21 - Revelando segredos

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Só percebi que o grito era meu quando meus olhos abriram-se no escuro do quarto e mamãe apareceu no meu campo de visão. Os pesadelos estavam começando a se tornar algo frequente nas últimas semanas.

Deixei mamãe me abraçar e respirei fundo para acalmar meu batimento cardíacos algumas vezes.

- Pesadelo? – perguntou mamãe quando viu que eu estava mais calma.

- O de sempre. – concordei voltando a deitar na cama.

Ela beijou minha testa, puxou a coberta sobre o meu corpo e deixou o quarto com a porta aberta, entrando a luz do corredor como fazia quando eu era criança e tinha medo do escuro.

Eu não conseguia lembrar de uma noite sem pesadelo desde o ataque no ginásio. Toda noite era o mesmo sonho, o dragão e a morte da minha mãe. E toda noite eu não conseguia salvá-la apesar de saber o que iria acontecer.

E mesmo toda noite sendo a mesma sessão de gritos e suadores frios, mamãe vinha ao meu quarto e ficava comigo nos braços até que a realidade voltasse por completo, mostrando que ela estava bem e viva. E toda noite era uma luta para voltar a dormir.

A medida que as noites iam passando, o pesadelo começava a se tornar mais real. Tão real que eu podia sentir o cheiro metálico do sangue de mamãe escorrendo pelas minhas mãos quando eu a segurava contra o meu corpo. E era por isso que eu estava evitando ficar fora de casa durante a noite.

Fantasiverden era um lugar que eu estava frequentando pouco. Eu não queria me afastar de mamãe por causa do pesadelo e, de bônus, ganhava a distância que precisava para não pensar em Guilherme e naquela noite na festa de aniversário de papai.

Damen continuava aparecendo para as nossas aulas como se nunca tivesse acontecido nada naquela noite, como se eu não tivesse me atirado nele como uma desesperada por sexo. Era um episodio no passado.

Porém, cada vez que eu olhava para Guilherme, sentia um calor descer para o meio das minhas pernas e meu rosto ficar de vermelho de raiva. Eram sentimentos contraditórios que eu preferia evitar a todo custo. E ter aprendido a fazer a Esfera de Luz era uma mão na roda nesse sentido. Ela permitia que eu me locomovesse entre as dimensões sem precisar de alguém constantemente comigo.

Os pensamentos continuavam invadido minha mente durante o dia-a-dia, mas quando Damen estava por perto tudo ficava em silêncio. Era como se a mente dele bloqueasse a minha. Isso era um alivio e preocupante ao mesmo tempo. Depois de me frustar em uma aula onde eu não conseguia invadir a mente dele de forma alguma sem que ele soubesse o que eu estava fazendo, surtei e acabei contado para ele sobre eu conseguir ler mentes.

Damen simplesmente riu e explicou que a mente dos bruxos eram "programadas" para barrar qualquer poder telepático e anular essa capacidade, então, sempre que ele estivesse por perto, nenhum pensamento entraria pela minha linda cabecinha e atrapalharia meus próprios pensamentos.

Independente de Damen ser um escudo natural para os meus poderes, ele não podia estar o tempo todo comigo e isso me deixava em situações complicadas como, por exemplo, o dia que voltei para a escola depois do ataque e precisei explicar para Otavio sobre as coisas que estavam acontecendo. Eu podia ver na sua mente que parte dele não conseguia absorver as informações, ele não conseguia compreender como eu podia ter poderes e como eu não era apenas a sua priminha de sempre, como meu mundo havia virado de cabeça para baixo e, infelizmente, ele estava começando a ser arrastado comigo para isso.

Eu sabia que não devia contar nada para ele, que seria mais seguro se mantivesse minha boca fechada, mas despejar tudo que vinha acontecendo para o meu irmão de alma era um forma de tirar os pesos das minhas costas. Damen havia se oferecido para apagar a memória de Otavio daquele dia, alterar alguns fatos, mas não era justo que eu mexesse com a cabeça do meu primo. Ele merecia a verdade e foi isso que eu dei a ele.

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