24- "- Falando sozinha, coração?"

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Acordei com o braço pesado de Guilherme sobre o meu corpo, prendendo-me no colchão. Sem querer acordá-lo, virei na cama até que nossos corpos ficassem de frente um para o outro. Observei suas feições enquanto ele dormia e senti meu coração de aquecer de uma forma terna. O rosto estava pacifico em um sono tranquilo, a boca relaxada, levemente erguida nas pontas como um meio sorriso durante o sono. Com o que será que ele estava sonhando?

Perdi a noção do tempo em que fiquei apreciando-o. Só fui realmente me dar conta de que não deveríamos estar deitados juntos daquela forma quando uma batida na porta fez com que eu me assustasse. Minha mente entrou em pânico por um segundo até que ligasse aquela batida ao meu primo. Ramon sempre me acompanhava no café-da-manhã quando eu estava no castelo.

Cutuquei o homem deitado ao meu lado e rezei para que ele tivesse um sono leve.

Por favor, acorde, por favor acorde!, rezei quando outra batida soou pelo quarto.

Não havia sinal de que ele fosse acordar.

- Alicia? – a voz de Ramon atravessou a porta.

- Só um minuto. – falei em um sussurro alto. Eu não precisava de um Guilherme acordando assustado. – Por que não me espera lá embaixo? Já estou descendo.

- Tudo bem. – concordou Ramon sem questionar.

Assim que ouvi seus passos se afastar, virei na direção de um Guilherme adormecido e suspirei. Eu precisava acordá-lo. Dessa vez apenas Ramon havia batido na porta, na próxima vez, poderia ser papai entrando no quarto.

- Guilherme! – sussurrei em desespero. – Guilherme, está na hora de acordar.

Como resposta recebi um sussurro sem sentido e o rosto de Guilherme aconchegou-se contra o meu pescoço. O senti aspirar o meu cheiro e murmurar mais alguma coisa contra a minha pele. Seria assim se eu desse uma chance para nós dois?, pensei por um segundo antes de me repreender por ter esse tipo de pensamento.

Tentei acordá-lo mais uma vez apenas dizendo o seu nome, mas ele dormia como uma pedra. Como ele havia me ouvido gritar na noite passada?

Sem muitas opções, apelei para a conhecida água na cara. Usando minhas aulas de magia com Damen, fiz um copo de água surgir e se derramar sobre o rosto de Guilherme que acordou imediatamente no pulo.

- Meu Deus, Alicia! – esbravejou passando a mão no rosto para afastar a água dos olhos. – Não bastava me chamar?

- Se você não dormisse como uma pedra teria acordado na primeira chamada. – respondi saindo da cama.

- Precisava me molhar inteiro? – resmungou levantando também.

- Pensei em atirar você da janela, mas não saberia explicar para papai porque o bibliotecário se atirou da janela do meu quarto.

- Muito engraçadinha você. – ele se espreguiçou e lançou um olhar maliciosa na minha direção. – Dormiu bem, Vossa Alteza?

- Vê se não me enche. – respondi dando as costas para ele e indo para o banheiro.

Assim que fechei a porta, escutei a risada divertida dele e abafei o som ligando o chuveiro.

Era obvio que eu tinha dormido bem. Quem não dormiria bem com o corpo quente e protetor de Guilherme por perto? Porém, eu não daria a ele o credito por isso. Seu ego já era inflado demais para receber mais credito por isso.

Quando saí do banho, estava sozinha no meu quarto mais uma vez e suspirei aliviada. A noite anterior havia sido estressante demais e reveladora demais. De algum modo, cada palavra dita por Guilherme estava gravada no meu cérebro e ficava se repetindo sem parar. Não devíamos ter falado nada do que foi conversado, não era certo para nenhum dos dois ficar expostos desse jeito sem saber o que nos esperar.

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