Capítulo 8

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Oi gente, espero que estejam gostando do livro tanto quanto eu gosto. chegando partes fofas do Bruno e da Anne, que acredito que vocês vão gostar muito. Então por favor, comentem e votem sempre que gostarem porque isso me ajuda muito. Vou tentar postar pelo menos 5 vezes por semana, ok? Ok!
Boa leitura!!

◇◇◇◇◇


Conversamos por algum tempo e, conforme o tempo passava, eu ia me esquecendo do motivo de estar naquela palhaçada. As várias doses de whisky ajudaram, e Cristiane também me acompanhava, bebendo margueritas e todas aquelas coisas feitas para mulheres.
A conversa dela não era muito interessante, mas nada naquele lugar era. Felizmente o álcool tirou esse pensamento da minha cabeça, e depois de algum tempo a tal menina já se jogava sem pudores para cima de mim.
- Aqui é muito chato... Que tal um lugar mais reservado? - Ela disse, já envolvendo os braços em meu pescoço.
Eu estava leve e, depois de tantas investidas daquela morena escultural, levemente excitado.
- Lugar reservado? - Perguntei - Aqui? Não acho que exista essa possibilidade.
- Então acho que podemos procurar um outro lugar. Sabe, longe daqui. - E piscou para mim, lambendo de uma forma bastante promíscua o canudo da bebida em suas mãos.
- Me dê um segundinho, querida. - Eu respondi, levantando e indo à busca de Duda.
Ela estava bebendo água mineral enquanto conversava com um rapaz bem mais novo que ela. Chamei-a rapidamente e ela veio ao meu encontro.
- Por onde andou? - Perguntou.
- Pelo bar. Escuta, preciso ir.
Ela entortou o nariz.
- Quantas doses você bebeu?
- Não muitas. Então, posso ir?
- Claro que não! Você tem que dar uma resposta àqueles cavalheiros. - Ela apontou para um canto onde seis ou sete homens, todos de terno e gravata, conversavam e davam olhadelas em nossa direção.
- Ok. - Falei com convicção - O que você achou? Vale a pena ou não?
- Eu... Bem, eu acho que seria bom pra empresa...
Não esperei que ela terminasse, já indo ao encontro do grupo de executivos. Senti Duda correndo logo atrás de mim em seus saltos altos.
- Senhores, foi um prazer conversar com os senhores essa noite. Sinto-me muito feliz em dizer-lhes que nosso acordo está fechado. Foi também um prazer fazer negócio com os senhores.
Eles começaram a falar alguma coisa, mas eu estava com pressa.
- Infelizmente preciso ir embora. - Interrompi-os - Uma emergência, mas nada do que se preocupar. Minha secretária aqui - e dizendo isso, puxei Duda para minha frente - tratará dos detalhes com os senhores. Uma boa noite, cavalheiros.
Sorri e saí andando.
Duda puxou meu braço, falando agora ao meu ouvido:
- Ok, espertinho. Eu vou ser muito legal e fazer o seu trabalho. Mas me diga aonde vai!
- Vou pra casa. Tem uma morena fenomenal ali louquinha pra me dar, e eu não vou ficar conversando com esses pinguins velhos feios a noite toda. Não se preocupe, eu pego um táxi.
Duda me encarou sem dizer nada, e pude ver em seu olhar um traço inconfundível de pena. Era uma pena genuína, vinda de uma mulher feliz e realizada, com família e filhos, e mesmo em meu estado alcoolizado eu pude ver toda a pena que aquela mulher, com uma vida muito melhor que a minha, sentia de mim. Era um olhar que alguém feliz dava a alguém essencialmente miserável, e não me restou nada a não ser sentir pena de mim mesmo também.
Virei de costas e caminhei.
Eu queria sair daquele lugar, queria ir para longe daquele olhar que me fazia sentir vergonha de mim. Eu era infeliz e isso estava bastante claro, mas naquele momento, não queria pensar. Porque pensar exigia muito da minha força de vontade.
O caminho mais fácil era para a saída da festa, onde a tal morena e um táxi já estavam à minha espera.
Entrei no carro um pouco cambaleante e a única coisa que falei durante toda a viagem foi meu endereço para o homem que nos guiava pelas ruas escuras.
Assim que entrei no meu apartamento logo atrás de Cristiane e fechei a porta, meu pescoço sofreu um ataque quase mortal da boca dela, que sugava cada pedaço de pele que eu tinha ali. Sem muitos rodeios ela alcançou meu zíper e o abriu enquanto me jogava contra a parede.
Lutei para manter o equilíbrio já bastante prejudicado pelo álcool.
- Oooow, calma aí querida...
Não sei se eu estava lento demais ou se a garota era extremamente rápida, mas depois do que pareciam ser uns cinco segundos ela abaixou as minhas calças junto com a boxer e deixou-as à altura dos meus tornozelos. Como se fosse a coisa mais banal do mundo, ela segurou meu pau com a mão direita e, olhando para mim com cara de depravada, começou a chupá-lo.
E então eu não queria mais pensar. Ia deixar a coisa toda nas mãos daquela mulherzinha promíscua enquanto aproveitava. Não queria retribuir o prazer que recebia e esperava que ela não exigisse isso de mim. Naquele momento eu me permitiria ser completamente egoísta.
Estava com os olhos fechados e com a cabeça apoiada na parede atrás de mim. Senti a garota levantar e sussurrar ao meu ouvido:
- Quando é que você vai me mostrar o seu quarto?
Como eu não queria cair e dar de cara no chão, pensei que talvez fosse melhor tirar a armadilha que minhas calças armavam enroladas nos meus tornozelos. Fiz menção em puxá-las novamente para cima abaixando-me para alcançá-las, mas isso fez com que meu apartamento todo rodasse. Desisti da ideia e tirei todo aquele emaranhado de panos por baixo mesmo, junto com os meus sapatos.
Não queria sequer pensar no quão ridículo eu estaria só de camisa e meias. Mas não importava muito, porque no momento eu só tinha em mente basicamente três coisas, exatamente nessa ordem:
Primeiro, chegar ao meu quarto sem cair.
Segundo, comer a tal da Cecília - era Cecília, não era?-.
Terceiro, me enrolar no edredom fofo que cobria minha cama e dormir, esperando que a ressaca me atingisse como um soco na cara na manhã seguinte.
Puxei-a pela mão e levei-a através do corredor escuro que dava para o meu quarto. Graças a Deus eu conhecia a disposição das paredes da minha própria casa, o que facilitou muito as coisas. Cheguei no quarto e instantaneamente caí de costas na cama, quicando umas três ou quatro vezes sobre o colchão macio.
- Querida, vou deixar com você, porque se eu fizer algum esforço acho que posso vomitar.
Ela sorriu para mim e puxou para cima o vestido azul, jogando-o no chão ao seu lado.
Não era possível, a garota já estava completamente nua! Isso não devia ser normal, garotas que saíam por aí com um vestido absurdamente justo e curto sem usar absolutamente nada por baixo!
De qualquer forma, aquilo não importava. Cecília subiu em cima de mim, uma perna em cada lado, já puxando minha camisa para cima.
- Você podia ter usado uma camisa de botão hoje, amor. Facilitaria todo o meu trabalho aqui.
Não respondi, apenas continuei olhando para ela com olhos bêbados. Analisei rapidamente seu corpo enquanto ela lutava contra meu peso para puxar a roupa para cima, e imediatamente pude constatar três coisas:
Primeiro, eu preferia pele clara.
Segundo, eu preferia olhos castanhos.
Terceiro, eu preferia seios menores.
Talvez conseguisse notar mais coisas se a garota não tivesse repentinamente decidido devorar meus lábios. Então eu perdi o fio de pensamento e me peguei retribuindo aquele beijo com mais entusiasmo que o normal.
Virei nossos corpos e me posicionei em cima dela, aprofundando o beijo e demorando mais do que o normal nele. Ela forçou meu rosto para trás com uma das mãos, e a tristeza da rejeição poderia até ter me abalado - principalmente pelo fato de que estava completamente bêbado, quando TUDO me abalava emocionalmente - se não tivesse notado que ela só fazia aquilo para poder puxar o oxigênio de que eu a estava privando.
Ok, eu confesso, exagerei na língua e tudo o mais.
- Bruno, qual é? Há quanto tempo você não beija uma mulher?
Eu não sabia responder. Porra, havia quanto tempo que eu não beijava uma mulher? Eu sabia que fazia muito tempo, mas quanto exatamente eu não poderia dizer.
E que merda, aquilo estava me fazendo bastante falta. Mesmo com os pensamentos atordoados eu podia agora lembrar que todas as últimas vezes que estive de fato com uma mulher, em nenhuma delas havia acontecido nada além de sexo. Sexo puro, sem o mínimo carinho ou qualquer sentimento.
Fiquei feito um imbecil olhando para a linha do horizonte, o que não ia muito além da mesa cor de marfim ao lado da cabeceira. Soltei um suspiro triste e puxei a gaveta, tateando cegamente por algum preservativo ali.
- Ora amor, não se preocupe. Eu tomo pílulas.
Eu estava bêbado mas não era burro. Essa mistura normalmente fazia com que eu adotasse uma postura bastante emotiva, mas ao mesmo tempo irremediavelmente sincera:
- Ah, até parece que vou te comer sem camisinha. Pra depois você vir com um guri me exigindo pensão
- Bruno! Assim você me ofende! - Ela disse com uma cara nada ofendida.
- Ofendo coisa nenhuma. - Retruquei, ainda procurando às cegas por um preservativo.
Acordei na manhã seguinte com um raio de sol que havia resolvido passar pela persiana e se concentrar no meu rosto. Depois de alguns segundos lutando contra o sono e tentando abrir os olhos, consegui voltar a mim e entender um pouco do que me rodeava.
Eu estava de bruços em cima de um emaranhado amassado que consistia nos lençóis e no edredom branco que costumavam forrar minha cama. Diretamente ao meu lado, uma mulher com pele um pouco escura e cabelos negros dormia silenciosamente, também de bruços, com o rosto virado para mim. Ambos estávamos nus, e eu sentia que minha cabeça poderia explodir a qualquer momento, fazendo com que alguns dos meus miolos decorassem o estilo clean do quarto.
Fiz o que me pareceu ser uma força sobre-humana para levantar minimamente o corpo e me virar para o lado do criado-mudo, com o objetivo de verificar as horas.
Eu imaginava que estava atrasado, mas ao olhar para os números vermelhos luminosos tive uma certeza:
Duda me mataria.
Era provável que ela tivesse insistido em ligar para meu celular durante as últimas três horas ao constatar que eu não estava no trabalho. Eu confirmaria aquela suspeita assim que encontrasse o maldito telefone.
Reuni toda a força de viver que me restava e sentei no colchão. Senti meu cérebro se revirando dentro da caixa craniana como se quisesse sair do lugar. Isso fez com que meus olhos momentaneamente perdessem o foco, o que me forçou a fechá-los e tentar não gritar com a enxaqueca absurda que parecia querer me matar lenta e dolorosamente.
Caminhei até o banheiro, liguei o chuveiro e me enfiei completamente lá dentro. Tentei não pensar em nada porque pensar doía. Saí do banho me enrolando em uma toalha, escovei os dentes e caminhei para o closet, escolhendo aleatoriamente um terno preto, uma camisa que me parecia ser de alguma tonalidade verde e uma gravata cinza escuro.
Vesti-me lá mesmo, sem nem me preocupar em conferir no espelho se a camisa ainda tinha a etiqueta de nova ou se o nó em minha gravata estava torto - o que era bem provável. Voltei para o quarto e vi que a mulher ainda dormia.
Caminhei até ela.
Qual era mesmo o seu dela? Acho que começava com C ou L...
- Ei... - Soltei, segurando em seu ombro e balançando-o um pouco. Infelizmente, falar também doía.
- Ei... - Outra sacudida, agora com mais vontade.
Ela pareceu sentir, e começou a despertar.
Porra, como diabos você se chama? Letícia? Célia?
- Hmmmmpf?
- Você tem que ir. Eu tenho que ir! Já são quase 12h e a minha secretária vai me matar!
Procurei por seu vestido no chão enquanto tentava falar. Ao achá-lo do avesso, dobrei-o do lado certo e o entreguei a ela. Graças a Deus a garota obedeceu, cambaleando para o banheiro com o vestido nas mãos enquanto não me dava a mínima atenção.
Segui para a cozinha à procura de algum analgésico ou qualquer coisa anti-ressaca. Ouvi meu celular tocando baixo, mesmo minha audição estando comprometida com um zumbido irritante e ensurdecedor.
Fui até a sala e identifiquei que o som vinha da massa de roupas no chão.
Ah, no bolso das minhas calças. Da noite anterior.
Soltei um gemido ao abaixar para pegar o aparelho.
- Alô.
- Senhor Coolin. Fico feliz em saber que o senhor está vivo.
- Desculpa, Duda...
- O senhor está atrasado. Espero que já esteja a caminho.
- Eu... Me dê mais uns vinte minutos, ok?
- Estarei cronometrando, senhor.
E desligou.
Ela estava muito puta.
Voltei para a cozinha e sentei no balcão, repousando a cabeça nas mãos. Algum tempo depois, o que poderiam ter sido minutos ou horas, a mocinha misteriosa juntou-se a mim.
- Bom dia. - Ela mantinha o sorriso bonito no rosto enquanto me olhava.
- Oi... Você quer uma carona? Pra algum lugar?
- Eu gostaria, mas não acho que você esteja em condições de dirigir.
- É, acho que não estou. - Concordei com tristeza - Vou pegar um táxi, você pode aproveitar a corrida.
- Nossa, você está mesmo me expulsando assim?
- Preciso trabalhar. Se eu demorar mais que vinte minutos até o trabalho tenho sérias dúvidas se minha secretária vai conseguir segurar o impulso de me atacar com uma tesoura quando eu chegar.
Ela bufou.
- Olha... Célia... - Comecei.
- Caroline.
Isso, porra! Caroline!
- Caroline... A noite de ontem foi muito legal...
Ela continuou me olhando, me forçando a terminar aquela sentença.
- Mas, você sabe... Foi casual. Nós não temos nada mais sério.
- Eu sei disso, não sou imbecil. Mas isso não significa que eu não possa tomar café-da-manhã. Não estou pedindo suas chaves do apartamento, só queria que você me desse dez minutos.
Ok, eu não ia discutir com ela. Fiz um sinal com a cabeça e deixei-a explorar minha cozinha enquanto voltava a repousar minha cabeça nas mãos. Eu sabia que esse atraso adicional traria conseqüências trágicas ao meu dia: Duda se vingaria de mim, me escalpelando ou, o que era pior, me deixando ir às reuniões sozinho.
O dia era promissor.
Duda me ignorou o dia inteiro como se eu fosse um grão de poeira passeando pela sala. Quando eu tentava puxar algum assunto ela era o mais monossilábica possível, afirmando que estava muito ocupada para papo furado.
- Posso saber por que você está me tratando mal?
- Não estou lhe tratando mal, senhor. Estou muito ocupada.
- Não está ocupada! Eu sei que você está fingindo! Você nem olha pra mim.
Ela me olhou.
- Tem algo importante que o senhor queira discutir? - Ela frisou a palavra "importante", como se eu só quisesse falar de inutilidades.
- Sim: Por que você está tão irritada?
- Sou sua secretária nessa empresa. Estou preparada pra discutir assuntos relacionados à empresa, então se o senhor não tem nada pra dizer sobre...
- Pare com isso! Qual é o problema, o que foi que eu fiz pra você me tratar assim?
Ela me encarou por alguns segundos, e então falou em um tom de voz nada apropriado para uma secretária:
- Me espanta você ser tão burro que não percebe o que está fazendo com a sua própria vida.
- O que eu estou fazendo? Só porque bebi ontem e fui pra cama com uma...
- Não me interessa o que você fez ontem. Mas parece que você não consegue se estabilizar em nenhum aspecto da sua vida! Pelo amor de Deus, Bruno, olhe pro que você está se tornando! Daqui a alguns anos vai ser mais um empresário solteiro e lamentável que se aventura com mulheres fáceis porque não tem um pingo de amor próprio ou vontade de procurar alguém certo...
- Eu já tentei fazer isso, se você não lembra! - Interrompi seu discurso levantando consideravelmente a voz.
- E daí? Você acha que é a única pessoa que sofreu uma decepção amorosa na vida? Pare de olhar pro seu próprio umbigo! Tem pessoas com problemas muito mais sérios por aí!
Tudo bem, ela obviamente estava certa, mas eu também tinha problemas.
- Eu sei que não sou o exemplo de infelicidade, mas não venha me dizer que a minha vida é fácil. - Falei baixo.
- Eu não disse isso! Mas você nem se esforça pra melhorar!
Fiquei calado olhando para as mãos.
- Quantas pessoas você deixou se aproximarem de você? A quantas mulheres você se deu a chance, de verdade, de conhecer e de talvez gostar? Você criou esse muro em volta de si mesmo pra tentar não sofrer, e acaba vivendo a sua vida da forma mais lamentável possível porque acha que seus erros podem ser justificados por uma desilusão do passado. Você não pode colocar a culpa de tudo no que já passou, e se quiser arrumar a bagunça em que a sua vida se encontra agora, tem que começar dando chances às pessoas.
- Eu não quero dar chances a ninguém. Todo mundo é interesseiro. - Falei.
- Não, não é. Tem pessoas ordinárias e pessoas especiais. - Ela disse.
Tive que sorrir com a ironia do momento. Ela ficou em silêncio. De repente senti sua mão no meu ombro, e eu sabia que quem falaria agora era Duda, minha melhor amiga:
- Você só vai conseguir superar seus problemas quando se permitir fazê-lo. Desculpe te informar, mas isso só depende de você. E quando você der uma chance a isso, vai ver que muitas coisas vão clarear na sua mente.
- Isso exige uma coragem que eu não tenho. - Respondi olhando para ela.
- Você não é mais criança. Sabe que às vezes temos que nos jogar de cabeça.
- É disso que eu tenho medo. Posso bater com a cabeça e morrer.
Ela riu.
- Bruno, eu gosto de você. De verdade. Quero te ver feliz, mas você tem que se ajudar.
Ficamos em silêncio por algum tempo. Minha cabeça ainda doía, agora com mais intensidade pela recente discussão com Duda.
- Bem... - Senti sua mão se afastar do meu ombro. Ela se recompôs voltando ao seu papel de secretária e adotando uma postura muito séria. - Eu vou voltar pra minha sala. Se quiser algo, estarei disponível.
E dizendo isso, caminhou despreocupadamente para a porta.
- Sabe... - Comecei, sem pensar, e só Deus sabe o porquê das minhas palavras naquele momento - Eu posso dar uma chance à mulher errada.
Ela se virou graciosamente, e pela primeira vez notei que Duda tinha algo de angelical.
- Errado aos olhos dos outros pode não significar nada. Talvez ela seja a mulher ideal.
E saiu.
Eu sabia que Duda estava certa. Eu tinha mesmo que dar um jeito na minha vida porque era óbvio que eu não era feliz. Na verdade eu não tentava mudar isso porque não tinha a menor vontade de fazer algo a respeito. É claro que era muito mais cômodo ficar me lamentando pela minha mediocridade do que tentar consertá-la.
E eu sabia que ia me arrepender em não seguir o conselho dela imediatamente. Mas, por hora, ia adiar essa decisão.
Assim, às 22h eu rumava para a Casa de Rayana em um táxi, fazendo exatamente aquilo que Duda havia me aconselhado a não fazer: Viver a vida da maneira mais lamentável possível.
Cheguei no lugar trinta minutos depois. A Casa, como sempre, estava com clientes de classe alta que se divertiam com os mais variados tipos de garotas. Sem falar ou olhar para ninguém, caminhei até o outro lado da sala onde mesas eram dispostas ao longo da parede lateral em um canto pouco iluminado. Queria ficar um pouco sozinho.
Passei pelo bar e pedi uma dose de whisky, que não demorou a sair.
Agradeci o serviço e caminhei para a mesa mais afastada, que ficava no canto entre duas paredes perpendiculares. Ali estaria ótimo, porque ninguém me veria. Tudo bem, mais cedo ou mais tarde eu procuraria alguém, mas por hora me permiti saborear a bebida gelada no copo à minha frente enquanto olhava sem interesse para as pessoas que andavam de um lado para o outro.
Não sei qual era o grau de desatenção em que eu estava, mas só depois de dois minutos sentado naquela mesa sozinho pude identificar a garota que estava na mesa ao lado da minha.
Claro. Tinha que ser ela.
Olhei diretamente para o homem que estava sentado muito próximo a ela, falando alguma coisa ao seu ouvido e rindo de uma piada que Anne claramente não estava achando engraçada. Ao contrário, ela me olhava com olhos levemente espantados enquanto tentava manter um pouco de distância do homem que agora passava uma das mãos por suas pernas.
Desviei o olhar sentindo meu humor já péssimo piorar consideravelmente.
Eu sabia o que queria fazer. Queria me levantar daquela mesa, quebrar o copo agora vazio em minhas mãos e, usando um dos cacos, cortar as mãos daquele desgraçado. Mas eu sabia que não podia fazer nada: Ela era dele naquele momento, e eu só podia fingir que não estava vendo nada acontecer.
Olhei de novo para o lado e vi o homem, que agora beijava o pescoço dela, tentando colocar a mão dentro do short curto que ela vestia. Antes que eu tentasse matá-lo vi Anne afastar sem cerimônias sua mão.
- Eu não vou fazer nada aqui. - Ouvi-a dizer.
Certo. Ela era mesmo um pouco ditadora como eu bem me lembrava. Ironicamente torci para que suas exigências fossem o suficiente para que aquele homem desistisse dela, mas não seria tão fácil.
- Então vamos para o quarto, amor.
Por algum motivo o homem misterioso se tornou, em menos de cinco minutos, meu inimigo mortal. Eu queria estraçalhá-lo com um caminhão e depois dar de comer a vira-latas na rua. Queria quebrar todos os ossos do seu corpo e socar tanto aquele sorrisinho que ele insistia em dar que a única coisa que restaria seria uma boca sem dentes cheia de sangue. O fato do desgraçado ser o que as mulheres considerariam bonito fez com que eu o odiasse ainda mais.
Olhei para o outro lado porque não queria ver Anne subindo as escadas com um sujeito qualquer, para um lugar onde eles fariam o que eu sabia que iam fazer.
- Que morra. - Falei baixo.
Uma mocinha passou com uma bandeja e eu pedi outro whisky.
Pensei na discussão que Duda e eu tivemos naquele dia. Pensei em Anne e no homem que devia estar se divertindo mais do que eu gostaria. Pensei que talvez eu pudesse provocar um incêndio naquele lugar, fazendo com que todos nós morrêssemos carbonizados e infelizes, e então todos nos encontraríamos no inferno.
Olhei para o relógio, e nove minutos haviam se passado.
Nove míseros minutos.
- Ei! Outro whisky!
Bebi a terceira dose. E a quarta. E a quinta.
Algumas mulheres tentaram me convencer a pagar um programa, mas eu negava todas. Estava extremamente puto e sabia o motivo. Era simples, embora eu não quisesse aceitar:
Ela estava dando para outro homem.
Ela é uma puta! O que você queria? - A voz da razão me provocou.
O que eu queria? Na verdade, o que eu realmente queria era que ela não estivesse dando para outro homem! E que ela estivesse no meu colo! E que ela não fosse uma puta!
Mas é claro que a culpa de todos esses pensamentos era das cinco doses de whisky.
Depois de dispensar a quinta menina que me abordava aquela noite e com a recém-chegada nova dose de whisky na minha frente, senti a presença de alguém na mesa ao meu lado.
Virei a cabeça e vi Anne, agora com outra roupa, os cabelos molhados e, para júbilo da minha insanidade, com aquele perfume característico dela.
Ela se sentou parecendo contrariada, tentando abrir uma garrafa de água sem sucesso.
- Se divertiu? - Provoquei.
Ela me encarou com o que me parecia choque e raiva nos olhos.
- Você sabe que não!
Desviei o olhar afrouxando a gravata. É, eu sabia que ela não havia se divertido, mas estava extremamente irritado e queria descontar minha raiva em alguém.
- Ele parecia bastante interessado em você. - Falei amargo.
- Bem, ele não estava interessado nos meus belos olhos ou coisa assim. - Ela retrucou com mais raiva. Olhei para frente e vi que um homem caminhava na direção da mesa dela. Ele ia pagar o programa, eu sabia disso.
Como não tinha muito tempo para pensar, puxei com força Anne pela cintura, deslizando seu corpo pelo banco contínuo em que nós estávamos sentados até trazê-la quase para cima do meu colo. Segurei com mais força do que o necessário, mantendo-a colada a mim enquanto olhava com ódio para aquele maldito que agora voltava para o bar com cara de derrota.
- Ai.
Não dei atenção a ela, ainda olhando a nuca do sujeito.
- Você está me machucando!
- Desculpa. - Afrouxei o braço em sua cintura, mas o mantive lá.
Ficamos em silêncio por algum tempo.
- Obrigada.
- Pelo quê?
- Você sabe... - Ela deixou a frase no ar, olhando para o homem já sentado no bar.
- De nada. - Falei sem emoção.
- Está tudo bem?
- Tudo ótimo.
- Você parece irritado. - Ela disse enquanto me analisava.
- Impressão sua.
- Você bebeu?
Eu sabia por que ela estava perguntando aquilo. Não era nem pelo meu hálito, mas sim porque, quando eu bebia, falava de uma forma arrastada.
- Bebi.
- Quantas doses?
- Duas. - Menti. Ela não pareceu acreditar.
- Você costuma beber?
- Isso é um interrogatório?
Ela murchou ao meu lado. Eu queria pedir desculpas pela grosseria, mas não o fiz porque estava mesmo irritado. Com tudo. Até mesmo com ela, por ter ido com aquele desgraçado.
- Não é um interrogatório... Mas você não devia beber muito, faz mal...
- Você está parecendo a minha mãe.
- Só estou dizendo...
Tirei o braço que mantinha em volta dela e a empurrei para o lado. Ela se desequilibrou em cima do banco.
- Ok, vai pro Don Juan do bar. Ele deve estar bebendo suco de maracujá.
Anne ficou me encarando como se eu fosse algum tipo de animal exótico. Então endireitou a postura se sentando reta, deslizando novamente para a mesa ao lado.
Quando finalmente conseguiu abrir a garrafa de água, tomou um gole e deixou-a em cima da mesa, cruzando os braços como alguém à espera do ônibus. No caso dela a espera era por um cliente, que eu sabia que cedo ou tarde apareceria.
- Ninha... Desculpa.
- Você não devia beber. - Ela falou imediatamente. - Você se transforma em um idiota quando bebe.
- Você estava me policiando!
- Só estava conversando com você. - Ela disse sem olhar para mim.
- As pessoas parecem querer me dar lição de moral hoje.
- Eu só estava te dando um conselho.
- Ou isso.
Ficamos em silêncio outra vez. Ela ainda não olhava para mim, com os braços cruzados no peito.
- Vai me desculpar?
Me desequilibrei um pouco por causa do álcool e só então pude notar que estava quase totalmente inclinado na direção dela. Ela não respondeu.
- Você disse que me queria por perto! - Falei um pouco desesperado.
Ela me olhou.
- Quero você por perto quando você é você, e não depois de não sei quantas doses de whisky.
De repente me senti extremamente rejeitado. Merda, eu estava mesmo bêbado.
- Você não me quer por perto agora?
Ela continuou me olhando, e então finalmente falou:
- Você não vai mais beber.
- Tudo bem. - Concordei.
Qualquer que fosse a exigência dela, eu atenderia.
Depois de alguns segundos ainda me olhando ela pegou a garrafa de cima da mesa e deslizou novamente para o meu lado. Meu braço foi automaticamente parar em volta dela outra vez.
- O que aconteceu com você? - Ela perguntou.
Eu deveria dizer o que estava acontecendo comigo? Deveria dizer que estava completamente perdido e deprimido? Deveria mencionar o fato de que tinha pensado nela enquanto transava com outra mulher?
Não. Eu estava bêbado, mas ainda não tinha perdido completamente a noção.
- O dia foi cansativo. - Disse calmamente enquanto deslizava para frente e para baixo no banco, colocando a cabeça para trás e fechando os olhos.
Senti Anne se virar um pouco em meu abraço enquanto suas mãos puxavam e desfaziam o nó em minha gravata, deixando-a aberta em volta do meu pescoço. Depois alguns botões da parte de cima da minha camisa foram abertos, e então pude sentir seus dedos em meus cabelos.
Abri os olhos devagar e vi seu rosto muito próximo ao meu, na mesma altura, enquanto ela brincava com as minhas mechas, provavelmente deixando-as mais rebeldes, e olhava diretamente em meus olhos.
- Vocês empresários são muito estressados. - Disse num tom baixo, e pude sentir o cheiro de menta que o hálito dela tinha.
- Você tem mesmo um cheiro muito bom. - Falei sem pensar e a vi corar imediatamente. Não pude evitar o sorriso que brotou no meu rosto. - Você fica linda quando está envergonhada, sabia?
Ela sorriu sem graça e desviou o olhar.
Continuei encarando-a, observando cada ponto do seu rosto. Ela tinha sardas bem claras no nariz e nas bochechas, e aquilo era tão adorável...
- Por que não veio ontem? - Ela perguntou, ainda mexendo em meus cabelos.
- Tive que ir a uma festa. - Respondi.
- Pelo visto foi uma festa boa.
- Por que diz isso?
- Se essas coisas não são chupões, então alguém espancou o seu pescoço.
Me senti enverginhado como se tivesse feito alguma coisa errada. Limpei um pouco os pensamentos e tentei ser casual:
- Ah. Ficaram marcas? Eu nem me olhei no espelho hoje.
Ela não respondeu, dando um suspiro.
- Foi boa? - Perguntou.
- O quê? - Me fiz de desentendido.
Ela continuou me encarando com um olhar que dizia "você sabe do que estou falando".
- Não, não foi boa. Nem a festa nem a transa.
Anne sorriu de maneira simples, mas mesmo assim pareceu um pouco triste.
- Bom, da próxima vez use gola alta. - Ela falou - Você não vai querer que as pessoas fiquem te encarando como se você fosse um promíscuo.
Encostei a cabeça em seu ombro, deixando o rosto entre seus cabelos e seu pescoço, e me deixei levar por toda aquela mistura de perfumes que emanava dela.
- Você é melhor. - Falei muito baixo enquanto aproveitava a sensação boa que seus dedos faziam nos meus cabelos. Me perguntei se ela tinha ouvido, porque não disse nada depois disso.
Depois de algum tempo, não sabia ao certo quanto tempo exatamente, ela voltou a falar:
- Olha, eu queria ficar aqui, mas Rayana já passou pela nossa mesa umas três vezes e está me olhando feio. Eu tenho que trabalhar... - Você está comigo. - Respondi sem mover um único músculo - Eu sou seu cliente.
- É que... As pessoas estão achando esquisito. Se você fosse meu cliente nós deveríamos estar fazendo alguma coisa porq...
- Então vamos pro seu quarto. - Saí de seu abraço e fiquei de pé um pouco cambaleante, pegando meu paletó da cadeira ao lado. Ela permaneceu sentada me encarando.
- Relaxa, eu não vou tocar em você.
Ela sacudiu um pouco a cabeça e então se levantou. Me pegou pela mão e me guiou para as escadas enquanto Rayana nos olhava do outro lado do salão.
Eu não tocaria nela. Eu NÃO tocaria nela.
Por favor, não se insinue pra mim.

De repente, Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora