Capítulo 5 - Cinco

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Aos poucos o sono ia me deixando, fazendo com que eu me mexesse preguiçosamente pelos lençóis caros da cama. A luz invadia o quarto, passando pelas cortinas frente à janela. Me sentei na mesma, lançando um olhar distraído para Devon. Ele estava esparramado, com uma das pernas cobertas pelo fino lençol de seda. Soltei o ar pesadamente pela boca e caminhei preguiçosamente até o banheiro, deslizando para fora da cama, passando pelo closet bagunçado. Escovei os dentes, encarando meu reflexo cansado no espelho. Penteei o cabelo e bocejei, aproximando-me da janela do quarto. Ali tinha uma boa e ampla visão da garagem na frente da casa. Abri a boca, espantada. Não havia sinal de carro algum. Pisquei algumas vezes, reconhecendo apenas o carro de Devon. Cambaleei para trás indo em direção a ele, que dormia pacificamente.

-Devon.

-Hm? – Ele grunhiu, fazendo com que eu bufasse. – Oque que foi anjo? – Sua voz estava rouca e baixa.

-Devon, acorda... – Ele abriu os olhos, piscando para se acostumar com a claridade. – Todo mundo já foi... – Ele respirou fundo e voltou a fechar os olhos, ignorando-me. – Devon? – Voltei a falar alto, sendo ignorada novamente. Me aproximei, sacudindo-o pelo ombro. Ele finalmente abriu os olhos e tirou minhas mãos de seu ombro rispidamente.

-Para de gritar... – Sua voz estava rouca. Ele se virou de lado e respirou fundo, impaciente.

-Eu não ia com sua mãe? – Minha voz saiu esganiçada, demonstrando minha preocupação. – Não sei se você ouviu, mas ela já foi. – Se deu por vencido e sentou na cama, ignorando meu nervosismo. – Devon, vai ficar me ignorando?

-Vou escovar o dente porra, pode esperar?! – Ele passou por mim, sem questão de desviar. Seu ombro me empurrou levemente, me fazendo cambalear para o lado. Me sentei na cama, o esperando voltar. Ele saiu do closet, onde ficava a porta para o banheiro, vestido com uma calça social preta e uma camisa desabotoada. – Vamos só nós dois, vou resolver umas coisas e te busco para pegarmos a estrada.

-Só nós dois? – Engoli seco, passando a mão por meu braço. Não queria demonstrar meu nervosismo, ou inquietação com a notícia. – Por que?

-Porque sim... – Ele começou a abotoar sua camisa preguiçosamente. Seus olhos encontraram os meus. – Está levando biquini?

-Não sei nadar. – Dei de ombros, olhando-o sorrir.

-Leva biquini... – Ele sentou-se na cama, colocando meias sociais com certa contrariedade.

-Vai me ensinar a nadar? Porque eu não pretendo morrer afogada... – Devon contraiu a mandíbula e me encarou com um sorriso discreto nos lábios.

-Ensino... – Ele não tinha acidez no tom de voz, o que me parecia raro. – Comprei um telefone para você, mas acabei esquecendo de te entregar antes... – Ele se levantou e caminhou de volta para o closet, saindo de lá com uma gravata pendurada no pescoço, uma caixa nas mãos e sapatos nos pés. A caixinha era consideravelmente pequena com um laço vermelho enrolado. Ele se aproximou e me entregou o suposto presente, sem expressão alguma no rosto.

-Eu tenho um telefone... – Ele havia me comprado um iPhone.

-Do século passado... – Ele sorriu. – É por isso que não tem redes sociais? – Engoli em seco. –É... – Menti, voltando a encarar a caixa. – Obrigada...

-Se não gostar, pode voltar a usar o seu. – Assenti, vendo-o caminhar até o espelho do quarto. Ele tentava fazer o nó da gravata, falhando miseravelmente em todas tentativas. Me levantei e me aproximei, tocando em seu ombro. Devon me olhou pelo reflexo e se virou calmamente. Arrumei sua gola e comecei a laçar a gravata, pacificamente. Eu mal o vi de gravata, talvez esse fosse o motivo. Terminei, ajeitando o nó cuidadosamente.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora