Capítulo 39 - Trinta e novo

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-Eu sabia que viria... – Um sorriso branco estava impregnado em seus lábios, cobertos por seu habitual batom vermelho.

-Vou fazer isso, mas vou impor outra condição... – Pude vê-la inclinar suavemente a cabeça para trás e enrubescer o cenho. Seu cabelo estava liso e preso em um coque redondo volumoso.

-Vamos ver... – Soou desconfiada.

-A condição é que eu posso utilizar o laboratório quando eu precisar, te aviso e você me consegue um horário bom para nós duas... – Ela sorriu e soltou o ar que parecia segurar.

-Claro, isso dá para conseguir... – Assentiu veemente.

-Ótimo. – Puxei o ar pelo nariz fortemente, como se tivesse perdido o folego.

Aquele laboratório era tão familiar que chegava a ser estranho. As bancadas sempre bem limpas, os aparelhos de última geração, o cheiro de produto químico, a iluminação branca que quase nos cegava. Cruzei meus braços e a vi me estender um jaleco, igual ao que eu costumava usar todos os dias. O vesti rapidamente, acompanhando-a por entre as bancadas até chegar em uma especifica. Ela apontou para um dos microscópios, o único com a luz ligada e uma lâmina posicionada. Me aproximei e encontrei o foco rapidamente, percebendo a familiaridade no padrão da lâmina, em como as células estavam aglomeradas e no tipo de celular.

-O que você quer que eu diga? – Continuei olhando por mais um curto período de tempo, voltando a posição normal. Cruzei meus braços e esperei que uma resposta surtisse, mas não foi o caso. – Eu ainda não entendi o que eu vim fazer aqui... – Suspirei, vendo-a apontar novamente para o microscópio. – O mesmo padrão de cocaína tratada e refinada que estávamos encontrando...

-Você queimou todos os relatórios que tínhamos sobre esse tipo em especifico... – Ela deu um passo em minha direção, encontrando meus olhos com os seus. – Ninguém aqui, a não ser você, poderia ter confirmado isso...

-Os relatórios eram meus, registrei todos em minha posse... Não fiz nada ilegal ao queima-los... – Pude vê-la assentir calmamente.

-Todas as outras amostras apreendidas, que foram pouquíssimas em comparação com o ano anterior, são iguais a essas... Eu precisava saber se o padrão é o mesmo de antes.

-Tem algumas alterações, mas isso é por conta do tipo de planta ou substancia que estão usando, misturando, agora... Precisa fazer testes de reagentes químicos. – Cruzei os braços e a medi seriamente com o olhar. – Eu precisaria vê-la, toca-la para ter certeza de que é a mesma... – Desviei o olhar momentaneamente. – Devem estar utilizando alguns produtos diferentes que causam mutação na célula, mas não no efeito...

-Por que fariam isso? – Seu peito descia e subia rapidamente, visível pela blusa preta de algodão que usava.

-Pra enganar vocês. – Sorri por um instante, vendo-a assentir e retribuir o sorriso. – É só isso?

-Você ajudou muito... – Suspirou profundamente. – Eu contratei muitas pessoas, mas nenhuma com seu olho...

-Obrigada... – Esbocei um sorriso agradecido.

-Se me permite dizer, acho que está indo pelo caminho errado...

-Caminho errado? – Cruzei os braços abaixo dos seios.

-Você tem potencial... – Disse com intensidade.

-Não vou voltar, por enquanto... – Soltei pesadamente o ar. – Por favor, não insista...

-Tá bom. – Rolou os olhos e enfiou a mão no bolso traseiro da calça de couro que usava, tirando de lá um papel levemente azulado. – Você é a Doutora Rose. Precisa estar nesse endereço, nesse horário, nesse dia. – Enfatizou cada palavra. – Isso é imprescindível... – Soltei o ar pesadamente. – Consegui uma inspeção lá, você vai acompanhar...

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora