Seus olhos, de um tom brilhante de castanho, me fitavam com atenção e um pouco de receio. Seus lábios se curvaram em um sorriso encantador. Não evitei que meus lábios cedessem e lhe retribuísse. A sala estava praticamente vazia, contando apenas com duas estantes de livros e duas poltronas. Ali tudo era muito branco e levemente luxuoso.
-Essa sala me remete a hospital... – Comentou baixo. O som dos meus saltos com o porcelanato do piso ecoavam pelo amplo ambiente. Me sentei na poltrona ao lado da sua. – Não tive a chance de te agradecer... – Me virei suavemente de lado, para encara-la. Laura transparecia gratidão.
-Sei que você faria o mesmo. – Disse baixo, incerta se aquilo realmente era verdade. – Espero que as coisas melhorem para você, daqui para frente.
-Soube que vocês se casaram... – Pigarreou. Não tinha felicidade estampada em seu rosto, apenas um ar de tensão. Um longo suspiro foi audível. – Quando minha mãe me pediu para fazer aqueles favores, pensei que fosse invencível...
-Todas nós pensamos algo assim quando somos mais jovens... – Admiti. – Posso te fazer uma pergunta? – Meu coração estava apertado. Laura sorriu fraco estampado em seus lábios recém humedecidos. – Como se conheceram? Como sua mãe te colocou nisso?
-Jenna conheceu o irmão mais novo dos gêmeos, Daniel. – Meus olhos se abriram em surpresa. Eu não sabia que Daniel conhecia minha irmã. – Eles estavam sendo voluntários juntos na igreja em Downtown, Hampton, e se reencontraram aqui em Nova Iorque... De novo. – Sorriu forçado, como se sofresse ao relembrar. – Estava tendo uma coletiva com ele, Devon, e Jenna conseguiu uma exclusiva para mim. – Assenti. – Nós passamos horas conversando, sobre a empresa Sartori. – Engoliu em seco. Ela falava de um jeito que parecia doloroso. – Nessa época eu estava começando um estagio e trabalhando de babá para continuar a faculdade... Minha mãe não me queria como jornalista, então tive que me virar. – Assenti, prestando atenção no que ela falava. – Quando a matéria saiu, Devon foi até a editora da revista tirar satisfação comigo. – Deu de ombros. – Ele disse que eu deturpei o que ele havia dito. – Um sorriso bobo sobressaiu em suas lábios, havia sido espontâneo. Apear de todo o acontecido eu podia sentir carinho em seu tom de voz. – Quando ele terminou de falar e gesticular eu expliquei que aquela matéria não havia sido eu, que era um engano. – Pigarreou. – Ele ficou tão envergonhado. – Novamente um sorriso havia escapado, como um reflexo. – E me convidou para tomar um café, para se desculpar.
-E como que você foi parar em uma clinica psiquiátrica? – Cruzei meus braços, vendo o sorriso desaparecer de seus lábios.
-Quando minha mãe descobriu que estávamos namorando, ela me pediu para ajuda-la... – Seus lábios haviam adquirido secura e amargor, sem que um sorriso escapassem dentre suas palavras embebidas em rancor. – E, vamos combinar, eu nunca fui a filha preferida dela... – Rolei os olhos, sabendo que ela se referia a mim como tal. – Vocês sempre foram as preferidas, mesmo não sendo realmente filhas...
-Não diz isso Laura. – Disse firme. – Não fala isso... – Neguei avidamente com a cabeça. – Sua mãe sofreu todos esses anos. Fez inúmeras buscas e...
-Porque ela se sentiu culpada Angelic. – Disse firme. Foi sua vez de negar com a cabeça. – Quando Devon me pediu em casamento e decidimos fugir das nossas famílias, tudo aconteceu. – Uma pausa dramática havia sido feita, sequenciada por terríveis palavras. – Eu fui sequestrada e jogada naquele lugar.
-Eu sinto muito... – Era a única coisa que eu poderia dizer, incerta de que surtiria algum efeito. – Fico feliz que você esteja bem agora.
-Não acabou Angel... Está longe de acabar. – Disse tristemente. – Eles não vão aceitar que eu fui salva tão facilmente, acredite.
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O Acordo
RomanceAngel, uma Stripper, recebe uma proposta de um casamento falso vindo de um homem rico e misterioso. Sem nada a perder ela se entrega a essa jornada, incerta do seu destino. Com uma família conturbada e um passado misteriosos a jovem se vê perdida em...