensando no que deveria fazer, meu tornozelo estava definitivamente mais danificado do que naquela manhã, meu corpo todo latejava e eu sentia que minhas emoções sairiam do controle em poucos minutos. Onde eu estava me metendo afinal? Que tipo de vida era aquela? De onde haviam surgido aqueles ogros? E por que haviam atacado no colégio? O que, diabos, estava acontecendo com a minha vida?

Uma batida no vidro do carro fez com que eu pulasse assustada e agarrasse o volante com força. Meu coração batia forte contra as costelas quando olhei na direção do sujeito.

E, então... minha pulsação começou a diminuir quando meu cerebro registrou a figura de um homem moreno e alto sorrindo na minha direção. Guilherme.

- Oi. – falei abaixando o vidro do carro por inteiro.

- O que está fazendo ai dentro? – perguntou apoiando os braços cruzados na janela aberta.

- Pensando. – dei de ombros e sorri amarelo.

- Devo me preocupar?

- Depende do que você veio fazer aqui.

- Festa. – respondeu abrindo um sorriso que mexeu com meus nervos. – Temos uma festa para ir.

- Não estou muito no clima para festas. – encolhi os ombros fazendo careta. A última coisa que eu precisava naquele momento era ir para um lugar barulhento e cheio de pessoas.

- Não é como se você tivesse muita escolha. – comentou se afastando da porta e abrindo-a. – É aniversário do seu pai.

- Meu pai está de aniversário? Como só fico sabendo disso agora?

- Com os últimos acontecimentos acabamos esquecendo da data. – Guilherme estendeu a mão na minha direção e sorriu. – Será que Vossa Alteza me daria o privilegio de levá-la ao baile?

- Você está sendo engraçadinho. – retruquei ignorando a mão e saindo sozinha do carro.

Passei por Guilherme meio mancado e fui em direção a porta de casa.

- O que aconteceu com seu pé? – perguntou surgindo ao meu lado com a testa franzida.

- Meu pé está ótimo, meu tornozelo que está ferrado.

- O que houve?

- Uma longe história. – abri a porta de casa e fiz sinal para que ele entrasse. – Estou morrendo de dor nele, você consegue consertar com magia?

- Se não estiver inflamado eu consigo. – respondeu pegando meu braço e levando-me apoiada até o sofá. – Tire esse tênis e deixe eu ver.

Antes que eu pudesse fazer o que ele havia mandado, Guilherme já estava agarrando minha perna e tirando meu tênis para analisar o estrago. Ele virou meu pé de um lado para o outro e correu os dedos de leve pelo meu tornozelo. Claro que era preciso um raio-x para saber como estava meu tornozelo por dentro, mas Guilherme e Damen – ou qualquer outra pessoa com domínio de magia – parecia ignorar esse detalhe e tratavam tudo como se fosse apenas um ralado no joelho.

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