Não esperei ser recepcionado por quem quer que fosse. Ao entrar no recinto, tracei um caminho certo desde o início, simplesmente ignorando a presença de desconhecidos à minha volta ou a menção do meu nome por diferentes vozes femininas.
Subi as escadas, tomando cuidado com os degraus que vez ou outra saíam de foco.
Lembrei-me que Anne não gostava de mim nesse estado, e imediatamente me arrependi de ter bebido todas aquelas doses de whisky. Senti o medo da rejeição me atingir como um soco, e me concentrei para me manter equilibrado enquanto alcançava o último degrau, caminhando um pouco cambaleante para o corredor.
Eu sempre tive boas maneiras. Felizmente, se tinha algo do qual eu podia me gabar era de minha educação e meu cavalheirismo. Assim, só pude colocar a culpa na bebida quando uma total falta de classe me atingiu, fazendo com que eu simplesmente girasse a maçaneta do quarto de Anne e entrasse, sem a menor cerimônia.
Encontrei um quarto vazio, a cama feita. Fui possuído por um ódio irracional antes mesmo de verificar o motivo pelo qual ela não estava no quarto.
Talvez ela tenha saído, meu lado otimista argumentou, mas quase que imediatamente foi atropelado pelo lado pessimista, dizendo: "Ou então ela pode estar no salão se oferecendo pra qualquer um".
Talvez uma das vozes que eu decidi ignorar fosse dela.
Não. Eu reconheceria sua voz falando qualquer coisa, principalmente o meu nome.
Talvez ela pensasse que eu não viria hoje, já que ontem estive ausente. Era possível. Mas de qualquer forma, ela deveria estar ali, não é?
Segura e escondida de todos aqueles homens cheios de más intenções.
Devo ter divagado por um bom tempo, de pé, olhando para a cama, e então um barulho de tranca de porta me despertou.
Olhei para a direita pela primeira vez, como se antes a porta do banheiro não estivesse ali, e fiquei olhando-a ser aberta e revelar, lentamente, uma Anne molhada da cabeça aos pés, tentando se enrolar em uma toalha fofa branca deixando à mostra partes de seu corpo entre as fendas que o pano fazia.
As partes do corpo dela mais lindas.
Ela demorou para notar minha presença ali. Estava cantando uma música qualquer, olhando para o chão enquanto balançava as pontas da toalha em seus cabelos, tentando deixá-los menos molhados. Não sei se fiquei em silêncio porque estava hipnotizado ou porque tinha alguma esperança de que talvez ela não fosse reparar em mim bem ali, no meio do quarto, olhando para ela com cara de psicopata.
Era incrível como ela estava mais bonita do que eu lembrava. Talvez isso se devesse ao fato de que eu vinha tentando não lembrar dela, tentando afastar a imagem dela dos meus pensamentos.
Talvez uma parcela dessa culpa também fosse das doses de whisky, mas o fato era que, naquele momento, Anne era, sem dúvida alguma, uma das coisas mais lindas que eu já havia visto na vida.
– AAAHHH!
Ah, sim. Eu ainda estava ali, no meio do quarto dela.
– Oi. Desculpa.
– Porra, Bruno! - Ela falou, puxando a toalha de todos os cantos e tentando cobrir as partes que eu olhava como um tarado.
– Desculpa, eu não sabia que você ia sair nua de lá de dentro. - Falei meio sem pensar - E não é como se eu já não tivesse visto, né? - Sorri maliciosamente.
– Não é porque você já viu que pode entrar no meu quarto e ficar me assistindo aqui!
– Tá bem, tá bem. - Eu disse, como se desse razão a ela e estivesse prestes a sair do quarto. Mas devido ao meu estado alcoolizado, continuei olhando para seu corpo, como se não tivesse dito absolutamente nada.
– OI? - Ela gritou.
– Mas que saco! - Virei, a contragosto, fitando uma parede branca e incrivelmente sem graça por longos cinco segundos. - Já posso olhar? - Perguntei, impaciente.
Sem esperar uma resposta, virei novamente para encará-la.
Ela terminava de vestir um robe bege muito claro, cuja cor era incrivelmente parecia com a tonalidade de sua pele. Não sei como isso era possível, mas só de olhar para ela eu conseguia sentir - ou achar que sentia - o frescor do banho recém tomado e a maciez daquela pele clara, ainda um pouco úmida e extremamente convidativa.
Deus, eu estava com saudades dela.
Fiquei admirando-a como um cachorro admira um frango sendo assado na padaria, mas estava muito bêbado para me sentir envergonhado por isso.
Ela continuava tentando secar melhor o cabelo com a mesma toalha, enquanto também me encarava com um olhar curioso e ainda um pouco irritado.
– Por que não veio ontem? - Ela quebrou o silêncio, indo se sentar na cama.
– Porque não quis. - Achei melhor resumir toda a situação do “quero-parar-de-pensar-em-você” com essa pequena frase. Não que eu me importasse em falar a verdade, dado o alto nível de álcool no meu corpo, mas simplesmente não queria falar muito.
– Ah. - Ela desviou o olhar, e imediatamente notei que minha resposta pareceu grosseira - Pensei que você viesse todos os dias, já que pagou por eles…
Eu também havia pensado nisso, mas graças ao pânico e confusão recentes em que eu me encontrava ao me pegar pensando nela ou a desejando, tive que mudar meus planos. Sim, no final das contas, eu era um covarde.
– Você deve ter notado que eu bebi. - Tentei mudar de assunto, indo me sentar do lado dela, um pouco mais próximo do que o ideal. - Mas não vou machucar você.
– Eu sei que não. Que besteira. - Ela falou, soltando um sorriso sarcástico.
Sem pensar muito, levei minha boca ao pescoço dela, beijando-a de leve embaixo da orelha. Senti a temperatura fresca de sua pele com os lábios, e imediatamente notei que ela estava arrepiada.
Apoiei-me com o braço esquerdo na cama, enquanto levava minha mão direita até sua nuca, trazendo-a mais para perto. Intensifiquei o beijo em seu pescoço, deixando lufadas de ar em sua pele e sentindo, com o rosto, a maciez do rosto dela.
– Por que não está usando o seu perfume?
– Não precisei do creme essa semana. - Ela falou, ofegante.
Era verdade, o tal creme servia para melhorar os hematomas que ela conseguia com os clientes. Como eu paguei pela semana inteira, ela obviamente não tinha adquirido novos machucados para a coleção. Fiquei satisfeito com esse fato, mas eu realmente, realmente gostava daquele perfume.
– Quer que eu passe pra você?
Para mim. Ela não passaria porque estava machucada, porque precisava. Ela passaria para mim. Porque ela sabia que aquela porra daquele perfume me deixava louco.
Inconscientemente, tirei a mão esquerda que apoiava meu corpo do colchão e a deslizei para dentro do seu robe, fazendo movimentos circulares em uma de suas coxas.
– Quero… - Falei, tentando conter um mínimo de firmeza em minha voz, ainda respirando em seu pescoço.
Protestei quando ela se afastou, levantando-se e caminhando até o banheiro. Fiquei encarando a porta feito uma criança abandonada, mas para minha felicidade, segundos depois ela estava de volta, trazendo um frasco de um líquido cremoso, e meu membro latejou dolorosamente com a aproximação de um desejo intenso.
Anne me girou um pouco, de forma que meus pés tocassem o chão fora da cama, como se estivesse perfeitamente sentado em uma cadeira. Posicionando uma perna de cada lado do meu corpo, ela sentou no meu colo, me encarando com um olhar que conseguia ser doce e provocante ao mesmo tempo.
Então, certamente com o objetivo de me matar, ela desfez o nó em seu robe e o puxou para baixo, deixando-o deslizar pelas minhas pernas e cair no chão.
Ainda me encarando, Anne segurou uma das minhas mãos e espremeu uma gota do conteúdo do frasco em minha palma, enquanto eu tentava controlar minha respiração.
– Passe em mim.
Ela realmente achava que eu ia conseguir passar aquela merda nela? Ela não podia achar isso.
Eu mal conseguia raciocinar, e parecia estar debilmente congelado, enquanto meu olhos varriam seu corpo de cima a baixo e eu tentava arquitetar um plano de como tirar todas as minhas peças de roupa em menos de um segundo e me enterrar dentro dela tão fundo que meu orgasmo viesse na primeira investida.
Finalmente ela pareceu entender que aquilo era um pouco demais para minha mente alcoolizada, então segurou firmemente minha mão e a trouxe até seu peito, espalhando ali o líquido perfumado.
Como um adolescente na puberdade, quase explodi de tesão ao admirar como minhas mãos meladas deslizavam nos seios dela de uma forma hipnótica, e no momento o único medo que eu tinha era de estar, literalmente, babando.
Então meu cérebro captou aquele perfume, agora sendo espalhado por toda a extensão de seu corpo.
Era incrível como aquele perfume me trazia uma lembrança tão deliciosa. A lembrança dela. Não poderia haver perfume melhor em qualquer lugar do mundo. Aquele perfume era um afrodisíaco pessoal, e eu temia que, misturado com todas aquelas doses de whisky, eu acabasse em algum tipo de limbo.
Meu Deus, que saudade dela.
– Nin…
– Sim? - Ela disse, ainda me encarando com aquele olhar deliciosamente inocente.
– Eu posso… Por favor… - Eu tentava manter um raciocínio lógico, mas era praticamente impossível. Impossível porque aquele perfume estava muito forte para me permitir pensar. Impossível porque ela estava muito perto. Impossível, porque eu a queria demais.
– Você me quer? - Ela falou em um tom provocativo ao pé do meu ouvido.
– Muito… - Tentei dizer, mas tudo o que consegui fazer foi suspirar a palavra, encostando a cabeça em seu ombro.
– Você pode fazer o que quiser. Eu sou sua essa semana, lembra? - Ela falou, desabotoando minha camisa. Tentei ignorar a dor aguda que senti com a adição do “essa semana” à frase.
Ela era minha por essa semana, e se eu não pagasse pela próxima, ela não pertenceria mais a mim.
Com suavidade, ela me empurrou para trás, me fazendo cair de costas na cama, enquanto ela se mantinha em meu colo. Com mestria, se desfez de minha camisa e começou a desabotoar minha calça.
Novamente senti uma dor aguda ao pensar que sua mestria naquilo se dava pelo fato de Anne ter tido tantas outras experiências que lhe deram praticamente perfeição no que ela devia fazer. Doía saber que eu era só mais um naquele momento, aperfeiçoando suas habilidades.
De fato, eu era só mais um. Eu havia tido essa certeza hoje, e para ser sincero, vinha tendo essa certeza há algum tempo. Lembrar disso só fez com que eu me sentisse ainda menor e mais insignificante.
– Espera. - Falei, enquanto segurava suas mãos que, agora, tentavam puxar minha calça para baixo.
Ela me olhou confusa.
– Só… Finja que sente alguma coisa. Qualquer coisa. - Falei, tentando conter a emoção que me dominou, me lembrando novamente o quão bêbado eu deveria estar - Finja que eu sou importante.
Fiz esse pedido a ela de uma forma verdadeira, talvez muito mais verdadeira do que eu gostaria de admitir. Não porque ela era a única garota que poderia fingir que se importava, mas sim porque ela era a única em cujo fingimento eu queria acreditar.
Ela me encarou com uma expressão indecifrável no rosto por algum tempo, então deu um sorriso um pouco infeliz.
– Se você soubesse… - Começou, acariciando meu rosto com os dedos finos, ainda me encarando.
Segurei sua mão ali por mais algum tempo, querendo apenas sentir o calor que a pele dela emanava, mas finalmente a soltei, deixando-a fazer seu trabalho.
Fechei os olhos e me deixei sentir querido naquele momento. Eu sabia que se iludir assim com uma prostituta era patético, mas me deixar enganar pelos “sentimentos” de uma garota de programa era mais aceitável do que ser enganado por uma garota qualquer.
No final das contas, eu estaria ciente de que fora iludido, o que era diferente de se iludir por ser muito inocente para notar a mentira.
Como imaginei, Anne fez o que pedi com perfeição. Com a ajuda do álcool, eu podia acreditar que aquela não era uma garota de programa, agora cavalgando em mim com tanta intimidade, mas sim uma pessoa que de fato sentia algo por mim.
Não necessariamente amor, mas pelo menos algum sentimento bom, algo que não fosse só tesão ou interesse.
Mas, novamente, eu devia lembrar que estava bêbado, e portanto, sensível. Além disso, estava permitindo que ela voltasse com força total à minha vida, exercendo aquele poder estranho que ela ultimamente vinha exercendo.
Eu estava inclinado e misturar todas essas coisas, o que me deu uma maldita esperança de que aquilo tudo poderia não ser só fingimento.
E essa esperança ia me deixar na merda.
Por que ela tinha que ser tão boa? Por que tinha que ser tão linda? Tão ela?
Por que tinha que ter aquele perfume, ou aqueles olhos? E por que tinha que me olhar daquele jeito, como se gostasse de mim?
Tentei manter minha cabeça ocupada com essas divagações porque a única pergunta para a qual eu realmente queria respostas provava que, ao invés de me afastar, eu queria desesperadamente me aproximar cada vez mais dela.
Por que ela tinha que ser uma puta?
– Bruno… - Ouvi-a sussurrar em meu ouvido, agora deitada sobre mim, tentando controlar os tremores na voz por causa dos movimentos.
Ela ia dizer alguma coisa. Talvez algo importante. Mas ouvir a porra do meu nome sendo pronunciado por aquela garota na porra do meu ouvido, enquanto eu metia nela, exigia muito do meu controle.
Instintivamente, abracei-a com força, tornando os movimentos dentro dela mais bruscos e desesperados, enquanto esperava em silêncio pela continuação daquela sentença.
– Finja que eu sou importante também.
Sim. Eu queria poder só fingir que ela era importante. Aliás, eu queria estar só fingindo para mim mesmo que ela era especial.
Mas ela era especial.
Especial demais para o pouco de tempo que nos conhecíamos. Importante demais para uma puta.
Mexendo com a porra da minha cabeça mais do que podia.
Nos virei na cama, de forma que eu ficasse em cima dela, e ao encarar seu rosto outra vez, a vontade de beijá-la veio com uma força perigosa demais.
Por que todos os sentimentos que ela despertava em mim tinham que se manifestar com tanta intensidade?
Mas eu não podia beijá-la. Ela era uma garota de programa, e eu tinha experiência com mulheres assim para saber que quase todas elas se negavam a beijar, por esse ato ser algo íntimo demais para uma relação meramente profissional.
Fiquei um pouco chocado em constatar a principal razão pela qual eu não a ataquei como um adolescente cheio de hormônios. Eu pensei que ela não aceitaria, e sequer considerei a hipótese de não fazer isso porque beijar uma puta estava fora de questão.
É. Eu já estava na merda.
Antes que pudesse trair a mim mesmo, enfiei meu rosto em seus cabelos, enquanto investia nela com força. Senti suas mãos se enrolarem em meus cabelos enquanto ela distribuía beijos molhados pelo meu pescoço, o que não me fazia querer provar a língua dela menos.
Com uma disciplina bastante elevada para um bêbado, controlei nossos orgasmos por algum tempo, sempre diminuindo o ritmo e mudando de posição quando sentia que ela ou eu começávamos a perder o controle.
Quando a situação chegou a um ponto incontrolável, permiti que ela gozasse primeiro, seguindo-a quase que imediatamente.
O pouco de razão que ainda restava em mim gritava para que eu me vestisse e fosse embora dali, mas como, naquele momento, meu lado emocional parecia predominante, me deixei relaxar em cima dela, tomando cuidado com o peso do corpo.
Ela não falou nada por um longo tempo. Eu também não falei.
Diferentemente de outras transas que eu tive, onde o silêncio pós-orgasmo se mostrava constrangedor, eu entrava em um estado de desespero com o fato de não ter nada o que dizer. Mesmo assim, costumava falar qualquer merda, só para que o silêncio não continuasse.
Com ela, não parecia ser assim. Eu estava confortável com aquele momento de paz, e não era necessário preenchê-lo com palavras.
Na verdade, parecia até errado falar algo que quebrasse o estranho clima de magia e tranqüilidade. Eu não acharia palavras que valessem ser ditas, então me deixei saborear o momento.
Me permiti sentir as mãos dela passeando pelas minhas costas despreocupadamente, como se estivessem brincando ali. Me permiti sentir o perfume da pele dela sem restrições, sem tentar me afastar, posicionando estrategicamente meu rosto na curvatura de seu pescoço. Me permiti afundar os dedos em seus cabelos, ainda molhados, enquanto fazia movimentos sem um propósito certo, mas que simplesmente pareciam caber ali.
Ficamos assim por algum tempo. Vez ou outra eu suspirava, pensando nas coisas que fiz e nas quais não deveria ter feito, sentindo um prazer divertido em notar a pele de seu pescoço se arrepiando a cada lufada de ar que eu dava.
– Dorme aqui…
Fui pego de surpresa pelo som inesperado, quebrando o silêncio confortável e, junto com ele, como eu havia imaginado que aconteceria, a magia daquele momento. Suas palavras atingiram a parte racional em mim, aquela que ainda lutava bravamente. Então, como senti uma vontade quase imoral de aceitar seu pedido e permanecer ali aquela noite, naquela cama, com ela daquela forma, senti a necessidade de fugir, como o covarde que era.
Porque, se eu não saísse rápido, acabaria cedendo a ela.
Em tudo.
– Não, tenho que ir - Falei, já me levantando e coletando minhas roupas espalhadas pelo quarto, enquanto descartava o preservativo usado.
– Mas amanhã é sábado.
Sua voz parecia um pouco desapontada, então tive que fazer força para não cair nessa armadilha. O tom de tristeza em sua voz conseguia me deixar perigosamente vulnerável.
– Amanhã tenho que acordar cedo. Vou estar ocupado. - Falei um pouco ríspido, colocando minhas calças sem olhar para ela.
Era mentira. Eu não faria absolutamente nada amanhã.
Bom, talvez passasse o dia todo me martirizando pela fraqueza de hoje. Mas nada além disso.
– Ah, entendi. Tudo bem então.
Só eu tinha conhecimento da batalha épica que estava sendo travada dentro de mim. De um lado, minhas emoções diziam para pular novamente naquela cama, pegar Anne no colo e a enrolar como uma bola em meu peito. Do outro, minha razão - ou talvez covardia - ordenava que eu saísse dali. Imediatamente.
Vesti a camisa de qualquer jeito, calcei os sapatos e olhei para ela pela primeira vez, desde que eu havia decidido ir embora.
Seu olhar era intenso. Não só isso, mas a ligação que se formou entre nossos olhares. Intenso como alguém se sente quando tem 14 anos e seu amor platônico o olha pela primeira vez. Intenso de fazer sumir o que existe ao redor. Intenso como se faíscas estivessem ricocheteando pelas paredes do quarto.
Intenso pra caralho.
Por um momento, me esqueci que havia decidido ir embora.
– Tudo bem?
– Tudo - Falei, piscando algumas vezes e desviando meu olhar do dela - Eu vou então. Até outro dia.
– Até.
Saí com passos apressados do quarto, tentando não sair correndo. A presença dela me prendia ali. O clima daquele quarto me deixava fraco, quase indefeso, e eu comecei a temer pela minha sanidade mental. Precisava tomar medidas sérias para controlar toda a minha falta de experiência quanto aos meus próprios sentimentos, quando o assunto era ela.
Desci as escadas com pressa, ignorando novamente algumas vozes melosas que me chamavam. Segui pela saída dos fundos, encontrando uma rua fantasmagoricamente deserta e escura. Não me importei e caminhei um pouco, não querendo pensar em nada. Em absolutamente nada.
Depois de alguns minutos, me dei conta de que tinha que chamar um táxi, se não quisesse ir para casa a pé. Disquei o número salvo no meu celular, útil para emergências como essa, e esperei. Meia hora depois, já estava em casa.
Cambaleei para a cama, sem me preocupar em tomar banho ou trocar de roupa. Rezei silenciosa e desesperadamente para que o sono me dominasse o mais rápido possível. Eu não queria pensar, porque se pensasse, chegaria a conclusões um tanto apavorantes.
Eu não saberia lidar com elas, porque era fraco ou imbecil, mas de qualquer forma, tinha certeza que poderia acabar louco ou depressivo.
E só por ter essa noção, eu já fazia ideia do que estava acontecendo comigo, mas sempre que essa ideia surgia em minha mente, eu a deixava de lado, apavorado demais para tentar lidar com ela.
Eu já fazia ideia.
Eu já sabia.
Mas não queria admitir.
Não podia admitir.
Eu não iria admitir.
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De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...