Capitulo 27 - Vinte e sete

45.6K 2.9K 210
                                    

-Tudo acaba bem... – Protestei, evidenciando minha indignação. – É injusto isso... – Eu estava deitada sobre seu peito, fitando a televisão à nossa frente no sofá. Me estiquei, apoiando-me no estofado macio para me levantar e sentar próximo a seu corpo relaxado. Devon sorriu de lado e observou meu rosto indignado, se divertindo com toda a situação. Lancei um olhar rápido para os créditos que rolavam pela televisão da sala.

-Eu gostei do filme... – Disse com um sorriso no rosto. Bufei, vendo-o rir. – Pode me falar o motivo de toda essa revolta com o filme de romance clichê que a senhora mesmo escolheu?

-Na vida real não acontecesse assim.

-É um clichê romântico meu amor... – Ele voltou a rir, apenas me irritando ainda mais.

-Não importa... – Bati as mãos em minhas pernas cruzadas, fazendo um barulho baixo e estalo. Ele se ajeitou, puxando-se um pouco para cima. O edredom que nos cobria saiu suavemente de seu corpo. – Finais felizes não existem... Não com todos rindo e cantando na neve branquinha...

-Claro que eles existem. – Ele se esticou e me puxou pela cintura, fazendo com que meu corpo caísse sobre o seu. Beijei a pontinha do seu nariz, observando o brilho em seus olhos. – Vamos ter um.... – Não consegui evitar um sorriso bobo em meus lábios, como uma criança. Fiquei imaginando se isso seria possível. Sua mão apertou suavemente minha cintura. Naquele momento eu me lembrei brevemente do que minha irmã costumava dizer sobre amor, mas também me veio a ideia de que ela poderia estar sendo, apenas, dramática.

-Realmente acredita nisso? – Divaguei, observando seus olhos azuis me fitarem com atenção. – Em finais felizes?

-Quando te conheci, passei a acreditar... – Sua voz estava baixa, suave. Beijou levemente meu rosto. – Não estou falando de finais perfeitos, mas de felicidade... – Ele virou a cabeça de lado. – Não é o final, mas estou feliz...






Meus olhos fitaram, maravilhados, o horizonte. Puxei as mangas do cardigã grosso e fofinho até cobrir meus dedos, que sofriam com a baixa temperatura. A brisa batia com força em meu corpo, balançando meu cabelo e o vestido que eu usava. A brisa era revigorante, mas cortava sem piedade minha pele descoberta das pernas, evidenciando minha péssima decisão em vestir um vestido no início do intenso inverno. Me apoiei de lado na cerca do deck, vendo o sol se pôr no mar azul. Minha respiração se tornou lenta, calma, assim como meu interior. Me senti alheia há tudo naquele momento bonito. Alheia a todos. Devon e eu havíamos acordado cedo, ele me trouxe café da manhã na cama, feito o almoço e depois ido buscar nosso álbum de casamento. Na parte da tarde foi chamado na empresa e eu aproveitei meu momento sozinha para curtir o sol, mesmo com o frio intenso que fazia, o barulho do mar, a paz que aquele lugar me trazia. Lancei um olhar cumprido para a porta da cozinha, percebendo a presença de Devon. Ele estava encostado no portal da porta de vidro, olhando-me com uma expressão de surpresa nos olhos. Seus lábios estavam curvados em um sorriso sereno e natural, como se nem soubesse que estava sorrindo. Seus olhos azuis traziam consigo uma imensidão de sentimentos. Eu estava sentindo que era um daqueles momentos únicos, que eu me lembraria pelo resto da vida, mas que antecediam a muita dor e sofrimento.

-O que? – Passei a mão por meu braço, coberto pelo tecido macio e quente. – Você está bem?

-Sabe... Fiquei muito tempo lutando contra muita coisa internamento.... – Ele se aproximou. O sorriso tinha se esvaído de seu rosto pálido. – Eu pensei que não era capaz de me sentir dessa maneira... – Engoliu em seco, parecia nervoso. – Todos falavam sobre o momento exato, que você saberia... Eu me convenci de que isso aconteceu com outras pessoas, que eu não era um ser humano desprezível sem sentimentos.... – Ele coçou a cabeça, claramente incomodado. Se aproximou e apoiou o braço próximo o meu na madeira pintada de branco. Um longo suspiro saiu da sua boca. – Eu nunca disse isso antes... Para ninguém... – Ele voltou a puxar o ar pela boca. Suas mãos estavam tremulas. – Porque eu nunca realmente senti que precisava dizer, já que não era verdade...

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora