49 - O Fim

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Estimado leitor, espero que até aqui você já tenha uma ideia do que irá acontecer em seguida. Sei que é de se esperar que tudo se encerre bem, mas não posso dar essa certeza para vocês porque, infelizmente, nem tudo acabou como imaginávamos.

Foi doloroso ver Guilherme despencar das amarras e não poder passar meus braços envolta do seu corpo machucado. Foi pior ainda quando tive que erguê-lo e o empurrar para dentro de uma prisão como a minha. Mas eu fiz. Eu precisava.

Ele sabia que eu estava na controle, ele sabia que eu tinha um plano – ou, ao menos, uma missão a cumprir. Os dedos de Guilherme percorreram meu braço levemente quando o coloquei no interior da cela e aquilo me deu mais forças para seguir do que se houvessem palavras envolvidas.

Ambika queria uma apresentação completa. Ela queria platéia para a sua vitoria. E ela teria uma platéia enorme – incluindo soldados prontos para avançarem nela a qualquer instante. Um comunicado falso assinado com o meu nome convocada a população de Fantasiverden e de quem mais quisesse comparecer à uma declaração publica. Não dizia do que tratava, porém, só o fato de ter minha assinatura envolvida, garantia a bruxa que ela teria muitos olhos sobre nós.

Fui vestida com um vestido de festa vermelho e brilhante, ele tinha um decote ousado e se abria na altura dos quadris em uma saia redonda. Todas as minhas joias pareciam ter sido polida, inclusive meu anel mágico parecia brilhar ainda mais. Tive vontade de descobrir como estaria a aparência da minha espada, mas não podia verificar isso na presença de Ambika - e ela passou cada minuto do meu lado.

Ambika agora tinha um novo brinquedo, uma nova companhia: eu. Seguindo o meu papel a risca, eu escutava e acenava em concordância; fazia todas as suas vontades e apenas falava quando solicitada. Eu era a nova escrava dela.

Descobri mais coisas sobre Ambika naquelas horas do que podia imaginar.

Primeiro: ela era insegura.

Era uma bruxa que dominava muito bem a magia e tinha experiência, mas parecia a todo momento estar procurando uma aprovação de algo ou alguém.

Segundo: ela sentia falta da irmã.

De vinte palavras onze eram sobre a falecida irmã.

Terceiro: ela escondia mais coisas do que podíamos imaginar.

Mesmo estando sob o efeito da poção de Ambika, ela não revelava tudo na minha presença. Havia momentos que ela sumia e retornava com o rosto descontraído ou amuado. Ela tinha segredos que não podiam ser descobertos e eu queria saber o que eram.

Quarto e ultimo fato: seu plano para ter meu coração.

Eu o entregaria a ela. Essa era a chave de tudo. Ambika não queria simplesmente arrancar meu coração batendo de dentro do meu peito, ela queria que eu o entregasse em suas mãos. Eu não sabia se era uma forma de vingança ou de demonstrar poder, mas a adaga que ela apresentou como a responsável por tirar meu coração teria que ser fincada no meu corpo pelas minhas próprias mãos.

Ela havia providenciado todo o teatro. Havia um enorme palco montado no centro da praça de Fantasiverden, estávamos rodeadas de seres mágicos que estavam sob o comando dela. As pessoas começavam a se aproximar curiosas. Estávamos paradas uma ao lado da outra. Ambika segurava minha mão na sua como se fossemos amigas há anos.

Corri meus olhos pela multidão procurando pela minha família e encontrei papai se aproximando junto com um exercito.

- Mande-os ficar longe. – sussurrou Ambika no meu ouvido.

Fiz um sinal com a cabeça para que papai não se aproximasse e todos envolta dele congelaram no lugar. Era visível o maxilar travado de papel, os olhos fumegantes de raiva de Clara, a preocupação de tia Bea. Eu só queria que tudo acabasse logo para que pudesse tirar Guilherme daquela prisão horrenda e viver o resto das nossas vidas em paz.

Coração AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora