Capítulo 30 - Trinta

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-Você quer ter filhos? – Ele perguntou dando suaves beijos em minha barriga. Um arrepio percorreu livremente por meu corpo nú, meu rosto corou e meus olhos cerraram. Não havíamos conversado sobre isso. Seus olhos azuis me fitavam com atenção e curiosidade.

-Claro, uns sete... – Brinquei, claramente incerta do que responder, vendo-o reproduzir uma careta de medo e depois sorrir verdadeiramente. Eu não queria falar a verdade, mas também não mentiria. Não sobre isso.

-Estou falando sério... – Devon tracejou um caminho entre meus seios descobertos, carinhosamente, até o final da minha barriga com seu dedo indicador, olhando-me nos olhos. Vê-lo iluminado pela luz dourada da manhã me fazia perder o folego. Sua pele clara dotava um brilho natural, que me fazia emanar felicidade. Era como estar em um sonho. Sua beleza se tornava quase sobre-humana.

-Você quer? – Ficar olhando-o assim me tirava o folego, as palavras passavam a sair baixar em um tom maravilhado de voz. Ajeitei meu travesseiro, olhando-o nos olhos. Um sorriso bobo surgiu em seus lábios.

-Eu nunca parei para pensar sobre isso, na verdade... – Soou sincero. Ele estava com um sorriso simples nos lábios, como se não tivesse percebendo que o mesmo estava ali. Sentou-se na cama, tendo o lençol enrolado em seu quadril. – Mas pensar em ter bebês com a sua cara me deixa animado... – O folego fugiu novamente, deixando-me levemente ruborizada. Devon resgatou minha mão, que descansava no colchão ao lado do meu corpo, e a beijou nas costas. Acariciando-a suavemente. – Estar com você me faz pensar em um futuro, um bom... Daqueles de filme que você tanto odeia.

-Eu ficaria feliz em ter um daqueles com você. – Ele me puxou pela mão, incentivando-me à sentar-se em suas pernas. O fiz com os braços envoltos em seu pescoço. Seus olhos, ainda iluminados, me fitavam com carinho.

-Você foi a melhor coisa que me aconteceu Angelic... – Ele disse.

Sua voz ficou longe, como um eco. Aos poucos um breu foi tomando minha visão e o flashback sumiu, dando lugar à uma realidade muito menos feliz ou radiante. Pisquei algumas vezes, escutando um som atordoador. Me sentei na cama macia e me estiquei para pegar o telefone, que soava altamente em meu ouvido, sobre a mesa de canto de madeira. Aquele som parecia entrar em minha cabeça e chacoalhar meu cérebro brutalmente. O coloquei na orelha sem ao menos olhar quem era do outro lado. Resmunguei, ainda sem ânimo para começar a falar.

-Hm? – Pigarrei, sentindo-me levemente tonta. Era como se aquele som continuasse ecoando em minha cabeça.

-Eu te acordei? – Era James, eu reconheci sua voz imediatamente. O barulho à sua volta denunciava onde ele estava, na delegacia. Sons de sirene, pessoas falando alto e carimbos automáticos. O som se diminuía se ele estivesse em sua sala, o que não parecia ser o caso.

-Não... – Menti, recobrando minha consciência aos poucos. Me sentei na cama, ainda sem abrir os olhos. Era como se meu corpo não me pertencesse naquele momento. – Pode falar...

-Tenho o que você me pediu...

-Vou te mandar o endereço... Me encontra em duas horas. – Eu precisava te tempo para acordar verdadeiramente e me recompor, ou qualquer um sairia correndo ao ver meu estado naquele momento. Eu sentia o cheiro de vinho barato, que eu havia derramado em algumas partes do meu colchão, e da comida chinesa que eu havia pedido. Que manhã incrível.







-Não acha melhor irmos para um lugar mais privado. – Ele olhou em volta, preocupado com a movimentação. Respirei fundo e massageei minhas têmporas, incerta se realmente deveria aparecer um público. Eu havia passado uma grande quantidade de maquiagem para disfarçar a ressaca, mas não me parecia suficiente. Tirei lentamente os óculos de sol e logo cerrei os olhos, não suportando a claridade. O café onde estávamos era conhecido por sempre comportar reuniões de cunho duvidoso. Era no centro da cidade e tinha mesas concorridas, mas o sobrenome Sartori estava me servindo de algo, além de me acarretar decepções constantes. O local era muito bem iluminado, para meu azar, mesas e cadeiras brancas em um jardim verde e florido. Barulhos de pássaros abafava as conversações, com a ajuda da distância entre as mesas.

O AcordoOnde histórias criam vida. Descubra agora