Capítulo 8 - Oito

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Brigamos por boa parte do caminho, nosso destino já estava próximo e eu estava dando graças aos céus por não precisar ficar nem mais um minuto presa com Devon no carro. Os momentos bons foram se afastando à medida que chegávamos, era como se ele adorasse me ver irritada.

Eu também estava alterada pelas coisas que a mulher, a cartomante, na loja havia me dito. Pareceu tão profundo que me dava arrepios.

-Passei uma parte da minha infância lá, era a casa dos meus avós... – Ele disse com pesar, interrompendo nossa discussão sobre o volume da música que tocava. – Ali perto da praia tem meu lugar preferido da vida...

-Meu lugar preferido de todos é uma roda gigante próximo à um píer. – Suspirei, lembrando-me da última vez em que fui até lá. – Depois que eu comecei a trabalhar na boate eu andava exausta. Estava trabalhando meio período em um café e eu tinha uma hora livre do intervalo da boate até o café, eu tomava banho e ia até lá. Ficava vendo as pessoas passando, imaginando a profissão, o que iriam comer no jantar e em como nossas vidas nunca se cruzaria. Ficava vendo as crianças indo para a escola, a vida passando. Era como se eu tivesse parada no tempo... Em diversos momentos eu me perguntei se em algum dia, próximo ou distante, eu seria a pessoa brilhante que eu planejei ser na adolescência... Se faria alguma coisa com meu diploma, que eu me dediquei tanto para ter... – Olhei para Devon, que me lançava olhares interessados durante meu devaneio. Ele ficou um bom tempo em silencio, o que me fez emergir em meus pensamentos profundos e filosóficos sobre meu futuro até perceber que entravamos em um desvio com um caminho de grama e areia.

-Está pronta? – Devon parou o carro próximo aos outros. A casa estava toda iluminada. Apenas para sair de lá, dos Hampton, foram no mínimo duas horas, mesmo Devon não tendo piedade de pisar no acelerador. Apesar de morarmos no litoral a família resolvia viajar vários quilômetros durante horas para ver outra praia em outra mansão. Talvez fosse para ter paz longe de East Hampton, que escondia mais coisas do que deveria.

-Estou. – Sorri, abrindo a porta do carro simultaneamente com Devon. Ele caminhou em direção à Gerard, que abriu a porta no momento em que estacionamos o carro, que caminhou apressado ao nosso encontro. Ele estava com uma blusa gola polo enfiada em uma bermuda branca. Todas as vezes em que eu o vi ele usava terno e roupas sociais, era interessante vê-lo com roupas casuais.

-Eles não sabem da explosão, não é? – Gerard sorriu ao me ver, me encarando por alguns segundos até desviar o olhar para Devon.

-Não... – Ele pigarreou tirando algo do bolso, que eu não consegui ver ou identificar. – Como você pediu... – Devon pegou o objeto e a enfiou no próprio bolso. Era irritante ficar de fora.

-O que você disse a ela? Minha mãe. – Ele parecia nervoso.

-Que vocês foram aproveitar o dia em uma pousada. Pedi à Cecilia para comprar algumas roupas para Angel, já coloquei no quarto de vocês. O que me espantava era a razão das roupas terem chegado antes que nós.

-Obrigado Gerard... – Devon soltou o ar pesadamente pelo nariz e me encarou. – Vamos...

Eu havia tirado os seus chinelos e colocado os saltos, o que dificultou meu caminho pelo caminho de pedras até à porta de entrada. A casa na praia era branca com um telhado escuro, haviam diversas janelas marrons contrastando com a pintura clara. O jardim estava misturado entre areia e uma grama com flores. Caminhamos até o interior, já que Gerard havia deixado a porta aberta. A casa era aconchegante, não tão luxuosa como a mansão em Hampton, mas não chegava nem perto de ser simples. Havia muita decoração rústica e balanços ovais pendurados no teto espalhados pelo canto da casa. Pude ver alguns grãos de areia espalhados pelo chão de madeira da casa. A mãe de Devon se aproximou apressadamente. Ela usava um vestido branco por cima de um biquini azul. Ela envolveu o filho em um abraço e em seguida fez o mesmo comigo.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora