35 - De alguma forma, sangue do meu sangue

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Passamos aquele inicio de manhã abraçados e apenas ouvindo a respiração do outro. O som das respirações voltando ao normal era uma ótima canção de ninar que fez com que eu apagasse sem perceber.

Quando voltei a abrir os olhos naquela manhã, eu não tinha ideia de que horas eram ou se ainda era manhã, mas nada disso me importava. A sensação de moleza e satisfação que tomava conta do meu corpo era tão grande que demorei a perceber que Guilherme não estava mais deitado ao meu lado. Ele devia ter acordado antes e desceu para tomar café, conclui abandonando a cama e indo para o banheiro.

Tomei banho lentamente, aproveitando cada gota de água que caía sobre o meu corpo. Eu estava me sentindo tão leve e tão relaxada que poderia me desfazer em uma poça em qualquer segundo. Perdi a noção do tempo já havia se passado quando finalmente me vesti e deixei o quarto.

Caminhei em direção a cozinha torcendo para que algum dos homens-elefantes tivessem deixado alguma coisa separada para eu comer. E eu não fui desapontada. Assim que pisei na cozinha movimentada do castelo, Amarillo pegou uma bandeja e indicou uma mesa comprida no canto da cozinha. Sentei-me no meio de todo aquele alvoroço de cozinheiros e comi como se estivesse sozinha em uma enorme sala silenciosa.

Com o estômago cheio e feliz da vida com o rumo das coisas, saí a procura de alguém que pudesse me entreter. Eu sabia que papai não estava no castelo e nem tia Bea apenas pela quantidade de guardas que estavam espalhados pelos corredores – diminuía consideravelmente quando eles saiam com escolta. Talvez Ramon estivesse nos estábulos com Juvel ou algum outro novo recém-chegado que eu havia visto ser entregue algumas semanas atrás.

Encontrei Juvel dentro da sua baia mastigando calmamente alguma coisa que não consegui identificar. Os cavalos que puxavam as carruagens não estavam e mais alguns usados para montariam também não estava. Eram muitas baias vazias. Por quê? Eu nunca havia visto tantas baias vazias. Será que toda a Família Real havia saído e eu fiquei para trás? Guilherme estaria com eles?

- Ei, Juvel! – falei acariciando a crina macia dele. – Você acha que pode encontrar Ramon? Ou qualquer outra pessoa da minha família?

Eu tinha quase certeza que Juvel podia entender o que nós falávamos. Ele relinchou como resposta para a minha pergunta e resolvi que isso era possivelmente um sim. O levei para fora e montei.

Nenhum guarda iria me deixar sair sem supervisão, essa era a regra clara de papai. Nenhum membro da Família Real saía desacompanhado do castelo. Porém, eu não estava afim de esperar que alguém me acompanhasse, eles que corressem atrás de nós. Com um toque do meu calcanhar, Juvel disparou em direção ao portão principal que se encontrava aberto e partiu em direção a vila.

Pude ouvir os guardas gritando atrás de nós e o som de patas de cavalos batendo no chão vindo na nossa direção, mas não fiz nada para que Juvel diminuísse a velocidade. Deixei que ele corresse o quanto queria, fazendo meus cabelos voar com a velocidade e o ar cortar minha pele de uma forma prazerosa. Depois da noite passada, poucas coisas não seriam prazerosas naquele dia.

Como eu estava errada.

Era um caos completo.

Eu não sabia direito onde estava, mas Juvel diminuiu a velocidade e a multidão foi se abrindo a medida que o cavalo forçava passagem entre eles. Havia gritos e insultos sendo pronunciados por todos os lados, mas o que mais me chamou a atenção foi o nome de Ambika ter sido pronunciado. Ela estava ali? Era melhor eu ir embora se ela estivesse por ali.

Antes que eu pudesse agarrar as rédeas de Juvel e força-ló a dar a volta em direção ao castelo, a cabeça de papai surgiu e um circulo se abriu no meio da multidão. Saltei do cavalo indo em direção a minha família, mas perdi todo o meu foco quando vi o sangue no chão manchar meus sapatos. Senti uma mão se apoiar no meu ombro, mas ignorei e continuei na direção que o sangue surgia.

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