Capitulo 2 - Dois

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Eu sentia um frio estranho na barriga, anunciando que meus instintos estavam aguçados e acusando algo. Estávamos em um carro blindado, totalmente preto. Haviam dois seguranças junto a mim no banco de trás, um de cada lado. Um deles era caucasiano e desprovido de cabelo, o outro era ruivo e tinha uma expressão engraçada no rosto, ambos portavam armas e vestiam uniformes e seus olhos eram cobertos por óculos escuros. Em uma de suas orelhas havia um fone de ouvido com o fio enrolado e preso em um dispositivo próximo à gola da camisa.

-Pra que tudo isso? – Eles não me responderam, continuaram sérios e atento às janelas. – Estou me sentindo o presidente dos Estados Unidos... – Nem sinal de suas vozes. – Tá bom... Vocês não gostam de conversar... Entendo... – Eu costumava disparar quando estava nervosa, uma péssima mania.

Ao chegarmos ao destino, que eu desconhecia, pude ver Devon e o outro rapaz que estava na boate, o mais novo com madeixas loiras. Na luz do dia ele me parecia familiar, como se já tivesse o visto antes. Ele usava um terno simples e tinha as mãos no bolso, controlando sua tremedeira e nervosismo, não muito diferente de Devon, que também estava agitado e um pouco mais irritado. Ele vestia uma calça social e uma camisa de botões preta, com as mangas arregaçadas até o cotovelo. Ambos combinavam quanto à ausência de gravata.

Minha mão suava e meu estomago parecia ter sido tomado por várias borboletas, o que me deixava enjoada. Levei alguns segundos para descer do carro. Antes de seguirmos para o local em que eu havia chegado, uma mulher havia me comprado diversas coisas. Ela falava rápido e rolava os olhos quando eu não entendia, parecia irritada comigo e minha presença. Tirei os óculos escuros e o coloquei dentro da bolsa, ambos comprados pela tal mulher loira que nem fez questão de se apresentar. Ambos estavam parados me olhando, como se procurassem o que dizer, mas engasgado antes de conseguir falar. Devon enfiou as mãos no bolso e apontou, para a luxuosa casa à nossa frente, com o queixo. Ele puxou o cabelo para trás, tirando-o da frente dos olhos.

Meu queixo caiu ao ver a casa vitoriana à minha frente. Era surreal de tão bonita. Sua pintura parecia refletir a luz do sol e dar-me uma falsa impressão de reluzir. Caminhamos pelo longo caminho entre o jardim bem cuidado e à entrada depois da grande escadaria. A porta era feita em madeira branca, destoando do amarelo bem claro da pintura, com detalhes em vidraria e 'pintura dourada.

As surpresas não acabavam ali, apenas aumentou ao entrarmos, dessa vez meu queixo quase foi ao chão com tanta elegância e glamour. Seu interior era tão perfeito quanto por fora. O piso era feito de mármore recém limpo. Lancei um olhar rápido para o lado, vendo a sala de TV separada desse ambiente atual por uma estante de livros. As longas pilastras arredondadas marcavam o começo de ambos os lados da escada que se dissipavam em duas, formando um Y. Arrastei vagarosamente o olhar das escadas até o portal da cozinha, onde havia um grande relógio em cima. Passava das duas da tarde. Os pais de Devon chegariam às oito da noite para a festa de gala, onde ele iria me apresentar como sua namorada formalmente.

Depois de escutar diversos conselhos e ordens da tirana loira sobre moda eu havia escolhido, por minha conta, o vestido e um terno para Devon, que eu sinceramente não sabia se ele gostaria de fato, mas era a combinação perfeita para o meu vestido.

O tema da festa era baile de máscaras. Devon havia me falado que esse baile era promovido todos os anos pela empresa de sua família. Eu, em meio a luta pelo vestido perfeito, acabei encontrando as máscaras perfeitas. Era um par, que ornava com o conceito do traje. As máscaras se completavam inversamente. A minha era branca com detalhe em arabescos de glitter prateado, já a de Devon era um tom fosco de preto com pedraria da mesma cor, mas com o sub tom diferente.

Quando me dei conta da situação atual percebi que eu encarava com certa fixação para a escada, permanecendo com a expressão maravilhada. Ouvi uma voz, diferente de todas que eu tinha ouvido, soando atrás de mim.

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