4 - Pai

4.3K 386 29
                                    

Voltamos para o castelo por um meio mais rápido. Teletransporte.

A busca havia sido encerrada quando o pequeno Eric veio para os meus braços. Eu podia não ter as respostas que queria, pelo contrario, havia mais duvidas ainda, porém, o bebê em meus braços era prioridade.

Como um bebê poderia ter ido parar na casa de Ambika? De quem era esse bebê? Seria filho de Ambika? De Clemency? Uma criança raptada? Eu não conseguia aceitar a ideia de que as duas bruxas poderiam adotar uma criança. E mesmo quando pensava nessa alternativa, não via como isso podia ser uma coisa boa, se elas haviam adotado Eric não podia ser para fins bons. Nada de bom podia vir daquelas duas.

Guilherme e eu não conseguíamos lembrar de nada que indicasse que alguma das duas tivesse um parceiro, um companheiro, um marido – fosse lá como eram chamados os casais de bruxo. Ambika ou Clemency nunca haviam dado nenhuma pista de que havia algum homem envolvido com elas. Apesar de ser uma opção viável, eu não queria pensar que havia um bruxo por aí querendo vingança. Porque se havia um parceiro de qualquer uma das duas que fosse pai do pequeno Eric, ele, com certeza, era um bruxo. Os olhos do bebê acusavam duas famílias de bruxos sem duvidas nenhuma.

Assim que adentramos o castelo a pessoa que não parava de rondar minha mente surgiu vindo na minha direção pelos jardins. Damen se aproximou com seu costumeiro sorriso simpático no rosto e ficou pálido no momento em que seus olhos registraram a criança em meus braços.

- Largue esse bebê, Alie. – falou indicando Eric com a cabeça.

- Por quê? – perguntei abraçando Eric com mais força.

- Bebês bruxos são instáveis. – respondeu calmamente sem tirar os olhos de Eric.

- Estou ciente. – respondi com um aceno de cabeça. – Mas ainda assim é um bebê.

- Onde vocês o encontraram? – perguntou desviando os olhos de Eric na direção de Guilherme.

- Em um quarto na casa de Ambika. – respondeu Guilherme lançando um olhar preocupado na direção da criança. – Você sabe de alguma coisa?

- Sei. – respondeu voltando os olhos na direção do Eric. – Me dê a criança, Alie.

- Você vai machucá-la. – não era uma pergunta.

- Vou impedir que algo pior aconteça. – respondeu estentendo as mãos.

- Você não vai tocar nele. – afirmei dando um passo para trás.

- Prometo que ele não sofrerá.

- Não sofrerá?! – olhei apavorada na direção de Damen e depois para Guilherme.

Guilherme suspirou cansado e se colocou entre nós. Agarrei mais o pequeno Eric e senti seu coraçãozinho disparar. Ele sabia que havia algo de errado.

- É só um bebê, Damen, não precisamos exagerar. – apaziguo Guilherme.

- Você está louco se acha que vou deixar encostar nessa criança! – gritei para ele. – Qual o seu problema? É apenas um bebê!

- Não é apenas um bebê. É meu bebê.

Por essa eu não esperava.

Vocês esperavam por essa, queridos leitores? Porque eu não havia previsto uma coisa dessas. Tudo bem que eles era parecidos, que Eric lembrava Damen, mas todos os bruxos eram levemente parecidos devido aos olhos. Eu nunca imaginei que Damen pudesse ter um filho que ele mantivesse escondido de mim. E com Ambika ainda por cima.

- O que você quer dizer com seu bebê? – disse Guilherme roubando minhas palavras.

- Quero dizer que tive um envolvimento com Clemency antes de conhecer Alicia e, aparentemente, esse envolvimento gerou um fruto. – explicou esfregando as mãos no rosto. – Clemency nunca me falou nada, mas é bastante obvio que essa criança é minha.

- Você transou com Clemency?! – perguntei chocada. Eu definitivamente não estava preparada para essa informação.

- Foi em outra vida. – respondeu metaforicamente.

- Aparentemente não. – resmungou Guilherme olhando chocado na direção de Damen.

- Você quer matar seu próprio filho! – acusei voltando ao assunto original.

- Ele é perigoso, Alie. Filhos entre bruxos são raros, normalmente, um dos pais não é bruxo ou possui a magia simples de vocês no sangue. – explicou parecendo derrotado. – Quando dois bruxos geram uma criança, geralmente, a criança nasce morta. A junção dos poderes dos pais é demais para o corpo pequeno da criança suportar. E quando essas crianças conseguem sobreviver, elas são como bombas relógios. A quaqluer momento esse bebê pode explodir em uma onda de poder nos seus braços e matar uma nação inteira só porque não tem controle sobre o que está dentro dele. Ele é perigoso.

Absorvi tudo que Damen falou e encarei o bebê que me olhava com os olhos arregalados. Eu não podia deixar que Damen matasse essa criança, era o próprio filho, ele nunca iria se perdoar por isso. A mãe podia ser a pior bruxa do mundo, a responsável pela morte de um dos meus entes mais amados, mas ela era uma mãe e havíamos privado essa criança dela há alguns meses. Não podia permitir que mais mal acontecesse a ele.

- Matamos a mãe do seu filho. – pontuou Guilherme ainda em choque.

- Sim. E se um de vocês não tivesse feito, eu teria. Clemency era um risco para qualquer um, até para o seu próprio filho.

- Seus pais eram bruxos, não? – perguntei lembrando de conversas passadas.

- Sim. – respondeu Damen entendendo onde eu queria chegar. – Fui um caso em um bilhão, Alicia.

- Eric pode ser um caso em um bilhão também. – indiquei dando de ombros. – Ele é seu filho, deve ter o mesmo que você tem para sobreviver.

- Ele é filho de Clemency também. – lembrou Guilherme.

- Acredito que com a educação certa a maldade de Clemency não vai se manifestar.

- Bruxos são maléficos por natureza, Alie. – indicou Damen.

- Você não é. – falei sorrindo.

- Sim, eu sou. – contrariou e completou: - Apenas sou adulto o suficiente para controlar minhas atitudes e impulsos.

- Damen, eu acredito em você. – saí de trás de Guilherme e me aproximei dele. – Acredito que você pode ser um grande pai. Sei que você vai fazer o certo. Você sempre faz.

Damen me encarou por alguns segundos que pareceram anos. Eu podia ver toda sua racionalidade e lógica trabalhando para decidir a melhor forma de lidar com essa situação. Ele estava preocupado. Havia sido pego de surpresa quanto ao Eric. Ninguém esperava que um bebê surgisse na história nesta altura do campeonado, mas ali estava a prova de que o destino é imprevisível. Eric estava nos meus braços. E o pai estava parado na frente dele lutando contra algo interno que eu só podia imaginar que era doloroso.

- Ele é apenas um bebê. – repeti em tom brando e me aproximei mais de Damen. – Ele não sabe do que e capaz, não tem ninguém para ensinar como ser um bruxo. Você uma vez me disse que a magia de vocês é como uma parte do corpo, ele só precisa que alguém o ensine a usar a sua de modo certo, da mesma forma que ensinamos as crianças a andar. – vi os olhos de Damen se dirigirem em duvida na direção de Eric e me aproveitei desse instante. – Todo mundo merece ser amado, Damen, todo mundo merece ter uma família. Já tiramos a mãe dele, não vamos privá-lo de ter um pai.

Damen avaliou o rosto de Eric minuciosamente, vi toda a tormenta que o abalava passar pelas suas feições. A criança estendeu as mãos em direção ao calor que irradiava do corpo de Damen e dei um ultimo passo na sua direção, as pontas dos nossos pés quase se tocando. Damen só precisava segurar o filho para tomar a decisão certa. Eu sabia que ele queria me proteger, proteger todos nós, mas ele sabia que era errado matar o próprio filho. Seu único filho.

Eric balbuciou sons animados na direção de Damen e o bruxo alterou seu olhar da criança para o meu rosto. Sorri confiante para ele e indiquei Eric com a cabeça.

- É seu filho. – reforcei quando Damen voltou os olhos na direção de Eric.

Com um suspiro final, Damen estendeu as mãos enormes e encaixou o pequeno bebê contra o braço enorme e o peito. Eric imediatamente reconheceu o calor dos bruxos e se aninhou contra o peito de Damen com um suspiro apoiando a cabecinha e fechando os olhos. Senti um um quentinho no peito quando Damen sorriu admirado na direção do filho.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora