Capítulo 13

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- Vamos ao shopping!
A voz entrou em meu quarto rápido demais para meu raciocínio lento, enquanto eu deixava o livro de lado na cama e tentava identificar quem havia acabado de praticamente arrombar minha porta.
- Ah, estou bem aqui, Júlia. Te acompanho outro dia.
- Ninha, não foi uma pergunta. E não há "outro dia", preciso comprar seu presente.
- Não precisa não!
- Qual é, Ninha - Interrompeu Sophia, entrando no quarto tão rápido quanto Júlia. - Deixa de ser desanimada, vamos passear!
- Vocês não vão comprar nada pra mim!
- Ei, você não manda na gente. Agora, levante-se e se vista. Nós duas já estamos prontas, e você está atrasando a programação do nosso domingo feliz.
- Eu realmente prefiro...
- Você não tem nada pra fazer aqui, Ninha!
Vi a cutucada discreta de Júlia no braço de Sophia. Lembrei de como as duas estiveram felizes por ontem, pensando que eu receberia a visita de uma certa pessoa. Talvez estivessem se sentindo culpadas porque achavam que me fizeram acreditar nos devaneios delas, e de certo modo me agradou saber que aquele assunto não surgiria em nossas conversas hoje.
- Podemos pegar um cinema.
- É, tem alguns filmes em cartaz que parecem ser legais. Acho que todas nós optamos por uma comédia, certo? - Sophia perguntou.
- Sim! - Júlia respondeu pelas três. - Ninha, ainda estamos te esperando aqui.
Certo. Elas não me deixariam mesmo em paz.
- Ok. Vocês compram os presentes que eu escolher, certo?
- Não vale escolher algodão-doce e ímãs de geladeira. Vamos te dar presentes de verdade!
Droga. Elas me conheciam.
- Vamos te dar dez minutos para se trocar, e se nós voltarmos e você ainda estiver de pijamas, se prepare para a fúria de Sophia Amorim.
Prendi o riso com a imagem que me veio à cabeça de uma Sophia minúscula fazendo ameaças e me dando soquinhos de criança. Assim, como ordenado por Júlia e Sophia, fui às compras no início da tarde de domingo.
Tentei escolher presentes baratos e sem importância, alegando que "uma lembrancinha já estava bom", mas elas se negaram veementemente a aceitar minha atitude, e no final do dia estávamos, as três, na fila do cinema enquanto eu carregava um par de botas longas e pretas e uma bolsa de couro marfim.
Vimos uma comédia com atores famosos, e não sei se era o meu estado de espírito, mas o filme era um tanto quanto sem graça.
Mesmo assim, foi uma distração útil para tirar da minha cabeça a única coisa na qual eu vinha pensando desde o início daquele domingo.
Ele.
Não que eu tivesse de fato começado a acreditar nas ilusões de Júlia e Sophia sobre Bruno, mas eu ainda estava incomodada com a atitude dele de fugir de mim.
E o que mais me incomodava era que eu não conseguia entender, por mais que me esforçasse, o que diabos eu havia feito para que ele agisse daquela forma.
Seria meu aniversário no dia seguinte, e doeu ter quase certeza de que eu não o veria. De que ele não iria me ver.
Era até mais aceitável que ele já tivesse esquecido desse detalhe, mas o pior era que, mesmo que ainda lembrasse, o que eu achava improvável, ele me evitaria, assim como fez na noite de sexta-feira.
- Gostou do filme?
- É engraçadinho. - Falei, voltando de meus devaneios.
- Nossa, você tem andado muito rabugenta esses últimos dias. Nada te agrada! O que aconteceu?
Eu deveria contar o que realmente aconteceu?
Deveria dizer a elas que eu estou apaixonada por um cliente e que ele parecia querer me evitar?
- Nada. - Menti.
- Mentirosa! - Sophia esbravejou - Somos suas amigas, pode nos contar.
Eu sabia, elas eram minhas amigas e eu podia contar com elas para conselhos ou simplesmente para desabafar, mas eu não queria dizer a verdade. Não agora.
- Devo estar no meu inferno astral, só isso.
Elas obviamente não acreditaram, e me encheram de perguntas durante todo o caminho de volta para casa. Felizmente, elas não tocaram no nome de Bruno, porque eu tinha certeza que se ouvisse o nome dele, entregaria tudo.
Pouco tempo depois, chegamos em casa. Já estava perto das 21h, e eu não tinha fome.
Por isso, rumei diretamente para meu quarto, desejando boa noite apenas às minhas duas companheiras de shopping, e me trancando lá.
Amanhã eu teria o dia de folga. Isso era bom, eu não precisaria já voltar à rotina. No entanto, sabia que no dia seguinte, teria que retomar meu papel.
Bruno não pagaria por mais uma semana minha, eu tinha certeza, então era bom eu já me conformar com a ideia.
Tomei um banho demorado e me deitei na cama, esperando o sono chegar. Não demorou muito, e alguns minutos depois eu já mergulhava em uma total escuridão.
Uma noite sem sonhos. Meu primeiro presente de aniversário.
Segunda-feira.
Acordei perto das 9h. Demorei um pouco para lembrar que era meu aniversário, e então, depois de notar esse detalhe, resolvi ficar na cama por mais um tempo. Originalmente, minha ideia era sair por aí e não fazer nada específico.
Eu não poderia comemorar com as minhas amigas, porque elas tinham que trabalhar. Embora eu pudesse tirar o dia de folga, não seria a mesma coisa para elas. Mas então, decidi que talvez ficar embaixo do cobertor ouvindo música parecia ser uma boa coisa para fazer enquanto esperava aquele dia passar.
O dia não seria muito diferente dos outros. Certo, eu não teria que trabalhar o que era bastante bom, mas fora isso, eu não via a menor diferença.
Eu notava que algumas pessoas se sentiam um pouco mais importantes nos dias dos seus aniversários, mas nunca foi assim para mim, e eu sempre me perguntei o motivo.
Talvez fosse bom se sentir mais importante em um único dia dentre os demais do ano.
Fingi continuar dormindo mesmo depois das cinco vezes em que ouvi batidas em minha porta e alguém a abrindo minimamente para checar se eu já havia acordado. Eu não estava desanimada, mas não queria toda a atenção que eu sabia que iria receber no momento em que pusesse os pés no andar debaixo.
Não que eu não gostasse das meninas, mas eu simplesmente preferia ficar na minha. E afinal de contas, era só o meu aniversário.
Não era como se eu tivesse ganhado na loteria ou fosse me casar.
Mas eu não poderia continuar fingindo pelo resto do dia, por isso, às 11:30h aproximadamente, me levantei, tomei um banho e vesti uma roupa casual para sair.
Quando apareci na cozinha, algumas meninas que ali estavam vieram me cumprimentar, me desejando felicidades. Agradeci a todas verdadeiramente contente, enquanto me servia de meio copo de suco de laranja. Alguns minutos depois, só restávamos eu, Sophia e Júlia na cozinha, fofocando sobre assuntos aleatórios.
- Caramba, você acordou muito tarde! Já estamos quase almoçando! - Começou Sophia.
- Já que hoje é meu aniversário, deveríamos ter alguma comemoração, não é? Por que não almoçamos juntas?
- Ei, gostei da ideia! Tem algum lugar em mente? - Perguntou Júlia.
- Não. Vocês podem me ajudar a decidir. - Olhei para o relógio, que marcava 12:15h - Vão se arrumar que saímos daqui a vinte minutos.
- Êêê, festa! - Sophia exclamou, já pulando de sua cadeira e saindo da cozinha, junto com Júlia, e me deixando sozinha ali.
Fiquei pensando no que poderíamos fazer enquanto a noite não chegasse e elas fossem obrigadas a voltar para casa.
Sophia certamente sugeriria shopping, mas como o aniversário era meu e eu podia dar essa desculpa, acabaríamos sentadas, as três, em um bando de parque conversando sobre nossas vidas e tomando sorvete.
- Ninha...
Júlia entrou novamente na cozinha, ainda vestindo as mesmas roupas.
- Ei, vá se arrumar! Está atrasando a minha festa! - Falei, num tom brincalhão.
- Acho melhor você ir sozinha. Não estou me sentindo muito bem, e Sophia precisa fazer... uma coisa.
- É. - Sophia assentiu, do seu lado, com uma cara mais animada do que de costume.
- Que coisa? - Perguntei, suspeitando da atitude das duas.
- Não seja indiscreta. Agora vai logo! - Júlia me puxou da cadeira enquanto eu tentava apoiar no ombro minha bolsa.
- Mas... Vocês vão me deixar ir sozinha? É meu aniversário!
- Sim, vamos. Você vai arranjar algo interessante pra fazer. - Finalizou Sophia, enquanto ajudava Júlia a me empurrar pela porta que dava para os fundos da casa.
Fiquei um pouco chateada pela atitude das duas, mas depois elas teriam que me explicar o motivo daquilo.
No momento, se eu continuasse tentando ficar dentro da casa, elas acabariam me chutando para a rua.
Me senti rejeitada e com raiva.
Eu sei, havia alguma coisa que elas estavam escondendo de mim, mas mesmo assim, me deixaram sozinha no meu aniversário!
Sendo que eu as tinha convidado! Porra!

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