33 - O silêncio

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Nada. Nem um único som, um único suspiro interno, nenhum som que não fosse os meus próprios pensamentos. Não havia nada invadindo minha mente com palavras que não eram bem-vindas. Era reconfortante saber que eu estava sozinha dentro da minha cabeça, mas naquele instante eu queria pelo menos um sonzinho que não me pertencesse.

Tentei forçar minha mente, fechei os olhos com força e concentrei toda a minha energia nisso, eu queria ouvir um som, utilizar aquela droga de poder para algo útil para variar. Eu podia sentir as gotas de suar acumulando-se sobre a minha pele, meus cérebro começando a doer de tanto esforço.

- Alie?- a voz de Ramon penetrou meus pensamentos e forcei ainda mais minha mente a captar alguma coisa que fosse mais interior. – Não force nada, por favor, vai acabar se machucando.

Mantive meus olhos fechados e senti minha cabeça girar sem precisar abrir meus olhos. A primeira coisa que senti foi meu corpo perder a força, a mão de Ramon apoiando minha cabeça para que não caísse no chão. Meu corpo caiu por cima do dele e minha respiração falhou por alguns segundos.

Infelizmente, não foi a inconsciência que tomou conta de mim, foi apenas uma negritude que tomou conta dos meus pensamentos como se um blackout tivesse atingindo minhas atividades cerebrais.

Não sei por quanto tempo fiquei naquele estado. Eu conseguia sentir Ramon movendo o meu corpo, podia ouvir a voz dele chamando o meu nome e passos aproximando-se de onde nós estávamos. Senti meu corpo sendo trocado de braços e um odor forte e azedo tomou conta das minhas vias aéreas.

O blackout me abandonou e virei meu rosto para longe daquele cheiro horrível.

Abri os olhos para uma luz forte, amarelada, a luz da lâmpada. Pisquei duas vezes até que meus olhos se ajustassem. Senti meu corpo todo aquecer e me dei conta de quem estava com os braços ao redor do meu corpo. Damen.

- Como está se sentindo?

- Eu estou bem. – murmurei começando a me sentar.

Observei que eles haviam me levado para um sofá maior na biblioteca e que Ramon segurava o potinho que vazava aquele cheiro horrível. Franzi o cenho para ele e depois suspirei derrotada.

- Desculpe, Ramon, não consegui encontrar nada. – falei.

- Não tem problema. Vamos achar outro jeito. – confortou me dando um tapinha na mão.

- Faz um tempo que não escuto um único pensamento. – revelei contrariada. Eu não estava gostando de perder meus dons, mesmo um que eu não gostava de ter.

- Escutar pensamentos? – veio a voz de Guilherme de algum lugar entre as estantes.

Observei ele se aproximar com o cenho franzido e balancei a cabeça indicando que depois nós conversaríamos sobre isso.

- Você escuta pensamentos, Alie? – questionou novamente.

- Escutava. – corrigi e dei de ombros. – Desde que fui atacada por Ambika não escuto mais nada.

- Por quê? – quis saber Ramon. – Vovó escutou a vida toda. Será que seu poder não é igual ao dela?

- Eu não sei. – dei de ombros outra vez e suspirei. – Apenas sei que tudo está silencioso há algum tempo e não consegui encontrar nada de anormal.

- Você contou para ela? – acusou Guilherme olhando feio para Ramon. – Achei que tínhamos combinado que nada seria dito a Alicia. Foi por isso que trouxemos Damen, para não precisar envolvê-la.

- Você combinou que não diria nada, eu fui contra a ideia desde o começo. Ela precisa saber se está correndo perigo. – argumentou Ramon usando seu tom mais autoritário com Guilherme.

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