11 - A visita

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Ignorei totalmente o fato de que um príncipe destinado ao trono de outra dimensão me seguia pela estrada junto com os guardas até a casa de Damen. Eu não o queria ali, mas sabia que brigar só iria fazer com que ele ficasse mais, então, optei pela tática de ignorá-lo. Ele era um monarca importante e, até onde eu havia observado, os monarcas importantes não gostavam de ser ignorados por ninguém. Eu queria ver até onde Declan conseguia ir sendo completamente ignorado.

A estrada para casa de Damen passava longe da aldeia. Ele morava em um lugar isolado do resto do mundo, protegido por nada mais do que um muro que alcançava os meus joelhos e um cachorro que nunca estava por perto. E naquele momento não era diferente.

Entreguei Juvel para um dos guardas e deixei que eles formassem a costumeira barreira de proteção ao redor da casa antes de bater na porta. Eu não gostava de ser escoltada, mas já havia percebido que ninguém no castelo abriria mão de me ter vigiada o máximo possível enquanto estivesse em Fantasiverden – eu não duvidava nada de que fosse seguida secretamente na Terra também.

Declan desceu do cavalo e parou ao meu lado na porta. Toquei a campainha e Damen a abriu com seu sorriso de sempre. A reação de Declan a Damen foi a mesma que todas as pessoas tinham. Ele deu um passo para trás ao olhar os olhos violetas e me puxou pelo braço junto.

- Toque em mim outra vez e você vai perder a mão. – avisei puxando meu braço com força.

- Oi, Alie. – cumprimentou Damen avaliando o homem parado ao meu lado. – Quem é esse?

- Príncipe Declan Rocci de Squamaeigrae. – apresentou-se Declan recuperando-se do choque.

- Alteza. – cumprimentou Damen com uma reverência.

- Ignore ele. – falei passando ao lado de Damen e entrando na casa.

- Princesa Alicia e eu tivemos alguns desentediamentos. – explicou Declan quando Damen ergueu uma sobrancelha na minha direção. – Acredito que logo vamos nos resolver.

- Papai quer que eu me case com ele. – expliquei mal-humorada.

- Ahhhh! – exclamou Damen compreendendo a situação.

- Onde está Eric? – mudei de assunto antes que qualquer um pudesse comentar mais alguma coisa.

- Brincando na sala. – respondeu Damen fazendo sinal para que Declan entrasse.

- Ela não aceita bem ordens. – comentou Declan enquanto Damen fechava a porta.

- Você não viu nada ainda. – resmungou Damen divertido.

Ignorei os dois e fui encontrar a criança que havia transformado Damen em pai. E foi impossível não sorrir quando entrei na sala e me deparei com a nova decoração do lugar. O sofá de couro preto estava coberto de tinta vermelha e pedaços de soltados de chumbo espalhado por toda a parte.

- Onde é a guerra? – perguntei interrompendo a brincadeira de Eric.

- Tia Alie! – gritou soltando a cabeça de um boneco sobre o sofá e correndo para me abraçar.

- Eric! – exclamou Damen entrando atrás de mim. – O que nós conversamos sobre estragar os móveis?

- Houve uma explosão, papai. Todo um batalhão foi pelos ares. Buuum! – imitou Eric arremessando mais uns pedaços de brinquedo pelos ares.

- Você está de castigo por estragar o sofá. – anunciou Damen recebendo um bico de choro em resposta. – Pode ir para o seu quarto.

- Desculpe, papai. – murmurou Eric se afastando de cabeça baixa.

- Como você consegue brigar com esse serzinho, Damen? – falei observando Eric deixar a sala de cabeça baixa.

- Você o mima demais. – resmungou Damen fazendo o sofá voltar ao normal e indicando para que sentasse. – Ele precisa aprender desde pequeno as conseqüências das suas ações.

- O poder não vai subir a cabeça dele, Damen. – falei pegando suas mãos na minha. Eu conhecia os medos de Damen quanto ao filho. – Ele tem você para guia-lo e toda a minha família o adora, vai sempre ter uma base forte para impedir isso.

Damen assentiu com a cabeça aceitando minha afirmação e continuou:

- Às vezes vejo Clemency tão nitidamente nele que isso me assusta.

- Ele não é a mãe dele. E nunca vai ser.

Um silêncio preocupado se instalou na sala por alguns segundos antes de ser quebrado pela voz de um certo príncipe que eu já havia esquecido da existência.

- Gosta de crianças, Alie?

- Alteza, para você. – respondi desviando o olhar de Damen para Declan. – E sim, gosto de crianças.

- Temos muitas crianças em Squamaeigrae. – informou.

- Bom para vocês. A taxa de natalidade deve ser boa, mas isso não me interessa. – respondi ríspida.

- Vai interessar quando for minha rainha.

Senti o sangue circular mais rápido pelo meu corpo, senti minhas bochechas esquentarem e precisei fechar os punhos para não pular no pescoço daquele príncipe folgado ali mesmo. Demonstrações de violências não era a coisa certa em um ambiente onde havia crianças, principalmente onde havia crianças com um bom potencial de matar.

- Não vou ser sua rainha. – falei após respirar fundo. – Não vou ser a rainha de ninguém. Nunca mais repita isso se você aprecia ter sua língua dentro da boca.

Declan ergueu uma sobrancelha na minha direção sem perceber o perigo em que estava se colocando. A única coisa que me impediu de enfiar um soco naquele nariz aristocrático foi a mão de Damen que pousou delicadamente no meu braço e me lembro de onde eu estava e que violência não iria resolver nada.

- Desculpe, Damen, acho que preciso encurtar minha visita. – levantei do sofá controlando minha respiração e evitando olhar na direção de Declan. – Estou muito perto de cometer um homicídio e prefiro que você e Eric não sejam testemunhas disso.

- Acompanho vocês até a porta. – falou acenando em compreensão.

- Não precisa. – beijei seu rosto e completei: - Conheço o caminho e acredito que o príncipe de Squamaeigrae vai me seguir de qualquer forma.

Deixei a sala sem ser seguida pelos passos de Declan e ouvi sua voz ao fundo junto ao meu bruxo favorito.

- Ela é um pouco arisca, mas eu gosto disso.

- Cuidado com o que você fala, ela tem ouvidos de dragões. – avisou Damen.

- Não acho que ela faria outra coisa além de tentar me atingir com palavras.

- Só um aviso: ela é ótima com a espada e com as facas, e a magia com certeza é seu forte. – contou Damen com um tom orgulhoso.

- Tomarei mais cuidado a partir de agora. – respondeu arrogante.

- Como eu o odeio. – murmurei deixando a casa e montando em Juvel. – Para o castelo.

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