7 - De volta para casa

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Assim que meus pés tocaram o chão frio do meu quarto foi como sofrer um choque de realidade. Eu estava outra vez em casa. No meu quarto, com as minhas coisas e o cheiro de lar tomava conta de tudo. Infelizmente, meus pés não tocaram o chão com delicadeza. Foi como ter aterrissado sem pára-quedas e sem nada para amortecer a queda. Senti meus ossos vibrarem com o impacto e rolei pelo chão jogando a cama contra a parede.

- Você poderia ter sido mais delicado, não? – murmurei sentando-me e sentindo minha cabeça girar.

- Você tem sorte de ter conseguido chegar aqui com o seu coração batendo. – resmungou em resposta e se colocou de pé.

- Muito obrigada? – falei levantando e sentindo meu tornozelo falhar. – Ai!

- Você está bem? – Guilherme parou ao meu lado e seus olhos foram de cima a baixo analisando-me a procura de algum ferimento.

- Devo ter torcido meu tornozelo na queda.

- Me deixe ver o estrago. – ele conduziu-me até a cama e ergueu meu tornozelo analisando. – Um saco de gelo e um pouco de descanso pode resolver isso.

- Devo ter algo na cozinha para isso.

- Deixe-me ver o restante.

- O restante?

- Os outros machucados. Você foi arremessada no ar e rolou escada abaixo, duvido que apenas seu tornozelo esteja machucado.

- Também duvido disso. – concordei começando a sentir meu corpo latejar tardiamente.

Guilherme analisou minhas costelas que estavam doloridas, mas não quebradas; meus joelhos que estavam ralados, mas nada que uma pomada não resolvesse; meus braços que estavam com arranhões, mas nada que uma semana sem pegar sol não curasse; em geral, eu havia sobrevivido muito bem a uma "luta".

- Acho que esses machucados podem servir de lembre para a próxima vez que você ouvir uma Encantada cantando. – concluiu assim que finalizou o "exame".

- Encantada?

- Sim. Aquilo que você ouviu era uma Encantada cantando, elas usam a melodia da voz para atrair as pressas.

- Como as sereias?

- Exatamente. Na verdade, sereias e as Encantadas são basicamente a mesma coisa, nomes diferentes para culturas diferentes, mas tem o mesmo poder. São raras fora da água, mas algumas conseguem passar algum tempo em terra para fazer um estrago.

- Acho que minha cabeça está começando a latejar. – murmurei fechando os olhos.

- Você bateu a cabeça? – perguntou Guilherme já começando a analisar meu couro cabeludo.

- Provavelmente, mas não é por isso que ela está doendo. – falei afastando as mãos dele. – Muita informação que se choca contra a minha realidade. Isto está fazendo minha cabeça doer.

- Bem, você vai ter que se acostumar, porque tem muito mais informações que você precisa saber. – revelou afastando-se um passo e colocando as mãos nos bolsos.

- Tipo o quê?

- Vamos deixar isso para quando sua cabeça não estiver doendo. – um sorriso lento começou a surgir naquele rosto moreno e senti meu coração acelerar a batida. – Essa roupa fica bem em você.

O comentário me pegou desprevenida. Minha roupa? Do que ele estava falando? Foi quando olhei para baixo e constatei que o vestido antiquado e maravilhoso havia sumido e minha calça jeans e blusa haviam retornado.

Revirei meus olhos para o comentário e comecei a levantar da cama lentamente. Meu tornozelo ainda doía e acabei me desequilibrando, atirando-me nos braços do homem que havia me salvado há poucos minutos.

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