Capítulo 5

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Bruno's POV

Sem checar se havia realmente se passado cinco minutos, tomei o resto do meu whisky e subi as escadas, rumo ao quarto de Anne. Entrei sem bater e encontrei um ambiente mais escuro do que quando entrei pela primeira vez naquele quarto. Apenas uma luz fraca vinda de um abajour de uma mesa ao longe, encostada na parede, iluminava timidamente o local, deixando a mulher deitada na cama, vestida em um robe preto totalmente fechado, praticamente nas sombras.
- Está escuro... - Comecei.
- É bom que seus outros sentidos ficam aguçados. - Ela disse num timbre de voz fraco.
- Não é bom. Já disse que quero ver...
Anne se levantou e veio na minha direção, e num ato completamente imprevisível, me abraçou.
- Por favor... Vamos fazer assim hoje. Só hoje...
Então, senti aquele perfume. O perfume que sempre me fazia perder um pouco do controle que tinha.
Amêndoas.
Amêndoas e shampoo.
Merda!
Aquele maldito perfume...
Senti suas mãos agora abrindo timidamente os botões da minha camisa enquanto ela beijava suavemente meu peito por cima da roupa. Eu queria perguntá-la o que havia acontecido, queria saber o que fizeram a ela. Mas estava óbvio que ela não me diria.
Sem pensar muito, empurrei para os lados o tecido de seda que cobria seus ombros e abaixei minha cabeça até o local, aplicando beijos suaves. O perfume estava mais forte do que o normal, combinando perfeitamente com o ambiente escuro e incrivelmente sensual. Minhas mãos foram para o nó em seu robe, abrindo-o lentamente. Ela se afastou um pouco, para que eu pudesse removê-lo completamente.
Então fui pego de surpresa ao constatar que ela não usava nada por baixo do robe, agora no chão.
E, quase que imediatamente, outra surpresa me fez estacar diante de Anne. Embora o quarto estivesse escuro, consegui ver seu corpo em quase sua totalidade coberto de manchas escuras e arranhões.
Dei um passo para trás, assustado.
- Que porra é essa?
- Ossos do ofício. Vem cá... - Ela falou como se estivesse tendo uma conversa tediosa, vindo na minha direção e segurando com firmeza o botão da minha calça enquanto o abria.
- O quê... Espera aí! O que diabos aconteceu com você?
Ela bufou, parecendo impaciente.
- "Aconteceu" um cliente. E isso não é da sua conta.
- Não é da minha conta? Claro que é! Não quero comer uma mulher que parece que acabou de ter sido espancada!
Minhas palavras impensadas saíram de uma só vez, e pareceram extremamente insensíveis e rudes no silêncio do quarto.
Anne olhou para mim com um misto de raiva e tristeza, parecendo pensar nas palavras antes de pronunciá-las.
- Foi por isso que deixei as luzes fracas...
- Achou que eu não fosse ver? Não sou cego! Você parece uma colcha de retalhos, pelo amor de Deus!
Ela continuou me encarando por mais dois segundos, então pegou o robe do chão e vestiu-se.
- Se não vai me comer, peço que saia do meu quarto pra que eu arranje outro cliente.
- Não vou sair! E você não vai ter mais porra de cliente nenhum essa noite! Vou falar com Rayana sobre...
- Quem você pensa que é pra me dar ordens? - Sua voz estava áspera e alta. - Isso não é da sua conta!
- Não estou te dando ordens, sua idiota! Estou tentando te ajudar!
Imaginei que ela viesse formulando uma frase para o momento em que eu acabasse de dar minha réplica. Quando abriu a boca para falar, se conteve a tempo e fechou-a rapidamente, ainda me olhando com raiva. Mesmo que ainda estivesse hostil, sua expressão foi ficando cada vez mais suave. Olhou em volta do quarto, como se algo pudesse dar a ela alguma ideia do que dizer. Cruzou os braços no peito, na defensiva.
- Bruno...
Senti os pelos de minha nuca se eriçarem ao som do meu nome na sua voz.
Foi estranho - foi bom -, mas eu ignorei a sensação.
- O que fizeram com você? - Insisti.
- Foi mais uma noite de trabalho. Só mais uma noite. - Ela olhava para baixo, evitando me encarar.
- É mentira! Já estive com você duas noites, nunca te vi assim!
- Eu já disse que minha pele é marcada muito fácil...
- Eu não sou imbecil! Isso não está normal!
- Bruno... - Ela repetiu com os olhos fechados, como se estivesse determinada a dar um ponto final àquele assunto. - Eu preciso trabalhar. Se não se importa...
- É pelo dinheiro? - Falei, já perdendo a paciência. Nem eu mesmo sabia o porquê de insistir tanto em protegê-la.
Enfiei a mão no bolso traseiro, pegando minha carteira e abrindo-a. Sem saber ao certo a quantidade de notas que meus dedos alcançaram, puxei-as de uma só vez e as joguei em cima dela.
Anne não fez menção em se mover para evitar que as notas caíssem. Deixou-as alcançarem o chão, fitando-as no percurso.
- Meus trinta minutos estão pagos! Agora não ouse me expulsar dessa merda de quarto mais uma vez!
Ainda encarando as notas no chão, ela apertou com força o nó de seu robe e caminhou despreocupadamente para a cama, deitando-se nela de lado depois de passar por mim.
Fiquei olhando-a por algum tempo, observando o lento escorregar do tecido fino da sua coxa esquerda, finalmente expondo-a totalmente ao meu olhar. Fui sentar ao lado dela.
Mais perto do ponto de luz, pude observar melhor os hematomas em sua pele.
Anne estava deitada de frente para mim, com os braços cruzados à frente do corpo, mas não me encarava.
Toquei de leve sua coxa com a ponta do dedo, onde um hematoma era mais evidente. Embora as manchas tirassem muito da beleza e da suavidade, sua pele era incrivelmente macia. Parecia excessivamente sensível ao meu toque, quase quebrável.
Não pude me conter em fazer círculos pela extensão de sua perna, primeiro com a ponta dos dedos, depois com a mão aberta. Tinha receio de causar dor a ela, por isso tentava tocá-la da maneira mais suave possível.
Depois de muitos minutos passados eu falei:
- Não gosto da sua pele assim.
- Eu também não. - Ela me respondeu, séria, olhando para a parede oposta.
- Não vai me contar o que aconteceu?
- Você não é meu psicólogo.
- Sou seu amigo.
Ela me olhou surpresa. Eu sabia o porquê.
Eu não era amigo dela. Sequer sabia seu nome completo. Não sabia nada sobre ela, mas tentava desesperadamente relacionar meu instinto protetor a algum sentimento nobre, puro. Seria amizade? Embora soasse estranho, só podia ser amizade.
Mas soava estranho. Soava errado, de alguma forma.
- Você não é meu amigo.
- Eu... eu me preocupo com você. Só quero que você fique bem, que não te machuquem. - Eu pronunciava cada palavra com um misto de alívio por estar falando sem limitações, e confusão por minhas palavras e meus sentimentos não fazerem sentido sequer para mim mesmo. - Eu poderia te ajudar, se você me dissesse o que aconteceu...
- Não pode me ajudar. - Ela se mexeu um pouco ainda olhando para mim, o que fez o robe deslizar um pouco pelo seu ombro. Meus olhos voaram para o local mecanicamente.
- Você poderia se abrir comigo... - Comecei, mas nem eu mesmo prestava mais atenção às minhas palavras. Me permiti prender meus pensamentos nas sardas que desenhavam seu ombro exposto, deixando-a, ainda que marcada, mais graciosa. Eu não sabia mais o que minha mão fazia em suas pernas, mas tinha noção de que ainda estava tocando em Anne.
Fui outra vez atingido inesperadamente pelo seu perfume. Amêndoas...
- Eu estou bem. É meu trabalho. Não há nada que você possa fazer pra mudar isso.
- Seu trabalho... - Balbuciei, ainda fitando suas sardas.
Mesmo com o olhar fixo em seu ombro, pude notar que ela me encarava.
Após alguns segundos Anne se mexeu lentamente, sentando-se na cama e chegando mais perto de mim. Com suavidade, aproximou sua boca do meu ouvido e falou em um sussurro:
- É meu trabalho dar prazer...
Merda! Aquele perfume!
Senti-a morder minha orelha e meu pescoço. Por algum motivo o perfume parecia ter se intensificado, e eu não conseguia sentir mais nada além daquele cheiro dominando meus sentidos e quebrando, centímetro por centímetro, meu muro de resistência.
A verdade era que eu não queria resistir.
Estava fora de questão exigir de Anne algo com ela naquele estado, fosse o que fosse que tivesse acontecido. Na verdade, estaria fora de questão se ela mostrasse resistência. Misteriosamente, ao contrário da primeira noite que a conheci, ela não se mostrava completamente aversa à ideia de fazer sexo comigo, e eu me perguntava o porquê.
Talvez ela quisesse mais dinheiro por um "bom desempenho". Talvez quisesse me prender por mais meia hora, garantindo o pagamento de outros trinta minutos, já que alguns homens poderiam negá-la ao conhecer seu verdadeiro estado por debaixo das roupas que teimavam em esconder seu corpo, e ela terminasse sozinha pelo resto da noite.
Era compreensível que os clientes a negassem, já que as marcas deixadas na pele daquela garota eram mesmo algo desestimulante. No entanto, não fazia exatamente esse efeito em mim. Provavelmente os outros clientes estivessem alheios àquele perfume.
Eu não.
Eu não podia dizer nada, porque absolutamente nada me vinha à cabeça. Eu queria entrar no jogo e respondê-la com a mesma provocação, mas sequer conseguia formular uma frase, algo que não soasse patético ou mostrasse minha evidente falta de controle.
- Anne... Pára de me provocar...
- Você adora ser provocado. É o tipo de homem que adora isso, não é?
Sim. Eu era exatamente esse tipo de homem. E ela estava se mostrando o tipo de mulher perfeita para mim: Provocadora e sexy, sem necessariamente ser vulgar.
Sem me conter, meus lábios avançaram para seu ombro, lambendo e beijando suas sardas ainda expostas. Lentamente com a mão esquerda puxei de seu outro ombro o robe que ainda o cobria, dando-me uma visão privilegiada de toda aquela área. Eu precisava me controlar, mas estava sendo muito, muito difícil.
- Seu perfume...
- Não uso perfume.
- Está muito forte...
- Você não gosta?
Suspirei. Não havia como não ser absolutamente sincero àquela pergunta.
- Eu amo...
- Bruno? - Ela falou outra vez baixinho no meu ouvido.
- Sim...?
- Seu tempo acabou.
- O quê? - Falei um pouco surpreso e fora de rumo. Ela deu uma última mordida na minha orelha e se afastou.
- Seus trinta minutos acabaram.
Levei algum tempo para conseguir me situar e voltar à realidade.
- Meu tempo... - Comecei em voz alta, tentando organizar os pensamentos.
- Sim, seu tempo. Acabou. Seus trinta minutos.
Ela se levantou da cama, cobrindo os ombros expostos enquanto afastava minha outra mão que permanecia em sua virilha. Andando um pouco cambaleante, alcançou o móvel baixo na parede à direita, se apoiando nele enquanto mantinha os olhos fechados com força, como se quisesse afastar algum pensamento.
- Eu... - Comecei, mas não sabia o que dizer. Ela abriu os olhos e me olhou. Um olhar diferente. Um olhar forte, intenso. Retribuí o olhar, fitando-a também por algum tempo, sem dizer nada. O silêncio pairava sobre o quarto escuro, nos prendendo no ar misterioso do momento. Tive a impressão de que ela também não sabia o que dizer, mas, como eu, não queria se despedir.
Finalmente levantei-me da cama, puxei do bolso de trás minha carteira e a abri, alcançando todas as notas que se encontravam dentro dela. Dobrei o bolo de notas e estendi para Anne. Ela hesitou mas, por fim, pegou a quantia que eu a oferecia. Não sabia ao certo a soma de dinheiro que havia entregado a ela, e, para minha surpresa, ela também não verificou, deixando o maço de notas dobradas esquecido em cima do móvel atrás de si.
- Você é minha pelo resto dessa noite. - Falei calmamente.
Eu sabia o que queria fazer durante todas as horas que me esperavam dentro daquele quarto. Infelizmente minha consciência me impedia de ser alguém sem princípios, mas meu corpo precisava ter o que vinha buscando por algum tempo, e que até aquele momento não havia conseguido:
Ela.
Mas não podia impor o que eu queria. Embora eu fosse um cliente, embora esse fosse seu trabalho e eu estivesse pagando por ele, não podia exigir algo dela naquelas condições. Eu sabia que outros já haviam feito isso aquela noite, mas eu não queria ser igual aos outros.
Lentamente, guardei a carteira no bolso traseiro da minha calça e deitei de barriga para cima na cama de Anne, olhando para o teto, minha camisa ainda aberta pela tentativa do início da noite. Estaria nas mãos dela decidir o que fazer. Se ela quisesse, ficaríamos em silêncio pelo resto da noite. Mas eu torcia para que ela traçasse outros planos para nós, porque o que eu queria, o que eu precisava só poderia ser feito se ela assim desejasse.
Ainda estava preso nos meus pensamentos quando meus olhos captaram a mudança no ambiente de maneira inesperada. O quarto havia mergulhado em uma total escuridão. Anne havia apagado o abajur que permanecia na mesa atrás dela. A única fonte de luz se fora, e meus olhos agora acostumavam-se lentamente com o escuro completo, quebrado apenas pela luz da lua quase cheia da noite estrelada, conseguindo marcar as silhuetas de alguns objetos e do corpo dela.
Fechei os olhos tentando manter meus pensamentos em ordem e minha respiração constante. Eu não queria ficar tenso ou ansioso, queria agir como sempre agi naquelas situações: Calmo e despreocupado.
Porque aquele tipo de situação era banal, mas por algum motivo que eu não sabia explicar, não conseguia ver nada de banal no que estava acontecendo naquele momento.
Senti o colchão embaixo do meu corpo afundar levemente, e então, pela segunda vez na noite, pulei de surpresa quando senti Anne beijar minha barriga.
Com delicadeza, ela foi subindo sua boca lentamente pelo meu tronco, até depositar beijos suaves no meu pescoço. Arfei ao sentir seu corpo completamente despido sobre o meu.
- Deus...
Aquilo estava exigindo demais do meu auto-controle, e a pior parte era que ela sequer havia me tocado ainda. Eu mal conseguia me conter enquanto ela me provocava com leves mordidinhas na minha mandíbula, migrando para meu pescoço e minha orelha, voltando para meu peito e descendo obscenamente de volta para minha barriga.
Com casualidade, ela abriu o único botão que permanecia preso na minha calça, movendo para baixo o zíper e retirando-a de mim juntamente com a cueca.
Eu não ousava me mexer, com medo de que no momento em que resolvesse tocá-la, minha calma, já abalada, fosse por água abaixo.
- Onde está? - Ela perguntou no meio da escuridão.
- Bolso esquerdo... - Respondi, mantendo os olhos fechados com muita força, mesmo sabendo que se eu os abrisse não conseguiria ver quase nada.
Perguntei a mim mesmo o motivo de tentar manter a calma e o controle, já que, inevitavelmente, em algum momento daquela noite tudo iria às favas e nós faríamos o que eu sabia que faríamos.
O pensamento de que não precisava continuar freando a mim mesmo deixou-me subitamente alegre, mas meu lado racional insistia em dizer que, durante toda aquela noite, a cautela era extremamente necessária.
Era necessária porque eu sabia da urgência que meu corpo tinha. Era patético, mas naquele momento eu a desejava com todo o meu ser, e sabia que ela estava frágil, para dizer o mínimo. Sabia que se não fosse cuidadoso, acabaria machucando-a mais.
E pior: Sabia que se não tomasse cuidado, acabaria me entregando a tudo, absolutamente tudo naquela mulher.
Senti Anne largar a calça que mantinha nas mãos, na busca frenética pelo preservativo. Já esperava pelo ruído baixo da embalagem sendo rasgada, mas isso não aconteceu.
- P-p-putaquepariu!
Não consegui conter o palavrão ao sentir a ponta da sua língua passar timidamente pela cabeça do meu membro, agora tão absurdamente firme que chagava a doer. Como se ela soubesse disso, começou a lambê-lo com muita suavidade sem usar os dentes. Depois de algum tempo, quando meu corpo já estava acostumado com seu toque, ela finalmente me tomou na boca de uma só vez, apenas deixando com que, novamente, meu membro se acostumasse com o calor e a maciez do que agora o envolvia.
Eu tremia violentamente, na tentativa desesperada de não explodir ali mesmo, mandar a cautela pro inferno e tomá-la com toda a força que me era possível. Finquei meus dedos no colchão macio da cama, procurando ao mesmo tempo me estabilizar e manter minhas mãos ocupadas.
Não funcionou.
Na terceira subida que sua boca fez em mim minhas mãos migraram com rapidez para sua cabeça, meus dedos entrelaçados em seus cabelos, reforçando o movimento de vai-e-vem que ela fazia.
Eu expirava com força, tentando disfarçar a angústia em meus gemidos. Meus olhos rolavam para dentro, e eu não conseguia ter um pensamento coerente sequer.
Seus movimentos agora começavam a ficar mais firmes. Ela apertava os lábios em volta do meu corpo, e quando chegava à ponta intensificava a força que fazia com a língua, chupando com vontade a parte mais sensível ali, para só então voltar a colocar meu pau quase que inteiramente dentro da boca outra vez.
- Aaahhhh... Eu... Eu vou gozar! Merda!
Não demorou nem cinco segundos.
Enquanto voltava do transe, começando a ouvir novamente o som da minha própria respiração ofegante na escuridão, senti a boca de Anne ainda me envolvendo, verificando se todo o sêmen já havia sido engolido antes de poder tirá-la dali.
- Vou te dar dois minutos. - Ela provocou.
Respirei fundo e sorri, retirando as mãos de seus cabelos e passando-as pelo meu rosto.
- Acha que não dou conta? - Perguntei, virando-a e a levando mais para perto da cabeceira, me posicionando em cima dela entre suas pernas. Agora era minha vez de provocá-la. - Saiba que posso foder você uma, duas, três vezes seguidas. Sem nem tirar.
- Isso é impossível. - Ela respondeu, e eu pude ver em seu rosto, pelo brilho que a lua refletia, que ela sorria.
- Acredite, eu posso fazer isso.
- Eu vou tirar isso a limpo.
- Está me desafiando? - Perguntei, brincando com a língua no pescoço dela. - Bom, eu gosto de desafios... - Alcancei sua mão esquerda, pegando o preservativo que ela ainda segurava, finalizando meu discurso: - ...mas não hoje.
Rasguei a embalagem e fiquei de joelhos na frente dela.
- Você pode me dar uma mãozinha? - Pedi.
Ela entendeu o recado, segurando com força meu membro e movimentando-o para cima e para baixo como ela sabia muito bem fazer. Foi o suficiente após algum tempo, quando afastei sua mão de mim e rolei o preservativo por toda a extensão do meu membro.
Anne segurou outra vez, guiando-me para sua entrada.
Segurei nos seus quadris sem muita força e penetrei-a lentamente, testando a posição.
Uma. Duas. Dez vezes.
- Não estou machucando?
- Não...
Reparei que ela me olhava profundamente, e seu olhar transmitia uma gratidão que eu não entendi.
- Que bom, outra posição boa pra gente. - Penetrei-a novamente, deitando meu corpo em cima do dela, deslizando minhas mãos pela sua barriga e seus seios no percurso, finalmente parando em seus cabelos. Posicionei minha boca em sua orelha, intensificando um pouco o movimento que meu membro fazia dentro dela. - Anne?
- Sim...
- Posso chamar você de Ninha?
Ela demorou a responder, claramente pensando se seria uma boa ideia me deixar fazer isso. Eu sabia que esse apelido era usado apenas por suas amigas, pessoas que ela se importava e que se importavam com ela. Eu, obviamente, era só um cliente.
- Pode.
Estoquei com força e ela gemeu surpresa.
- Seu nome é bonito... - Outra estocada. Outro gemido alto - ...mas Ninha é mais... doce.
- Ahhh!
- Além do mais, é mais curto.
- Pára com essa porra! Aaahhh!
- Parar com o quê? - Perguntei ao pé do seu ouvido com uma voz inocente, metendo nela outra vez.
Ela suspirou, agarrando-se nos meus cabelos.
- Ninha, só estou querendo conversar.
Meti outra vez com mais força do que antes.
- Que ótima... hora... pra conversar!
Comecei a investir mais rápido e com mais força, mas mesmo assim mantinha meu tom de voz despreocupado. Sim, eu queria provocá-la, e ao que tudo indicava, estava conseguindo.
- Me explica uma coisa... Na primeira vez que a gente trepou você não estava nem aí pra mim. - Como as estocadas estavam mais fortes e mais rápidas, foi difícil manter o tom calmo e casual na voz. Ainda assim, continuei teatralmente: - Agora você parece um pouco mais envolvida.
- Putaqueopariu...
- Quero dizer, você poderia até meditar enquanto eu te comia, não parecia se abalar nem comigo todo dentro de você. E hoje você não quer conversar. É estranho, sabe?
- Bruno?
- Sim?
- Vá se foder.
- Prefiro foder você.
- Seu...
- Acho que você me acha um cara legal. - Levantei e me posicionei de joelhos na cama entre suas pernas novamente, ainda dentro dela, segurando agora sua cintura com força e estocando violentamente. - Eu sou um cara legal, não sou, Ninha?
- AHHHH!
Senti seu corpo envolver e comprimir meu membro em ondas cada vez mais rápidas, e pude constatar que ela ia ter um orgasmo. Automaticamente, fitei seu rosto.
Eu sabia que um orgasmo era o momento no qual seu corpo estava completamente entregue e sua alma em paz. Era muito fácil ver a essência de uma mulher na hora do clímax, porque naquele momento não havia fingimentos ou precauções.
Eu queria vê-la. E com a luz que inundava o quarto pela janela, eu a vi.
Ninha havia jogado seus braços acima da sua cabeça, repousados no colchão em um arco quase perfeito. Sua boca estava aberta, puxando todo o ar que podia para ajudá-la a lidar com a explosão que seu corpo estava prestes a sofrer. Seus olhos fechados dançavam por trás das pálpebras, acompanhando o movimento que eu fazia dentro do seu corpo. Duas ou três vezes seus olhos se abriram timidamente, apenas para voltarem a se fechar lenta e prazerosamente com a próxima estocada que viria.
Ela estava absurdamente linda.
Linda como eu nunca havia percebido.
Não sabia se era efeito da luz perolada que a lua me oferecia ou se era aquele perfume que, eu começava a temer, tinha algum poder sobrenatural sobre mim, mas o fato era que Anne, Ninha, era uma visão de tirar o fôlego. Até mesmo suas manchas e hematomas não apagavam sua graça naquele momento. Eu já a havia sentido gozar antes, mas nunca tinha visto aquilo. Agora eu podia ver a cena que havia perdido, e, meu Deus... Era linda!
Tentei acompanhá-la no clímax e consegui. Joguei minha cabeça para trás, deixando meu corpo ser inundado pela inconsciência alguns instantes depois de ouvir de sua boca um gemido final de prazer entre respirações ofegantes.
Então tudo ficou em paz.
Eu estava de joelhos com a cabeça baixa, ainda dentro dela. E poderia ficar daquela forma por um bom tempo, se minhas pernas não estivessem começando a ficar dormentes.
Com cuidado, me retirei de dentro de Anne e fui deitar ao seu lado, de bruços. Esperei mais alguns minutos em silêncio, olhando para a figura de uma garota linda agora quase adormecida ao meu lado.
- Ei... - Falei baixo enquanto tocava com a ponta do dedo o corte em sua maçã do rosto. - O resto da sua noite ainda é meu. Não pode dormir.
Ela sorriu ainda com os olhos fechados.
- Não vou dormir. Só preciso descansar, porque embora você seja o deus do sexo, eu não consigo ser fodida duas vezes seguidas.
- Eu sou demais. - Sorri de maneira presunçosa.
- Quantos anos você tem? Quinze?
- Você só está com inveja porque EU sou o deus do sexo e você é uma reles mortal.
- Não quero te chatear, mas já estive com caras que eram realmente bons. Difíceis de serem passados pra trás.
Fitei-a com malícia.
- Pois então eu te prometo, Ninha: Hoje eu te deixo como nenhum outro homem te deixou antes. E quando amanhecer, você ainda vai estar sentindo o meu cheiro em você.
Como combinado, o restante daquela noite foi meu. Certa hora tive que descer em busca de Rayana ara informá-la que Anne não estaria mais disponível. Ignorei a reação de espanto que recebi, subindo novamente ao quarto dela e ficando por lá.
Fizemos sexo de todas as maneiras, em posições que eu nunca havia tentado e em vários lugares dentro do quarto: Cama, chuveiro, chão, penteadeira e escrivaninha. Meu preservativo extra na carteira não foi suficiente, então tive que usar ainda três dos muitos que Anne guardava em seu criado mudo.
O que me intrigava era o fato de que eu não conseguia cansar dela. Não no sentido de exaustão - já que quando o relógio marcava 4h da manhã nenhum de nós conseguia sequer se mexer -, mas sim no sentido de que eu não enjoava daquele corpo. E eu sempre, sempre enjoava fácil das mesmas mulheres.
Afinal, ela deve ter mesmo algo de especial.
Não sei em que momento deixei de saber onde estava, mas finalmente me permiti afundar na inconsciência e, daquele ponto em diante, não conseguia me lembrar de mais nada sobre aquela noite.
Anne's POV

Acordei na manhã seguinte com o barulho da chuva. Uma chuva pesada, que resolveu cair de uma só vez naquela manhã de sábado.
Aos poucos o vento e as gotas pesadas me fizeram voltar à realidade. Abri os olhos tentando adaptá-los à claridade que as sete horas da manhã traziam, conforme informado pelo despertador posicionado em cima do criado mudo diretamente ao meu lado.
Permiti a mim mesma não me mexer, travando uma batalha épica contra minhas pálpebras. Aos poucos recobrei a consciência, o que me fez notar as dores no meu corpo enquanto tentava virar de barriga para cima na cama.
- Merda...
Não consegui ouvir minha voz, que saiu em um sussurro. Optei por permanecer de bruços por algum tempo, já que ficar imóvel parecia ser a única ação que conseguia desempenhar sem sentir dor.
Foquei-me no barulho agradável que a chuva fazia do lado de fora sem querer raciocinar ainda, e me vi embalada por aquele som.
Podia jurar que indícios de um sonho começavam a se formar na minha imaginação quando fui assustada por um trovão, não muito forte, mas que ainda assim foi o suficiente para fazer com que eu abrisse meus olhos outra vez.
- Meeerda...
- Hhhmmppf...
O susto fez com que eu me virasse na cama mais rápido do que desejava. Senti novamente as dores no corpo se manifestando sem piedade, mas não foi o suficiente para que eu desviasse minha atenção do homem que, também de bruços, se mexia timidamente ao meu lado, ainda de olhos fechados.
Os cabelos de Bruno estavam, ainda que eu achasse impossível, mais desalinhados do que o normal. Seu rosto estava quase enfiado no travesseiro macio, e um lençol cobria apenas a área de seu corpo que não devia ser vista - a mais linda.
Continuei fitando-o, sem saber o que fazer, e então flashes da noite anterior vieram à minha memória:
Bruno pagou para ficar comigo durante o resto daquela noite. Nós fizemos sexo até as 4h da manhã. E então, nós apagamos na minha cama.
- Ah, merda...
Eu imaginava que ele fosse ficar irritado em acordar na cama de uma prostituta, mas isso era inevitável.
Ele despertaria a qualquer momento, então me veria ao seu lado, lembraria do que aconteceu e sairia da Casa de Rayana o mais rápido que pudesse.

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