34 - Corpo e alma

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Ele não estar no quarto não iria me impedir de usar aquela onda de coragem que havia tomado conta de mim. Eu ia falar com ele, eu ia resolver aquela situação, expor meus sentimentos e deixar que ele fizesse o que quisesse com a informação. Ele não trabalhava com informação, lidando com informação a modo de decidir o que era importante ou não? Bem, ele que decidisse o quanto era importante a informação que eu iria revelar.

O primeiro lugar que procurei foi no quarto dele, mas além do cheiro maravilhoso que sempre me invadia quando eu abria aquela porta, não havia nenhum sinal de Guilherme. A cama estava vazia e os lençóis estavam esticados sem nenhuma ruga. Caminhei até a janela do seu quarto e observei a vista por alguns segundos. Desde que havia acordado com o corpo de Guilherme pressionado contra o meu, eu não havia me dado conta de que já era quase fim da madrugada. Estava tudo silencioso no castelo e todos estavam dormindo. Menos o meu estômago que resolveu protestar bem no instante que passei na frente de um dos guardas de plantão.

- Boa noite. – cumprimentei constrangida pelo ronco alto da minha barriga.

- Alteza. – respondeu solenemente e um mini sorriso surgiu no seu rosto. – Há uma garrafa de chocolate quente e biscoitos de baunilha na cozinha. Os Homens-elefantes sempre deixam algo para o pessoal da madrugada.

- Obrigada. – agradeci e fui em direção a cozinha.Quem sabe Guilherme estava por lá.

No caminho, verifiquei outros possíveis lugares em que ele podia estar. A sala de jogos, a sala de cinema, a sala de reuniões e outros lugares que eu passaria no caminho da para a cozinha. Ele não estava em nenhum desses lugares.

Quando cheguei a cozinha, os Homens-elefantes já estavam trabalhando no café-da-manhã, havia cheiro de panquecas e bolo no ar. Senti o aroma de café e chá, além do calor gostoso que somente um cômodo com tantos aromas de comida sendo preparada poderia proporcionar.

Segui o aroma de torradas e biscoito de chocolate, parei atrás de Red que tirava uma bandeja de biscoitos do forno. O homem-elefante simpático, sorriu na minha direção e com as mãos hábeis encheu um prato de biscoitos e torrada com manteiga junto com duas canecas de chocolate quente.

- Duas? – questionei erguendo uma sobrancelha para Red.

- Guilherme está no jardim. – respondeu com o sotaque carregado e uma piscadela cúmplice.

- Obrigada.- respondi devolvendo a piscada e aceitando as canecas e biscoitos.

Fui em direção ao jardim esperando encontrar Guilherme sentado em um dos bancos, porém, invés disso ele estava sentado no topo do muro. Aproximei-me em silêncio do muro e analisei a situação. Como ele havia chegado lá em cima?

- Guilherme? – chamei em um sussurro. O ar da madrugada fazia com que tudo fosse frágil, inclusive o silêncio. Falar no tom de voz normal quebraria toda aquela atmosfera de fragilidade do céu começando a clarear.

- Sim? – respondeu virando no muro e me olhando.

- Eu trouxe um pedido de trégua. – sussurrei indicando o prato e as canecas. – Como você subiu aí?

- Tem uma escada um pouco mais para o lado. – indicou com o dedo. Meus olhos seguiram a direção que ele apontou e uma escada com degraus de pedra estavam camuflados nas pedras cinzas do muro.

Subi os degraus e me equilibrei pelo muro até chegar ao seu lado. Guilherme pegou as canecas e o prato das minhas mãos antes de me ajudar a sentar ao seu lado. Tomamos um pouco de chocolate quente em silêncio observando as cores do céu começando a abandonar o azul escuro da noite e abrindo-se para o azul celestial da manhã.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora