Capítulo 31 - Trinta e um

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Meu coração estava acelerado, minha boca seca e minhas mãos úmidas. Eu tinha um discurso na cabeça, mas tudo se esvaiu assim que a porta à minha frente se abriu e seus grandes olhos verdes encontraram os meus. Seus finos lábios, tingidos por um batom rosa claro, se entreabriram em surpresa. Era como se ela estivesse pronta para dizer algo, mas nem sequer sabia o que era. Seu rosto ficou levemente pálido, tirando a cor rosada de suas bochechas. Arqueou suavemente a sobrancelha e abriu mais os olhos.

-Angelic... – Seus olhos percorreram meu corpo e eu pude vê-la encarar meu ombro, o que tinha a pequena e quase imperceptível cicatriz, discretamente. Eu não sabia como ela tinha conhecimento da bendita marca, mas ela a usou para nos diferenciar. Eu não a culparia se nos confundisse, já que eu quase nunca a vi.

-Elizabeth... – Soprei, sem conseguir proferir mais uma palavra. Ela abriu a porta por inteiro e sorriu fraco, parecia confusa. Era como se tivesse sido arrancada de um transe para a vida real há poucos segundos.

-Não achei que bateria na minha porta, recusou tantos convites... – Sua voz não tinha magoa, apenas surpresa e um resquício de empolgação. Ela parecia lugar para esconder seu ânimo.

-Preciso falar com você... – Abracei meu próprio corpo, sentindo a brisa passar violentamente por meu corpo, especialmente por meus braços, sem algo para servir de barreira. Um calafrio me tomou repentinamente. Me arrependi de tão ter pego uma blusa de frio.

-Entra... – Soprou como se tivesse tido essa ideia repentinamente.

Ela deu um passo para o lado, era perceptível sua agitação, liberando a passagem. A casa era comum, parecia um plagio das outras casas do subúrbio. Com dois andares, paredes com tons pasteis, cerca branca, jardim bem cuidado, uma garagem ao lado da porta da frente e janelas brancas com cortinas voando para fora. Era quase um padrão. A de Beth era de um amarelo claro, tinha flores penduradas na parte final das janelas. Nunca tivemos uma conversa de fato, eu não queria magoar Robert, que tinha um ressentimento intenso e profundo em relação a ex melhor amiga. Eu só conseguia pensar em como ele se sentiria se me visse ali.

-Certamente Robert não sabe que está aqui. – Comentou, como se lesse meu pensamento. Talvez a culpa estivesse estampada em meu rosto.

-Espero que continue assim. – Adentrei a casa, vendo a sala de estar logo à minha esquerda. Havia alguns brinquedos espalhados pelo chão, um sofá cheio de roupas dobradas e uma mesa de passar roupa aberta à uma distância considerável do sofá. Do lado direito ficava a escada branca para o segundo andar. – Você teve filhos? – Perguntei quase no automático, me repreendi internamente por estar sendo tão invasiva.

-Uma menina... Ela tem quinze agora... – Abraçou o próprio corpo, pude vê-la esboçar um sorriso nervoso.

-Tem brinquedos aqui, achei que ela fosse criança ainda... – Pigarrei, sem querer me aprofundar tanto no assunto. Percebi uma foto em família sobre a mesa de canto, próximo à porta de entrada. Tinha três crianças, uma adolescente junto à Elizabeth e um homem.

-As crianças são do meu marido, mas moram conosco... – Seguiu meu olhar até a foto, mas logo o desviou para os próprios pés. – Está com algum problema? – Pude ver sua testa franzida, como se estivesse preocupada ou lembrado de algo que a preocupasse.

-Não, só preciso que você me responda algumas perguntas. – Ela levantou o olhar e apontou para o sofá, indo na frente. A acompanhei, observando a quantidade de porta-retratos espalhados, além de desenho de crianças. Ela empurrou para o lado algumas peças de roupas ali no estofado, dando-nos espaço. Me sentei no sofá antigo e macio, ao seu lado. Ela passou a mão por sua calça capri branca, como se aquilo aliviasse sua tensão.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora