Capítulo 1

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– Desculpe, mas não aceitamos mães solteiras. – fala um homem sem piedade alguma.
– Mas veja, eu tenho experiência, tenho especializações e eu lhe asseguro que darei tudo de mim, me jogarei no trabalho como todas as outras mulheres que trabalham em sua empresa... – Sherazade implorava.
– Não insista senhora, já falei a minha decisão, aqui não vamos contratar uma mulher que é mãe solteira e duvido que a senhora encontre alguma construtora que lhe contrate, nenhuma empresa que se preza e tem um nome a zelar, cometeria uma loucura como essa... – o homem a encarava com raiva.
– E se fosse um pai, um homem solteiro que tivesse um filho? – Sherazade se levanta muito irritada e se sentindo discriminada.
– Olha senhora, o regulamento de minha empresa, não está em discussão, por isso eu peço que se retire, se a senhora não fizer por bem, então eu mesmo a obrigarei, saia daqui agora. – ele apontava para a porta de saída.
Sherazade, pega seu currículo, coloca novamente na pasta e sai muito chateada, magoada e se sentindo ofendida.
"Como podem me negar emprego simplesmente por eu ser uma mãe solteira? Quer dizer que minha faculdade, minhas especializações nada valem diante de uma empresa e tudo por quê? Porque tenho um filho e já não tenho marido, porque ele morreu."
Sherazade saiu chorando da empresa, não era para menos, afinal de contas aquela já era a quarta empresa que a dispensava e o único motivo era, Kaan, seu filho que tinha 5 anos e quando tinha 1 aninho perdeu seu pai. Sherazade desde que perdeu seu marido, tentava arranjar um emprego, conseguiu um emprego por um curto espaço de tempo, mas era apenas um "bico", infelizmente não deu certo, a empresa entrou em falência e Sherazade foi parar na rua e desde então sua vida se resume a fazer bicos em pequenas empresas e ser rechaçada nas grandes, porque é uma mãe solteira.
Enquanto estava no táxi voltando para sua casa, seu celular chamou em seu bolso.
– Alô, Dr. Átila? – ela enxugava as lágrimas com um pequeno lencinho.
"Sherazade, tenho uma notícia boa para você." – o médico estava com uma voz bastante animada.
– O que houve doutor? – um fio de esperança passou pelo rosto de Sherazade.
"Encontramos um doador para o Kaan." –  ele falava contente.
–  Que bom... – Sherazade chorou de felicidade. – me diga mais. Quem é? É de Istambul?
"Sherazade é melhor que você venha amanhã para meu consultório assim poderemos conversar melhor."
– Tudo bem, Dr. Átila, amanhã eu passarei aí. – Sherazade desliga o celular.
Após alguns minutos ela chegou em sua casa, abriu a porta guardou a bolsa e saiu apressadamente para ver o pequeno Kaan, em seu coração de mãe aflito, Sherazade sentia um fio de luz e uma gota de esperança.
– Como ele está? – ela pergunta para uma senhorinha que cuidava de Kaan em sua ausência.
– Continua com febre, desde a hora que a senhora saiu, a febre dele não baixou, nem por um momento.
Sherazade com um grande aperto no coração se abaixou no pé da cama de Kaan e começou a acariciar seus cabelos, enquanto ela chorava, chorava e chorava.
– Meu filho resista, resista a mais essa noite, eu prometo que em breve esse pesadelo vai acabar, eu prometo. – ela segurava sua mão, a beijava com um desespero evidente, suas lágrimas escorriam pela mesma, o garoto continuava imóvel e muito suado.
Alguém tocava a campainha, a senhorinha que cuidava de Kaan abriu a porta.
– Boa noite! A Sherazade chegou? – perguntava uma moça de cabelos vermelhos.
– Sim, está no quarto com o Kaan...
– Ele piorou? – ela saiu rapidamente, segurava em suas mãos um embrulho prateado. – Amiga. – ela deixou o embrulho em cima do criado mudo e se abaixou ao lado de Sherazade a abraçando.
– Bennu, quando esse pesadelo vai acabar? Quando? – ela chora nos ombros de Bennu.
– Calma amiga, calma. – Bennu a abraça, enquanto ela chorando olhava o pequeno garoto deitado em sua cama e imóvel.

Em um outro local, que era o oposto total ao de Sherazade, morava Feride Aksal a mãe de Onur Aksal, ela residia no Bósforo de Istambul, onde a casa mais barata custa o mesmo valor de uma Ferrari luxuosíssima. Onur, Kerem que é seu melhor amigo, Feride e Seval a mãe de Kerem, estavam em mais uma de suas reuniões do conselho.
– Filhos, eu pedi para que viessem para essa reunião extraordinária porque eu e Seval andamos pensando e concordamos que estamos cometendo um erro muito grave. – Feride falava seriamente.
– Que erro? – pergunta Kerem confuso.
– Filho, eu sei que a Binyapi todos os anos doa à Associação de Crianças com Leucemia uma boa quantia em dinheiro, contudo estamos faltando no mais fácil e sinceramente no mais complicado. – Seval olhava para os dois.
– Isso mesmo... estamos deixando de fazer nossa parte como cidadãos que somos. Me digam, de que adianta doarmos o dinheiro, se tantas crianças estão morrendo de Leucemia, por falta de doadores, elas morrem não somente por dinheiro, muitas mortes são causadas pela falta de doadores compatíveis. – Feride falava indignada.
– Tá bom e o que a senhora quer que façamos, que a gente arrume doadores? – pergunta Onur bebericando seu whisky.
– Isso mesmo, porém queremos ir mais além, exigimos que você, o Kerem e os outros tantos funcionários da empresa, se cadastrem no banco de doadores de medula óssea.
– O que? – pergunta Kerem surpreso.
– Isso mesmo, e para isso, aviso que depois de amanhã irá uma equipe para fazer o cadastro de vocês gratuitamente.
– Mãe, como toma uma decisão desse nível, sem nem ao menos consultar o presidente da empresa? – Onur parecia incomodado.
– Querido, eu conheço vocês, vocês nunca iriam tomar uma atitude como essa, por isso eu e a Seval encabeçamos e planejamos tudo, para mim essa causa é muito importante e quero que vocês, nos deem apoio e cobertura, dessa forma amanhã mesmo façam o comunicado na empresa.
– Bem... já que não tem remédio o jeito é remediar. – Onur coloca o copo de Whisky em cima da mesinha ao lado do sofá.

– E aí amiga como foi nas empresas? – Bennu bebia chá com Sherazade.
– O de sempre, eles não me aceitam porque sou mãe solteira...
– Meu Deus, que pessoas mais sem coração.
– Me sinto como se eu tivesse uma doença muito contagiosa, eles nem sequer leem meu currículo, quando veem que tenho filho, eles logo me mandam sair, não olham o quanto estudei, nem minhas experiências e nem nada, só olham se sou solteira e tenho filho. – Sherazade chorava.
– Ai amiga... olha eu tenho uma ideia para você, a Fundação Hally de Muna, vai abrir um concurso para um projeto em Dubai, por que você não tenta, muitas vezes esses concursos abrem portas. – Bennu tentava aumentar a auto-estima de sua amiga.
– Você acha que consigo... digo, ganhar alguma coisa?
– Sherazade, mesmo que você não ganhe... pode ser que alguém descubra seu talento para arquitetura e venha a te contratar.
– Tá bom Bennu, eu vou tentar, não tenho nada a perder mesmo. – ela falava cabisbaixa.
– É isso aí amiga. – Bennu a encorajava. – Aliás amanhã nem vou poder estar aqui com você.
– Por quê? – Sherazade perguntava aflita.
– Porque vou viajar para Ancara, um projeto da Binyapi, preciso ver como vão as obras.
– Que bom amiga...
– Sherazade, olha eu sinto que logo, logo sua vida vai mudar você vai ver. – ela apertava sua mão em forma de apoio.
– Obrigada Bennu. Ah esqueci de lhe contar, Dr. Átila encontrou um doador compatível com o Kaan. – ela sorria pela primeira vez.
– Ai amiga que coisa boa, está vendo, eu te disse tudo vai dar certo. E para começar, vem quero te mostrar o site do Concurso. – Bennu a pega pelo braço.

Amigo não confie nas mulheres, ria de suas promessas...
– Vem cá, você não vai mudar esse seu discurso nunca, não é?!
– Meu amigo, quem não muda nunca são as mulheres, são traiçoeiras e infiéis, se eu fosse você, não confiaria em nenhuma.
– Ah claro, se todos os homens pensassem como você, a humanidade estaria em extinção. – Kerem bebe seu whisky.
– Ah, e você acha que eu estou mentindo? Então olhe para os exemplos clássicos e reais. Na bíblia dos cristãos tem muitos exemplos, vou te dar somente dois deles; o primeiro, Adão foi traído por Eva, depois Sansão foi traído por Dalila e nas Mil e uma noites Sahzeria foi traído por sua esposa...
– Onur, põe na sua cabeça. Nem todas as mulheres são assim...
– Para mim são, meu amigo eu não confio nas mulheres, e não vou confiar jamais.
– Que pena para a sua mãe que não vai ter netos, o bom é que meus filhos ficarão com sua parte. – eles sorriem.

1001 Noites de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora