30 - Pedaços meus

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Querido leitor, chegamos no momento decisivo da história. Tudo que foi contado aqui, cada detalhe, cada parte que não parecia indicar o fim, na verdade, era apenas o prelúdio de um final que ninguém estava esperando. Foi ali, dentro daquela biblioteca, sozinha com meu marido que segurava os meus ombros tanto para me manter no lugar quanto para garantir que eu não estava inventando uma historia, que eu vi o fim se aproximando de nós.

Eu sabia que aquele momento chegaria, tinha certeza de que iria enfrentar coisa que jamais imaginei na minha vida mundana de antes de Fantasiverden, mas ninguém conseguiu me preparar o suficiente para aquele momento. Não havia aula de magia, treino de luta e de espada, conversas o suficiente que me preparassem para encarar a morte como uma coisa definitiva. Se não a minha morte, mortes causadas em tentativas falhas de me salvar ou em meu nome. Nada havia preparado ninguém dentro das paredes daqueles castelos para o que estava por vir.

Percebi que não haveria mais como voltar atrás, me esconder atrás da minha família e do seu poder, quando papai entrou no meu quarto segurando varias armas de combate e usando uma armadura. Por mais que naquele dia eu desejasse ter entregar o rastreador para ser destruído, não tinha mais volta, ele já cumprira com o seu dever, estava me entregando de bandeja, como dissera tia Bea quando veio confirmar a historia comigo.

Não houve grandes alvoroços ou discussões por causa do que eu havia feito. A tensão que se estalara entre todos nós havia sido o suficiente para que todos estivessem com as emoções à flor da pele. Damen havia vindo para o castelo com reforços e todos de Fantasiverden estavam se preparando para lutar uma batalha que seria final, teria um vencedor ou um perdedor, nada de pequenas vitorias ou derrotas como as outras. Seria apenas a vitória e a derrota. Esse caso era mais importante que a morte da minha - até então - maior rival. Ambika estava morta graças a mim, mas agora eu poderia morrer por minha própria culpa, pelo menos, não envolveria mais ninguém nisso – ao menos eu achava que não.

Apertei o cinto de couro da roupa que haviam me entregado e prendi o cabelo em uma trança para não ter que me preocupar com ele na hora da luta. Meu coração pesou ainda mais quando coloquei o arco e flecha sobre o meu ombro e testei a espada mais de três vezes para ter certeza de que me adaptara ao seu peso.

Não havia uma única alma que não estivesse preocupada dentro do castelo. A Grande Batalha. Esta seria lembrada como a batalha final em que Fantasiverden vencera o pior inimigo de todos ou que perdera isso. Não era possível que eu soubesse o resultado disso, mas eu estaria lá para descobrir.

Todas as aulas de luta, arco e flecha, magia, espada, todas elas, pareciam distantes, não parecia que eu soubesse segurar uma espada tão bem como eu sabia nas aulas. Aquela sensação horrível, que eu experimentei poucas vezes na vida, se instalava em mim; o medo de fracassar estava mais que presente no meu organismo. Minhas mãos tremiam de imaginar o que poderia acontecer quando o tal inimigo desse as caras.

Várias imagens passaram pela minha cabeça, sem permissão alguma.

Imagens do pior acontecendo.

Um frio desceu pela minha espinha só de imaginar o que aconteceria quando todos estivessem de frente ao inimigo. O que eu estava pensando quando dei a ideia de ficarmos com o rastreador para nós? O que eu estava pensando quando, com um pouco de choro e ajuda do destino, consegui com que Guilherme me entregasse o rastreador? O problema de me fazer essas perguntas era que eu sabia a resposta, estava apenas adiando o que era inevitável, ou seguindo o curso das coisas sem quebrar as regras do jogo de caçador e caça. Um combate frente a frente seria cruciam para decidir quem ganharia. O caçador ou a caça?

Eu queria poder fazer mais do que o que estava ao meu alcance. Não queria, não estava disposta, a deixar que todos fossem enfrentar o meu inimigo frente a frente sem a minha presença.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora