Coração Azul

19 - Almoço real

Fui acordada com uma batida na porta. Sentei-me com as costas um pouco dolorida por ter dormido no chão duro. Mais uma vez houve a batida na porta.

- Declan. – chamei baixinho.

- Hm? – respondeu um pouco sonolento virando para onde eu estava.

- Declan, estão batendo na porta. – e, como para confirmar o que eu havia acabado de falar, outra batida.

- Suba para a cama e traga o cobertor junto. – ordenou e me vi indo para o seu lado na cama.

Outra batida.

- Entre. – ordenou Declan passando um braço nos meus ombros.

- O almoço está pronto, Vossas Majestades. – anunciou uma criada sem olhar para nós.

- Já estamos indo, Keile. – respondeu Declan.

- Com licença. – disse a criada e depois saiu do quarto com uma reverência.

- Já pode tirar seu braço dos meus ombros. – informei quando a criada fechou a porta.

- Se vista e vamos almoçar. – ordenou levantando da cama.

- E se eu quiser ir de pijama? – indaguei observando-o tirar a camiseta do pijama.

- Se vista, por favor, temos convidados hoje. – contou colocando roupas estilos a que se via nos filmes de reis.

- Onde está meu jeans? – perguntei abrindo o armário onde minhas coisas deveriam estar. – Só estou vendo meus vestidos.

- Deixe-me explicar novamente: época medieval. Não usamos jeans ou mulheres fazem trabalhos considerados masculinos. – respondeu penteando os cabelos para trás e depois colocando a coroa.

- Vou ter que usar os espartilhos apertados todos os dias?!

- Vocês, mulheres da Terra do século XXI, já sofreram coisas piores do que usar espartilho. – comentou tirando um dos meus vestidos de dentro do guarda roupa e me entregando.

Observei o vestido rosa escuro com alguns brilhos no corpete e depois entrei no banheiro para vesti-lo. Ainda com o mau-humor que me restava depois de ter dormido mal em um chão duro, ser acordada apenas para avisarem que o almoço estava pronto e descobrir que estou proibida de usar meu jeans convencional, saí do banheiro puxando minhas madeixas loiras para trás e colocando a coroa de forma que prendesse minha franja.

Declan me esperava sentado na cama olhando para um ponto fixo que tentei ver o que era, mas quando comecei a seguir seu olhar, ele notou minha presença e desviou os olhos para mim. Com um revirar de olhos para o sorriso que ele abriu ao me ver, deixei quarto olhando para os lados tentando adivinhar para onde deveria ir. Se eu ainda estivesse em Fantasiverden eu não precisaria parar para pensar, teria apenas que seguir os sons e cheiros, mas como ali eu não estava familiarizada com nenhum dos dois tive que esperar Declan me alcançar no meio do corredor e segurar meu cotovelo, guiando-me para onde às pessoas nos esperavam.

Entramos na sala juntos e observei vários olhos curiosos virarem na nossa direção e as pessoas começaram a me avaliar de cima a baixo como se eu fosse um cavalo de premiação maior. Declan, ainda segurando meu cotovelo apenas com um pouco mais de sutileza do que antes, nos conduziu até uma cadeira de porte alto e veludo de um vermelho escuro. Ele puxou a cadeira e fez sinal para que eu sentasse.

Duas senhoras que estavam sentadas de frente para mim, observaram-me cuidadosamente parecendo criticar cada traço do meu rosto ou da minha pele até onde o vestido cobria. Declan lançou um olhar reprovador para as duas mulheres, mas nada disse. Sentou-se na cadeira da ponta da mesa perto a minha e sorriu como um verdadeiro rei para os convidados.