13 - Romeu e Julieta

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Acordei no meio da noite com a mente tumultuada. Os dentes do vampiro perfuravam minha pele e eu sentia a rajada de dor percorrer o meu braço. Sentei no escuro suando frio e afastando as cobertas das minhas pernas. Os olhos sombrios e sedentos de sangue continuavam voltando para a minha mente e eu começava a sentir que eles estavam me encarando naquele exato momento, mesmo sabendo que isso era impossível.

Saí da cama e deixei o quarto o mais rápido possível. Eu precisava de ar e de alguma coisa para distrair minha mente. O castelo estava silencioso apesar de iluminado. A quantidade de guardas nos corredores havia diminuído e os poucos que estavam em seus postos tinham pensamentos lentos e inofensivos demais para que atrapalhasse minha fuga para outro lugar.

Rodei por alguns minutos até que me vi na porta de um lugar que eu não conhecia. Pela estrutura da porta e o cheiro que desprendia do interior, não havia erro de que ali era a cozinha. E depois de uma noite tumultuada, eu merecia um lanchinho da madrugada.

Entrei no local esperando encontrá-lo vazio, porém, levei um susto quando me deparei com cinco Homens-elefantes – foi assim que comecei a me referir a eles na minha cabeça – se movimentando de um lado para o outro.

- Em que posso ajudar, Alteza? – perguntou um deles parando na minha frente e fazendo uma reverência.

Aquele não era Red, a voz era mais grossa e o sotaque espanhol não tão carregado, além de que, seus olhos eram de um azul-mar que não havia como ser confundido.

- Achei que não teria ninguém a essa aqui. – comentei contorcendo as mãos atrás do corpo. Interessante, constatei, eu não conseguia ouvir os pensamentos de nenhum deles.

- Estamos sempre aqui. – respondeu com um sorriso orgulhoso.

- Bem, bom saber disso. – afirmei olhando envolta. Meu plano inicial era atacar a geladeira e pegar o que quer que tivesse no interior, mas isso havia ido por água abaixo. – É meio da noite, não vou incomodar vocês.

- Vossa Alteza aceita um pouco de chocolate quente com creme? – perguntou outro Homem-elefante aproximando-se com uma caneca fumegante.

- Alicia. – falei aceitando a caneca que aqueceu meu corpo inteiro no mesmo instante.

- Perdão?

- Alicia, pode me chamar de Alicia. – expliquei sentindo o aroma de chocolate invadir meu sistema.

- Alicia. – repetiram juntos.

Sorri na direção deles e com um aceno de despedida abandonei a cozinha. O ar gélido da noite passava pelas frestas abertas das janelas e arrepiava a minha pele. Tentada a testar meus novos poderes, concentrei toda minha atenção nos pontos que Guilherme havia ensinado e fiz com que um cobertor aconchegante surgisse sobre os meus ombros.

A biblioteca estava escura e levemente gelada, o ambiente não parecia o mesmo sem seu padroeiro tomando conta do lugar. Rodei pelas estantes pensando qual livro pegar até que sobre a mesa do bibliotecário avistei um exemplar de Romeu e Julieta. Ele não se importaria que eu mexesse, certo? Eu colocaria no mesmo lugar assim que terminasse de ler.

Acomodei-me no sofá enrolada na coberta com o livro em uma mão e a caneca de chocolate-quente na outra. Não havia história que eu gostasse mais do que Romeu e Julieta. O romance proibido, o casamento escondido e os dois morrendo de amor juntos no final. Não que eu fosse apta ao suicídio como acontece na história, mas tem uma mensagem muito mais profunda ali do que apenas a morte.

Estava tão compenetrada na leitura que demorei alguns instantes para perceber que as luzes da biblioteca haviam sido acessas e que alguém se aproximava de onde eu estava.

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