27ª Parte

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Depois de duas horas desse episódio "constrangedor", o doutor Félix Moura, acompanhado por um outro doutor mais jovem me examinou com estranhas ferramentas médicas. Fizeram perguntas se eu havia se lembrado de alguma coisa do meu passado e nada pude ajudar. Depois que eles se retiraram, Matilde entrou com meu jantar, agora de vez de uma cesta de chocolate, ela trouxera um embrulho na forma de uma bola. Rasguei o papel de seda e adivinha o que tinha dentro? Uma maçã!

Matilde entregara o cartãozinho a mim. Estava escrito: Não quero acostumá-la só com doces, porque na verdade a cesta de chocolate não anda tão barato assim e também não quero vê-la malhando o dia todo para perder as 'gordurinhas'... Te amarei sempre, Carol.

Fui dormir suspirando de ternura ao ruivo que nem sequer conhecia sua intenção por mim. Pensei tendo visitas dele todos os dias e me mandando presentinhos. Depois bateu uma profunda tristeza; só tinha mais um dia pra ficar antes de ser encaminhada à clínica. Só podia torcer e esperar que lá também pudesse deixar eu ter visitas dele...

Quando abrira meus olhos logo no início da manhã do último dia naquele hospital me vi cercada por um estranho casal a me olhar surpresos. A mulher se agarrara com mais força sobre o corpo largo do homem e chorava sem cerimônias. Só o olhar do homem se sustentava num ar de ódio e vergonha. Notei que em seus dedos havia alianças e então só podia ser...

- Carol... minha filha! – a mulher se jogara na cadeira e afundara a cabeça no meu colo em choro. Eu não sabia se dava importância à mulher ou ao homem que se recusara a se aproximar de mim, temendo talvez que pudesse transmitir uma doença perigosa ou que fosse agredi-lo. E então com pena da pobre senhora comecei a alisar seus cabelos. Ela levantou os olhos para mim e preocupada perguntou:

- Não está me reconhecendo, filha? – bem, eu não podia mentir não é? E se ela perguntasse coisas que só com a memória boa eu pudesse responder heim? Balancei a cabeça. Agora não doía muito.

- Não se lembra de nada? – ouvi a voz incrédula do homem ao meu lado em pé. Encarei novamente seus olhos e agora estavam forçando a não acreditar.

- Não sei quem são vocês, e não sei quem são os outros que vieram antes! – respondi impaciente. Olhei de relance aos olhos da mulher que se mostravam tristeza e alegria, pode uma coisa dessas?

- Não me faça rir, Caroline! – rosnou o homem sorrindo enojado pra mim. – Não vá nos enganar como enganara das outras vezes! Não vá falar que esquecera do tipo de...

- CALE A BOCA! – berrou a mulher se voltando pra ele. Tomei um susto e vi que o homem também tomara diante da reação de fúria da mulher que lhe olhava com os olhos de fogo. Aquilo fez o homem tremer, pois depois disso ele desviou sua atenção pra janela a fim de não continuar a me encarar.

Quando voltei minha atenção pra minha "mãe" a fim de saber dela tudo que eu não sabia, ou tudo que eu deixei de lembrar naqueles dias, a enfermeira Matilde nos interrompeu com batidas na porta. Ela abriu meio fio e colocou sua cara para dentro do quarto.

- Com licença... tem mais um visitante querendo ver a jovem Carol se não importam?

Mas um? Quem seria afinal? Percebi que o meu pai virou rispidamente e caminhou pra sair dizendo: - Eu nenhum pingo! – minha mãe hesitou um pouco e me deu um beijo antes de sair. Ela estava outra vez com os olhos marejados em lágrimas.

Quando eles saíram, a Matilde abriu mais espaço com seu corpo para o senhor entrar. Fiquei um tanto surpresa com a presença do velhinho. Matilde fechou a porta lentamente, podia jurar que ela estava na escuta por de trás da porta. O velho era um japonês, ou chinês talvez, eu nunca fui boa para distinguir um japonês de um chinês. Ele ficou me olhando num jeito sério e depois se curvou para mim. Será que ele ia me atacar ali?

Sem saber o que falar, vá saber se ele falava minha língua... e apenas assenti com a cabeça.

- Como vai, Carolin?

Pronto! Agora eu tinha um apelido.

- Você... você me conhece? – arrisquei e perguntei um pouco em voz forte, talvez ele fosse meio surdo.

- Não se preocupe quanto aos meus ouvidos.

Deus do céu... o velho japonês era bastante observador!

- Como você se chama?

- Não se lembra mesmo do meu nome?

Aquilo já estava me enchendo o saco! Será que ele não sabia que eu estava com a memória apagada? Que caso entrasse um casal de negro e me dissesse que era sua filha eu mesma desconfiada acabaria acreditando? Então porque ele não se toca d' que eu não sei de nada?

- Nem sei quem eu sou direito.

O velho sorria para mim de um jeito enigmático.

- Eu conheci bem você... – Deus amado, espero que não do jeito que eu estou pensando...

- Você é algum parente... amigo?

- Fui seu professor.

Ai que alivio... Claro, se ele me conhecia bem era porque ele já fora um dia meu professor na escola. Isso explica. Mas achava que não explicava nada, afinal, se nem me lembrava o porquê perdi a memória, olha lá no meu tempo de ginásio? E pela cara do velho deveria ter sido quando eu estava na primeira série...

- Porque você veio?

- Porque um dia eu lhe disse quando você estivesse numa fria eu lhe faria uma visita. Bem, eu não esperava que dessa forma porque assim fica muito complicado de a gente se comunicar, porque para você eu sou agora um estranho.

- Você sabe como foi que eu perdi a memória? – torci para ele responder que sim.

- Não. Só sei o que o doutor me informou.

Mas do que sua visita valia, então? Só estava cumprindo uma promessa de quando eu era sua aluna de me visitar quando eu estivesse numa fria. Mas que tipo de entrar numa fria que ele esperava me encontrar? Numa cadeia? Comecei a imaginar da forma que ele me conheceu e pelo jeito dele eu devia no passado estar fazendo algo que era perigoso demais. Agora fazia sentido alguma coisa, porque meu pai estivera a ponto de dizer algo muito importante sobre o que eu fazia... deveria ser algo ruim se não minha mãe não o impediria de dizer. Fiquei com medo de querer saber quem eu era, porque eu podia ser até uma assassina, ou uma ladrona fugitiva.

- C-como foi q-que a gente se conhecemos? – minha voz tremia junto com minhas mãos. Eu não estava preparada para a verdade, mas quando estaria então?!

- Me lembro como se fosse ontem... eu estava dirigindo o meu carro em plena madrugada... e foi aí que eu avistei uma garota parada na calçada, sozinha com uma mochila nas costas e resolvi encostar para saber do que se tratava...



Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora