Passado:
Quando Gustavo se deu conta de que não era piada minha, me olhou de modo que me fez parecer que estava leprosa da cabeça aos pés. Então me empurrou de lado e se levantou bruscamente. Vestiu a cueca ao contrário e o que escute depois nunca pude esquecer jamais:
- Como posso saber se sou o pai? Se é que uma puta como você fode comigo a hora que eu quero como posso ter certeza de que não fodeu com outros?
Não tive palavras naquele momento. Fiquei muda e vidrada. Ele pegou minha calcinha com nojo e jogou para mim. Minha última esperança havia desaparecido e mal consegui voltar à realidade. Só quando ele disse para mim se vestir logo é que eu voltei ao pesadelo.
- C-como acha isso de mim? – havia perguntado indignada e muito chocada. Ele cruzou os braços e cruelmente me respondeu:
- Já comi várias meninas como você e sei quando estão apaixonadas por mim. Mas se acham que só porque estão de cria poderão me prender a vocês, estão enganadas.
Aquilo me feriu profundamente e minha raiva foi tanta que procurei algo de machucar que estivesse bem perto das minhas mãos e foi aí que joguei o rádio - despertador do criado mudo nele, que ágil como era, desviou de ser atingido na cabeça. A pancada na parede fez um pequeno estrago no seu concreto e o rádio se dividiu em dois ao chão. Gustavo se admirou e num piscar de olhos se jogou na cama e me lascou uma bofetada que gemi de dor. Suas palavras ecoaram na minha mente enquanto ele desferia tapas na minha cara:
- Sua cadela filha de uma puta! Mulherzinha como você eu traço todos os dias e sei muito bem como cuidar de galinhas. É só no tapa que aprende, não é biscate? – não consigo me lembrar muito claramente se tentei confrontá-lo também, mas chego a recordar que encolhi as pernas e protegi a barriga. Estava com medo de ele agredir meus filhos. Nossos filhos! Naquele momento de terror me dei conta como era grande o amor que uma mãe podia sentir pelo filho, ainda mais aquelas que ainda não os tinha em mãos, mas, que estavam bem guardados no ventre. Estava deixando ser surrada por aquele monstro para proteger os gêmeos...
Não sei se cheguei a gritar pedindo socorro, só sei que deveria ter perdido um pouco a consciência e desmaiei, porque depois de algum tempo, ou hora, ou minutos não sei muito bem, acordei e demorou alguns minutos para o foco da minha visão me lembrar onde estava. Sentei na cama e me vi vestida, senti o rosto arder e passei levemente a mão sobre ele, e estava com curativos. Olhei para o lado e Gustavo estava ali, sentado numa poltrona me observando com um olhar triste, arrependido. Ele se levantou demoradamente e eu ainda assustada com o que ele me fizera recuei contra a grade da frente da cama de seus pais.
- Não, por favor, Carol... não tenha medo, prometo que nunca mais faço isso. – e caiu de joelho ao pé da cama e se curvou até encostar a sua cara no piso. Escutei um choro e quando ele levantou a cara para mim, eu o vi chorando. Não pude acreditar no que via, ele havia me batido e nem uma gota de lágrimas caiu dos meus olhos, e ele que me bateu e não sentia as dores ferverem em seu rosto estava em um pranto verdadeiro! Balbuciei:
- Por... Porque você fez isso c-comigo? – ele se levantou e sentou bem de mansinho na ponta da cama e delicadamente pôs a sua mão culpada sobre minha perna e disse soluçando:
- Não sei o q-que aconteceu direito... nunca fiz algo d-dessa maneira antes nem mesmo c-com um animal. – ele forçava não desviar seus olhos dos meus. – Fiquei com muito m-medo ao saber... ao saber disso que me contou. Olha Carol, eu e você não tivemos culpa s-se isso aconteceu, certo? Eu estou tão c-confuso e arrependido do que fiz que tenho vontade de me matar! – e desatou numa crise de choro e afundou a cara no colchão. Eu estava com o coração fervendo de raiva e ao mesmo tempo de compaixão. Ele era ainda um ser humano. Não era um monstro, era apenas um menino tão perdido quanto eu. E depois fui julgando o que eu realmente fiz e o que podia ter feito para que ele compreendesse minha situação. Pensei no que fiz com o rádio despertador dos seus pais e tive certeza que Gustavo não conseguiria enganá-los simplesmente dizendo que ele tinha derrubado sem querer no chão, já que na parede tinha uma prova de que ele não havia tão bem assim "caído no chão". E depois pude perceber o perigo que coloquei sua vida se ele não estivesse a tempo desviado do aparelho. Poderia ter se machucado bastante ou até batido na sua fonte e cair morto. Se eu tivesse tentando explicar melhor para ele, ou tivesse convencido me acompanhar ao laboratório para que o médico confirmasse minha gravidez? Não podia eu ter também compreendido que ele era o menino mais popular da escola e que certamente muitas meninas já tinham bolado planos para conquistá-lo com mentiras sobre possível gravidez? Eu sabia que aquilo que ele fizera comigo não era certo de fazer se apenas achava que era uma mentira minha para tê-lo só para mim, mas senti pena dele, imaginando como deveria ser difícil para ele de ter que cuidar da irmãzinha enquanto seus amigos se divertiam jogando futebol depois da escola, indo ao cinema, pegando uma praia ou enfim, se aventurando por aí... Gustavo ainda era o garoto em que havia despertado meu amor e seria o pai dos meus filhos! Tinha que ser perdoado, pois meus pais também já não brigaram diversas vezes e minha mãe não o perdoara sempre? Lentamente fiz um carinho em seus cabelos louros vivos e vislumbrei a imagem dos nossos filhos crescidos igual ao pai, bonitos e desejados por todas as meninas da escola. Curvei e beijei sua nuca e levantei com carinho o seu rosto molhado de lágrimas. Ele não podia estar mentindo para mim, eu confiei tanto...
- Eu te perdoo.
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Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZON
RomanceDesiludida com uma paixão juvenil ela promete se tornar a profissional número 1 do Brasil e nunca mais voltar a se apaixonar... Muitas aventuras prazerosas e loucuras aguardam por você! Autora: Por favor, se você for ler, comente, vote...