10 - Papai

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Abrir os olhos depois de não sei quantas horas dormindo, foi como voltar à vida. Meu corpo latejava em algumas partes, mas nada preocupante. Comecei a sentar lentamente na cama analisando o quarto ao meu redor.

Eu havia acordado outras vezes durante aquele sono de "descanso", mas nenhuma delas eu estava realmente acordada. Eu abria os olhos, registrava a presença da pessoa que estava próxima da cama e voltava a dormir. Nem todas às vezes eu conseguia reconhecer quem estava ao meu lado, mas naquele momento isso não importava muito – eu só queria dormir.

Observei o quarto ao meu redor e fui começando a ser tomada por uma realidade que antes não parecia existir. Aquele lugar, aquela esfera de luz, aquelas pessoas e aqueles ataques, eram de verdade. Não era apenas um fruto da minha imaginação e não era um sonho longo demais. Cada segundo daqueles últimos dias havia acontecido. Como eu ainda estava viva? Não fazia ideia.

Lembrando dos últimos acontecimentos, afastei as cobertas do meu corpo e fiz uma inspeção minuciosa do meu estado atual. Havia alguns arranhões e roxos, mas nada que pudesse causar uma hemorragia e me jogar morta no chão. Virei meu braço para ver o corte que havia sujado todo o banheiro de sangue na noite anterior e, não havia nada ali – nem mesmo uma linha fina indicando de que havia tido um corte profundo. Duas feridas vermelhas e pequenas cicatrizavam no meu pulso e, ao tocar nelas, eu podia reviver a sensação dos dentes de Miles contra a minha pele, começando a fazer pressão para alcançar minhas veias.

- Bom dia, Princesa Alicia. – cumprimentou alguém da soleira da porta fazendo-me dar um salto na cama. – Acho que alguém está realmente acordada, desta vez.

- Bom dia, Ramon. – devolvi com um sorriso ao reconhecer o meu mais novo primo.

- Como está se sentindo? – perguntou entrando no quarto e vindo em direção a cama.

- Por que não tenho pontos no braço? – questionei voltando a encarar onde devia ter alguma coisa que indicasse o ataque de ontem.

- Porque temos magia medicinal aqui. – respondeu dando de ombros. – É bem útil para ferimentos.

- Magia medicinal?

- Sim. – ele aproximou sua mão da minha testa e tirou minha temperatura. – Funciona muito bem em casos de traumas físicos, quase nenhum machucado é grave o suficiente que não possamos usar um pouco de magia para consertar. Claro, da forma correta. Infelizmente, ainda não aprimoramos a parte das doenças, então, é sempre bom ficar de olho no paciente depois que o curamos.

- Não vou dizer que entendo completamente, mas acho que entendo um pouco. – respondi sem querer mais detalhes sobre aquilo. Ainda era muita informação para a minha mente.

- Você vai se inteirar de tudo ainda, pode acreditar. – concluiu com um sorriso e estendeu a mão na minha direção. – Com fome?

- Faminta. – respondi ao perceber que de fato estava com muita fome.

- O café-da-manhã será servido daqui alguns minutos, por que não se troca e nos encontra no andar de baixo? – sugeriu indicando o banheiro. – Vou pedir para que alguém venha acompanhá-la até o salão de café-da-manhã.

- Um banho seria bom. – decidi agradecendo e vendo-o deixar o quarto.

Por sorte, quando saí do quarto, havia uma garota esperando-me do lado de fora do quarto. Ela fez uma mesura na minha direção e sorriu envergonhada quando a cumprimentei com um beijo no rosto e perguntando qual era o seu nome.

- Giovanna, Alteza. – respondeu sem levantar os olhos.

- Bem, Giovanna, eu estou faminta. Pode me mostrar onde está sendo servido o café-da-manhã?

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora