16ª Parte

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Ele havia perdido todo o brilho dos olhos doces e apaixonados. Eu também não era a mesma depois que eu o conheci e acho que nunca seria a mesma. Rolei de lado, dando lhe as costas e lágrimas silenciosas testemunharam a minha decisão naquela noite.

- Então... boa noite, Carol... – ouvi sua voz como se a gente estivesse a quilômetros um do outro. Não respondi. Não teria, sabia eu, uma boa noite nunca mais... e o encantamento da fada-madrinha tinha se rompido com à chegada da meia-noite. Como eu odeio contos de fadas!

Levantei da cama como se estivesse com ressaca depois de uma noite longa em um bar. Victor não estava ao meu lado. Achei que tivesse acordado antes para preparar o café da manhã para mim, com esperança de me deter mais um dia com ele. Fui para o banheiro e lavei meu rosto. O reflexo do espelho na parede mostrava uma mulher fraca e sem proteção. Saí dali e voltei para o quarto onde vesti minhas roupas e guardei minha agenda na minha bolsa. Fui para cozinha. Victor não estava lá. Estranho...

Fui para a sala e cheguei por trás do sofá e lá estava ele, debruçado nele dormindo. Havia dormido ali a madrugada toda, pois ele bebera. Havia uma garrafa de uísque jogada num canto da sala e uma taça estraçalhada perto da estante de livros. Olhei no meu relógio de pulso e era quase sete horas da manhã, e brava comigo mesma o acordei. No início ele resmungara no sono para não acordar, só abriu os olhos quando falei que ia mijar em cima da sua cabeça se ele não levantasse. Victor estava sem a camisa, mas dormira com uma calça-pijama. Seus cabelos ruivos estavam bem rebeldes. Olhou com seus olhos sonolentos para mim e fiz uma cara de desapontada, mas firme com minha decisão. Ele se esforçou um pouco a se levantar e sentar no sofá; passou as mãos no rosto como se o esfregasse com água.

- Você quer mesmo ir...? – perguntou ele a mim com uma voz judiada tanto pelo sono quanto pela bebida. Ele perguntou por perguntar, acho, pois quando não disse nada ele se levantou abatido e saiu da sala. Sentei naquele sofá amarrotado e quente por causa do seu corpo, senti um pouco com ciúme daquele assento. Ele estava recebendo aquilo que queria só para mim, que era o seu calor... achava que estava sendo obcecada ou maluca por achar daquele jeito. Isso ia mudar quando voltasse a me encontrar com meus velhos e amados clientes. Foi aí que me decidi, e achei que fosse melhor não mais marcar novos clientes na minha agenda lotada, embora lotada, sempre havia um espaçozinho livre para mais alguém. Então estava decidido, não ia ter clientes novos, ficaria com os meus primeiros que me sustentavam tão bem... comer feijão e arroz todos os dias enjoa, Carol. Minha consciência opinava naquele momento, mas tive que romper os pensamentos com a vinda de Victor novamente à sala. Ele havia lavado o rosto e penteado o cabelo bem nervoso. Levantei me sentindo péssima e não pude encará-lo bem nos olhos. Ele já estava com uma camisa.

- Então... – comecei eu falar para encorajá-lo me acompanhar até ao portão da garagem. Victor bocejou de sono e virou a costas para mim novamente. Perguntei:

- Você poderia por gentileza me acompanhar até lá fora? – mas ele virara ao corredor a direita, onde era a cozinha. O segui e ele estava abrindo a gaveta do armário embutido na parede e tirou uma caixa de cereal e o pôs a mesa. Sentou parecendo calmo na cadeira berradora. Enquanto ele se servia com o seu café da manhã me perguntou sem me olhar:

- Porque não come também? – eu nem liguei. – Se não gosta de cereais então pegue uma maçã.

- Obrigada, mas não. – havia respondido a ele neutra. Ele só havia comido duas colheradas do café da manhã e definitivamente se levantou e puxou a carteira do bolso. Tirou uma nota azul com o símbolo de um peixe vivo e novo, me entregou.

Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora