47 - Mentiras

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A parte mais difícil de virar a magia contra o feiticeiro era a espera. Não havia muito o que fazer. Eu estava sem magia para lutar, era mantida em uma sala aterrorizantemente vazia e constantemente recebia visitas desagradáveis da minha anfitriã. Tudo que eu podia fazer era ficar sentada esperando que Mary conseguisse falar com Damen.

Sabíamos que precisávamos ser rápidas. Nenhuma das duas tinha ideia dos planos exatos de Ambika e nãos sabíamos o que minha família estava planejando. Se havia uma certeza em toda essa história era que minha família iria vir me resgatar com ou sem um plano. Meu maior medo era que eles aparecessem sem um plano e todos acabassem mortos.

Ambika não iria facilitar para ninguém. Antes ela estava apenas brincando conosco, uma caça ao rato, mas agora a brincadeira havia acabado e estava na hora da refeição. Meu coração e a vingança pela morte da irmã a transformavam em uma ameaça muito maior do que podíamos imaginar.

A medida que as horas começaram a se transformar em dias, comecei a perder a noção do tempo e a ficar mais e mais preocupada com o futuro. Precisávamos avisar que eu estava bem na medida do possível, precisávamos fazer papai recuar com qualquer tropa que ele tenha montado e precisávamos por um fim em Ambika antes que a situação ficasse realmente critica.

Nós – eu e Mary – não tínhamos um plano formado exatamente. A ordem para aquele momento era improvisar. Precisava que Damen me ajudasse com algo que retirasse o efeito do seja-o-que-for que Ambika havia usado para conter minha magia e, então, eu poderia pensar em algo para acabar com ela.

Enquanto eu pensava nas milhões de possibilidades que o futuro podia trazer, a porta da minha prisão foi aberta e Mary entrou carregando uma bandeja com um pouco de sopa e água. Ambika estava com tanta raiva de mim, que se não fosse o fato de precisar do meu coração batendo, ela teria me deixado morrer de fome ali. Eu comia duas vezes por dia, apenas o suficiente para o meu coração continuar forte e nada mais.

Discretamente, Mary passou um pedaço de papel pela bandeja e saiu da cela.

Sem me importar com a comida, agarrei o pedaço de papel e dei um suspiro quando reconheci a letra do meu bruxo favorito.

Exatamente no que você está pensando? Seu pai montou todo um exercito para ir atrás de você.Guilherme está enlouquecido porque o impedi de correr até seja-onde-for que Ambika está mantendo você. E você quer que fiquemos quietos esperando? Espero que você esteja bem mesmo, porque nenhum de nós está com a sanidade em dia depois que você foi levada. Vou enviar por Mary alguns antídotos que podem ajudar sua magia voltar e prevenir que você seja afetada por Magia Negra, mas não posso fazer muito mais que isso sem saber com o que estou lidando. Seu pai concordou em dar dois dias a você. Dois dias, Alie. Você tem dois dias antes que eu arranque de Mary a sua localização e a tiremos daí deixando apenas o cadáver de Ambika para trás. Por favor, aja rápido, não sei se vamos aguentar dois dias.

Com amor – e fique em segurança!

Damen

Suspirei aliviada. Damen havia conseguido. Eu sabia que podia contar com ele. Só precisava das poções para que tudo começasse a dar certo e se encaminhasse para o fim. Quão bom deveria ser uma vida sem Ambika? Qual será a sensação de nãos estar sendo ameaçada constantemente? Eu não conseguia mais me lembrar da simplicidade de ser uma adolescente. Quando tudo havia virado esse emaranhado de gato de ameaças e momentos bons? Tudo que eu queria naquele instante era saber que ninguém mais ficaria em perigo porque meu coração ainda estava batendo. Eu precisava de um segundo de paz para fazer valer todo o resto.

Fechei os olhos com o bilhete de Damen nas mãos e imaginei meu amigo presente comigo. O que ele diria para eu fazer?

Provavelmente, mandaria eu ficar quieta em um canto enquanto ele resolvia. A mesma coisa que todos os homens da minha vida diriam. Eu não conseguia entender a concepção que eles tinham de mim. Eu era realmente assim fraca? Era realmente uma pessoa que não conseguia me defender sozinha? Era essa a impressão que eu passava para os outros? Ou todos eles eram simplesmente homens super protetores com tendências machistas de quer sempre ser o herói? Eu precisava controlar meu gênio quando eles agiam dessa forma. Eu entendia a superproteção porque era a mesma que eu estenderia a eles se a situação fosse contraria, mas o meu lado independente, o meu lado criado por uma mulher solteira gritava para não deixar eles interferirem. E desta vez eles não iriam. Eu cuidaria da situação.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora