50ª Parte

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Fiquei por ali mesmo, e acordei pelo mesmo sino que tocara na hora do almoço. O que seria agora, hora do café da tarde? Fiquei pensando se ia ou não, não queria passar pela mesma vergonha pela segunda vez... mas e se eles resolvessem me procurar? Resolvi ir, mas não ia entrar naquele refeitório.

Quando me aproximava da entrada a enfermeira Antonia me pegou pelo braço e me puxou pro outro lado.

- Onde está me levando?

- Eu não sei o que você falou para o seu doutor que ele estava tão nervoso... – comentou ela subindo as escadas ainda me segurando como se eu fosse uma cega.

- Eu não falei... quero dizer, falei o que ele estava querendo ouvir! Ele é um monstro!

- Você acertou querida, é um monstro, mas um monstro poderoso aqui nessa clínica! Ele proibiu-a que se reunisse com as demais pacientes no refeitório.

- Então devo lhe agradecer pelo presente! – eu disse sorrindo. Não teria que aguentar aquelas mulheres mais. Até que o velho era gentil.

- Não brinque com ele, Carol... ele sabe ser muito ruim quando quer – avisou ela pra mim, num tom sério e preocupante.

- Nem me fale... – resmunguei com a novidade.

Caminhamos pelo corredor e paramos na porta do meu quarto.

- Agora você passará suas refeições aqui, sinto muito – disse ela como se eu estivesse muito abatida com o castigo. Eu nem perdi tempo em dizer o quanto estava angustiada...

- Da próxima vez pode ficar tranquila eu sei o caminho para vim pra cá, o.k? – eu disse mais para lembrar do que pra magoar.

Ela sorriu e me apertou a bochecha.

- Eu sei, querida, é que eu queria lhe falar para não cutucar a onça com vara curta – ela ia se retirando quando a chamei.

- Quem é aquela enfermeira que servia o almoço na mesa?

- Ah, aquela é Vilma... – falou um pouco amargamente.

- Foi por culpa dela o que aconteceu.

Antonia sorriu novamente.

- Ela não é flor que se cheire, lembre-se disso, mas acredite, é bem mais gentil que o velho Almeida.

Depois de meia hora veio uma outra enfermeira trazer o meu café da tarde. Ela não tinha cara de ser uma bruxa disfarçada, mas também não tinha jeito de ser uma fada-madrinha como a Antonia.

Lá pra seis da tarde a enfermeira Vilma entrou no meu quarto, dizendo:

- O Doutor Tadeu Almeida me informou sobre sua acusação a meu respeito... - Eu estava acordada, mas não dei importância as suas queixas. Ela continuava com sua voz azeda. – ... Mas se está achando que poderá me provocar com suas mentirinha, pode tirar o seu cavalinho da chuva.

- Que mentiras? – indaguei virando o corpo pra ela. – É eu que estou com amnésia ou a senhora?

Ela me lançou um olhar que podia derreter a maior montanha de gelo, mas eu encarei no maior deboche.

- A hora do seu banho é às seis e meia e o seu jantar será servido às sete em ponto aqui mesmo – e saiu tão silenciosa como um fantasma podia sair.

Tomei banho na hora exigida e as sete e "cinco" apareceu um carrinho com um prato farto. Eu fiquei até surpresa, pois achava que ia receber só as sobras por causa do episódio lá no refeitório... mas achei que a cólera do velho estava esfriando.

Depois a mesma enfermeira voltou e levou o prato e o copo, mas me deu um pedaço de papel. Abri e li:

"Por favor, Carol, não conte pra ninguém que no seu prato veio pernil assado, se não eu serei despedida. Na verdade as suas refeições noturnas serão apenas de arroz, feijão e legumes cozidos. Mas acrescentei uma mistura extra! Só quem sabe disso é a Roberta, a enfermeira que levou o seu jantar. Confie nela, mas não enche sua cabeça com suas queixas dos outros funcionários. Assinado: Antonia".

P.S: rasgue depois de ler!

Eu estava me considerando como uma agente secreta capturada pelos seus inimigos e tendo aliados entre eles. Rasguei o papel e depois joguei na privada, não queria deixar vestígios algum pro inimigos...

Então o meu arqui-inimigo o "velho" ainda estava tramando contra mim, e tinha capangas ao seu comando.

Lá pra oito e quarenta da noite a enfermeira Roberta veio me trazer uns comprimidos com um copo d'água. Ela me disse que ia me ajudar a relembrar a memória perdida. Ingeri e depois de alguns minutos me senti com sono, e fui dormir.

Acordei com umas mãos me sacudindo o ombro e o meu nome no ouvido.

Abri os olhos ainda cansados e vi o rosto de Antonia entrando em foco.

- Que... que horas é? – perguntei esfregando a cara com as mãos para espantar o sono.

- Seis da manhã! Vamos, tome um banho e vista seu uniforme pra tomar seu café da manhã.

Sentei na cama.

- Uniforme? Mas... – e então vi a cara dela e compreendi tudo. Novo castigo do meu doutor.

Entrei no banheiro e me despi. Abri a válvula e caí em baixo da água, saí gritando bem no momento em que a água atingiu meu corpo quente.

- O que houve?... – a voz da Antonia veio atrás do boxe.

- A água está um gelo só! Mas ontem a noite estava tão quentinha... – disse sem entender, tremendo de frio.

- Não fique brava, Carol... mas é que o doutor...

Eu abri a porta do boxe com tal violência que quando vi o seu rosto apenas sorri.

- Muito bem, se o doutor quer mesmo cutucar onça com a sua vara curta, então será assim!... 




Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora