Capítulo 37 - Trinta e sete

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-Você vai continuar brava comigo? – Disse alto, mas eu nem sequer lhe dirigi o olhar. – É ano novo... – Devon se aproximou, atraindo minha atenção, ele ainda estava com a roupa que havia ido trabalhar. Uma calça social e uma camisa, já amarrotada e sem abotoar. Ele começou a arregaçar as mangas, olhando-me com indignação.

-Eu sei que é ano novo... – Bufei, cruzando os braços abaixo dos seios. – Eu queria passar na Times Square, mas você insistiu que precisava dessa droga de negócio nessa festa chiquérrima... – Caminhei para o outro lado do quarto, sentando-me na cama. – Então faça bom proveito da droga da sua festa, eu vou dormir.

-Eu preciso de você lá... – Soltou o ar pesadamente, se aproximou, sentando ao meu lado. – Vai ter muitos jornalistas importantes, colunistas de revista de fofocas. Eu preciso que você esteja ao meu lado... – Eu conseguia escutar sua respiração rápida e intensa. – Minha assessoria de imprensa disse que eu preciso melhorar minha imagem...

-Claro que você me quer lá... – Rolei os olhos e me levantei, ainda encarando-o. – Ser a figurante ao seu lado... – Ri sem humor, levantando os braços. – O que as revistas importantes pensariam de um homem casado sem a esposa no ano novo... – Respirei fundo, descendo os braços de uma vez. – É igual no seu país, vocês falam que amam a rainha, mas quando ela decide opinar e se impor, as coisas mudam... – Cerrei os olhos. – Ela é apenas uma figura pública, sem um poder político de verdade.

-Não é assim. – Se levantou, olhando-me nos olhos. Era engraçado quando seu sotaque transparecia sem que ele o ponderasse. Se manteve brevemente em um silencio esclarecedor. A feição de Devon havia mudado, era como se ele tivesse tido uma descoberta. – Você não está brava porque não vamos na Times Square, mas sim por que eu não quis aceitar a sua ideia para a empresa. – Cruzei os braços, novamente, e o medi. – E está me punindo... – Cruzou os braços e cerrou os olhos, observando-me. – Vou fazer uma nota mental de nunca te subestimar...

-Você já deveria ter feito, a muito tempo... – Abri um sorriso vitorioso. – Vou me arrumar, espero que tenha entendido o recado...

-Eu entendi.







-Uísque com gelo... – Pedi ao rapaz atrás do bar, que me lançou um sorriso cordial e assentiu.

Passei a mão pelo vestido de cetim, ajeitando-o no corpo. Monique havia comprado, a nova assistente de Devon. Ela falava bem rápido e era agitada, o que não me incomodava tanto, mas parecia irritar Devon profundamente. Rodei na cadeira do bar, observando o movimento da festa. Todos pareciam se divertir, felizes com a bebida e a música. Encontrei Daniel na pista de dança, ele estava com uma criança nos braços. Espremi os olhos e consegui identificar Dave, filho de Margot. Minha garganta secou e minhas mãos começaram a suar levemente. Ele não estaria ali sozinho com a criança. Percorri o salão da festa, apenas com o olhar, até encontrar James juntamente a Margot em um grupo de pessoas. Rodei novamente o banco, ficando de frente para o rapaz do bar.

-Enche o copo. – Supliquei, vendo-o olhar por cima do ombro e assentir.

-Noite difícil? – Ele se virou com o copo cheio, estendendo-me educadamente.

-Uma noite de merda, devo dizer explicitamente. – Peguei o copo, dando um gole longo. Não pude evitar a careta se formar em meu rosto. Balancei a cabeça negativamente e voltei o copo para a mesa. – Obrigada, não vou demorar a voltar. – Me levantei, com o copo em mãos, e caminhei para longe do casal que estava me causando náuseas. Me aproximei de Daniel, que não estava mais com Dave. – Parece que faz anos que não te vejo... – Algo andava me assombrando, há muito tempo. Mesmo depois de ver os arquivos aquele pensamento, em noites vazias e caladas, me assombrava.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora