Capítulo 26

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Onur teve que contar ainda algumas historinhas para que Kaan pegasse em um sono pesado, quando o garoto enfim havia dormido, Onur desceu as escadas para ir ver Sherazade que havia ficado sozinha na sala. Ele terminou de descer as escadas e foi ao encontro dela.
– Voltei meu amor. – Onur se aproxima dela, mas ela se levanta irritada.
– Onde conseguiu isso? – ela mostrava a carta.
Onur engole em seco e fica nervoso.
– Sherazade eu posso explicar... – ele fala apreensivo.
– É bom que explique... será que você chegou ao extremo de... nem quero pensar... onde você conseguiu essa carta? – ela perguntava irritada. – Por acaso você também investigou até o doador de médula do Kaan, e ainda por cima pegou a carta dele, será que seu ciúme, é tão doentio assim? – ela falava irritada.
– Sherazade, calma, deixa eu falar...
– Eu não consigo ver uma explicação viável para essa carta está em suas mãos, a menos que...
– Essa carta é minha! – ele aproveita o momento de silêncio.
– O que? – ela pergunta incrédula.
– Sherazade, essa carta é minha... – ele pega no braço dela.
– Vo-você? – ela põe a mão na boca, sua mão estava trêmula. – Não posso acreditar... não posso... como? Por quê?
– Você não acredita? Pois vou lhe dizer, lembra aquele tempo que eu estive fora... lembra que eu sumi da empresa um dia antes do transplante do Kaan?
Um filminho passava na cabeça de Sherazade.
– Mas então você sabia que ele era o meu filho... sim você sabia, você me investigou e descobriu que meu filho era doente e daí você decidiu doar para ele... – ela falava ainda nervosa.
– Não foi bem assim... senta e eu vou te explicar. – ele chega próximo dela com precaução, ela se senta devagar e o olhava com atenção. – Sherazade, nada foi planejado, eu juro, tudo foi... – ele tentava encontrar a palavra. – foi por acaso, um dia minha mãe e a mãe do Kerem, obrigou a nós dois e aos funcionários da empresa que fizéssemos nosso cadastro no banco de médula de Istambul, a princípio brigamos com elas, porque ela tinha nos avisado muito em cima da hora, daí elas levaram a empresa a equipe que fazia esse trabalho e assim todos nós, fizemos, nessa época eu nem te conhecia, nem ao menos sabia quem era você, vim saber quem você era, naquele sábado do prêmio que, por coincidência foi no dia anterior ao dia que eu fiz meu cadastro, no dia que te tratei mal, eu recebi a ligação da associação e pedi de imediato o sigilo total, até ali, eu ainda não sabia que você tinha um filho, foi aí que eu avisei a moça que eu faria a doação, e fiz isso pela minha mãe, porque sei o quanto ela se importa com as crianças com leucemia. – Sherazade o ouvia com atenção. – Daí conheci o médico de seu filho, Dr. Átila, fui procurá-lo no mesmo dia que recebi a ligação, depois ele me mostrou a criança e contou toda a história de seu filho e me disse que se ele não fizesse o transplante agora, ele não podia mais garantir que ele vivesse por muito mais tempo, pois o câncer já tinha chegado a um nível quase terminal. – Sherazade começou a chorar, Onur segurou sua mão com uma das suas, enquanto com as costas da outra ele secava suas lágrimas. – Não tive escolha, decidi que sim, eu faria, e aí fui assinar os papéis e quando eu li, porque sempre leio os papeis antes de assiná-los, eu vi assim: "Eu Onur Aksal, declaro que serei doador de Kaan Eyvidiaoglú, cuja filiação é Ahmet Eyvidiaoglú e Sherazade Eyvidiaoglú." Foi aí que lembrei da imagem de seu currículo lates, eu lembrei de seu nome, a princípio duvidei que fosse, achei que fosse apenas uma coincidência, contudo o médico falou que você era arquiteta e que tinha perdido o outro transplante por não ter tido o dinheiro suficiente, então já não pude duvidar, como poderiam existir duas arquitetas em Istambul com esse nome, não poderia ser, foi então que eu disse a ele, que eu pagaria todos os custos e que você não pagaria por nada, mas sob a condição de você nunca saber de mim, não saber meu nome, meu sobrenome e muito menos me ver, ele aceitou de imediato.
– Então... – ela continuava chorando. – Você nunca iria aparecer e me dizer quem era, se eu não tivesse encontrado essa carta?
– Não Sherazade, eu não iria fazer isso, nunca.
– E o Kaan chegou a lhe ver?
– Sim, ele me viu...
–  Então isso explica muita coisa... por exemplo o fato de o Kaan ter gostado de você tão rapidamente. – seu rosto se iluminou.
– Sim, gostei do seu filho logo de cara... e ele de mim.
– E como fizeram para guardar esse segredo?
– Digamos que fizemos um trato em que ele nunca contaria e muito menos eu.
– Mas ele não sabia seu nome, não era?
– Não, eu me apresentei para ele como Anjo...
– Onur, por que não me contou isso? Por que não me disse que era você? Nesse tempo você já tinha se apaixonado por mim?
– Sherazade, – ele beija sua mão. – eu te amo desde a primeira vez que te vi, desde a entrega daquele prêmio que percebi que você tinha puxado meu tapete e balançado minhas estruturas e ideologias, tenho certeza que você leu a dedicatória desse livro e viu a frase.
– Amigo, não confie nas mulheres? – ela pergunta confusa.
– Isso! Não é por acaso que essa frase está aí, essa frase, foi a frase que moveu minha vida, até você chegar e fazer uma total bagunça nela, Sherazade, eu não acreditava nas mulheres, mas eu acredito em você, e sim nesse tempo eu já te amava, eu não tinha assumido para mim mesmo, é verdade, mas eu já te amava e quer saber? Eu sei que se eu me apresentasse diante de você nos muitos dias que fui ver o Kaan...
– Você sempre ia visitá-lo? – ela estava abismada.
– Sim, eu chegava umas 9h da manhã e saía umas 7h da noite, porque eu sabia que você podia chegar e me encontrar, mas nos divertíamos muito, eu contei muitas histórias desse livro para ele. – Onur olhava para o livro de capa preta.
– Então esse tempo todo fui enganada... – ela sorria como uma boba.
– Não exatamente... eu gosto do seu filho e mesmo que ele não fosse seu filho, eu teria doado, mas justamente por ser seu filho e nosso agora, porque em uma tarde, mas precisamente na última, antes de eu viajar para Paris e que também era o último dia dele no hospital, Dr. Átila nos declarou meio pai e meio filho, a verdade é que eu gostaria de ser o pai por completo. Mas não me importo de ser meio.
– Mas eu realmente não entendo, se me amava tanto, por que não me disse isso, por que não me contou e com certeza eu teria te aceitado rapidamente, teria te perdoado, teria te admirado ainda mais. – ela fala incrédula.
– Justamente por isso Sherazade, eu queria... na verdade, eu quero que você me ame não pelo que eu fiz, mas pelo o que eu sou, porque só fui doador por um dia, no entanto o que eu sou, eu serei para sempre.
Sherazade fica muito emocionada.
– Não, você está errado, você foi doador por um dia, mas nesse único dia, você me ganhou para sempre. – ela o pega pela mão e o puxa um pouquinho, aproxima seu rosto do dele e o beija, mas não como os outros beijos, dessa vez foi um beijo intenso, apaixonado e muito demorado, um verdadeiro beijo.
Sherazade nem sabia o que estava sentindo, mas pelo jeito era algo ainda maior do que o que ela mesma podia imaginar, era mais que admiração, era amor, porém o beijo deles foi interrompido pela campainha da casa que tocou.
– Vou atender... – ele dá um tímido beijo em seus lábios.
– Não vai não. – ela o segura e olha para ele quase implorando.
– A Fierdvis está descansando, eu já volto, eu prometo. – ele beija sua mão e sai para abrir a porta.
Os olhos de Sherazade já não o viam da mesma maneira.

Onur foi até a porta e tomou um grande susto ao abri-la.
– Onur meu filho, você precisa casar logo com Sherazade ou você nunca o fará. – a tia dele entra desesperada na casa.
– O que foi tia? – Onur pergunta sem entender.
Sherazade viu aquilo e se levantou.
– Sua mãe, ela vai fazer de tudo para separá-los. – Betül estava tão nervosa que nem notou Sherazade.
– Tia não fala alto, a Sherazade está...
– Ai meu Deus... – ela olha aflita para ele.
– Tarde demais Onur, eu já ouvi. – Sherazade se aproxima.
Os dois olham para ela com surpresa.

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