1 - Alicia Faller

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Vamos começar essa história avisando que não sei como ela termina e espero que seja de um modo bom para todos os envolvidos. Eu não esperava por nada do que veio a acontecer e acredito que não vou estar preparada para os eventos futuros também. Foi como ser pega no olho de um furacão e eu não sei como ou se vou sair dele. Só tenho que rezar e pedir aos céus que tudo não passe de uma alucinação, apesar de saber que nada disso é irreal, que tudo é de verdade e que de alguma forma tenho que aprender a conviver com isso.

Mas tudo bem, vamos começar isso antes que você desista de mim antes de me conhecer melhor.

Tudo começou no meu aniversário de dezessete anos. Por que nesse aniversário justamente? Por que aos dezessete anos? Eu não faço ideia e nunca me explicaram se havia alguma razão ou foi apenas quando o destino resolveu bagunçar toda a minha vida e me jogar contra essa parede imaginaria de caos e loucura. Pois bem, foi no meu aniversário de dezessete anos quando eu estava voltando para casa.

Era para ser uma semana de aniversário normal como acontecia desde pequena. Eu nunca comemorava apenas um dia, eu ganhava uma semana toda ao meu dispor e ao fazer dezessete anos não seria diferente, ainda mais, sendo o ultimo ano do Ensino Médio. Eu tinha que aproveitar ao máximo cada segundo antes de cair na vida de adulto.

A princípio, eu não percebi nada fora do comum. Tudo estava normal e eu era normal, quer dizer, não exatamente normal pelo que eu podia perceber, mas minhas pequenas diferenças nunca haviam se mostrado indesejadas até o momento. Mamãe costumava brincar que nenhum segredo de estado poderia ser dito no raio de 5 km de onde eu estava, pois eu iria escutar. Havia algo de anormal – para dizer o mínimo – sobre minha audição. Por algum motivo desconhecido, eu conseguia captar os menores sons a quilômetros de distância. Sempre foi assim desde que me lembro por gente e isso nunca foi um problema. Meus exames médicos eram perfeitos e não havia nada de anormal com o funcionamento do meu cérebro, minha "super audição" era apenas um dom que eu tinha.

Veja, eu aqui falando sobre minhas anomalias e não falei meu nome ainda. Eu recebi meu nome em homenagem a minha avó paterna – diga-se de passagem, que eu nunca a conheci -, ela havia sido uma grande mulher em algum lugar que eu não fazia ideia de onde e pelo modo como mamãe desconversava sempre que eu perguntava, ela também não devia saber. Então, acredito que ela não deva ter sido uma mulher também importante assim. Enfim, estou divagando. Meu nome é Alicia Faller.

Como eu recebi o nome da minha avó paterna seria de se acreditar que eu, ao menos, conheço o meu pai. A triste verdade é que não. O Senhor Dono do Espermatozoide nunca deu as caras na minha vida, nem mesmo um cartão de feliz aniversário. Se ele é alto? Eu não sei. Se ele amava mamãe? Não faço ideia. A única coisa que eu tenho certeza é que ele tem olhos verdes que parecem terem sido feitos com esmeralda. Como eu sei disso? É o mesmo tom de verde que vejo todo dia no espelho quando acordo pela manhã. 

Apesar de não conhecê-lo, não fique achando que sou uma adolescente traumatizada e que a falta de um pai criou espectros de dor dentro de mim. Sou do tipo de pessoa que acredita que você não pode sofrer uma perda por algo que nunca teve, então, não conhecer meu pai era apenas um fato sobre minha vida. Mamãe era tudo que eu precisava e sempre houve mais do que amor suficiente na minha vida.

Agora vou contar um fato engraçado, apesar de não conhecer meu pai e nunca ter tido nenhum contato com ele, minha família paterna não era completamente ausente na minha vida. Havia uma pessoa que fazia meus dias melhores e era a melhor companheira de compras do mundo: tia Bea. Sei que parece estranho, mas Bea é irmã do meu pai e pelo que já escutei de conversas na minha infância, eles são consideravelmente próximos um do outro. Toda vez que eu insistia em conhecer meu pai ou saber um pouco mais dele, a única coisa que ela falava era:

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora