15ª Parte

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Era quase sete horas da noite quando resolvi aceitar seu pedido de desculpa e sentei nas cadeiras berradoras em torno da mesa. Victor de roupão azul pôs sobre a mesa um castiçal com duas velas vermelhas acesas. E quando ele virou para buscar os pratos na copa eu assoprei uma das chamas e disfarcei seriamente. Vi quando ele retornou com os dois pratos e se surpreender com uma vela apagada. Ele olhou para mim confuso e depois caminhou para a janela e fechou-a.

- Esse tempo de inverno...- veio ele balançando a cabeça e novamente acendeu a vela que me correspondia. Não aguentei. Desatei a rir sem controle e apoiei os cotovelos sobre a mesa. Levantei os olhos vermelhos de tanto rir para ele, que ficara abobado, como se procurasse o motivo da graça. Ele fez de entendido e abriu meia boca incrédulo:

- Ah... Então foi você!

Me controlei um pouco e apontei para sua cara sem graça:

- E você caiu feito um bobo...!

Ele me olhou fazendo carinha de não se importar e se defendeu mentindo:

- Fiz isso só para você se sentir vingada pelo que te fiz há pouca hora, lá no banheiro. – quando ele disse aquilo me senti murchando por dentro e por fora. Fui obrigada a me lembrar do Gustavo. Onde ele estaria agora? Será que ainda estava com Paola e tinha filhos com ela? De repente meu coração sentiu uma pontada de saudade...

Mas Victor olhou-me preocupado e eu saí das lembranças do passado. Ele tentou consertar o que havia falado:

- Estava brincando, Carol, eu juro! Pensei que tinha sido a brisa do vento que tivesse apagado a chama, eu não... – eu sorri para ele e o interrompi:

- Não, não é isso, é que eu... ah, esquece. Já é passado. – e cheirei o ar a minha volta e acrescentei. – Frango assado.

- Nossa! Quase me esqueci dele... – revelou ele saltando da cadeira berradora e com luvas de pano abriu o micro-ondas e tirou a bandeja de alumínio com o franguinho bem moreninho recheado com batatas e cenouras cozidas.

Aquele jantar me fez recordar um jantar no apartamento do Pr. Mendonça, depois que resolvi acompanhá-lo em seu jantar de Natal. A mesa estava farta naquela noite e havia até garrafas de vinho e champanhe. Eu merecia tudo aquilo depois de ter suportado os sermões da parte dele, dizendo que eu estava com o passaporte garantido para o inferno. Eu só o tinha como cliente, pois, sempre conseguia um empréstimo gratuito dele quando precisava. Só ficava um pouco ressentida ao receber aquele dinheiro que julgava ser os dízimos dos fiéis de sua igreja. Como estava dizendo, merecia comer tudo aquilo sozinha, mas antes mesmo de abocanhar uma coxa de galinha o vi me repreendendo rispidamente, com aquela voz irritante de buzina velha de ônibus:

- Cadê o seu respeito, Jezabel?! Vamos primeiro agradecer a Deus. – tive que aceitar e fechei os olhos, e o Mendonça começou a orar. Não tinha nada contra oração, mas me arrependi do fundo da minha alma enforcada estar ali, perdendo o Natal com aquele homem mesquinho e safado. A oração levou quase uma hora! Ta tudo bem, confesso que aproveitei e belisquei o escondidinho enquanto ele ainda permanecia falando os nomes de todos os pastores e fiéis de toda a terra. Quando finalmente escutei o amém agradeci quase chorando por ter terminado. Ele não havia gostado da minha reação e também nem dei mais atenção para ele e na gula em que estava naquela hora fui mordendo com violência a carne pela frente e...

- Está gelada! – exclamei mastigando, fazendo uma cara tão quase igual a do Victor quando estava lutando lá no banheiro. O pastor Mendonça avaliou-me repugnante informou todo sabichão:

Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora