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Esse capítulo é um amorzinho, é quente, é novamente um amorzinho e vai deixar algumas pessoas preocupadas sobre o passado do Bruno. Leiam com amor ♡
◇◇◇◇– Você está bem? - Ele perguntou, secando o suor do meu pescoço com uma das mãos.
– Estou… Não vai me falar?
– Te falo depois. Tudo bem?
Encarei-o por algum tempo, imaginando se ele realmente me contaria tudo que foi dito naquela conversa.
– Promete?
– Prometo.
– Cara… - Arthur nos interrompeu, sério - Eu não sou exagerado como você, mas a Ninha passou um pouco mal há alguns minutos atrás…
Bruno me encarou como se eu estivesse em chamas. Desejei que Arthur não estivesse bêbado a ponto de soltar aquela informação desnecessária.
– O que você tem? - Ele perguntou desesperado, largando o copo de whisky em cima da mesa e colocando as mãos na minha barriga.
– Minha pressão caiu, foi só isso…
Ele levou as mãos à cabeça, apertando com os dedos os fios do próprio cabelo. Aquele era Bruno bêbado e desesperado, e eu poderia até achar graça caso não estivesse ainda abalada pelo que havia acontecido.
– Vem, amor… Vamos pra casa… - Ele se levantou, cambaleando.
– Ela já está bem, Bruno! Deixa de ser idiota! - Arthur começou, mas Bruno respondeu em uma voz tão alta e de uma forma tão ríspida que me assustei.
– Me deixa com a porra da minha preocupação! Parem de encher a merda do meu saco, todos vocês! - E virando-se para mim, suavizou a expressão de raiva - Vem… Eu te ajudo.
Arthur fez menção em responder, mas o calei com um gesto.
– Está tudo bem. Eu prefiro ir. - Falei, já me levantando.
Era verdade: Eu não estava com vontade nenhuma de ficar. Não mais. Queria ir pra casa, nem que isso significasse conversar com Bruno e acabar chorando pelo resto da noite.
Fomos até Robert, que conversava animadamente com alguns amigos, e nos despedimos, dando a entender que eu não estava passando muito bem. Pedi desculpas por não ficarmos até o final e desejei outra vez felicidades a ele. Jhulie veio até nós, notando o estado em que Bruno se encontrava e oferecendo Diego para caminhar conosco pelos dois quarteirões. Bruno disse que não precisava, já que pegaríamos um táxi.
Quando chegamos ao nosso jardim, desejei que ele não tivesse recusado a companhia do cunhado. Ele não estava me usando como apoio, e por isso mesmo tropeçava a cada três passos em alguma coisa. As luzes estavam apagadas porque havíamos esquecido de deixá-las acesas ao sairmos, e caminhar por ali àquela hora era realmente difícil até para uma pessoa sóbria. Para um bêbado, devia ser impossível.
– Vou acender as luzes… Não se mexa… Não caia…
Ele soltou minha mão e sumiu no escuro. Rezei para que ele não desse com os dentes em alguma pedra e acabasse tendo que ir parar em um hospital. Antes de tudo ficar em silêncio outra vez, ouvi alguns palavrões proferidos com ódio. Era possível que ele tivesse chutado alguns tocos de madeira ou escorregado.
As luzes se acenderam e outra vez me encontrei no meio do jardim encantado. Bruno voltou para a frente da casa, se apoiando pelas paredes e, ao mesmo tempo, tentando parecer equilibrado.
Entramos na casa e eu fiz menção de subir as escadas, mas Bruno segurou minha mão.
– Podemos conversar um minuto na sala de estar?
Meu coração acelerou. Minha cabeça pegou fogo outra vez, e um enjoo súbito me tomou. Mas não deixei transparecer nada daquilo. Eu queria parecer forte, pelo menos até o momento em que ele falasse algo sobre a história de Lauren que me fizesse cair no choro em desespero. Não respondi, caminhando para a sala de estar ciente de que aquela conversa seria desagradável de alguma maneira. Quando chegamos, ele me fez sentar no enorme sofá, mas se manteve de pé.
– Você está bem? - Ele começou.
– Estou. - Menti.
Eu não estava bem, e a cada segundo que Bruno adiava aquela conversa eu me sentia mais ansiosa e enjoada.
– Suas mãos estão geladas.
– Não se preocupe. - Falei, querendo chegar ao assunto logo. Ele me ignorou, soltando minhas mãos e saindo da sala. Permaneci ali sentada por algum tempo, esperando-o voltar e remoendo minha ansiedade. Tudo que eu queria era que ele me dissesse a verdade.
Se Bruno mentisse sobre o assunto que teve com o tal Jonathan, eu teria que confessar o que ouvi e pedir uma explicação a ele. E eu queria que ele me contasse o que exatamente ele respondeu depois que eu fui embora. E eu queria que ele me dissesse que estava pouco se fodendo para quem quer que fosse, e que ainda me amava, e que nada poderia abalar o que sentia por mim. Nem mesmo a volta de uma antiga paixão à vida dele.
Um barulho alto me trouxe de volta, me assustando e me fazendo levantar imediatamente. Antes que eu pudesse correr para o corredor, ouvi-o gritar de algum lugar:
– Estou bem! Por favor, fique aí!
O que diabos tinha acontecido? O que diabos ele estava fazendo?
– Se você não voltar em trinta segundos, eu vou aí te buscar! - Gritei, tentando não ficar ainda mais nervosa. Segundos depois, ele entrou outra vez na sala, ainda se apoiando na porta. Trazia um copo com suco em uma nas mãos, e na outra um guardanapo de papel quase totalmente manchado de vermelho. Olhei para seu rosto e vi sangue espalhado.
– QUE PORRA…
– Calma! Eu só caí na cozinha… Bati com o nariz, mas estou bem… - Ele começou, se ajoelhando no chão à minha frente e me oferecendo o copo - Só queria pegar alguma coisa pra você beber, mas aquela merda escorrega…
Subitamente, comecei a chorar. Meus nervos estavam à flor da pele naquele momento, tanto pela ansiedade do assunto que viria como pelo medo de Bruno ter quebrado algum osso do corpo e não ter notado por estar tão bêbado.
Minha gravidez se encarregou de juntar tudo e me fazer explodir em lágrimas e soluços.
– Desculpa! Desculpa te deixar tão nervosa! - Ele falou, agora realmente desesperado. Limpei o rosto rapidamente, tomando da mão dele o copo e depositando-o na mesinha ao lado do sofá.
– Fala logo. Pelo amor de Deus.
Ele hesitou, ainda todo ensanguentado, engasgando sozinho em seu próprio desespero.
– Não era pra ser assim! - Ele começou, quase chorando - Isso tinha que ser perfeito! Mas está dando tudo errado! Arthur está certo, eu sou um covarde… Eu preciso aprender a fazer isso sóbrio… Me desculpa por estragar essa noite, mas eu te disse que você saberia depois da festa…
Encarei-o um pouco confusa. Aquele não era o assunto que eu estava esperando. Na verdade, eu não fazia a menor ideia do que ele estava falando, mas mesmo assim, prestei muita atenção no que ele tinha para dizer. O que quer que fosse, para deixá-lo naquele estado, só poderia ser algo realmente importante. E então, ele tirou do bolso da camisa uma caixa preta pequena e quadrada. O objeto quase escorregou de suas mãos, e foi só então que notei o quanto ele tremia.
Bruno agarrou com firmeza a caixinha e a abriu, revelando um anel dourado razoavelmente grosso e muito brilhante.
– Você é a pessoa mais importante da minha vida. E eu sei que poderia continuar com essa verdade da forma como estamos, mas eu quero oficializar isso. Quero poder te apresentar às pessoas como minha mulher. Quero formar uma família com você nos padrões da sociedade, e mesmo que isso não seja essencial, mesmo que você não ache importante e talvez não queira, eu sonho com o dia em que vou poder ouvir alguém te chamar de “Sra. Coolin”. É bobo, eu sei, mas eu sou assim. Mais uma vez, desculpa não ter coragem de fazer isso direito. Desculpa não conseguir pedir a sua mão estando sóbrio. E desculpa estragar tudo. Mas se a sua resposta não for a que eu quero ouvir, ao menos vai ser mais fácil aguentar se eu estiver dessa forma. Se você negar, eu não me importo. Vou continuar te amando, vou continuar do seu lado e vou continuar me comprometendo a fazer você feliz pelo resto da vida. Mas se você quiser me fazer o homem mais feliz do mundo, por favor, diga que sim: Aceita se casar comigo… Daqui a uma semana?
Tudo que eu estivera pensando antes daquele momento - qualquer medo, qualquer angústia, qualquer merda - tinha sido completamente esquecido. A dor no meu peito foi diminuindo rapidamente, até deixar de existir. Era como ter recebido uma dose de morfina que gradativamente fazia efeito. Continuei na mesma posição, sem mover um único músculo, respirando como se aquilo precisasse de concentração. Estava quase silencioso: A respiração dele estava alta demais para não ser ouvida.
Ele continuava de joelhos à minha frente, segurando debilmente a caixa com a aliança encaixada ali. O álcool o fazia bambear um pouco para os lados e piscar de maneira lenta, mas ele ainda me encarava com um certo medo no olhar. Não sei por que fiquei em silêncio tanto tempo. Talvez porque não conseguisse falar. Talvez porque não visse necessidade em responder.
Ele sentou em seus calcanhares, parecendo desapontado enquanto se apoiava nas minhas pernas.
– Você pode pensar a respeito… - Ele começou, e o som triste da sua voz me fez piscar depois de muito tempo. Eu poderia pensar a respeito, mas o fato era que não havia um único motivo para que eu devesse pensar. A proposta era muito simples: Eu poderia casar com o homem que amava feito uma louca, formar uma família com ele, viver o resto da vida ao seu lado e ser feliz para sempre. Ou, poderia dizer “não”. Não era uma decisão muito difícil.
– Pensar a respeito? - Perguntei de maneira simples, em uma voz fraca - Bruno… Você realmente… REALMENTE acha que eu tenho alguma outra resposta além de “sim”?
Ele pareceu se iluminar, fazendo uma cara de surpresa tão inocente e verdadeira que era difícil acreditar no fato de que sim, ele duvidava da minha resposta.
– Isso foi um “sim”? - Sua voz saiu um pouco trêmula, mostrando uma incerteza incrivelmente idiota.
– Óbvio. Isso foi um “óbvio”. - Respondi no mesmo tom baixo e neutro, com medo de acabar em prantos caso adotasse uma outra postura. Ele deu o maior sorriso que eu já havia visto, me fazendo esquecer da sua insegurança, do teor alcoólico em seu sangue ou do seu nariz quebrado. Tudo que ele fez foi dar aquele sorriso, e meu coração simplesmente parou de bater por um momento.
Em uma fração de segundos, tive uma vontade impulsiva de gritar tão alto que estranhei não tê-lo feito. Mas meu corpo, incluindo minhas cordas vocais, ainda estava anestesiado. Bruno segurou suavemente minha mão esquerda, trazendo-a mais para perto de si. Ainda sorrindo abobalhado, ele retirou com delicadeza a antiga aliança que eu mantinha no anelar há tanto tempo, e com a outra mão, encaixou ali a aliança de noivado. Encarei-o, tentando controlar a vontade de simplesmente me jogar em cima dele e chorar feito uma pamonha. Ele beijou demoradamente minha mão, e quando se afastou, deixou um rastro de sangue nela.
– Merda! - Bruno falou, tentando limpar a sujeira com a outra mão. Sem pensar, puxei de qualquer jeito a encharpe que ainda estava no meu pescoço e, com cuidado, limpei o rosto dele. Inclinei sua cabeça para trás, tentando fazer com que o sangue parasse de escorrer. Ele não disse nada, mas me encarava como uma criança obediente e sonolenta. Ele parecia indefeso, e vê-lo daquela forma me deixou tão apaixonada que quando a vontade de tomá-lo nos meus braços veio, não hesitei.
Me aproximei dele e, segurando seu rosto, beijei-o carinhosamente nos lábios. Era como se o amor que eu sentia não coubesse dentro de mim e transbordasse. Os resquícios de sangue deixavam um gosto salgado nos lábios dele, mas ignorei. Aprofundei o beijo, forçando minha língua contra a dele. Joguei a encharpe suja de sangue em qualquer lugar e prendi meus dedos em seus cabelos, deslizando para baixo e indo parar no colo dele, no chão. Desabotoei sua blusa aos poucos, sem pressa, em uma velocidade que sua mente alcoolizada pudesse acompanhar.
Bruno gemeu contra a minha boca, tateando às cegas os botões ainda fechados mas não conseguindo abri-los, tamanha era sua embriaguez.
– Deixa comigo. - Murmurei na orelha dele, puxando a blusa agora aberta para os lados e despindo-o na parte de cima. Ele gemeu outra vez, dando uma volta completa com seus braços no meu tronco. Seu corpo e sua cabeça balançavam tanto que tive medo que ele caísse, mesmo já sentado no chão. Me perguntei o que daquela noite seria lembrado no dia seguinte. Voltei a beijá-lo, forçando mais meu corpo contra seus quadris. Ele mordeu meu lábio inferior com um pouco de força, me fazendo sentir uma leve dor, a qual resolvi ignorar. Abri os botões da sua calça e fiz um certo malabarismo para puxá-la pelas suas pernas junto com a cueca e os sapatos.
– Deite. - Falei perto do seu rosto para que ele entendesse. Bruno se deixou cair no tapete fofo com um pouco de força, e eu sabia que aquilo teria machucado caso ele estivesse sóbrio. Levantei apenas para tirar meus sapatos e todas as peças de roupa por baixo do meu vestido. Quando voltei a sentar perto dos seus quadris, notei que não seria necessário nenhum estímulo extra: Ele já estava bastante excitado, embora parecesse sonolento.
Suas mãos apertaram minha cintura com vontade. Ele parecia uma criança impaciente, um pouco desesperado, me puxando cada vez mais contra si. Quando finalmente sentei nele, Bruno soltou um gemido tão alto que talvez pudesse ser ouvido do lado de fora da casa. Tapei sua boca com uma das mãos, e ele me olhou como se estivesse arrependido, respirando com dificuldade. Quando finalmente achei que ele se comportaria, afastei minha mão e me movimentei devagar, fazendo-o se acostumar aos poucos com o nosso encaixe. Ele gemeu outra vez, dessa vez baixo, tentando se levantar e ficar sentado, mas muito bêbado para achar um ponto de apoio.
Depois de não se decidir entre manter suas mãos nos meus quadris ou continuar procurando com elas algum lugar em que pudesse ajudá-lo a se levantar, Bruno finalmente encontrou o sofá, fazendo força suficiente contra ele para conseguir se sentar no chão. Quando o fez, seu corpo oscilou outra vez, e outra vez tive medo de que ele caísse. Ele não parecia notar seu próprio estado, envolvendo seus braços na minha cintura e hora me beijando, hora sussurrando coisas incompreensíveis contra a minha boca. Suas mãos apertavam as laterais do meu corpo com força, reforçando os movimentos que ele fazia dentro de mim.
Ele oscilou mais uma vez, e antes que acabássemos os dois machucados, mandei-o apoiar as costas no sofá.
Ele sorriu distraidamente com o tom exigente na minha voz, virando nós dois para fazer o que eu havia dito. Quando sua cabeça caiu pesadamente sobre o assento do sofá, deixando-o seguro, agarrei seus cabelos com força e beijei-o furiosamente, sentindo o leve gosto de whisky em sua língua e até gostando de senti-lo. Ele retribuiu ao meu desespero de forma igualmente efusiva, passeando suas mãos por todo o meu corpo, por cima do vestido. Seus dedos puxaram o tecido em várias direções diferentes, e imaginei que ele me quisesse sem aquilo. Tirei-o de uma só vez e voltei a me agarrar nele. Bruno pareceu acordar do transe ao sentir minha pele contra seu peito, e no segundo seguinte senti suas mãos me agarrarem com força, me puxando contra seu corpo cada vez que ele investia contra mim. Sua boca foi parar no meu pescoço, mordiscando de leve a pele ali.
Ameacei-o em um tom de voz sensual, dizendo que se ele deixasse alguma marca ali, se arrependeria amargamente do descuido. Ele sorriu outra vez, ofegando com tanta força que, por um momento, pensei ser falta de ar.
– Você está vermelho… - Falei, começando a sentir frio pela camada fina de suor que unia nossos corpos.
– Estou… Tentando…
Ele estava tentando não ter um orgasmo, e eu sabia disso. Mas era simplesmente muito difícil não provocá-lo.
– Goza em mim, Bruno. - Falei contra a sua boca, com a voz baixa mais ninfomaníaca que conseguia fazer.
– Ahhhh, não faz isso… - Ele começou, me agarrando com ainda mais força enquanto fazia cara de choro. Bruno sempre se policiava para chegar ao clímax depois de mim, e eu não sabia se aquilo era cavalheirismo ou algum tipo de fetiche. Mas quando se está bêbado, tudo se torna muito mais difícil de controlar.
– Goza dentro de mim… - Repeti, olhando-o nos olhos como uma maníaca - Eu quero sentir o calor do seu gozo…
Bruno começou a tremer com força, e como se fosse possível, ficou ainda mais vermelho. As veias das suas têmporas tornaram-se grossas e evidentes, e eu esperava sinceramente que ele explodisse só de prazer. Quando sua boca voltou para o meu pescoço, senti-o tentar abafar o grito contra a minha pele, me apertando com tanta força pela cintura que cheguei a sentir dor.
Suas mãos foram afrouxando aos poucos depois de alguns segundos, voltando à delicadeza com que ele costumava me tocar.
E daquele jeito Bruno ficou. Eu só tinha certeza de que ele ainda estava vivo por causa da sua respiração. Puxei seus cabelos para trás e deixei que sua cabeça caísse no sofá. Ele murmurou alguma coisa, ainda de olhos fechados, e tudo que consegui fazer foi rir. Até patético ele era lindo.
Parei de encará-lo feito uma imbecil e me levantei de seu colo, indo rapidamente ao banheiro da área de serviço para me limpar. Na volta, encontrei-o dormindo como uma criança, exatamente na mesma posição em que o havia deixado. Com algum malabarismo, consegui fazê-lo deitar outra vez no tapete e tirar a manta que cobria o sofá para cobrir a nós dois. Estava fora de cogitação tentar carregá-lo para o quarto, porque acabaríamos os dois rolando escada abaixo.
Peguei alguns travesseiros da poltrona mais próxima e me deitei junto a ele, encarando meu anelar e lembrando do quão rápido aquela noite passou de um pesadelo para um sonho. Eu ainda falaria com ele sobre a conversa que ouvi na festa de Robert. Mas, por hora, me permiti saborear o momento, me agarrando em seu pescoço embaixo da manta e suspirando um pouco aliviada. Eu seria esposa dele. Oficialmente. E aquele pensamento não parava de piscar dentro da minha cabeça.
Naquela noite, demorei um pouco para dormir.
Era estranho como meu corpo não sentia a falta de descanso.
Eu não tinha dormido bem, já que a noite havia sido recheada de pensamentos sobre o meu casamento e o quão irreal aquilo parecia ser. Por isso, era de se esperar que eu acordasse tarde - no mínimo, depois de Bruno. Mas lá estava eu, com os olhos arregalados às 6:15h da manhã, encarando sua expressão tranquila e hipnotizada pelo movimento do seu peito de inspirar e expirar.
O tapete embaixo de nós dois era tão fofo e confortável que eu poderia passar horas naquela mesma posição, fazendo exatamente aquilo. Entretanto, eu tinha um plano. E era preciso pô-lo em prática. Por isso, me levantei de uma vez e procurei durante algum tempo pela caixinha e pela minha aliança antiga. Achei-os jogados de qualquer maneira em um canto do tapete e os peguei, caminhando devagar para fora, tentando não acordar Bruno. Subi e tomei um banho quente, me vestindo com uma roupa casual e voltando para o andar de baixo. Tirei a nova aliança do dedo e a depositei outra vez dentro da caixinha, deixando-a em cima da mesa do escritório e vestindo o anel antigo. Rumei para a cozinha e preparei qualquer coisa de café da manhã. Depois esperei, um tanto animada comigo mesma, imaginando como meu plano se sairia. Quando ouvi seus passos pesados subindo as escadas, comecei a me preparar. Talvez aquilo fosse ser difícil para ele. Mas Bruno tinha que entender. Precisava ser feito.
Algum tempo depois, quando os mesmos passos pesados desceram as escadas e foram direto para a sala de estar outra vez, esperei um minuto e fui de encontro a ele. Quando entrei, encontrei-o tentando estender da forma certa a manta sobre o sofá. Seus olhos estavam um pouco fechados, talvez da ressaca, e seu nariz estava inchado, embora não parecesse quebrado. Quando Bruno olhou para mim, sorriu de forma instintiva, e eu tive que fazer muita força para não retribuir o sorriso e me agarrar a ele como um urso panda. No segundo seguinte, seus olhos deslizaram para minha mão esquerda, e vendo que ali se encontrava a aliança antiga, seu sorriso sumiu completamente, dando lugar a um ar de confusão.
Aquela era a hora de não me deixar levar pela cara de cachorrinho abandonado que Bruno sabia fazer tão bem. Era a hora de dar seguimento ao meu plano.
– Bom dia. - Comecei, empregando um tom de naturalidade na voz - Como está o seu nariz?
Ele continuou me encarando com uma expressão de completa confusão. Ficou um tempo na mesma posição, e ao constatar que não chegaria à conclusão nenhuma, fossem quais fosses seus pensamentos, ele coçou a cabeça e fechou os olhos com força, tentando se situar outra vez.
– O que aconteceu ontem? - Bruno perguntou com uma voz rouca.
– Nós transamos nesse tapete. - Apontei para o lugar em que ele estava pisando.
– Antes disso…
– Antes disso você arrebentou o nariz na bancada da cozinha e quase me matou de susto.
– Desculpa. Não queria te deixar preocupada… Meu nariz está bom… - Ele falou, parecendo um pouco desconfortável - Mas… Depois disso…
Olhei-o de maneira confiante.
– Depois disso… Nós transamos nesse tapete.
Bruno ficou mudo mais uma vez, com o olhar desfocado, claramente tentando se lembrar da ordem dos fatos. Conforme os segundos passavam, sua expressão ficava sempre mais triste, e então tive a certeza de que ele estava pensando exatamente o que eu queria que pensasse: Que o pedido de casamento não havia passado de um sonho. E não passando de um sonho, Bruno não tinha a minha resposta. E não tendo a minha resposta, ele teria que fazer o pedido outra vez.
Sóbrio.
Ele me olhou um pouco desesperado, a ponto de começar a chorar. Eu sabia que todas aquelas doses de whisky eram suficientes para fazer com que ele tivesse dúvidas do que havia realmente acontecido e o que havia sido apenas sua imaginação. Minha intenção não era vê-lo sofrer, mas eu precisava ouvir aquela proposta dele enquanto ele estivesse sóbrio. Não significava, de forma alguma, que sua proposta na noite anterior não tivesse valor. Mas eu simplesmente precisava ouvir aquilo dele. Direito.
– Eu acho… Acho que sonhei com você… - Ele murmurou.
Continuei encarando-o sem esboçar nenhuma reação. Quando entendi que Bruno não falaria outra vez, me pronunciei.
– A festa do seu pai já passou. Você tinha uma coisa pra me dizer depois que ela acabasse.
Ele me encarou ainda mais desesperado, deixando sua respiração agora visivelmente mais pesada. Bruno coçou os olhos com as mãos, tentando se acalmar de algum jeito.
– Pode me dar mais algum tempo? Algumas horas?
Encarei-o de forma tranquila, pensando no que dizer. Eu poderia fingir irritação e fazer algum drama, mas imaginei que as palavras certas fariam com ele não pudesse voltar atrás.
– Você prometeu. - Falei em um tom calmo e baixo.
Ele suspirou audivelmente, olhando para os lados e procurando mentalmente uma saída. Quando não encontrou nenhuma, coçou os olhos outra vez e levou as mãos até seus cabelos, despenteando-os ainda mais.
– Tudo bem. - Ele começou, e eu tive certeza que ele estava falando consigo mesmo - Tudo bem.
Sem dizer mais nada, Bruno saiu da sala e me deixou sozinha ali, de pé, esperando pela sua volta. De repente comecei a ficar nervosa, embora não fizesse muito sentido. Seria a terceira vez que ele se declararia para mim e pediria por um compromisso. Além disso, dessa vez eu estava ciente do que aconteceria, diferente das outras vezes em que fui pega de surpresa. Mas, em compensação, seria a primeira vez que eu o veria fazer aquilo completamente consciente e verdadeiro, sem se esconder por trás da máscara das suas doses de whisky.
Quando Bruno entrou na sala outra vez, meu corpo começou a tremer involuntariamente. Cruzei os braços no peito com força, tentando me acalmar e principalmente esconder meus tremores. Não sabia se estava tendo muito sucesso. O que servia de consolo era o fato de que ele parecia estar muito mais nervoso do que eu.
– Tudo bem. - Ele repetiu, me encarando e parecendo mais confiante do que realmente estava - Eu…
Ele parou, encarando meus braços ainda cruzados no peito e respirando fundo. Bruno tomou minhas mãos nas suas - as minhas trêmulas, as dele geladas - e começou a juntar os pequenos fragmentos de pensamentos que passavam pela sua cabeça, suspirando entre uma frase e outra.
– Eu… Eu acho que isso vai ser horrível… Se eu conseguir dizer o que quero dizer. Mas, mesmo assim, leve em consideração só o que eu quero dizer… Ok?
– Ok.
– Ok. - Ele repetiu, apertando minhas mãos com um pouco de força - Eu quero dizer que… Que eu amo muito você. Realmente amo você. E quero passar o resto da minha vida ao seu lado… Porque eu sei que você é a mulher certa pra mim. Sei que você me faria feliz, e sei que consigo te fazer feliz também… Se você me deixar tentar.
Ele soltou minhas mãos e esfregou o rosto de novo, parecendo realmente desesperado.
– Ok… Eu sei que esse discurso está uma merda… Me desculpa por isso… Eu só quero te pedir pra… Pra ficar comigo pra sempre, e pra me dar uma chance de… Você sabe… De te mostrar que nós funcionamos juntos… Como… Marido e mulher…
Bruno tirou do bolso da calça de moletom a caixinha preta à qual eu havia sido apresentada na noite anterior. Meu coração deu um salto dentro do peito e eu tive que fazer força para não deixar aquilo transparecer.
– Eu sei que não conversamos muito sobre oficializar o nosso relacionamento… E eu não sei o que você pensa sobre isso… Mas eu só quero que você viva pra sempre do meu lado… Com o meu nome… E…
Ele abriu a caixinha, e assim como na noite anterior, notei que suas mãos tremiam tanto que era visivelmente difícil para ele manter o objeto preso nos seus dedos.
– Ok… Eu vou calar a boca. Mas independente da sua resposta pra pergunta que eu vou fazer, saiba que você vai ter que me aturar pra sempre. Com ou sem isso…
Ele riu sem muita vontade da própria piada. Eu teria rido para encorajá-lo, mas meu coração ainda estava parado na mesma batida, por isso tudo que fiz foi continuar encarando-o sem reação alguma. Ele engoliu em seco e seu sorriso desapareceu.
– Você aceita… Se casar? Comigo?
Ele me ofereceu a caixinha aberta com o aro dourado lá dentro, e meu coração recuperou a batida suspensa. Não sei se demorei muito para responder, mas tive a impressão de que Bruno havia se incomodado com o silêncio, se apressando em falar outra vez:
– Talvez você queira pensar um pouco no assunto antes de responder, e eu aceito. Mas se você puder me falar até amanhã… Ou domingo… Só porque eu pensei que nós poderíamos aproveitar que a minha família está toda aqui… E talvez, se você… Se você não tivesse nenhuma objeção, poderíamos nos casar no próximo sábado… Claro, se você quiser! Podemos fazer em outra data e chamá-los outra vez também… Se você achar melhor…
Bruno estava completamente perdido nos próprios pensamentos. Chegava a ser curioso como um homem tão poderoso e aparentemente seguro de si parecia, naquele momento, uma criança com um medo incrível da rejeição. Era como olhar dentro dele e ver sua óbvia fragilidade tomando forma e força a cada fração de segundo que minha resposta se mantinha misteriosa.
– Por favor… Por favor, diga que sim. - Ele falou outra vez, e o tom levemente desesperado em sua voz me fez reagir.
– Sim… - Falei de forma simples, encarando-o sem nenhuma expressão, pronunciando cada palavra com uma neutralidade assustadora - Eu aceito me casar com você. Aceito me casar com você daqui a uma semana. Ou daqui a dez minutos. Aceito passar o resto da minha vida ao seu lado, independente do título que a nossa relação tiver. Aceito, de todas as formas, ser sua. Porque eu amo você. Porque eu sempre amei você. E porque duvido que algum dia eu vá deixar de te amar. Eu aceito casar com você. Aqui ou no inferno, com ou sem testemunhas, com ou sem convidados. Eu sou sua e sempre fui, mesmo quando não era você quem me tocava. Eu aceito pertencer a você pra sempre. Aceito mil vezes se for preciso.
Só me dei conta de que já estava chorando quando senti o gosto salgado de uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. Ele continuou me encarando sem responder nada, congelado na mesma posição, ainda me oferecendo a aliança e parecendo entender, pouco a pouco, cada palavra que eu dizia. Quando Bruno finalmente se mexeu, foi tão repentino que fui pega completamente de surpresa. Tudo de que eu tinha ciência eram seus braços em volta da minha cintura e seus lábios nos meus, não exatamente desesperados, mas, ainda assim, um pouco eufóricos. Ele me abraçava com força - uma força com a qual eu já havia desacostumado desde o descobrimento da minha gravidez. Notei que seu corpo inteiro tremia, o que fez sua própria voz sair trêmula pelo movimento involuntário que os músculos dele faziam. Me dei conta de que nunca o havia sentido daquela forma.
– Aceita? - Ele perguntou contra a minha boca um pouco ofegante, me prensando contra uma parede qualquer e me apertando mais contra si - Aceita mesmo?
– Como você pode achar que eu não aceitaria, seu idiota? - Retruquei, agora chorando de verdade, rindo ao mesmo tempo e tentando falar contra seu rosto, em meio a lágrimas e beijos. Ele não respondeu. Ao invés disso, me apertou com mais força contra si mesmo, segurando minhas pernas e forçando-as a envolverem sua cintura. Me agarrei nos cabelos dele e o beijei apaixonadamente, embora respirar estivesse começando a se tornar uma tarefa difícil.
Seu celular tocou de repente, me fazendo tremer com o susto. Bruno o ignorou.
– É minha irmã. Esqueça. - Ele falou ainda com a voz um pouco trêmula contra a minha boca, me prensando mais na parede para poder tirar os braços dos meus quadris e trazer outra vez a caixinha entre nós sem que eu caísse. Depois de todos aqueles movimentos, achei impressionante que o anel ainda estivesse ali. Ele tomou minha mão esquerda com muita delicadeza, repetindo o ato da noite anterior como se fosse a primeira vez. Minha aliança antiga foi removida e deu lugar à nova, muito mais grossa e brilhante. Comecei a chorar com ainda mais intensidade, soluçando e engasgando nas minhas próprias lágrimas, e Bruno me encarou sorrindo, distribuindo beijos fofos e carinhosos por toda a extensão do meu rosto molhado. Ele não entendia o que eu estava sentindo, e jamais poderia entender. Ele não sabia como era experimentar uma sensação a qual eu já havia me acostumado a acreditar que jamais poderia sentir. Porque mesmo que meu passado não me assombrasse mais da mesma forma, ainda era difícil acreditar que alguém poderia me querer daquele jeito. Casar e constituir uma família era algo que não estava nos meus planos, e não porque eu não queria, mas sim porque já estava conformada em aceitar que ninguém nunca me daria essa chance. E ser Bruno a pessoa a me dar essa chance era muito, muito bom para parecer verdade.
– Eu amo você. - Falei, encostando minha testa na dele e deixando as lágrimas rolarem livremente pelo rosto - Mesmo você sendo idiota a ponto de ter alguma dúvida…
Ele riu, me beijando outra vez e tocando com o indicador meu queixo, que insistia em tremer por causa do choro.
– Me disseram que você aceitaria… Mas eu estava com medo de arriscar… Seu humor andava mudando muito…
– E você acha que seria o suficiente pra me fazer te negar? Só uma arma apontada pra minha cabeça poderia surtir esse efeito! - Retruquei, dando um soquinho leve em seu ombro e me prendendo ainda mais à sua cintura com as pernas. Ele segurou minha mão esquerda com a nova aliança e a beijou, fazendo com que minha pele formigasse um pouco.
– Eu sonhei com você… - Ele começou, ainda contra a palma da minha mão - Sonhei que já tinha te pedido em casamento, e que você tinha aceitado… Eu estava tão feliz, mas quando vi sua aliança antiga… Eu entrei em pânico…
– Não foi sonho.
Ele me encarou confuso, com os lábios ainda colados à minha mão.
– Mas…
– Você me pediu em casamento ontem. Bêbado. E eu aceitei. E só então nós transamos no tapete.
Bruno não se mexeu, concentrado demais em entender o que eu estava dizendo. Seus lábios estavam imóveis no meu anelar, enquanto seus olhos encaravam os meus um pouco distraídos. Subitamente, considerei a possibilidade dele ficar extremamente puto com a minha atitude, não sabendo por que não havia pensado naquilo antes.
– Você… Já tinha aceitado…?
– Já - Respondi, recomeçando a chorar, dessa vez por medo dele me odiar - Desculpa, eu não queria te deixar nervoso… Mas eu precisava ouvir isso de você sóbrio… É claro que o pedido de ontem teve valor, mas eu queria tanto… Tanto ouvir isso de você estando completamente consciente… Por favor, não fica chateado comigo.
Terminei fazendo um beicinho involuntário, deixando mais lágrimas escorrerem pelo meu rosto já encharcado. Me agarrei ao seu pescoço outra vez, encostando nossas testas e torcendo para que ele não me mandasse ir à merda.
– Tudo bem. - Ele começou, depois de fechar os olhos, suspirar e ficar um longo tempo em silêncio - Eu acho que teria o direito de ficar chateado caso você estivesse errada. Mas você não está. Eu precisava tomar coragem e enfrentar esse meu pânico de tudo que é relacionado a você.
Me agarrei com mais força ao pescoço dele, fazendo um pouco de manha. Fiquei feliz por ser pequena e leve, mesmo grávida, permitindo-o me segurar no colo por tanto tempo sem se cansar.
– Não está chateado? - Perguntei com os olhos embaçados das lágrimas - Jura?
– Não estou chateado. - Ele respondeu, deixando um pouco de lado sua cara séria e dando um sorriso torto tão lindo e safado que tive que me segurar para não molestá-lo - Você disse “sim” duas vezes. Não vou ficar chateado com absolutamente nada hoje.
Ataquei-o de novo, moldando sua língua à minha em um beijo apaixonado e efusivo. Agarrei a caixinha que ele ainda segurava em uma das mãos e a arremessei longe, só porque queria sentir suas duas mãos livres e espalmadas pelo meu corpo. Quando comecei a sentir um fogo bastante agradável e promíscuo me consumindo aos poucos, o telefone de Bruno tocou outra vez.
– PORRA!
Saí do colo dele de um pulo indo atrás do maldito celular. Quando o encontrei tocando a música mais irritante do mundo em cima da estante, atendi sem olhar, me esforçando para não demonstrar que estava puta.
– Alô!
– Oi… Ninha?
– Oi, Jhulie. Sim, seu irmão me pediu em casamento. E sim, eu aceitei.
Assim que calei a boca, senti receio de ter sido grosseira pelo tom que usei com ela. Para minha alegria, Jhulie não pareceu se chatear.
– Até que enfim! Arthur e eu já estávamos apostando pra ver se ele precisaria de mais uma semana! - Ela falou, parecendo de bom humor e não demonstrando nenhuma surpresa. Nesse momento, Bruno se materializou atrás de mim e, como se fosse a coisa mais natural do mundo, deslizou as mãos pelo meu corpo em lugares sensíveis e de formas extremamente inapropriadas, beijando minha orelha desocupada pelo telefone e dando mordidinhas leves no meu pescoço. Meu corpo inteiro pegou fogo.
– Pois é… - Consegui responder, fechando os olhos com força para não deixar transparecer o desejo na minha voz.
– Temos que comemorar antes de começarmos com os preparativos! 13h no The Wolseley hoje, almoço em família!
Como eu não conseguia falar direito porque Bruno havia decidido, de uma forma muito natural, enfiar a mão por dentro da porra da minha calça e brincar com os dedos ali, respondi a primeira coisa rápida que me veio à cabeça.
– Ok…
Ainda brincando com seus dedos em mim, ele se forçou contra o meu corpo unicamente com o propósito de mostrar o quão excitado estava. Joguei minha mão livre para trás, agarrando-o e o apertando mais contra mim.
– Peça ao seu noivo pra não se atrasar! Ele sabe onde é. Esperamos vocês lá. - Ela falou, desligando logo em seguida.
Atirei o celular em qualquer lugar e me virei para ele, segurando-o pela gola da camisa.
– Em quanto tempo temos que sair? - Ele perguntou de maneira provocante, como se meu corpo não estivesse completamente em chamas e como se ele não estivesse perfeitamente ciente disso.
– Depende. Em quanto tempo você consegue me comer? - Respondi, já empurrando-o para o sofá. Ele sorriu daquela maneira diabólica e linda que só ele sabia fazer, me puxando para si em um beijo furioso e nos deixando cair nas almofadas.
Uma hora depois, já pronta e esperando Bruno terminar de se arrumar, sentada na ponta da cama, fui tirada dos meus devaneios por braços fortes em volta da minha cintura, uma boca quente no meu pescoço e uma mistura maravilhosa de perfume, shampoo e pasta de dente. Pisquei algumas vezes ao voltar para a realidade, parando de encarar meu anel enquanto pensava em coisas desagradáveis.
– Já se arrependeu? - Ele brincou, mordendo o lóbulo da minha orelha.
– Se você está esperando por isso, pode esquecer. - Falei, sorrindo de volta, embora não estivesse completamente confortável. E ele reparou nisso.
– O que houve?
Me virei em seus braços para encará-lo de frente, tentando parecer casual.
– Sobre o que aquele rapaz queria falar com você na festa do seu pai?
Ele piscou algumas vezes, segurando uma das minhas mãos. Desejei, por tudo quanto fosse mais sagrado, que ele não mentisse.
– Por que você é tão curiosa? - Ele perguntou, sorrindo vagamente.
– Só sou curiosa quando minha intuição me manda ser. Me diz… O que ele queria?
Bruno suspirou, segurando agora minhas duas mãos nas suas.
– Ele queria me dar um recado. Da Lauren.
Ouvir aquele nome saindo da boca dele fez com que meu peito repentinamente doesse. Eu não sabia dizer se Bruno havia notado o quanto aquilo me afetou, mas no segundo seguinte ele já estava explicando tudo:
– Ele é primo dela… Eu a conheci por ele, já que sempre fomos amigos… Mas isso não interessa.
– Qual era o recado? - Perguntei, e desejei profundamente que ele largasse minhas mãos. Bruno estava calmo, quase indiferente, e por isso mesmo o frio e o tremor nas minhas mãos se tornavam óbvios contra as mãos firmes dele.
– Que ela estava sozinha. E que se arrependeu de ter me deixado. E que queria tentar outra vez comigo…
Eu já sabia de tudo aquilo, e achei que fosse o suficiente para não perder a calma. Mas estava enganada: Quando Bruno parou de falar, apenas para respirar, notei que estava incrivelmente nervosa, enjoada e, além de tudo, chorando.
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De repente, Amor.
Romance"Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, os do...