– Definitivamente, eu senti uma coisa… - Bruno falou baixo, arrastado, ainda imóvel como eu, e de uma forma completamente repentina, como se simplesmente tivessem brotado ali, cinco mãos estavam tocando a minha barriga. Olhei confusa para todo mundo, mas eles também estavam quietos, esperando, durante alguns segundos, pelo próximo chute. Nada aconteceu.
– Tem certeza que sentiu? - Jhulie perguntou, um pouco irônica - Pode ter sido o sistema digestivo da Ninha…
– Tenho certeza. - Bruno respondeu de forma confiante. Pouco a pouco, as mãos foram saindo dali, decepcionadas pela ausência de movimento e um pouco incrédulas. Quando a única mão restante voltou a ser a de Bruno, eu senti outra vez. Bastante suave, quase imperceptível, mas, definitivamente, um minúsculo chute.
– De novo! - Ele gritou como um pré-adolescente, quase não contendo a excitação na voz.
– Você está inventando! - Arthur implicou.
– Não estou! Ninha?
– Não está. Eu senti também. - Falei. Tão rápido quanto da primeira vez, as mãos voltaram para a minha barriga. E, outra vez, nada aconteceu.
– Ah, qual é? - Arthur falou, desanimado. Pela segunda vez, as quatro mãos saíram e a quinta permaneceu no mesmo lugar. Imediatamente, o movimento veio outra vez. Bruno gargalhou como uma criança cujos sonhos tivessem todos sido realizados.
– Eu acho que ela gosta só do toque dele. - Falei distraída, olhando debilmente para o meu próprio umbigo. Eu não veria nada ali, como gestantes em estágios avançados às vezes viam ao sentirem os chutes do bebê. Eu estava com quase 5 meses, e por isso mesmo os movimentos não eram fortes. Ao contrário: Poderiam passar até desapercebidos caso eu estivesse caminhando ou fazendo alguma coisa. Mas agora, minha curiosidade estava sendo atiçada pelo comportamento do bebê. Seria possível ela simplesmente reconhecer o toque de Bruno? Ou seria idiota considerar essa possibilidade? Será que ela já havia se acostumado a sentir as mãos dele ali, perto dela, como quase sempre estavam?
– Isso é adorável! - Hérica falou, enquanto encarava o filho com lágrimas nos olhos.
– Eu queria que esse peste só se mexesse quando Diego tocasse nele. - Jhulie falou, se referindo ao seu próprio filho e voltando a beber mais do suco de maçã - Mas acho que ele já quer ser astro de rock ou alguma coisa assim, porque nunca vi uma criança se mexer tanto…
Mas eu não estava escutando. Bruno provavelmente ignorava qualquer um naquela sala que não fosse a coisinha minúscula dentro da minha barriga, que insistia em se mexer sutilmente ao seu toque. Encostei minhas próprias mãos no meu umbigo e esperei. Ela não se mexeu mais, e eu senti uma pontada de ciúme. Ele afastou as minhas mãos com uma das suas, enquanto a outra permanecia na minha barriga. Assim que apenas a mão dele continuou espalmada ali, senti outra vez um movimento leve. Bufei.
Era fofo que ela gostasse de Bruno e tudo mais, mas porra! Era EU quem a carregava para cima e para baixo. Era EU quem estava cedendo espaço no meu corpo para que ela se formasse. Seria bacana se ela gostasse de mim também, não?
Continuei me remoendo por mais algum tempo, até chegar à vergonhosa conclusão de que estava exigindo mais atenção de um feto, unicamente porque estava enciumada. Me odiei por isso, mas assim que os movimentos pararam, me senti melhor.
– Ela cansou. - Falei finalmente.
Bruno parecia um pouco triste, mas não tirou as mãos da minha barriga durante o resto da tarde.
Fomos para casa às 18h, com o pretexto de ter que arrumar os armários e o resto da casa. Bruno, embora se mostrasse claramente averso à ideia me deixou participar dessa tarefa junto com ele, já que apresentei teorias bastante convincentes de que, ao final daquela gravidez, minha vida estaria tão monótona por não poder fazer absolutamente nada que eu acabaria cortando os pulsos por depressão. Aquilo foi o suficiente. Ele estava tão empenhado em sentir outra vez os movimentos da minha barriga que passou o resto da noite grudado nela. Pensei em lembrá-lo da nossa brincadeira sexual relacionada à sobremesa, mas como estava me sentindo excepcionalmente sonolenta e ele parecia não se importar com nada além do meu umbigo, deixei passar.
Dormi cedo, sem fome, me preparando para o aniversário de Robert no dia seguinte.
– E então?
Bruno mastigava devagar, como se fosse um verdadeiro degustador profissional. Eu esperava pelo seu veredicto um pouco ansiosa. Talvez devesse ter escolhido, como primeira receita, algo mais comum: Capeleti de frango com molho de manteiga e sálvia não era algo que todo mundo gostava, até porque era uma receita de família. E se o primeiro almoço que eu tivesse feito para ele fosse mal recebido, principalmente depois de ter dado um certo trabalho e tomado toda a parte do meu dia para preparar, talvez eu me negasse a cozinhar de novo.
Era provável que o alimento já estivesse bastante triturado dentro da boca dele, mas ele não parava de mastigar. Talvez fosse a minha impaciência de grávida que estivesse me dando nos nervos. Talvez ele não tivesse gostado e estivesse pensando em como poderia dizer, de forma educada e sem ferir meus sentimentos, que estava uma merda. Quando ele engoliu o bolo mastigado, ao invés de falar, levou outra garfada à boca.
– Não se preocupe. Eu não quero saber se você gostou. Leve o tempo que precisar. - Falei sarcástica ao lado dele.
– Está divino. - Ele respondeu, com a boca ainda um pouco cheia. Suspirei de alívio.
– Jura?
– Juro.
Me senti exageradamente feliz com a sua resposta. Ultimamente, era necessário muito pouco para me levar aos extremos da alegria ou da tristeza.
Quiquei no banco ao lado dele, pegando um prato e me servindo também. Quando deixei claro que não conseguiria comer mais do que aquilo, ele se prontificou a terminar a travessa inteira, jurando que caso eu continuasse desbravando aquela cozinha, ele acabaria com uns quinze quilos a mais.
– Depois do almoço eu vou na casa dos meus pais ver se a minha mãe precisa de alguma coisa. Ela sempre fica agitada em festas. - Ele começou, depois de dar a última garfada - Se quiser ficar aqui…
– Pensei em ir no shopping com a Jhulie.
Bruno se encolheu um pouco, mas logo se recuperou.
– Eu realmente não acho uma boa ideia.
– Por quê? Nós já conversamos sobre eu não ser uma irresponsável inconsequente, lembra?
– Eu sei, mas… Não é só isso.
– O que é então?
Ele hesitou, mas parecendo não querer levantar suspeitas, continuou de forma apressada.
– Você sabe que ela pode perguntar mais coisas sobre a sua vida…
Aquilo era verdade. A família de Bruno poderia vir a descobrir o nosso maior segredo de muitas formas diferentes, e era um motivo para que eu tivesse um pouco de receio de ficar a sós com eles, pelo menos por enquanto. Mas, por algum motivo, eu me sentia mais confiante quanto àquilo, e diria até que poderia lidar com o que quer que Jhulie usasse para me sondar. Apesar de um pouco esquisita, eu sabia que ela não era enxerida, e caso eu deixasse claro que não queria conversar sobre determinado assunto, ela não insistiria. Mas eu conhecia Bruno muito bem para saber que aquele não era o verdadeiro motivo pelo qual ele não queria me deixar a sós com a irmã.
– Bruno, o que você está escondendo de mim? O que todos vocês estão?
– Escondendo? - Ele fez cara de inocente, arregalando os olhos - Não estou escondendo nada de você.
– No dia que chegamos aqui, Arthur ia me perguntar uma coisa…
– Meu pai terminou a pergunta depois, você não lembra?
Encarei-o, pausando propositalmente e dando a ele tempo para parar de atuar.
– Bruno, me responda com sinceridade: Você acha que eu sou idiota? - Perguntei, não em um tom ofensivo, mas sim de maneira bastante calma.
– Não!
– Tem certeza?
– Claro que tenho, amor!
– Então por que está tentando me convencer de algo que eu sei, e que você também sabe, que é mentira?
Ele ficou mudo, tentando pensar em alguma resposta inteligente. Nada lhe veio à cabeça. Ele suspirou, triste.
– É algo tão sério assim? - Perguntei, trazendo-o de volta e deixando claro que eu ainda esperava uma resposta.
– Você vai saber…
– Por que não me diz agora?
Ele me olhou um pouco desesperado.
– Eu prometo que você vai saber. Depois da festa do meu pai.
Bufei. Não havia como arrancar aquilo dele, ele simplesmente não diria.
Reuni a louça que sobrou do almoço na pia e comecei a lavá-la, ignorando minha curiosidade mórbida e o início de um pouco de medo. O que quer que fosse, aquilo parecia ser sério, e o fato de não saber do que se tratava todo aquele mistério começou a me deixar realmente nervosa. Ficamos em silêncio enquanto eu limpava tudo. Eu não insistiria, até porque insistir aumentava minha ansiedade.
Quando finalmente acabei a tarefa e enxuguei as mãos no pano de prato mais próximo, tentando parecer indiferente, Bruno se pronunciou outra vez.
– Está chateada comigo?
– Não. - Respondi de forma verdadeira - Se tudo que posso fazer é esperar, eu vou esperar. Mas não quero mais falar sobre isso.
Ele assentiu, parecendo um pouco triste.
– Vou ligar pra Jhulie. Posso pelo menos levar vocês até lá?
– Tudo bem. - Respondi, já deixando a cozinha e indo para o quarto me arrumar - Só vamos logo. Quanto mais rápido eu fizer as coisas, mais rápido as horas vão passar.
– Jhulie, são exatamente 14h. Acredito que às 18h vocês já vão ter feito tudo que…
– Não enche o saco! - Ela respondeu, abrindo a porta do banco de trás e saindo sem se despedir. Olhei para ele do banco do carona.
– Ela disse que voltaríamos de táxi… - Comecei, tentando deixá-lo mais tranquilo.
– Não tem necessidade. Quando acabarem, é só me ligar. Eu venho…
– Não vem não. - Jhulie enfiou a cabeça pela minha janela, me dando um susto - Pra que tirar você de onde estiver se temos uma fila de táxis na entrada do shopping?
– Não tem problema…
– Bruno, eu também estou grávida e ando sozinha todo santo dia. Nunca me aconteceu nada, e acredito que meu filho esteja bem, saudável e confortável. Não faça da Ninha uma inválida.
Ele bufou e ela tirou a cabeça da janela, nos dando privacidade outra vez, entendendo que havia vencido aquela briga.
– Você está com o cartão de crédito, né?
– Estou, e acabei de me dar conta de que nunca conversei sobre ele com você. - Respondi, já um pouco amarga.
– Bom, essa conversa vai ter que esperar. Se eu te prender mais um minuto dentro desse carro, Jhulie vai sacar um revólver da bolsa e me matar.
– Tudo bem. Mas não vou usá-lo. - Impliquei, já me ajeitando para sair.
– E se tiver algo que queira comprar?
– Não vou querer nada.
– Pode ser. - Ele falou, com um certo prazer na voz - Mas ninguém sai de um shopping de mãos vazias se estiver com a minha irmã.
– Eu vou sair. - Falei, decidida. Ele riu.
– Ok. Então você pode prometer que vai usar o cartão se quiser alguma coisa. Já que não vai querer nada mesmo…
Encarei Bruno por algum tempo, pensando na minha resposta.
– Porra, se você quiser ficar pra fazer compras junto com a gente, estaciona o carro e VAMOS LOGO! - Jhulie falou ao meu lado, do lado de fora, já demonstrando impaciência. Desafivelei o cinto de segurança e dei um beijo carinhoso nele.
– Toma cuidado, tá? - Ele disse, retribuindo o beijo.
– Pode deixar.
Saí do carro e me juntei à Jhulie, sentada em um banquinho próximo.
– Use-o! - Ele gritou pela janela aberta antes de acelerar e sumir.
– É sério, como você aguenta o meu irmão?
– Ele só se preocupa em excesso. Mas continua sendo fofo.
Jhulie fez uma careta, claramente discordando de mim. Entramos no shopping e caminhamos como se estivéssemos em um parque. O lugar não estava muito cheio, embora também não estivesse vazio.
– O que você quer comprar? - Perguntei, só para puxar uma conversa.
– Preciso de uma roupa pra hoje à noite. Você já tem?
– Tenho sim.
– Como é?
– Não sei ainda. Mas sei que tenho, em algum lugar. - Respondi. Algo no meio daquele monte de coisas que Bruno insistiu em comprar um dia devia servir para a ocasião.
– Então você não tem nada específico! Vamos comprar! - Ela falou, como se eu tivesse acabado de dizer algo maravilhoso.
– Jhulie, estou falando sério. Com certeza tenho alguma coisa…
– Certo. Alguma coisa pra uma grávida?
Considerei aquela pergunta por algum tempo, e foi essa hesitação que fez com que Jhulie me puxasse pela mão e corresse pelo corredor do shopping como uma menininha feliz.
– Vamos! Essa loja tem coisas lindas.
Ela entrou no lugar e correu de encontro a alguns cabides. Uma mocinha veio nos receber com um sorriso falso no rosto. Jhulie disse que assim que escolhesse o que queria, falaria com ela, e a mulher nos deixou à vontade.
– Jhulie… - Comecei, tentando fazê-la desistir da ideia.
– Ah, já achei alguma coisa que é a sua cara. Que sem graça.
Ela estendeu na minha frente um vestido xadrez propositalmente fofo e largo.
– É muito bonito, mas…
– Estou sendo boazinha com você. Só estou te pedindo pra experimentar uma única peça. Vamos lá. Se ficar feio, eu vou ser a primeira a te dizer. Não se pode confiar no que essas vendedoras dizem.
Suspirei. O conjunto era mesmo bonito, mas eu sabia que se caísse bem em mim, Jhulie insistiria para que eu o levasse. E então eu teria que usar o cartão de crédito que Bruno me deu. E isso o deixaria feliz de uma forma irritante.
Caminhei para os provadores com ela me empurrando. Quando entrei, em um tipo de sala de espera, me espantei com o tamanho do lugar. Não era parecido, de forma alguma, com os provadores normais que se via em lojas de shoppings comuns. Era enorme, claro e espelhado em todas as paredes.
– Vou ficar esperando aqui. - Ela disse, enquanto sentava em um banco acolchoado e pegava uma revista - Se precisar de mim, grite.
Andei devagar para o corredor com os provadores, com medo de me perder ali. Entrei na primeira cabine e me despi, vestindo em seguida o bendito conjunto. Me olhei no espelho e constatei que sim, a roupa havia ficado bastante bem em mim. Me olhei por mais algum tempo nos vários espelhos dispostos em ângulos diferentes, me dando uma visão completa do meu corpo.
– Ainda está viva? - Ela perguntou depois de algum tempo do lado de fora, batendo sem muita força na porta. Saí da cabine e ela me encarou como quem gostava do que via.
– Ficou lindo! Realmente, a sua cara. E a sua barriga fica até disfarçada.
Olhei no espelho de novo, vendo que ela estava falando a verdade. Eu não parecia uma gestante.
– Mas se você quiser esconder a sua gravidez, acho melhor desistir. - Ela adicionou, como se lesse meus pensamentos - Tenho certeza que meu irmão vai fazer questão de falar pra todo mundo daquela festa que você está esperando um filho dele. Mas enfim, toma. Vai combinar com o look.
Ela me estendeu uma meia-calça preta opaca, feita de um tecido grosso. Jhulie continuou me analisando com uma das mãos no queixo, e eu me senti uma árvore de natal sendo decorada. Quando pareceu finalmente ter uma ideia se virou e saiu dali sem me dar nenhuma satisfação, voltando um minuto depois com uma encharpe preta na mão. Ela finalmente enrolou o pano no meu pescoço com vários nós extravagantes e sorriu.
– Pronto. Está perfeita.
Me olhei outra vez no espelho atrás de mim e fiquei satisfeita com a minha aparência. Tentei me imaginar com a meia-calça preta e um sapato baixo, e a visão definitivamente era agradável.
– Nossa… Estou mesmo bonita…
– Vamos levar.
– Quanto é? - Perguntei. Ela me olhou como se não entendesse do que se tratava a pergunta.
– Quanto é o quê?
– O vestido.
Mais uma vez, Jhulie pareceu um pouco perdida, como se tivesse sido pega de surpresa. Como se simplesmente nunca houvesse passado pela sua cabeça considerar o preço do que ela estava decidida a comprar.
– Não faço ideia. Mas ficou lindo em você, temos que levar.
Encarei-a por algum tempo, pensando em como pessoas ricas eram estranhas. Talvez porque elas pudessem se dar ao luxo de serem despreocupadas com tudo, mas aquilo não deixava de ser surreal. Fechei a porta e me troquei, saindo do provador de forma decidida.
– Temos que ver o preço. - Falei.
– Por quê?
– Porque o cartão de crédito que eu tenho é do Bruno.
Ela me olhou como se eu estivesse falando coisas completamente descabidas.
– Exatamente por ser dele você pode gastar quanto quiser.
– Certo… - Falei, ignorando sua lógica - Vamos ver quanto é, ok?
Perguntamos à mocinha que havia nos atendido e ela nos informou o preço. Era, como eu imaginava, bastante alto. Quando pedi à mulher para que nos desse licença e informei à Jhulie que não queria tanto assim o vestido, ela deu ataque como uma criança desesperada, dizendo que não admitiria que eu não usasse aquele vestido na festa do pai dela. Como ela parecia estar ficando realmente nervosa, achei melhor não contrariá-la por causa da sua gravidez (e também porque parecia querer me agredir).
Comprei o vestido com o cartão de crédito, decidindo pagar a Bruno depois, com o pouco dinheiro que ainda me restava. Depois disso, Jhulie pareceu feliz outra vez, entrando em mais sete lojas e saindo de cada uma delas com duas sacolas diferentes. Comecei a me preocupar com o peso que ela carregava, me colocando à disposição para dividir as bolsas. Bruno obviamente não saberia daquele detalhe.
Lanchamos e tomamos sorvete. Ela tentou me convencer, durante todo o tempo, que deveríamos visitar as lojas para gestantes, já que meu guarda-roupas precisaria ser trocado de qualquer jeito. Foi preciso muita perseverança para convencê-la a deixar aquilo para algum outro dia, nem que fosse o dia seguinte. Minhas costas já começavam a doer um pouco do longo período passeado para lá e para cá.
Quando olhei no relógio, constatei que estávamos perto das 17h, e disse a Jhulie que talvez fosse melhor voltarmos, já que talvez Hérica estivesse precisando da nossa ajuda. Ela concordou, dizendo que passaríamos em uma última loja e, então, iríamos embora.
A loja era exclusivamente de vestidos, de diversos modelos e cores. Ao que parecia, a loja também se destacava por fazer vestidos sob medida. Jhulie se mostrou interessada em alguns vestidos de características específicas, e quando separou dos demais um verde-água de manga comprida, um pouco folgado na área da barriga e comprido, ela me encarou com um brilho estranho nos olhos.
– Experimente.
Cruzei os braços no peito, em tom de reprovação.
– Jhulie! Já tenho meu vestido pra festa!
– Eu sei! Mas, por favor, só experimente.
– Eu não vou levar!
– Tudo bem! Só quero ver como fica!
– Isso não faz sentido!
– Se você experimentar, nós vamos embora imediatamente.
Encarei-a, buscando algum traço de mentira naquilo. Minhas costas realmente doíam agora.
– Promete? - Perguntei, ainda desconfiada.
– Prometo.
Peguei a peça das mãos dela e caminhei mais uma vez para os provadores, trocando as roupas e me enfiando dentro do vestido. Me olhei no espelho de má vontade, mas nem isso foi o suficiente para tirar a beleza dele. Eu parecia um tipo de princesa medieval. As mangas finas se ajustavam perfeitamente aos meus braços e a parte folgada disfarçava completamente minha barriga um pouco crescida. Me surpreendi ao notar que minha cintura, ainda assim, continuava destacada.
Jhulie entrou na cabine sem pedir permissão e, ao me ver, seus olhos brilharam ainda mais.
– Ninha…
– Eu sei. É lindo. Mas eu disse que não ia levar…
– Sim, sim… Mas esse vestido parece ter sido feito pra você… Você está… Linda.
Agradeci, olhando outra vez no espelho. Sim, eu estava bonita. Mas, de qualquer forma, aquela não era uma roupa que se vestiria em uma ocasião como um aniversário no jardim, mesmo que o aniversário fosse chique ao nível dos Coolin.
– Por que não compra pra você? - Perguntei, orgulhosa da minha repentina ideia.
– Tenho certeza que não cairia tão bem.
– Você pode experimentar.
– Não, eu prometi que iríamos embora. - Ela falou, parecendo pouco interessada na minha proposta. Dois minutos depois, como prometido, saímos dali: Eu de mãos vazias e Jhulie com o cartão de contato da loja.
…
Quando chegamos à casa dos Coolin, de táxi, encontramos Bruno, Arthur e Diego arrumando e forrando mesas e cadeiras pelo jardim na parte de trás da casa. Hérica olhava da soleira da porta para os rapazes trabalhando, com um ar inconfundível de razão no rosto. Arthur parecia um pouco irritado.
– Ele errou quando disse que daria tempo de arrumar sozinho as mesas e cadeiras. E ele odeia errar. - Jhulie falou, também reparando na expressão de desgosto do irmão - Mamãe quase sempre está certa. E é isso que o deixa ainda mais puto.
Sorri com aquela cena. Quando Bruno nos viu ali, caminhando com várias sacolas nas mãos, veio correndo até nós.
– Jhulie, você faz isso de propósito? - Ele perguntou, retirando todas as bolsas das minhas mãos e das dela também.
– São roupas, Bruno. Não pedras.
– Ainda assim, está pesado pra vocês!
– Fale por si só. Não sou fresca como você, posso carregar umas bolsas de vez em quando. - Jhulie replicou, mas fez cara de alívio quando teve as mãos livres.
– Comprou alguma coisa? - Ele perguntou, me dando um beijo no rosto e sorrindo de maneira irritante, momentaneamente esquecendo de brigar com Jhulie. Não respondi, deixando-o de lado e indo ao encontro de Hérica. Isso só fez com que ele risse alto da minha cara, enquanto caminhava atrás de mim.
– Meus netos chegaram! - Hérica falou toda feliz, dando um beijo em Jhulie e em mim quando alcançamos a porta da casa, falando diretamente para a filha - Espero que nenhuma dessas sacolas seja pro seu pai.
Congelei. Eu tinha ido ao shopping no dia do aniversário de Robert. Como demônios eu pude esquecer de comprar uma porra de um presente pra ele?
Olhei para Bruno meio desesperada, desejando profundamente que ele me entendesse e que, ao mesmo tempo, não me achasse uma imbecil.
– Amor… Tudo bem?
– Eu esqueci… - Comecei baixo, rezando para que só ele ouvisse - Não acredito que esqueci…
– Não precisava ter comprado nada - Ele respondeu afagando meu ombro como consolo -, eu já comprei.
"Mas eu não!", pensei, ainda puta comigo mesma pela gafe, mas um pouco mais aliviada por saber que pelo menos ele tinha algo para dar.
– Ei, Bruno! - Arthur gritou de longe - Não é querendo me aproveitar da sua boa vontade em me ajudar, mas será que você podia deixar pra fofocar com as meninas depois?
Ele suspirou ao meu lado, entregando as bolsas para Hérica e murmurando algo como “sempre sobra pra mim e pro Diego…”.
Jhulie me agradeceu pela companhia aquela tarde e pediu licença para subir e se arrumar para a festa. Quis fazer o mesmo, mas Bruno ainda estava desempilhando mesas e cadeiras junto com o irmão e o cunhado, espalhando-as pelo jardim. Me sentei nos degraus da escada e fiquei observando-os trabalharem, esperando, sem pressa, pela hora em que poderíamos ir para casa também.
…
Depois de um bom banho quente tomado, o “conjunto-Jhulie” vestido (a encharpe com um nó um pouco menos extravagante e uma sapatilha preta básica e baixa), uma maquiagem leve e clara, e uma massagem divina feita por Bruno (o que melhorou consideravelmente minhas dores nas costas), saímos de casa rumo à festa. Chegamos lá por volta das 19h.
O lugar estava iluminado por vários pontos de luz espalhados pelo jardim gigante da parte de trás da casa. Alguns postes mais altos brilhavam em uma cor branca, outros, mas próximos às plantas, em um tom verde vivo. O cheiro de jasmim estava impregnado no ar, e pela primeira vez notei que, à minha volta, um mar de camélias coloridas se espalhava por entre as mesas, os garçons e os poucos convidados já presentes.
Fiquei algum tempo ali, de pé, encarando o lugar. Bruno me olhou um pouco preocupado, me perguntando se eu estava me sentindo bem, instantaneamente levando sua mão até a minha barriga.
– Estou ótima. - Respondi, respirando profundamente todos os perfumes daquela noite.
Segurei a mão dele e me agarrei ao seu braço, só porque queria senti-lo mais perto de mim, e caminhei com ele em direção às mesas.
Vimos Robert e fomos falar com ele. Bruno deu um grande abraço-de-macho no pai e me deu espaço para cumprimentá-lo logo em seguida.
– Ei, hoje é meu aniversário… Que tal chutar a mão do vovô? - Ele começou, com uma mão na minha barriga, falando diretamente com ela. Quando nada aconteceu, ele continuou: - Não? Tudo bem.
– Boa tentativa, pai. - Bruno falou em um tom de vitória - Mas a exclusividade ainda é minha.
Hérica se juntou a nós, perguntando se eu queria comer alguma coisa. Uma banda com mais ou menos seis músicos tocava um jazz bem calmo em um canto. Robert levou Bruno aos poucos convidados presentes, apresentando-o como o mais novo Coolin a trabalhar na matriz da empresa. Bruno, por sua vez, me levou junto, me apresentando como sua namorada-e-mãe-da-sua-filha.
Avistamos Jhulie, Diego e Arthur sentados em uma das mesas mais ao canto. Quando todas as pessoas ali já tinham nos sido apresentadas e novas pessoas chegavam, deixamos que Robert e Hérica recebessem os convidados à vontade e fomos nos juntar aos irmãos de Bruno.
– Por que estão em um canto? - Ele perguntou, puxando uma cadeira para que eu sentasse e se sentando ao meu lado logo em seguida.
– Porque Jhulie pretende comer a festa inteira, mas a festa inteira não cabe dentro dela. Então esse arbusto aqui vai acabar todo vomitado sem que ninguém precise ver isso. - Arthur falou calmamente, bebendo uma cerveja.
Ela sorriu de forma tranquila, nos olhando como quem diz “exatamente”.
Um garçom passou servindo doses de whisky, e Bruno aceitou, pedindo que trouxessem um copo de suco para mim. Algumas refeições também estavam sendo servidas, e enquanto Jhulie aceitava todas para si, Bruno aceitava todas para mim. Pedi a ele para que parasse, lembrando-o de que eu não conseguiria comer aquilo tudo.
– Diego, tem brasileiros na sua família? - Jhulie perguntou de repente, e aquilo foi tão aleatório que eu tive que prestar atenção.
– Não… Por quê?
– Porque essa criança não pára de sambar na porra da minha barriga!
– Posso sentir? - Perguntei.
– Claro.
Encostei as mãos ali e senti os chutes violentos lá dentro. Me surpreendi com a intensidade dos movimentos.
– Ele deve estar é puto com essa música chata. - Arthur se meteu, gritando para cima, como se os músicos do outro lado do jardim pudessem ouvi-lo - Toca Iron Maiden!
A verdade era que aquela não era uma festa com o intuito baderneiro que Arthur queria. Ninguém ia encher a cara e vomitar no sofá, ninguém ia pular pelado no chafariz, e ninguém ia dançar loucamente na pista de dança. Aquela festa era para pessoas sérias demais, donos de negócios e empresários comportados. Até mesmo Robert e Hérica eram mais jovens que a esmagadora maioria dos convidados ali presentes, e pessoas da minha idade eram praticamente inexistentes.
– O jeito é beber. - Bruno concluiu, se servindo de mais uma dose de whisky.
Passamos quase toda a noite daquela forma.
Jhulie comia tudo que lhe ofereciam, e eu estava vendo a hora que ela explodiria caso realmente não vomitasse no arbusto mais próximo. Arthur bebia cerveja e contava piadas, mesmo que ninguém entendesse a maioria delas. As piadas de Diego exigiam menos da nossa inteligência, e então conseguíamos rir. Bruno passava alguns minutos longe de mim, conversando com pessoas que ele “devia conhecer”. Mas quando voltava para o meu lado, alternava suas ações entre mexer no meu cabelo, espalmar a mão na minha barriga (se certificando de que não perderia mais nenhum chute), beijar minha orelha e ficar me olhando para ter certeza de que eu não estava entediada, e que a noite estava sendo agradável para mim. Comecei a notar as várias doses de whisky que ele bebia. Àquela altura, já havia sido muitas. Eu tinha perdido a conta, e certamente, ele também.
– Ei… Não quer pegar leve? - Falei em seu ouvido, enquanto Arthur e Diego conversavam sobre qualquer coisa e Jhulie falava com uma mulher em outra mesa.
– Com o quê? - Ele respondeu com a voz já arrastada, os olhos totalmente embaçados e molhados.
– Você já bebeu muito.
– Você não gosta quando eu bebo?
– Não tenho nada contra. Mas não vou conseguir te segurar caso tenha que te carregar escada acima.
– Eu peço pro Arthur me carregar…
– Acho que ele está começando a ficar tão bêbado quanto você.
Ele continuou me olhando com seus olhos desfocados. Depois de algum tempo sem se mexer, passou um dos braços por trás das minhas costas e se virou completamente para mim, ignorando o assunto que mantínhamos.
– Eu amo você. - Ele falou, muito próximo ao meu rosto. Tão próximo que consegui sentir o perfume do creme de barbear dele, ignorando completamente o cheiro de álcool em seu hálito. Ele estava bêbado, mas aquelas palavras nunca perdiam o valor quando saíam da boca dele, fosse qual fosse a ocasião.
– Eu também te amo. - Falei, ainda mais perto do seu rosto.
– Vai ficar comigo pra sempre?
Fiz que sim com a cabeça, dando um selinho no canto da sua boca.
– Promete? - Ele insistiu, fechando os olhos e encostando sua testa na minha, e por um momento tive a impressão de que ele estava um pouco emocionado. Tive vontade de agarrá-lo.
Ter Bruno alcoolizado, carente, emocionado e se declarando na minha frente era mais do que eu podia lidar.
– Prometo. - Dei um outro selinho nele, desejando intimamente que não estivéssemos cercados de pessoas. Ele prendeu seus lábios nos meus com um pouco de força e aprofundou o beijo, se esquecendo de onde estávamos. Eu ainda lembrava, mas resolvi aproveitar aquele momento, torcendo para que ninguém estivesse prestando atenção em nós.
– Parem com isso! Estou ficando constrangido com essa putaria!
– Arthur, é sério… Vai à merda… - Bruno falou na sua voz arrastada de bêbado, esfregando o rosto no meu pescoço como se fosse um gato, e pela primeira vez também o mandei ir à merda mentalmente.
– Ei, Bruno.
Olhei para cima e vi um rapaz que aparentava ter aproximadamente a mesma idade que as pessoas da nossa mesa. Eu nunca havia o visto, mas ele parecia me encarar com curiosidade, embora não tivesse me dirigido a palavra. Bruno demorou um pouco para descobrir de onde a voz vinha, e quando se deu conta de quem estava de pé ao lado dele, se levantou e apertou a mão do rapaz, falando em um tom um pouco formal:
– Oi, Jonathan.
– Como estão as coisas? - O outro falou, parando de me encarar.
– Ótimas. - Ele respondeu, me oferecendo a mão para que eu levantasse. Quando levantei, ele continuou - Ninha, esse é Jonathan, um amigo. Jonathan, Anne. Minha namorada…
– É um prazer conhecê-la. - Ele respondeu, apertando de leve minha mão.
– Igualmente. - Respondi, de forma agradável.
– …e mãe da minha filha que nasce daqui a aproximadamente 4 meses. - Bruno adicionou, como se estivesse esperando que as apresentações terminassem para soltar aquilo. O rapaz arregalou os olhos e sorriu.
– Sério? - Ele falou, olhando para a minha barriga - Meus parabéns…
– Obrigada… - Falei, sorrindo. Mas o sorriso dele vacilou.
– Cara, posso dar uma palavrinha com você?
– Ok. - Bruno respondeu, me abraçando e me dando um beijo fofo - Já volto, amor.
Os dois saíram da mesa, caminhando para longe, Jonathan sóbrio e Bruno ziguezagueando levemente. Eu não sabia quem era aquele homem, mas tive a impressão que o que quer que fosse a “palavrinha” que ele queria dar com o meu namorado, não era boa.
– Diego, vou ao banheiro. - Anunciei para a pessoa menos bêbada naquela mesa e me retirei, indo atrás dos dois.
Como o lugar estava agora bastante cheio, imaginei que não seria fácil encontrá-los, mas o ponto positivo era que ninguém estava prestando atenção em mim. Minha caça poderia ser feita sem levantar suspeitas.
Dei a volta na casa procurando por vozes conhecidas, e milagrosamente encontrei. A voz arrastada saiu de trás de uma pilastra, em um lugar silencioso, afastado da festa. Só havia os dois lá. O que ouvi não foi muito, mas foi o suficiente para me atingir.
– …só estou aqui pra dar o recado: Ela está sozinha de novo… Acho que não deu certo com o outro cara. De qualquer forma, ela veio passar algumas semanas em Londres, e depois volta pro Texas. Eu disse que vinha pra festa do Robert e ela imaginou que você estaria aqui. Ela me pediu pra te dizer que está muito arrependida, e que vocês podiam voltar juntos pros Estados Unidos. Disse que estava com saudades e não sei mais o quê.
Bruno não respondeu nada por um longo tempo. O outro continuou.
– Ainda acho que ela não merece o seu perdão, mas Lauren continua sendo minha prima. E eu disse que falaria com você, mas vi que você está bem agora. De qualquer forma, o recado está dado.
Meu peito começou a doer. E aquilo, decididamente, não era bom para a gravidez. Fiz força para manter minha respiração silenciosa, embora o que eu realmente quisesse fosse gritar.
– Ok, Jon. - Bruno respondeu, suspirando, e eu desejei profundamente poder ver sua verdadeira reação naquele momento - Faça o favor de dar o meu recado à sua prima: Peça pra ela esquecer que eu existo…
Um casal se aproximou e eu me assustei. Não queria que ninguém me visse ali, atrás de uma parede, ouvindo conversas alheias. Corri para o outro lado, tentando não fazer barulho, e virei a esquerda, deixando-os sozinhos novamente. Os sons da festa me atingiram de novo. Todos pareciam animados com as músicas que tocavam, e os garçons continuavam correndo para lá e para cá com bebidas e refeições. Mas o que eu realmente ouvia era um enorme zumbido, cru e desagradável, cobrindo e impedindo que toda aquela alegria me atingisse.
Caminhei mecanicamente para a mesa e me sentei. Agarrei o primeiro copo d’água que achei em uma bandeja e agradeci ao garçom só por educação, bebendo grandes goles de uma vez.
Puta que pariu.
Lauren.
Aquela infeliz, filha da puta, tinha que voltar e me atormentar. Tinha que estragar a minha felicidade. Tinha que querer Bruno de volta.
Ela queria Bruno de volta. Eu estava oficialmente passando mal.
– Ei, Ninha! O que foi? - Diego veio sentar do meu lado, realmente sério.
– Nada. - Falei, me abanando com um guardanapo.
– Sua boca está completamente sem cor! O que foi?
– Nada!
– Arthur, chega aqui! - Ele gritou para o cunhado, que apareceu magicamente ao meu outro lado.
– O que você tem? - Ele perguntou, pegando de um dos garçons algo que parecia uma porção de penne aos quatro queijos e me oferecendo.
– Por favor, parem com isso… - Consegui falar, sentindo minha cabeça ferver e minhas mãos suarem - Você estão chamando atenção…
– Ok, então come isso. Sua pressão não está boa.
Com o único intuito de afastá-los, peguei o garfo tentando não tremer e enfiei um bolo de penne dentro da boca. Poderia ser isopor, e eu não saberia dizer a diferença.
Eles encostaram nas cadeiras, fingindo naturalidade mas ainda olhando discretamente para mim. Para minha surpresa, o mal estar que eu sentia foi melhorando aos poucos, e talvez fosse mesmo de um pouco de sal que eu estivesse precisando.
Respirei fundo algumas vezes, pensando em tudo que pudesse ajudar a me acalmar.
Primeiro, Bruno tinha dito para Lauren esquecê-lo. Eu tinha ouvido perfeitamente aquelas palavras, mesmo que tivesse que sair correndo depois.
Segundo, há alguns minutos atrás ele estava se declarando para mim e me pedindo para ficar com ele para sempre.
Terceiro, ele não me deixaria para ficar com outra: Eu carregava a filha dele, e pelo que me lembrava, ele era completamente apaixonado por ela.
Fui me acalmando aos poucos, até conseguir diminuir consideravelmente meus tremores. Escondi as mãos embaixo da mesa, fechando os olhos e tentando não lembrar do diálogo que havia acabado de presenciar. Arthur e Diego continuavam do meu lado, agora mais calmos por se darem conta de que aquilo havia sido “apenas” uma queda de pressão. Agradeci por Jhulie não estar ali. Do jeito que ela era, era capaz de notar que havia algo de muito errado comigo.
Eu estava suando, embora o tempo estivesse até bastante fresco. Olhei em volta, me perguntando onde Bruno estava que ainda não tinha voltado. Talvez tivesse ficado mais tempo conversando com aquele homem… E talvez tivesse mudado de ideia ou marcado um encontro com Lauren, nem que fosse para conversarem.
Engoli o choro que veio na garganta e esperei. Fui pega de surpresa quando ele chegou repentinamente, fazendo com que Diego se levantasse e sentando de qualquer jeito onde ele estava, ao meu lado. Ele pegou a dose de whisky que havia deixado sobre a mesa antes de sair para conversar e tomou-a de um só gole, já pegando outra dose de um dos garçons. Encarei-o, querendo interrogá-lo, mas não podia.
– O que ele queria? - Perguntei baixo, fingindo naturalidade, mas minha voz saiu ridiculamente trêmula. Felizmente, Bruno estava bêbado demais para notar isso.
– Encher o meu saco. - Ele disse, passando outra vez o braço esquerdo por trás das minhas costas e afagando meu ombro.
– Como assim? - Insisti, tentando lidar com as batidas do meu coração, tão pesadas que pareciam socos.
– Nada importante, amor. - Ele disse, me dando um beijo leve no canto dos lábios.
– Bruno… Me diz, por favor.
Ele me encarou e eu sorri falsamente, engolindo em seco e lutando contra as lágrimas. Agarrei inconscientemente o pano da sua calça, com tanta força que meus dedos doeram.
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De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...