3 - Uma história de magia

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Vocês lembram aquele pequeno detalhe sobre minha audição ser um pouco mais aguçadas do que deveria ser? Então, por causa disso, eu conseguia ouvir conversas e coisas que, na maioria das vezes, eu não queria ouvir. Como a conversa estranha entre mamãe e tia Bea que aconteceu quando deixei a sala.

Claro, eu ouvia apenas metade da conversa, unicamente o lado em que mamãe falava, mas isso já bastava para se criar uma idéia do que elas estavam conversando: minhas alucinações.

- Sim, Bea. – respondeu mamãe. – Ela disse ter visto uma princesa, uma gata que fala e uma fada. – ela fez uma pausa ouvindo. – Será que ainda não é cedo? – outra pausa. – Tudo bem, então. Vamos esperar você. Tchau.

Tia Bea era simplesmente a pessoa certa para resolver esse problema, ela era aquele tipo de pessoa que tinha resposta para tudo. Ela saberia explicar minhas alucinações e, se não soubesse, ela saberia de algum médico que pudesse me ajudar.

Quando uma batida na porta distraiu minha cabeça das idéias de doenças alucinógenas, eu não precisava ser mágica para saber quem estava do outro lado.

Tia Bea.

- Como você está se sentindo? – perguntou sentando na ponta da cama onde eu estava.

- Confusa, principalmente. – respondi e a encarei. – O que está acontecendo, tia? O que são essas coisas que eu fico vendo?

- Bem, achei que iria acontecer mais cedo, quando você era mais nova, mas acho que esse é um bom momento.

- Do que você está falando? – tia Bea parecia estar tão alucinada quanto eu.

- Bem, está na hora de você saber as respostas de todas as perguntas que você sempre fez. – ela suspirou e se arrastou na cama até estar sentada ao meu lado. – Você lembra uma história que eu contava para você dormir quando ainda era pequena? A história de Madeleine?

- Ela era filha de um alquimista e, por acidente, acabou criando uma nova dimensão mágica? – questionei puxando do fundo da memória a história que tia Bea costumava contar antes de me por na cama.

- Não é apenas uma história. – revelou séria.

- Claro que não, era a minha história preferida. – concordei sorrindo.

- Não, Alie, não é uma história para fazer crianças dormirem. Realmente aconteceu tudo que eu contei para você.

Minha mente demorou alguns segundos para registrar as palavras dela. Eu sabia que meu cérebro não estava funcionando muito bem, mas não acreditava que aquilo fosse contagioso. Tia Bea era a pessoa mais sensata e racional que eu conhecia, não havia como ela estar entrando nessa onda de piração junto comigo.

Eu lembrava claramente da história que tia Bea se referia. Lembrava de ter escutado ela noite após noite, sempre antes de dormir, e sonhado várias vezes com aquele mundo maravilhoso que ela descrevia.

Madeleine havia sido uma criança um pouco mais curiosa que o recomendável para a própria segurança dela. Era filha de um alquimista que mantinha um laboratório secreto no sótão da sua casa. Madeleine adorava brincar no sótão quando seu pai não estava, ela misturava os líquidos coloridos e via eles mudando de cor, fazendo fumaça e até mesmo congelando, porém, um dia, quando estava brincando com essas misturas acabou causando uma explosão de luz. E dentro dessa explosão de luz, ela conseguia ver um campo esverdeado e um céu azul.

Curiosa como sempre, a garota foi em direção a luz que formava uma esfera flutuante no ar. E quando atravessou a esfera de luz, se viu parada no meio de um campo onde não havia nada além de grama e árvores.

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