Capítulo 7 - Sete

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Abri meus olhos com certa dificuldade, acordar sempre era complicado. Pude ouvir a voz de Devon baixa e tensa, ele estava sussurrando, mas não estava no meu campo de visão. Fiquei imóvel por algum tempo, pelas dores no corpo, que haviam me atingido com intensidade, e também por receio de ser percebida.

-É, você mandou essa merda para a revisão? – Seu tom de voz demonstrava claramente rispidez e uma irritação genuína. – Então como você me explica essa droga explodir bem na nossa cara? – Ele bufou, estava em uma ligação. – Sorte que eu peguei minha mala antes, ou perderíamos boa parte dos arquivos... – Ele fez uma pausa. – Já peguei o outro carro, mas ela ainda está dormindo... – Outra pausa, presumo estar dando espaço para a outra pessoa falar. – Acho que fizeram algo quando estacionei o carro... – Sua respiração estava intensa, eu podia ouvi-la. – Não vou acordar ela, já disse... – Pude ouvir a porta abrindo, ruidosamente, e sua voz se findando.

Me virei de lado depois de algum tempo, tendo a certeza de que estava sozinha. Soltei o ar pesadamente pela boca e me sentei na beirada. Eu tentaria ver o que estava na mala de Devon, mas no presente momento era arriscado demais. Eu não queria provocar sua fúria logo de manhã. Enfiei os pés em seus chinelos, que ficavam exageradamente maiores que meus pés, que descansavam do lado da cama. Adentrei o banheiro e percebi uma escova de dentes na embalagem, juntamente à pasta. Logo depois de fazer minha higiene bucal e voltei para o quarto, encontrando Devon parado próximo à mala. Seus olhos pairaram sobre mim, medindo-me. Eu estava apenas com sua camisa social, as mangas passavam das pontas dos meus dedos e sua barra estava na metade da minha coxa. Seus músculos e sua altura exigiam uma camisa maior, mas era bem cinturada.

-Ficou melhor em você. – Ele sorriu de lado, se referindo a camisa, e levantou uma sacola que estava pendurada em suas mãos. – Comprei um vestido na lojinha, mas se não gostar pode ir e escolher algum que você prefira... – Assenti, pegando a sacola, ainda no ar, que foi jogada em minha direção.

Tirei de lá a peça de roupa, tecido branco. Voltei preguiçosamente para o banheiro, desabotoando a camisa assim que a porta se fechou. A coloquei sobre a pia depois de tirar o vestido do interior da sacola, desabotoei os botões médios em um tom de marrom escuro, que se abriu por inteiro para que eu pudesse vesti-lo. Ele tinha botões em uma linha até a barra, suas alças eram grossas. O vesti e comecei a abotoa-lo rapidamente, satisfeita com o caimento. Seu comprimento estava perfeito para mim, no meio da coxa. Saí do banheiro, arrastando o chinelo comigo, vendo o olhar de Devon sobre mim. Ele ficou alguns segundos me encarando, parecia surpreso com o resultado.

-O que? Ficou ruim? – Olhei para meu próprio corpo, vendo o tecido justo apenas na parte de cima.

-Não... – Ele parecia afetado, pigarreou e caminhou em direção à porta já com sua mala em mãos. Pude ouvir seu suspiro. – Podemos ir?

-Consegui a cicatriz em uma briga. – Devon havia cortado o silencio que se instalou há um bom tempo, fazendo-me encara-lo curiosa. – O cara estava com uma faca... Você acertou. – Ele não me olhou, estava atento ao trânsito. – Sei que as vezes eu posso ser difícil... – Realmente difícil era simplificar a intensidade que temperamento, e personalidade, estavam se mostrando nos últimos dias. – Cheguei à conclusão que precisamos nos conhecer para fazer isso dar certo.

-Eu não me lembro como consegui a cicatriz, meu pai disse que foi caindo da nossa antiga casa na arvore... – O observei, me olhou de relance assentindo com a cabeça. – Por que você e Margot terminaram?

-Ela me traiu. – Respirou profundamente, como se estivesse com pensamentos indesejáveis. – Por que você começou a trabalhar naquele lugar?

-Necessidade, as coisas ficaram ruins quando saí de casa, mas eu ainda tinha um emprego... Acabou acontecendo algumas coisas e eu perdi esse emprego. – Mordi o lábio inferior, lembrando-me vagamente das noites terríveis lá.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora