21ª Parte

15.1K 962 20
                                    


O pior de tudo isso é que eu havia esquecido do maldito grampo de segurança preso na barra da calça e foi isso que causou o alarme da loja. O homem que julguei ser meu pai era o gerente da loja e me acalmou, dizendo que apenas eu tinha esquecido do grampo e que não ia me mandar para a cadeia. Mais mesmo assim tive que ir à delegacia daquela cidade. Com a confusão armada no centro da cidade, dois policiais apareceram e viu a minha bolsinha aberta. Pelo menos havia cerca de oito camisinhas fechadas e meu estojo de maquiagem. A casa para mim desabara naquele momento. E desabou mesmo quando eles também encontraram a foto do meu corpo nu fundido com a cabeça de Madona quando adolescente.

Era seis da tarde quando o delegado negro da central policial do Fórum - 62 me encarava entre seus óculos escuros, sentado na quina de sua escrivaninha esperando pela resposta que deveria lhe dar: "aonde foi que você arranjou essa foto?". Claro que eu não disse, pois se eu dissesse estaria prejudicando o Anderson. Ainda bem que havia deixado o álbum de fotos lá no estúdio.

- Então prevejo que não irá colaborar conosco, não é Carol?- havia ele perguntado, mantendo sua raiva oculta, mas mesmo assim eu percebi.

Meu cotovelo estava com curativo.

- Eu achei pela rua, já lhe disse. – falei isso pelo menos sete vezes quando o doutor insistia em perguntar a mesma pergunta: aonde foi que você arranjou essa foto?

- Olha, sabia que posso mandar você ao centro de recuperação para menores? Você só tem dezessete anos e anda se prostituindo. E está ocultando informações para prendermos o responsável por essas fotos! – ele agora estava em pé e curvado para mim, berrando. Eu me mantive firme na minha posição, ele só estava querendo me intimidar. Ele não tinha provas suficientes para ir avante com essas acusações. Simplesmente poderia negar tudo.

Meus pais haviam chegado meia hora depois e então encarei nos olhos deles até que eles desistissem seu contato visual com o meu. O delegado pediu que eu esperasse na sala de espera enquanto conversava com meus pais no seu gabinete. Lembro que passou quase uma hora depois disso e finalmente pude deixar aquela delegacia fria e feia. Teve até um cara detido que passou a mão na minha bunda!

Não mencionei uma só palavra com eles quando estávamos voltando para casa e que me lembro eles também não, mas minha mãe fungava o nariz toda vez que seu olhar encontrava com os meus pelo retrovisor do carro. Meu pai assobiava nervosamente no volante e tentara meia dúzia de vezes acender um cigarro, mas mamãe tossia antes mesmo de papai sequer tirar um do maço. Ele não fumava a tempo e me senti um pouco triste que ele estivesse voltando ao vício. Com relação dos laços da união dos meus pais comigo só posso dizer que piorou desde a conversa misteriosa deles com o delegado Alfredo Monloim. Mas o castigo começou uma semana depois. Meu pai quebrara o notebook e minha mãe encobertou papai afirmando que foi um acidente. Minhas roupas foram substituídas por trajes mais comportadas e decentes, e agora uma supervisora andava sempre colada comigo onde fosse a qualquer lugar. Anderson tentou me procurar pelo bairro, mas não me encontrou por não saber meu endereço e acho que desistira de mim, pois nunca mais voltei a ter contato.

De vez em quando os conselheiros do conselho tutelar da criança e do adolescente da nossa cidade vinham me visitar e embora sabendo para que viessem sempre escondiam suas intenções para comigo.

Os vizinhos andavam ultimamente mais tempo fora de suas casas e contemplavam a minha casa com mais frequência possível. Porque eles não me pediam autografo quando eu os surpreendia falando de mim? Os comentários chegavam como ventos nos ouvidos de todo o bairro e da cidade:

- Você viu no que a filha dos Oliveira se transformou...?

- Disseram que ela está sendo protegida por testemunhar um assassinato...

- Carol? Aquela menina exibida de peitos caídos? Claro, olhando para a bunda dela não seria novidade se a encontrássemos rodando a bolsinha na esquina...

- Me disseram que ela tentou assaltar um banco...

- Pois para mim tudo isso não passa de peça teatral para chamar atenção nossa! Essa família sempre foi esquisita e cheia de frescura!

Era assim, em qualquer parte onde quer que eu fosse e ouvia opiniões suspeitas sobre mim e as visitas semanalmente dos conselheiros.

Resolvi por um fim naquele episódio enjoativo. Não iria ceder em manter a boca fechada a respeito da foto e do fornecedor dela e então arrumei algumas roupas minhas e peguei minha agenda, embolei tudo numa mochila de viagem, tirei o restante do dinheiro debaixo do colchão e saí na calada da noite.

Comecei andar rapidamente sobre aquela rua iluminada pelos postes de iluminação e olhava todo o momento para trás e para os lados. O que diriam as vizinhas se me vissem passeando naquela hora da madrugada? Sabia o grande risco que estava correndo, pois é claro que assim que meus pais soubessem que fugi iriam comunicar com a polícia e assim a fofoca por toda a cidade se estenderiam como uma enchente desgovernada. Tinha que pensar em como sairia da cidade sem ser pega por guardas ou por bandidos. Só o que poderia imaginar se caísse em mãos erradas estremecia o corpo todo. Olhei no relógio de pulso e era 03h13hs da manhã e calculei que tivesse percorrido trinta quarteirões desde minha casa.

Aonde eu iria? Eu não sabia de fato, mas tentaria ir ao lugar mais longe possível daquela cidade. Atravessei a avenida dupla e passei pelo lago iluminado da praça. Hesitei por um instante parada ali, ao lado da estátua de um velho fazendo continência se deveria passar ao lado do mendigo que dormia num banco. Esse era o meu medo, e senão tivesse dormindo? E se eu passasse e ele me agarrasse à força? Então dei a volta em passo silencioso. Era incrível que nenhum veículo passasse ali, naquele momento. A cidade estava adormecida e eu enlouquecida para sair dela. Mas tudo mudou naquele momento em que um carro pareceu e estacionou a um canto... 



Carol fenomenal - COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora