O Acordo

Capítulo 47 - Quarenta e sete

Em alguns momentos da vida percebemos a linha tênue que separa a felicidade de uma maçante situação de tristeza e desespero. Elas sempre caminham juntas. São duas opções, uma infeliz e trágica e outra de felicidade e bençãos. Toda essa linha é transitada por escolhas e atitudes que tomamos durante nossa vida. Nos questionamos frequentemente: E se eu tivesse dito não, me pouparia de toda essa desgraça ou me privaria de toda o êxtase e felicidade? As coisas ruins, as ruins de verdade... Elas acontecem o tempo inteiro, sempre mascaradas e silenciosas. É como se eu tivesse um pressentimento ruim, naquele café, ao ver aquele garoto e torcendo para que ele me olhasse e decidisse que eu era a escolhida. Tudo para que um plano idiota funcionasse. E se eu não tivesse aparecido? Se Daniel não tivesse ligado para Devon naquela noite?

Minha irmã estaria morta?

Eu não teria conhecido Devon e a família Sartori.

O barulho da sirene, o gosto amargo em minha boca, tudo isso me fazia voltar a realidade. Liberta dos devaneios e jogada em uma realidade nada fácil.

Um mês antes.

Devon me olhava fixamente, seus olhos piscavam com uma frequência maior do que a normal. O azul se tornou ainda mais claro. Ele suspirou e se aproximou, ajoelhando-se em minha frente. Engoli em seco, sentindo cada centímetro do meu corpo tentando entender o que estava acontecendo.

-Por favor, fala alguma coisa. – Pedi, em busca de respostas. Naquele instante eu percebi que Devon também estava processando tudo aquilo.

-Eu... – Ele sussurrou e me puxou para mais perto, seu rosto estava na altura dos meus seios. Nossa diferença de altura era engraçada, mesmo ajoelhado ele não ficava tão menor que eu. Me abraçou com força e fechou seus olhos. – Vou ser pai... – Eu nunca identifiquei tanta emoção em sua voz. – Nós vamos ter um bebê.

-Nós vamos. – Sussurrei, retribuindo seu abraço. Devon se inclinou suavemente e beijou minha barriga diversas vezes.

Naquele instante eu senti a genuína felicidade. Algo que transbordou por meus olhos.

Dez horas antes.

-Como foi a viagem? – Felix disse animado. Mordi o lábio inferior, contendo um sorriso de orelha a orelha. – Você está com um brilho diferente, um brilho de quem anunciou uma gravidez e se mandou para o caribe.

-Foi as melhores semanas da minha vida. – Não consegui manter o mistério por muito tempo. – Mas eu estava com saudades disso, de tudo isso.

-Eu estava morrendo de curiosidade e saudade.

-Toc Toc. – Desviamos nossos olhares em direção à porta do quarto. Era Devon, ele sorriu e caminhou em direção à Felix. Eles se abraçaram por um tempo, um abraço nostálgico. Mordi o lábio inferior e me sentei na cama. – Sei que vocês têm muito o que conversar, mas preciso falar com ela um minutinho.

-Olha, eu vou cronometrar... – Meu irmão sorriu e saiu do quarto, puxando a porta atrás de si.

Havíamos ido direto para a mansão Sartori, onde aconteceria a tão esperada festa de anunciação. Havíamos adiado, por conta da viagem de última hora. O anuncio de que o senhor Sartori iria se tornar o mais novo Vovô Sartori acalmou os ânimos do adiamento.

-Você está linda. – Disse, envolvendo minha cintura.

-Eu estou de roupão. – Questionei, apoiando minhas mãos em seus ombros. – Está ansioso?