Gustavo beijou minha mão diversas vezes e sorriu para mim.
- Eu te amo tanto, Carol, e quero me casar com você quando eu estiver jogando profissionalmente e for maior de idade. Prometo meu amor...
Ah como meu coração pulou de felicidade com aquela declaração! Sabia e tinha certeza de que nenhuma outra garota da minha escola tinha ouvido aquelas palavras tão apaixonadas como ouvi, nem mesmo a Paola, a metida e gostosa que sabia eu andava ultimamente se deitando naquela mesma cama onde eu estava. O amor era magnífico e superava qualquer barreira. Eu não mais importava se deixaria de lado os prazeres da minha juventude com minhas amigas para cuidar dos gêmeos e do marido. Eles seriam meus prazeres daquele dia em diante e só era isso que me importava.
Já estava dando quase cinco horas da tarde e os pais de Gustavo estavam para chegar. Ele ajudou-me a levantar da cama e se preocupou com os ferimentos do meu rosto. Eu o confortei dizendo que diria aos meus pais que havia caído de bicicleta e ralado um pouco o rosto e ele disse que era para eu não comunicar sobre minha gravidez ainda, pois antes disso queria arranjar um emprego para quando estiver preparado para comunicar aos pais, que também não aceitariam de início. A gente se beijou e antes de eu partir ele buscou um vidrinho de comprimido para eu tomar em seis e seis horas, para passar a dor. Fui para casa na maior felicidade e nem foi difícil enganar meus pais sobre o acidente de bicicleta que na verdade não ocorrera. Fiz como Gustavo havia me pedido e passei a tomar o remédio na hora certa e no começo me senti mais relaxada e sonolenta, fui para cama e dormi, antes havia colocado o relógio para despertar às onze da noite. Acordei meio sentindo dopada e engoli mais um comprimido e deitei novamente. Era, acho eu, quatro horas da manhã quando despertei do sono aos berros de dores, acordando meus pais assustados. Não era a dor dos machucados do meu rosto que doía de fazer qualquer um mijar nas calcinhas, como foi o meu caso também, mas uma estranha e nova dor que surgia rasgando minha carne por dentro. Estava com tanta dor que não conseguia responder às perguntas da minha mãe que desesperada pedia para eu falar onde estava doendo. Meu pai sempre foi de nunca ficar perguntando e rapidamente me pegou no colo e correu comigo para o carro, minha mãe estranhou o vidrinho de comprimido em cima do meu armarinho e levou junto conosco para o pronto-socorro do hospital da nossa cidade. Fui desfalecendo nos braços do médico de plantão quando me tirou do carro dos meus pais e junto com alguns enfermeiros cansados me puseram na mesa fria de aço, aquelas onde se operam. A última coisa que vi foram as fortes luzes brancas mergulharem penetrantes nos meus olhos e ouvir vozes em alertas e corridas como: - Estamos perdendo sua respiração! Ela vai morrer! Seu pulso está parando! – outras vozes mais distantes... – Sua pressão está caindo rapidamente, doutor! Ela está entrando em coma... – e a escuridão tampou meus olhos e a minha consciência.
Quando depois de quase um mês desacordada, se alimentando de sonda infiltrada na minha veia e respirando com ajuda de aparelho fui despertada com um beijo na testa. Abri lentamente os olhos e minha visão estava embaçada que nem pára-brisas de carro quando está numa terrível chuva com vento. Estranhei o lugar, embora minha visão só enxergasse borrões de vultos que deslizavam na minha frente e ouvia gritos de todos os lados, alguns estavam chorando bem perto de mim. Tentei falar, mas nem a boca se mexeu. Fiz toda a força possível que tinha para apalpar alguma coisa, mas, nem conseguia sequer senti-los direitos. Um borrão estava colado bem perto dos meus olhos, sabia que era alguém porque podia sentir o hálito quente saindo de sua boca e atingindo meu rosto, que mais parecia uma camada fina de gelo que o fazia arder. Uma fraca luz amarela invadiu minha barreira visual e um olho meu pôde ver melhor do que se tratava aquilo. Minha mente rodopiava como um pião, e várias vezes figuras coloridas e falantes se projetavam na minha cabeça. Eram sonhos que um dia eu vivi e que agora me mostravam que eu havia acordado e tinha que viver para compreendê-las. Olhei bem para aquele rosto surpreso curvado sobre o meu. Estava deitada e logo barulhos de pés se arrastando se aproximavam para mais perto de meus ouvidos. De repente o outro olho começou a ficar bom, e aí a visão entrou focando tudo com perfeição. Percebi que estava num hospital e que estava sendo observada por um médico.
Logo várias cabeças com toucas verdes e com óculos nos olhos arregalados se fizeram circulo no meu campo de visão. O que havia me olhado primeiramente quando acordei apagou a lanterninha médica e sorriu com a mostra grátis de seu bigode branqueado. Lembrei de seu rosto quando eu estava no seu colo, mas porque estava no seu colo? O médico piscou várias vezes para mim e acenou com a mão no ar, perto dos meus olhos vivos e atentos. Era como se eu acabasse de chegar a Marte e seus habitantes apreciassem com interesse seu novo visitante, ao mesmo tempo tentando encontrar uma forma para se comunicar.
- Boa tarde, Carol? – perguntou ele. Tentei responder e nada se moveu. Tentei lhe dizer com meus olhos que não conseguia falar e de repente um medo invadiu-me o coração como um prego sendo cravado na minha mão. Será que havia ficado muda e perdera os movimentos do corpo? O médico olhou para os companheiros com expectativa e voltou a conversar comigo. – Sou seu médico, e sei que não pode falar ainda, mas não se preocupe, logo estará falando pelos cotovelos. – e riu.
Um outro médico se curvou mais para baixo e tirando a máscara da boca, essa de dentista, foi perguntando feliz:
- Carol, eu me chamo Felipe e sou uns dos seus médicos. Quero que você se comunique com a gente piscando, o.k?- fiz do jeito que ele pediu e pisquei duas vezes. Ele sorriu aprovador e continuou. – Você sente alguma dor no momento? Se estiver sentindo pisque uma vez, se não, pisque duas vezes.
Pisquei duas vezes. Eu estava mesmo era sentindo ansiosa para poder se levantar dali. O primeiro médico olhando para mim disse:
- Também era de se esperar não é mocinha? Ficou dormindo um mês todinho e olha que nem acordou para nos dar boa noite!
Não sei como fiz que consegui abrir a minha boca e dela saiu uma indagação tão forte que chegaram assustar alguns médicos ali:
- Tudo isso?!
- Vejo que cansou em ficar respondendo nossas perguntas com piscadinha, garota esperta. – falou o médico de bigode. Eu havia me lembrado do beijo na minha testa e do choro. Perguntei a eles e eles se entre olharam perplexos.
- Não vimos quem você diz que sentiu e ouviu chorar, Carol. Mas acho que um anjo deva ter passado por aqui e te viu e... te despertou.
- O que eu tive para ficar assim...? – e lembrei daquilo que jamais poderia ter esquecido. Meus filhos! Ainda estava grávida e calculei que ainda faltaria bastante tempo para eles nascer. Também pensei nos meus pais, será que eles já sabiam que eu estava grávida? Julguei que sim, pois estava sendo cuidada por bastante médicos e eles dificilmente escondiam os nossos segredos para eles.
- Como estão meus filhos, doutor? Quero dizer, minha barriga está maior do que antes? Tenho tanta vontade de vê-la como está... – fui parando de falar quando os rostos dos médicos foram perdendo os brilhos que tinham. Agora nenhum deles me encarava, como se não escutassem direito o que eu havia dito. Meu coração acelerou e tentei conseguir movimentos nos meus braços para apalpar minha barriga. Nada de conseguir. O médico olhou para mim, olhou daquele jeito como se escolhesse palavras certas para dizer para alguém não se perturbar muito.
- Carol, você estava grávida de três meses, não é? – confirmei balançando a cabeça. Ele continuou e só depois de ouvi-lo novamente pude ligar uma coisa com a outra. Como assim estava grávida? O que ele estava querendo dizer com aquilo meu Deus do céu? – Olha Carol, o que você teve foi um caso muito sério, digamos que quase uma parada cardíaca. Você entrou em diversas complicações de risco há um mês atrás e quero que seja bastante forte, Carol, infelizmente os gêmeos, que eram meninos vieram a falecer...
A minha garganta se fechou e foi por isso que não veio som algum depois da notícia trágica dos meus filhos. Comecei a tremer todinha e chorei com lágrimas silenciosas. Olhando aqueles rostos que compartilhavam também com meu pranto, o doutor de bigode pousou sua mão sobre a minha e precisei ser forte para não ter que entrar em sono por mais de um ano seguinte. Minha mão se fechou sobre a do médico e sorrindo fechei os olhos, dizendo:
- O anjo passou e me despertou, e sequestrou meus filhos para Deus...
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Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZON
RomanceDesiludida com uma paixão juvenil ela promete se tornar a profissional número 1 do Brasil e nunca mais voltar a se apaixonar... Muitas aventuras prazerosas e loucuras aguardam por você! Autora: Por favor, se você for ler, comente, vote...