12ª Parte

29K 1.7K 82
                                    


Eu estava caminhando sem noção e quase um carro me atropelou. Será mesmo que Gustavo teria se confundido ao me dar o remédio errado? Ele não seria capaz de me enganar para simplesmente querer acabar comigo e com seus filhos, seria? Essas perguntas martelavam minha cabeça e parecia que não estava tendo força para respirar. Por algum momento pensei em passar tudo a limpo perguntando a ele, mas, sua reação poderia ser aterrorizadora ao imaginar que estivesse o culpando pela morte dos nossos filhos. Também resolvi que não diria aos meus pais quem me fornecera os comprimidos, se quisessem continuar achando que eu matara os gêmeos que continuassem, não me importava mais, não ligava a mínima para eles. Fui para o centro da cidade quando eu o vi agarrado e aos beijos com Paola. Aquilo me paralisou e me petrificou ao ar livre! Ele estava super feliz e eu morrendo aos poucos... Como podia aquilo? Eu achava que ele pelo menos estaria se consertando, quero dizer, se reservando dos seus freqüentes namoricos.

Escondi-me atrás de uma banca de revista e observei pasmo aquele casal. Gustavo se afastara e entrara na sorveteria do Pascoal, e aquele ponto era quente, teria uma fila enorme para pedir os sorvetes, se muito bem que o pessoal já sabia que o Sr. Pascoal era lerdo por natureza.

Saí do meu esconderijo porque a dona da banca me olhava desconfiada, imaginando que estaria pensando em furtar suas miseráveis revistas de fofocas de novelas. Caminhei em direção a Paola que esperava ao lado de um telefone público e sorrindo, indaguei:

- Olá Paola? Está sozinha hoje?

Ela se fez de surpresa e me encarou vidrada por alguns segundos, se recuperando depois, forçando um sorriso de "seja bem vinda novamente á terra dos vivos!".

- Como está? – olhei para trás e nada de Gustavo. Resolvi dar um conselho de amiga:

- Serei breve, Paola – ela se concentrou toda sua atenção em mim. – Estou agora passando pelo pior momento da minha vida, mas, ainda estou com a mente sã e por isso posso te aconselhar que se um dia você estiver grávida do Gustavo ou de qualquer outro homem nunca aceite comprimido deles dizendo que são para tirar a dor. Eles só trazem mais dores... – estava chorando perto dela. Continuei: - Serão dores que nunca cessaram de torturá-la com arrependimentos em diversos momentos da sua vida.

Foi tão esquisita sua reação que poderia até ter rido da cara dela. Primeiro ela ficou abobada na minha frente e sem saber o que dizer me abraçou na maior confusão e se recuou assustada para trás, enquanto ele chegava ao seu lado com dois sorvetes de cascão em cada mão. Gustavo tentou se manter calmo, mas estava tão branco quanto à bola branca de seu sorvete sabor limão. Como eu sei? Li no caderno de perguntas e respostas sobre seu sorvete preferido.

- Oi.

Olhei bem para ele como se estivesse obrigando-o a sentir junto comigo a minha verdadeira dor. Tirei devagar o vidrinho dos comprimidos que estava no bolso e levantei a mostra. Vi-o forçar um sorrisinho torto com os olhos amedrontados, e sua mão direita tremeu tanta que ele deixou seu sorvete cair na calçada. Rapidamente se abaixou para recolhê-lo. Guardei o frasquinho novamente no bolso e abaixei a minha cabeça com a terrível confirmação: ele sabia o que estava me dando... agora pude cair na real que, sendo filho de uma farmacêutica ele poderia engravidar qualquer uma e depois convencia a garota a tomar os comprimidos, matando de uma forma tão covarde a vida que queria nascer. Tive vontade de gritar: "Assassino!"-, mas me mantive controlada e quando ele custou a me encarar novamente eu o disse:

- Te perdoo. – e dei as costas a eles, ainda pude ouvir Paola cochichar nervosa:

- Acho que ela enlouqueceu...

Eu voltei à aula, e minha diretora conversou com meus pais e disse que não ficaria para recuperação pelo que me passou. Não digo que no início foi tudo normalmente como era antes, não, tudo havia mudado, eu mesma havia mudado. Estava na mesma classe do Gustavo e passei tentar conversar com ele como amigo, não era fácil, pois ele não conseguia se controlar e passou a ter dificuldades para estudar. Suas notas caíram de oito para quatro e nos treinos de futebol não conseguia se concentrar e dava lances errados no jogo, perdendo sempre as competições contra os times adversários. Até mesmo Paola parou de repente de dar bola para ele e agora o recusava até mesmo passar cola nas provas de matemática. Gustavo andava se enrascando em brigas diárias com outros garotos e segundo alguns amigos deles disseram-me que seus pais se recusaram em matriculá-lo em outra escola e até mesmo pararam de pagar o clube de associados do parque esportivo, onde ele treinava com jogadores bons de futebol. Fiquei sim bastante triste, não queria isso para ele, depois de tudo que ele me fez. Num dia no intervalo eu fui puxada pelo braço a um canto e quando virei dei-me na frente de um rosto estranho e judiado, era o Gustavo. Ele largou meu braço e pediu:

- Por favor, Carol, pare de me perseguir! Eu n-não consigo mais suportar, é sério! – eu fiquei normal, não ia mais me surpreender. Havia mudado e não seria aquela Carol ingênua de antes. Ouvia-o desabafar. – Olhe, sei que fiz uma grande idiotice, sei que até mereço pagar na cadeia o crime que eu cometi... Mas, eu não posso mais agüentar isso, entende? Meus pais ficam perguntando o que está acontecendo comigo, e até arranjou um psicólogo para descobrir se estou metido com drogas! Vou repetir o ano se isso não parar, vou ser rejeitado por todos se continuar obtendo essas falhas... Não consegui passar no teste final do jogo e tenho certeza de que nunca mais vou ser o mesmo... – e deixou duas gotas de lágrimas rolarem dos olhos, enquanto implorou:

- Pelo amor de Deus, Carol, termine com essa vingança logo, por favor...

Eu sorri e respondi sinceramente:

- Nunca fiz isso para te prejudicar, Gustavo, e estou falando a verdade. Não vou me vingar, pois isso só ocupa espaço em meu coração e me impede de recomeçar o que eu ainda tenho para viver. Não se preocupe, tudo agora irá ser diferente. Adeus – e beijei seu rosto quente, antes do sinal tocar para a quarta aula.

Eu estava me sentindo mais forte agora que Gustavo havia desabafado suas preocupações comigo. Estava com um poder sobre minhas veias que até estranhava eu mesma, estava conseguindo controlar o que muitas jovens e mulheres ainda não conseguiam obter, que eram o querer e o poder de separar o amor e as responsabilidades um do outro.

As notas de Gustavo melhoraram, e seus treinos voltaram como era antes, Paola madureceu e soube controlar a atitude de Gustavo também. Tudo isso aconteceu só depois que resolvi sair da escola. 



Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora