16- Novas pessoas

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 O sono estava tão bom que quando senti as cobertas sendo arrancada de cima do meu corpo, rolei para o lado e escondia a cara no travesseiro. Eu não queria levantar ainda.

- Só mais cinco minutinhos e já vou, mamãe. – resmunguei contra a fronha.

- Teria sorte se fosse sua mãe. – respondeu uma voz masculina grave.

Ergui um pouco a cabeça e abrindo um dos olhos encarei a figura enorme do meu primo.

- O que está fazendo aqui? – perguntei voltando a enterrar a cara nas cobertas.

- Sequestrando você. – respondeu agarrando meu tornozelo e puxando-me para fora da cama.

- Estou acordada! Estou acordada, caramba! – falei ficando de pé rapidamente antes que ele resolvesse me colocar sobre o ombro e carregar-me pela rua. – Não precisava dessa grosseria toda.

- Bem, você é minha carona para a escola, o mínimo que podia fazer era acordar você. – ele sorriu inocente e ergui uma sobrancelha questionadora.

- Onde está seu carro?

- Na oficina. – respondeu alargando ainda mais o sorriso.

- Por que...?

- Porque bati em uma árvore com Brina no domingo. – respondeu dando de ombros. – Se tivesse ido para aula ontem, você saberia disso.

- E por que eu sou sua carona e não Brina?

- Ela tem medico hoje. – ele deu de ombros novamente. – Vá se trocar antes que fique tarde.

Ele agarrou meu braço e basicamente arremessou-me para dentro do banheiro e fechou a porta. Não vendo um modo de escapar dali, comecei a me arrumar admitindo minha derrota. Meu querido primo podia ser um brutamonte quando queria.

Por fim, acabei virando a motorista particular de Otavio. O levei para aula, para casa depois da aula, para o treino da tarde e por fim o deixei na concentração antes do grande jogo da final. E já que estava por ali, não fazia sentido ir para casa e depois voltar. Arrastei-me até a arquibancada e sentei esperando, pacientemente por Brina.

Enquanto aguardava minha melhor amiga chegar, deixei minha mente aberta para tudo que estava em volta. Os pensamentos de pessoas aleatórias começaram a entrar na minha mente até que um em especial chamou minha atenção. O meu nome refletia como um letreiro de Las Vegas naquela mente. Virei para trás e procurei de onde vinham aqueles pensamentos nada lisonjeiros para que pudessem ser bem aproveitados. Meus olhos caíram sobre um garoto alto e negro, os olhos de um escuro profundo que analisavam sem disfarçar a minha pessoa. Senti um arrepio subir pelo meu corpo, mas não um arrepio de medo, um arrepio de excitação. Aquele garoto era o meu alvo do dia.

Antes que tivesse a chance de fazer algo a respeito, meu nome foi gritado do outro lado da arquibancada e virei na direção com um sorriso nos lábios. Aquele dia estava ficando interessante. Brina aproximou-se toda sorridente e envolve-me com seus braços quentes. Eu não queria saber o que se passava na cabeça de Brina, mas era difícil não ouvir os pensamentos controversos a àquele sorriso alegre.

Virei na direção da minha amiga espantada. Ela estava de brincadeira, certo? Brina não estava mesmo achando que aquilo era uma possibilidade. O nervosismo dela estava muito bem disfarçado pelos gestos alegres, mas mesmo que não pudesse ler sua mente, eu saberia que havia algo de errado. E era algo grande.

- Tem algo para me contar, Brina? – perguntei desligando minha mente por alguns minutos do rapaz atrás de nós.

- Além de que já sei o resultado desse jogo? – ela sorriu animada e voltou os olhos na direção da quadra quando as lideres de torcida entraram com suas fantasias minúsculas e seus saltos exagerados. – Acho que não.

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