O Acordo

Capítulo 26 - Vinte e seis

Terminei de pentear meu cabelo úmido, eu havia ficado horas no banho chorando silenciosamente. Meu pai costuma dizer que lava a alma e acalma os nervos. Robert havia me ligado e nós conversamos civilizadamente, o que para mim foi um alivio. Ficar brigada com meu pai não me ajudaria em nada, apenas complicaria o que já estava ruim. Batidas na porta foram audíveis, em seguida vi o corpo de Devon passar pela porta. Ele havia tirado o terno e colocado uma blusa preta de algodão com uma calça de moletom. Eu não sabia exatamente quando ele havia chegado. Havíamos brigado feio quando eu cheguei, eu nem sequer sabia o motivo, então eu fui tomar banho e ele saiu. Estava irritada e ele também. Era como se meus sentimentos reprimidos me dissessem para ataca-lo de alguma forma, para amenizar outros tipos de sensação.

-Posso entrar? – Coloquei a escova sobre a penteadeira, virando-me em sua direção. Passei a mão pela camisa larga, que terminava na metade da sua coxa, na tentativa de amenizar a raiva e apreensão.

-Já entrou. – Dei de ombros, lembrando-me brevemente do que ele havia falado. Ele conseguia ser rude quando queria, eu apenas retribuiria. – O que você quer?

-Temos um jantar amanhã, na casa dos meus pais... Meu pai voltou de viagem, junto com Melinda...

-Tá, sua irmã já me ligou. – Voltei a encarar meu reflexo. Eu estava pálida, com olheiras, rosto inchado e nariz avermelhado. Estava péssima.

-Comprei uma coisa para você. – Suas mãos estavam atrás de seu corpo, aparentemente ele segurava algo. As mesmas se tornaram visíveis, juntamente à uma caixa aveludada em um preto brilhante. Era um formato levemente triangular, saindo do quadrado convencia. Havia uma palavra entalhada em prata, reconheci a escrita de uma das lojas do shopping local. As vendedoras sempre se animavam ao ver Devon entrando, chegavam a competir para disputar sua atenção na venda. No inicio pensei que era normal, mas percebi o tratamento diferente ao ir com Melinda quando procurávamos o brinco dela para o casamento. Não deixavam de ser simpáticas ou educadas, mas não tinham o mesmo empenho ou carinho.

-O que é isso? – Cruzei os braços, vendo-o se aproximar e estender a embalagem consideravelmente grande. Abri a caixa, vendo um colar prateado com um V cravejado em diamantes. Cerrei os olhos e enruguei a sobrancelha, voltando a encara-lo.

-Não gostou? – Ele pareceu surpreso. – Podemos trocar se quiser... – Soltei o ar pesadamente pela boca, entregando-o de volta com certa força. Balancei a cabeça negativamente, caminhando em direção à minha cama. – Olha eu não te entendo...

-Isso é obvio, se entendesse não teria me comprado essa merda. – Levantei os braços e os desci de uma vez, provocando um estalo alto. Meus olhos estavam lacrimejando. Raramente eu me permitia chorar na frente de alguém, mas estava quase impossível controlar.

-Achei que você ia gostar do colar. – Ele fechou a embalagem e jogou em cima da minha cama. – Queria algo maior?

-Sai do meu quarto. – Disse ríspida, virando-me de costas. Limpei as lágrimas que ousaram cair, tentando parecer menos patética.

-Não... – Senti sua mão me puxar pelo braço, um pouco acima dos cotovelos, virando-me para encara-lo. – Eu te comprei um colar, achei que ia gostar... Não estou te entendendo.

-Eu não preciso de um colar caro estupido... – Dei de ombros. – Achei que isso já estivesse nítido para você... – Suspirei, contendo as lágrimas e a raiva. – Entendo que seus antigos relacionamentos você não precisava pedir desculpas por ser um completo idiota, era só comprar um presente caro que já bastava... Comigo isso não vai funcionar, não quero um colar ou uma bolsa nova... – Respirei fundo. – Não quero nada disso... – Olhei em seus olhos, vendo surpresa. Ele parecia estar assimilando o que estava acontecendo. – Mas talvez eu esteja pedindo algo que não exista...