49ª Parte

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No refeitório todas as mesas iam sendo ocupadas, e as enfermeiras traziam os pratos de comidas até elas, poupando-as em fazer filas para tirar seus próprios pratos. Achei esse comportamento muito sensato e gentil. Fiquei com vergonha num canto, se ia sentar ou não. Uma enfermeira me convidou gentilmente:

- Pode sentar, filha. Fique onde quiser tá?

Sorri pra ela e procurei um canto lá no fundo, onde a mesa estivesse com menos gente. Sentei e olhei pra toda a turma. Ainda bem que ninguém estava apontando pra mim, era como se eu não fosse nenhuma novidade.

A enfermeira que trazia os pratos me olhou e disse:

- Você não é louca, pode tirar a sua própria comida.

Fiquei ali, parada e sentindo as bochechas arderem de vergonha. Pensei que também receberia a comida na mesa, mas percebi que o simples fato de as enfermeiras trazerem os pratos à mesa era para evitar confusões das doentes na fila, e eu não era doente mental.

Meu coração disparou quando levantei diante daquela multidão que comia num silêncio mortal. Fui onde estavam as bandejas e peguei uma, e tremendo toda comecei tirar a comida. Quando olhei atravessado notei que umas das pacientes estavam levantando de seus lugares trazendo suas bandejas e fazendo fila atrás de mim. As enfermeiras vieram correndo para evitar a confusão. Desesperei-me e deixei a bandeja escorregar de minhas mãos ao chão.

- Olha! – gritou umas das doentes pra todas. – Ela não quer comer essa porcaria que nos servem, e eu também não vou querer! – e para piorar ainda ela atirou a bandeja no chão com tal força que esparramou comida por todos os lados. As companheiras deram risadas e seguiram o mesmo exemplo. As enfermeiras gritaram pedindo ajuda para outros colegas, e eu fiquei ali, vendo a algazarra de todas elas. Pareciam que elas estavam se divertindo depois de muitos anos sem se divertir. Fez-me lembrar daquela algazarra no recreio quando era uma adolescente de 13 anos... e aí fiquei espantada com tal lembrança que me veio a mente! Vi-me na memória uma linda garota desviando de restos de comida atirado em minha direção e eu rindo como nunca, mas fui arrancada da minha lembrança com um grito forte de um homem. Vi-me de volta diante daquela confusão toda, daquelas doentes sujas de comidas e com caras de medo. Um velho de terno e gravata ficou parado na entrada do refeitório como um verdadeiro sargento de chicote nas mãos.

- Quem começou tudo isso? – rosnou em sua voz grave e nada agradável.

Vários dedos me apontaram e o olhar daquele sujeito pareceu brilhar de raiva quando me observou.

Os enfermeiros levavam os pacientes de volta pro seus lugares.

O doutor, eu acho que era, ficou parado me examinando. Pela expressão de seu rosto eu deveria estar muito ferrada.

Ele me fez um sinal para que o acompanhasse, e enfrentei as pernas que mal paravam em pé e saí, antes escutei um uníssono de vaias das doentes.

O velho continuava a minha frente e eu bem lá atrás dele. Ele abriu uma porta e entrou. Depois de alguns segundos eu cheguei à porta aberta e vi numa placa o nome "Dr. Tadeu Almeida".

Entrei pra dentro e fiquei ali, parada, enquanto ele me olhava mais de perto sentado na sua poltrona diante da sua grande mesa de mármore preta.

- Feche a porta – foi uma ordem, e não um pedido.

Eu fechei. Não quis encará-lo nos olhos porque talvez desafiasse sua irritação ainda mais. Eu até andei pensando nas horas anteriores causar uma boa impressão quando chegasse à hora de a gente se conhecer, pois o comentário de Antonia me avisou que o meu "doutor" não era muito simpático. Mas pelo jeito a primeira impressão não foi tão boa assim.

Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora