Capítulo 41

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– O que você respondeu? 
– Eu te pedi em casamento. O que você acha que eu respondi? - Ele completou, secando uma lágrima, com um sorriso simples no rosto. Continuei imóvel e muda, querendo ouvir tudo da boca dele. 
– Eu disse a ele pra mandar Lauren me esquecer. Porque ela já não existe mais pra mim. Deixou de existir desde que te conheci. E pedi pra ele dizer a ela que eu nunca estive tão feliz como agora, porque encontrei alguém que realmente vale a pena. Alguém muito mais interessante, muito mais decente e muito melhor do que ela, em todos os aspectos. Alguém que virou o meu vício, muito mais poderoso e tentador do que ela jamais poderia ter sequer pensado em ser. Alguém que me faz muito, muito mais feliz do que ela um dia foi capaz de fazer. 
Eu não piscava. Estava atenta a tudo que ele dizia, e mesmo que soubesse que muito provavelmente aquelas não foram as mesmas palavras usadas por ele na noite anterior - nem alguém sóbrio poderia lembrar de tudo isso -, já era o suficiente ouvir aquilo dele agora. 
– Eu amo você. Você. E mais ninguém. Entendeu? - Ele concluiu, de uma forma muito simples. Me agarrei à sua gola, como costumava fazer quando me sentia muito apaixonada por ele de repente. Isso acontecia com cada vez mais frequência. 
– Quantas vezes por dia posso dizer que te amo sem você me achar um saco? - Perguntei, encostando nossos lábios sem fazer força. Ele riu, me trazendo para cima do seu colo. 
– Pode dizer quantas vezes quiser… Contanto que não fique se esfregando em mim enquanto fala isso… 
E, outra vez, Bruno já estava em ponto de bala. 
– Nós acabamos de fazer isso… - Falei toda manhosa contra sua boca. 
– Amor… Vou te contar uma coisa que talvez ainda não tenha ficado clara: Você me excita pra caralho. 
Pelo volume dentro das suas calças, eu excito mesmo! 
– Nós temos hora… - Falei, secando minhas próprias lágrimas contra o rosto dele - Estão nos esperando. 
– The Wolseley fica a menos de trinta minutos daqui. - Ele começou, beijando meu pescoço e meu ombro - Se eu olhar no relógio agora e concluir que ainda temos tempo, posso te atacar? 
Não respondi, e aquilo obviamente foi um consentimento à sua pergunta. Quando ele trouxe o pulso à frente do rosto, me peguei torcendo fervorosamente para que seu relógio estivesse atrasado. Bruno me encarou de novo, dessa vez com uma expressão diabólica, e antes que ele dissesse qualquer coisa, eu já estava comemorando em silêncio. 
… 
Chegamos ao The Wolseley um pouco antes das 13:20h. Era um restaurante muito chique, grande e bonito, lotado de pessoas sérias demais. Bruno falou com a recepcionista sobre a reserva no nome dos Coolin e nos dirigimos para a mesa com 8 cadeiras, quatro delas já ocupadas por Hérica, Arthur, Jhulie e Diego. Nosso pequeno atraso pareceu ter sido perdoado. 
Fomos recepcionados com vários abraços, beijos e desejos de felicidades. Robert estava no trabalho, mas segundo Hérica, chegaria em alguns minutos.
– Mas você já tomou uma atitude, Bruno? Pensei que eu fosse casar primeiro. - Arthur começou irônico, enquanto sentávamos também. 
– Você teria que arrumar uma namorada primeiro. - Bruno alfinetou meio amargo por estar sendo ridicularizado. 
– Se você continuasse com a sua atitude de lesma com Alzheimer pra se declarar de uma vez, acho que eu conseguiria. 
– Não podemos deixar de agradecer ao Ballantine’s do papai. - Jhulie entrou no jogo, se referindo à garrafa de whisky que Bruno provavelmente havia quase esvaziado na noite anterior - Ei, Arthur. Se Bruno finalmente conseguiu pedir a Ninha em casamento com umas doses, talvez você consiga uma namorada se tomar também. Parece fazer milagres. 
Arthur balbuciou alguma coisa para ela, chamando-a de “projeto de gente” e outros pseudo-xingamentos antes de mandá-la ir à merda em um tom quase sereno. Olhei para Bruno ao meu lado e ele me encarou de volta, mantendo no rosto um sorriso quase falso e dissimulado. 
– Nada vai me irritar hoje. Você disse “sim”. - Ele falou próximo ao meu ouvido, e tive vontade de rir em quase vê-lo mandando todos ali irem a lugares inapropriados. Mas, ao mesmo tempo, senti uma certa pena dele. Bruno era alvo constante das piadas dos irmãos, e vê-lo um pouquinho mordido com as ironias me deu uma enorme vontade de defendê-lo. 
– Ele me pediu em casamento hoje também. - Comecei em voz alta e com cara de provocação, para que todos me escutassem - Foi muito melhor do que ontem. Inclusive a nossa pequena comemoração depois… 
Arthur fez um “oooooooww” seguido de risos, e Bruno parecia um pré-adolescente orgulhoso por ter acabado de provar para a escola inteira que transava bem. Hérica, até então calada e se mantendo discreta com relação às piadas de Arthur e Jhulie, se manifestou com um “Sabia que meu filho mandava bem!”, e eu não consegui deixar de rir da cena grotesca. 
– Ei, Bruno! - Jhulie começou, aproveitando a ocasião para mais uma piada - Você não pode fazer isso com a Ninha! Ela está grávida!
Antes que Bruno pudesse fazer uma cara de “é mesmo um pensamento tão estúpido que chega a ser uma piada… Mas eu fiz exatamente isso”, respondi outra vez, temendo que ele sofresse bullying pelo resto da vida caso um dos irmãos entendesse: 
– Ah, mas ele faz. E faz muito bem feito.
Um indiscutível ar de “sou foda” emanava dele sem que eu precisasse olhá-lo para deduzir isso. Antes que Arthur pudesse pensar em mais alguma piada, fomos interrompidos.
– Cheguei! Cheguei! - Robert falou em tom de desculpas enquanto dava a volta na grande mesa e caminhava diretamente para Bruno - Filhão! 
– Desculpa te tirar do trabalho, pai. - Ele começou, já dando o famoso abraço de macho, com direito a socos estrondosos - Eu disse pra mamãe que não precisava…
– Claro que precisava! Você ficou noivo! O mínimo que posso fazer é estar presente na comemoração! - Ele disse todo feliz - Parabéns, filho. Tenho certeza que você vai ser muito feliz. 
Bruno agradeceu baixinho e liberou o pai do abraço. Robert se virou para mim com aquele sorriso torto maléfico igualzinho ao do filho. Me senti compelida a abraçá-lo, mas me contive, optando por simplesmente retribuir o sorriso. 
– Aliás, posso dizer já de antemão que vai ser, com certeza, uma das noivas mais lindas que já se viu. - Ele disse, beijando delicadamente minha bochecha e me envolvendo em um abraço gentil - Seja bem-vinda à nossa família, Ninha. Agora oficialmente. 
– Obrigada. 
– É bom não precisar mais manter segredos quanto às intenções do cavalheiro aqui. - Ele falou de bom humor, apontando para Bruno e indo sentar ao lado da esposa. 
– Eu sabia que estavam escondendo alguma coisa. - Comecei, fingindo estar furiosa enquanto encarava Arthur - E você me jurou que não sabia de nada. 
– Sou um exímio representante das artes cênicas, minha cara. Embora quase tenha estragado tudo quando vocês chegaram. 
– Pois é. - Bruno falou um pouco amargurado, lembrando da manifestação de Arthur que fez com que eu começasse a suspeitar das coisas.
– Ei! Em minha defesa, o plano era você pedi-la em casamento ainda nos Estados Unidos, sua bicha medrosa! 
– Bruno! - Comecei de repente, movida pela surpresa - Há quanto tempo você pretendia fazer isso? 
– Há algum… - Ele balbuciou, como uma criança que acaba de fazer merda. 
– O que importa é que está feito, não? - Diego se manifestou, em defesa do cunhado.
– Com quase uma garrafa inteira de whisky, até eu consigo pedir a Ninha em casamento - Jhulie falou de maneira irônica, sem perder a chance de ridicularizar Bruno. 
– Eu pedi hoje outra vez, caralho! - Ele respondeu em uma voz um pouco esganiçada, embora ninguém à nossa volta parecesse prestar atenção à nossa mesa. Mas era claro que Jhulie e Arthur não se importavam com aquela informação, já que nada que pudesse ser usado contra Bruno seria extraído dela. 
Brindamos com champagne (e suco de morango para mim e para Jhulie) e almoçamos algo que eu não sabia dizer exatamente o que era, mas era, com certeza, uma das coisas mais gostosas que eu já havia experimentado. Hérica e Jhulie começaram a falar animadamente sobre os preparativos do casamento, já que tudo teria que estar pronto dali a uma semana. Estávamos em 1º de maio, e nos casaríamos dia 9 daquele mês, num sábado.
A alegria delas começou a me contagiar, e poucos minutos depois eu experimentava uma expectativa tão grande e tão boa que me senti mais viva do que nunca. Mas foi quando Hérica perguntou para mim e para Bruno sobre a decoração e o estilo da cerimônia que me senti realmente diferente. 
– O que a noiva quiser. - Bruno respondeu, passando um braço pela minha cintura e beijando delicadamente meu rosto. Todo mundo me encarou, e eu os encarei de volta por algum tempo. 
– Ora, vamos! - Jhulie me encorajou, sorrindo - É só nos contar como você sempre imaginou que o seu casamento seria. Podemos tentar fazer igual! 
O que Jhulie nem ninguém naquela mesa sabia, exceto talvez por Bruno, era que eu jamais havia pensado naquilo. Porque, na verdade, eu jamais havia sequer considerado a possibilidade de me casar. Talvez tenha feito isso com meus sete ou oito anos de idade, mas o tempo passado e as decepções que me encontraram na vida foram suficientes para apagar aquela memória, se é que ela existia. 
– Eu… Não sei… Eu nunca pensei muito sobre isso… 
Jhulie me olhou como quem olha para um doente mental: Que mulher nunca havia criado seu próprio casamento-dos-sonhos? 
– Então, se você quiser… Podemos dar sugestões. - Hérica disse, parecendo mais mãe do que nunca.
– Sim! Seria maravilhoso! - Respondi, já respirando um pouco mais aliviada - Qualquer coisa simples… Nada grande ou chamativo… 
A verdade era que eu não precisava de nenhuma festa, nenhuma cerimônia e nenhum convidado para me casar. Se fosse preciso, eu casaria com Bruno em uma capela de beira de estrada enrolada numa toalha. Bastava que ele, eu e alguém com poder suficiente para nos casar estivessem presentes. Jhulie se virou para a mãe e piscou, voltando a sorrir: 
– Você sabe o que eu tenho em mente. 
Hérica assentiu, começando a falar outra vez: 
– Ok. Então, que tal isso: Um casamento ao ar livre, no jardim da minha casa. Um altar simples e algumas cadeiras, e arranjos de flores brancas. Uma pequena festa para pessoas mais próximas depois, um pouco de champagne, algumas músicas até a noite, alguns pontos de luz espalhados pelo jardim e… Bom, e tudo mais que você queira. Mas isso é só uma ideia é claro. Jhulie e eu achamos que esse estilo combinava com você, mas estamos aqui pra ajudar nas suas decisões. 
Ela e Jhulie me encaravam com expectativa, talvez porque eu não tivesse dito nada durante um bom tempo. Estava imaginando cada pequeno detalhe sobre a imagem que elas me descreviam, e por um momento, tudo o que fiz foi contemplar em silêncio a beleza daquela cena. Era perfeito. 
Encarei Bruno como uma criança que pede permissão para alguma coisa. 
– Gostou da ideia? - Ele perguntou, apertando o abraço na minha cintura e parecendo realmente interessado na minha resposta. 
– O que você achou? - Insisti, querendo saber qual era a opinião dele sobre aquilo. Eu não casaria sozinha. 
– Contanto que a noiva esteja lá, eu sinceramente não tenho objeções. - Ele falou sorrindo de uma maneira simples.
– Eu… - Comecei, virando outra vez para Hérica e Jhulie e tentando formular a frase certa - É perfeito! Absolutamente perfeito… 
Elas riram satisfeitas e piscaram uma para a outra. 
– Senhores… - Jhulie começou, empregando um tom de discurso político às suas palavras para todos sentados àquela mesa - Temos um casamento Coolin pra aprontar. Que comece a festa!
Ainda era um pouco difícil acreditar que tudo aquilo era verdade, mas todo mundo parecia disposto a me convencer da realidade. Eu tinha uma semana para ver meu sonho ser realizado, e com a ajuda dos Coolin, principalmente Hérica e Jhulie, meu sonho não só seria realizado como eu tinha uma certa impressão de que acabaria sendo melhor do que eu imaginava. 
– No meu casamento, eu lembro de quase ter pirado. E olha que planejei tudo com um ano de antecedência. - Jhulie falou animada, quando sentamos pela primeira vez com um bloco de papel à nossa frente e canetas de cores diferentes. Hérica estava tão animada que parecia ter voltado à adolescência, e então, ironicamente me dei conta de que as pessoas menos agitadas ali eram eu mesma e Bruno, que insistia em estar presente em cada escolha que tomássemos. 
– Vamos lá. A primeira coisa que precisamos saber é: Quais vão ser as cores? - Hérica perguntou, o lápis já em posição de escrita para minha resposta.
– Cores de quê? - Perguntei, um pouco distraída. 
– Da decoração. 
– Pensei que seria branco. - Bruno falou ao meu lado, fazendo cara de dúvida. 
– Claro que vai ser branco, seu cabeçudo. - Jhulie se pronunciou enquanto Hérica ria, e agradeci por ter sido ele a falar aquilo, e não eu - Mas os detalhes normalmente são de outras cores. 
– E se eu quisesse que o meu casamento tivesse os detalhes brancos? - Ele perguntou mal humorado, dando ênfase à palavra “meu”. 
– Você não tem o que querer. Você é só o noivo. É a Ninha que decide. 
– Você quer tudo branco? - Perguntei baixinho perto do rosto dele.
– Não tenho preferência. Você pode escolher. - Ele respondeu com um sorriso torto enquanto colocava uma mexa de cabelo atrás da minha orelha.
– Eu achei que detalhes em tons de verde clarinho ficaria bonito… Você sabe, já que vamos fazer no jardim… Acho que combinaria.
– Viu só porque homens não têm que se meter em preparativos de casamento? - Jhulie disse sorrindo e piscando para o irmão, enquanto Hérica já anotava a minha ideia. Olhei para Bruno apenas para ter certeza que aquela escolha não o havia desagradado. Ele sorria de forma simples. 
Foi necessário o sábado inteiro para colocar no papel algumas idéias “iniciais”, segundo Jhulie. Discutimos sobre as várias possibilidades de arrumação pelo jardim, contatos de músicos, fotógrafos e garçons, eventualidades como chuva torrencial e frio intenso, modelo dos convites, entre outras coisas. Bruno opinava em cada uma das decisões, mas parecia estar ali unicamente para me fazer companhia, já que tudo que eu decidia era prontamente aceitado com um sorriso nos lábios.
Deixei coisas menos importantes para depois, embora Jhulie insistisse que os mínimos detalhes eram essenciais. Me recusei a discutir coisas como cor e textura dos guardanapos, tecido do forro das cadeiras e tamanho dos copos que fariam parte da festa. Deixei claro que esse tipo de coisa poderia ser escolhida por Bruno, caso ele quisesse. Mas ele não parecia querer, e no final das contas, essas decisões acabaram sendo de responsabilidade das duas. 
– Amanhã mesmo vou procurar maquiadores e cabeleireiros. - Jhulie falou, batendo palmas como uma criança de cinco anos feliz. 
– Eu posso ajudá-los com o bufê, se vocês quiserem. - Hérica disse de maneira simpática. Eu concordei, agradecendo às duas pela ajuda. Ao final daquele dia, me dei conta de que aquela semana seria, provavelmente, o período mais agitado da minha vida até então. 
No domingo, Hérica e Jhulie foram à nossa casa de tarde, para continuarmos com a conversa. Bruno sempre se sentava ao meu lado, e eu imaginava o quão monótono tudo aquilo era para ele. Por isso mesmo, não podia deixar de admirar seu companheirismo. 
– Estou correndo atrás do melhor maquiador de Londres!
Encarei Jhulie um pouco espantada. 
– Mas… Eu não preciso do melhor maquiador de Londres… 
– Como não? É o seu casamento! 
– Eu sei, mas… Eu não preciso disso tudo. Qualquer maquiador responsável está bom. 
– Mas por quê? - Jhulie parecia não entender meu ponto de vista, já que a palavra “orçamento” nunca havia sido pronunciada até então. 
– Porque temos menos de uma semana, e tenho certeza que isso vai levar tempo. Acredite, eu aceito qualquer maquiador de bom grado.
– Ok, ok. - Ela bufou, parecendo entediada - Bom… Preciso da sua aliança. 
Encarei-a de maneira interrogativa, cobrindo o anel com a outra mão. Foi uma reação idiota, mas involuntária.
– Por quê? - Perguntei. 
– Pra mandar gravar os nomes de vocês. 
Continuei parada, pensando se aquela era uma boa ideia. Era óbvio que Jhulie não daria sumiço na minha aliança, mas eu não estava preparada pra me separar dela. Nem que fosse só por alguns dias. Mesmo assim, indo totalmente contra a minha vontade, tirei-a de uma vez do anelar e entreguei a ela, já sentindo a ausência do peso do aro ali. 
– E como você quer sua maquiagem? - Hérica voltou a chamar minha atenção, já com o bloco nas mãos. 
– Clara. E discreta. Nada chamativo… 
– Ninha, você já foi freira? 
Bruno gargalhou do comentário da irmã. Jhulie e Hérica riram da reação dele, e eu corei. 
– Por quê? 
– Você parece viver em tons pastéis! Se contenta com tudo, é tímida, discreta, boa demais… Sem contar que tem uma paciência de monge tibetano por aturar Bruno. 
– Ela é só uma pessoa melhor que você, Jhulie. - Bruno concluiu de forma doce, passando um braço pelas minhas costas e me puxando para si. Ela o ignorou.
– Na sua despedida de solteira, vou levar você para um clube de mulheres. Vamos nos maquiar feito peruas, fumar maconha, beber vodka até amanhecer e ver homens musculosos e semi-nus no cio dançando de tanguinha. 
Hérica se limitou a revirar os olhos. Bruno ficou calado ao meu lado, provavelmente entendendo que aquilo era uma piada, já que, para início de conversa, nós duas estávamos grávidas
– Faça isso e eu te degolo enquanto você dorme. - Ele falou, sorrindo de forma tranquila e até gentil. 
– Ok. Maquiagem clara. - Hérica começou, tentando chamar a atenção de todo mundo para o que realmente importava - E quanto ao penteado, querida? Tem algum em mente? 
– Ahm… Um coque? Ou alguma coisa que não deixe meu cabelo completamente solto… - Soou como uma pergunta, porque eu não queria mostrar o quão despreparada estava para aquilo. 
– Isso! - Jhulie voltou sua atenção para mim outra vez - Um coque ou uma trança desfiada! Acho que vai ficar perfeito.
– Eu gosto quando você deixa essa região livre. - Bruno falou, infiltrando sua mão por debaixo dos meus cabelos e passando levemente as pontas dos dedos na parte de trás do meu pescoço, passeando pelos ombros. Estremeci com o toque. 
Quando Hérica entrou no assunto dos convidados, me senti um pouco tensa. De alguma forma (obviamente por Bruno), as duas sabiam que meus pais já haviam falecido, pois em nenhum momento perguntaram por eles. Quando deixei claro que não haveria convidados por minha parte, Hérica pareceu genuinamente surpresa. Mencionei rapidamente que não havia deixado ninguém importante o suficiente nos Estados Unidos, e antes que alguma das duas pudessem contestar, Bruno tomou a palavra, falando alguma coisa na qual eu não prestei atenção, apenas para interromper o fluxo da conversa. Era mais fácil escapar daquela resposta do que dizer que as únicas pessoas vivas com as quais eu realmente me importava não poderiam estar ali. 
Já era noite quando Hérica e Jhulie foram embora. 
– Seu sanduíche. - Bruno falou, entrando no quarto e indo se sentar entre mim e a cabeceira, me mantendo entre suas pernas enquanto aumentava um pouco o volume do filme na TV. 
– Bruno? - Chamei, mantendo o prato no colo. - Posso te perguntar uma coisa? 
– Por que você pergunta isso se sabe que pode? - Ele riu contra minha orelha. 
– Você vai chamar aquele seu amigo? Jonathan? 
Sua boca ainda estava encostada no meu pescoço, e por isso pude sentir que seu sorriso havia morrido contra a minha pele.
– Não.
– Mas… Ele não é seu amigo? - Murmurei, já me arrependendo de insistir no assunto. 
– Não é amigo o suficiente pra estar no meu casamento. E além disso, não quero estragar o meu dia olhando pra ele e lembrando de uma pessoa que quero longe. 
Suspirei, ainda de costas para ele, não conseguindo tocar no meu sanduíche e depositando-o em cima do criado mudo ao meu lado.
Engoli o que me pareceu serem algumas pedras, mas era só minha própria saliva. Me virei um pouco em seus braços apenas para encará-lo enquanto pedia desculpas por ter arruinado aquele momento, nos fazendo lembrar de coisas bastante desagradáveis que jamais deveriam ter saído do passado. Olhei para ele com olhos suplicantes, e me surpreendi em vê-lo com uma expressão esquisita no rosto. Ele não parecia puto, mas sim um pouco divertido até. 
Quando Bruno se inclinou para mim e falou ao pé do meu ouvido, precisei de alguns minutos para entender o que ele estava dizendo: 
– A minha vadia. 
Ele pontuou a frase aplicando um ângulo perfeito naquele sorriso torto, lindo e imoral. Continuei olhando-o com um olhar de peixe morto, ainda atordoada demais para conseguir entender o que ele estava fazendo e formular uma resposta inteligente. 
– A sua…? 
– Aham. - Ele falou baixo, e eu tive a impressão de ver seus olhos vacilarem por alguns décimos de segundo, para, depois, voltarem a exibir toda a confiança - A minha vadia linda. Só minha. 
Continuei encarando-o sem reação, tentando arrancar de sua atitude algo que me confirmasse que Bruno estava realmente dizendo, com a maior naturalidade, que eu era a vadia dele. Eu sabia que isso era comum em muitos relacionamentos, mas nós nunca havíamos usado esses apelidos provocantes e “sujos” durante a transa. Talvez porque parecesse inapropriado, ou talvez porque, levando em consideração sua hesitação de alguns segundos atrás, ele temesse que eu pudesse me sentir ofendida. Quando ele começou a falar outra vez, o sorriso torto não estava mais lá. No lugar dele havia uma expressão um pouco culpada. Meu silêncio provavelmente havia feito com que ele achasse que tinha passado dos limites. Mas o fato era que eu não tinha me sentido ofendida. Eu tinha gostado. 
– Você ficou chateada? - Ele disse, me olhando como alguém que sentia dor - Me desculpa, eu só achei… 
Levei uma das mãos até sua boca e o fiz para de falar. 
– Você quer que eu seja a sua vadia, Bruno? - Perguntei em um tom levemente provocante, começando a entrar no clima da situação. Ele continuou me olhando, como se não soubesse qual era a melhor resposta para dar. 
– Se você quiser ser… 
– Responde a minha pergunta.
Ele permaneceu calado por algum tempo, e eu odiei o fato dele ter se arrependido de brincar daquela forma. 
– Eu… Queria… 
Me virei entre suas pernas e fiquei de frente para ele. Aproximei minha boca da sua orelha e mordi com um pouco de força a cartilagem, usando os dedos para brincar de forma provocante pela barra da sua calça. 
– Queria? - Falei, muito baixo, soltando ali lufadas intensas de ar - Não quer mais? 
Ele tremeu, e suas mãos, antes suaves na minha barriga, voaram para a minha cintura e me apertaram. 
– Hmmm… - Ele murmurou, fechando os olhos e me apertando contra seu membro completamente duro. 
– Eu sempre fui a sua vadia, Bruno. - Balbuciei ainda contra seu ouvido em uma voz rouca e propositalmente sexy - Vai precisar me foder quantas vezes mais pra entender isso?
Ele enrolou a língua tentando responder alguma coisa coerente, mas não se importou em se fazer entender. No segundo seguinte, sua boca já estava colada à minha sem muitas cerimônias, unindo-nos em um beijo quente e intenso. Uma de suas mãos migrou para a minha nuca, apertando os fios com vontade. A outra puxou minha calcinha sem o menor pudor e começou a brincar ali, como se eu realmente precisasse ser estimulada. Puxei o elástico da sua calça de uma só vez e seu pênis pulou para fora, tão firme que chegava a tocar seu próprio umbigo.
Passei o indicador pelo líquido viscoso que escorria pela cabeça já inchada e lambi, mas não dei tempo para que ele reagisse de qualquer forma. Segurando-o com firmeza, levantei de seu colo e sentei outra vez nele, de uma só vez, sentindo seu pau enterrar em mim tão fundo quanto era possível. Bruno se agarrou à barra da camisa que eu usava para manter as mãos ocupadas e não me apertar com a força que ele queria. Eu, por outro lado, não tinha o menor cuidado, tocando-o, apertando-o e o arranhando sem me preocupar se deixaria marcas ou não. Em algum momento daquela noite, a roupa que eu usava foi rasgada e arremessada a algum canto do quarto. 
Já era madrugada quando consegui dormir agarrada a ele, exausta, sem sequer lembrar de começar a ficar ansiosa pela passagem rápida do tempo, me levando para cada vez mais perto do grande dia.
– E o bolo tem que ter, pelo menos, cinco andares!
Hérica e eu olhamos para Jhulie com cara de espanto, mas ela não pareceu notar. Não eram nem 10h da manhã naquela segunda-feira, e talvez eu estivesse ainda com muito sono para entender os exageros dela. 
– Você é maluca? - Bruno soltou, sem deixar de sorrir - Nosso casamento não vai ter nem 70 convidados. 
– Porque você está deixando um monte de gente de fora. - Ela argumentou. 
– Só estou chamando quem realmente me importa, Jhulie. Ninha quer uma festa pequena, então vamos fazer uma festa pequena. Vai ser um bolo pra 70 convidados, no máximo. Se encomendar um de cinco andares, pode me dizer onde diabos eu vou enfiar tudo que sobrar?
– Posso. Você pode enfiar n… 
– Ninha! - Hérica interrompeu-a, voltando nossa atenção para as mais de dez revistas espalhadas pela mesa - Quantos andares você gostaria que o bolo tivesse? 
– Não sei… - Falei, temendo que Jhulie simplesmente parasse de falar comigo, ou pior, me assassinasse - Eu pensei em… Dois? 
– Eu acho excelente. - Hérica falou, dando um sorriso maternal - Dois andares bem largos são mais do que o suficiente. Bruno? 
– De acordo. 
Era surpreendente como conseguíamos decidir as coisas, mesmo com Jhulie ao nosso lado. Diferentemente do que eu imaginava, ela não estava se metendo em cada pequeno detalhe e batendo o pé por decisões que não lhe cabiam. Mesmo que se mostrasse claramente contra, ela aceitava e não insistia na discussão. E isso, juntamente com a objetividade de Bruno e as boas ideias de Hérica, fazia com que as decisões fossem tomadas com bastante rapidez. 
– Bruno, vamos escolher o buquê agora. - Jhulie falou, abrindo um laptop à nossa frente com ar de executiva - Vá catar cocos. 
– Por que eu tenho que sair? - Ele perguntou, um pouco contrariado - Até onde eu sei, é o vestido da noiva que o noivo não pode ver antes do casamento. Essa regra não se aplica ao buquê. 
– A noiva inteira tem que ser uma surpresa. Do vestido à cor do esmalte. - Jhulie retrucou. 
– Bruno, ela está certa. - Falei, e Jhulie sorriu triunfante. Ele sorriu também.
– E você realmente acha que eu não sei qual flor vai estar no seu buquê? - Ele perguntou, divertido, enquanto enrolava uma mecha do meu cabelo no seu indicador. 
Encarei-o por um momento, apenas para chegar à óbvia conclusão de que ele estava certo. Bruno sabia a flor que eu escolheria. Porque eu gostava de todas as flores, mas uma era especial. Simplesmente porque ele mesmo a havia tornado especial. Claro que ele sabia.
– Ei! 
Bruno e eu olhamos para frente, procurando pelo dono do “ei”, e fomos cegados com um flash. 
– Obrigado. - Arthur disse, e como se fosse a coisa mais natural do mundo, se retirou com uma câmera na mão sem se preocupar em explicar absolutamente nada. 
– Bruno, xô! - Jhulie falou, chutando as pernas da cadeira dele. Ele fez um movimento esquisito com as mãos, como se quisesse esganá-la, e então me intrometi. 
– Bruno, estou com fome. Faz um sanduíche pra mim? - Pedi, com cara de abandono. 
– Claro, amor! - Ele consentiu, já se levantando - Quer um sanduíche de quê? 
– De qualquer coisa gostosa. - Sorri, dando um beijo no seu rosto, e ele saiu para a cozinha. 
Não foi necessário um tempo muito grande para decidirmos aquele ponto. Jhulie buscou na internet uma lista de imagens dos mais variados tipos de buquês de noiva, me dando mais opções. Ao final, optei por um buquê em cascata, muito diferente dos tradicionais (que pareciam pequenos repolhos). E, como Bruno já sabia, seria composto por camélias, todas brancas, mescladas com folhas verdes trançadas no arranjo, junto com alguns fios dourados. 
– Seu sanduíche, amor. - Ele falou de repente, assustando nós três, e Jhulie fechou o laptop em um estalo. Bruno notou o estado de nervos da irmã e se apressou em falar - Eu não vi nada! Nem estava olhando! 
Eu acreditei. Ele parecia sempre mais atento a mim do que a qualquer coisa à nossa volta.
Quando encarei o prato colocado à minha frente, com um sanduíche de três pães, sabe-se lá mais o que entre aquelas fatias e um suco de pêssego como acompanhamento, tentei falar de maneira natural. 
– Bruno… O que tem nesse sanduíche? 
– Requeijão, queijo magro, peito de peru, presunto defumado, alface, tomate, agrião, cenoura ralada, frango desfiado, um pouco de azeitona, ervilhas… 
– Entendi… - Interrompi-o, ainda encarando o enorme sanduíche. 
Eu não estava com fome, mas não admitiria que só havia pedido o sanduíche para tirá-lo da sala antes que ele estrangulasse Jhulie. Acabei comendo o lanche inteiro, porque embora eu não estivesse com fome, tudo estava muito bom. 
Meia hora depois o almoço foi servido, e de uma forma surpreendente, consegui acompanhá-los na refeição também, sem sequer negar a sobremesa. 
De repente, um pensamento veio à minha cabeça como tortura: Eu me casaria dali a cinco dias, e estaria preocupada com o fato de estar engordando e caber no meu vestido de noiva caso tivesse começado a pensar nele. 
Três empregadas surgiram de algum lugar e começaram a retirar a mesa. Esperei todo mundo se espalhar para encurralar Jhulie em um canto e mostrar meu desespero. 
– Jhulie! O vestido! O vestido. 
Era uma das coisas que mais demoravam para serem decididas no processo do casamento, e eu sabia disso. Como diabos não havia pensado nele? Por que já não havíamos começado a procurar por ele? 
– O que tem o vestido? - Ela perguntou. 
– Eu não tenho um! - Falei, tentando não soar esganiçada. 
– Ninha, meu irmão demorou um século pra resolver pedir a sua mão. Mas só porque Bruno é devagar, não quer dizer que eu tenha que esperar por ele. 
Continuei encarando-a, pedindo silenciosamente para que ela explicasse do que se tratava tudo que havia acabado de dizer. Ela revirou os olhos. 
– Você acha que minha mãe sempre teve essas revistas de noiva em casa? Acha que sempre tivemos telefones de floristas e decoradores? Desde que Bruno nos disse que pediria você em casamento, o que já faz algum tempo, começamos a procurar detalhes que pudessem ajudar na organização. Não podíamos fazer tudo até que tivéssemos a sua resposta, mas como todo mundo - menos ele - tinha certeza da sua resposta, começamos a procurar as coisas sem que você soubesse mesmo assim. Por isso eu me dei a liberdade de mandar fazer o seu vestido. E não se preocupe, você vai gostar dele. Pelo menos, gostou da última vez que o vestiu. Apesar de que era verde. Mas imagine-o branco com alguns detalhes bordados, e acho que vai combinar perfeitamente com um casamento discreto e simples. 
Sem ainda responder nada, me lembrei do vestido que Jhulie me fizera experimentar alguns dias atrás, no shopping. Eu lembrava que era um vestido inapropriado para um aniversário, mas suficientemente interessante para se passar por um vestido de noiva. E se eu fosse levar em consideração o quão belo ele era e como me senti usando-o, poderia dizer que sim: Eu adoraria me casar com ele.
– Mas se você não gostar, podemos procurar outro…
– Não! - Interrompi-a sem muita educação - É perfeito! Obrigada, Jhulie! 
Abracei-a com um pouco de dificuldade por causa das nossas barrigas, fazendo força para não me emocionar. 
– Ei, Bruno! - Arthur gritou atrás de nós - Achei duas grávidas aqui. Vem ver se uma delas é a que você está procurando! 
Naquela tarde, fomos escolher o modelo dos convites. Levando em consideração que tínhamos quatro dias para imprimir os dizeres e enviá-los para os convidados, chegamos ao consenso de que deveria ser algo bem simples. O texto já havia sido pensado por Hérica e confirmado por mim e por Bruno. Quando fomos informados de que era necessário, pelo menos, uma semana para que todos os convites ficassem prontos, Bruno pediu para que Hérica e Jhulie me acompanhassem até o carro, esperando-o lá. 
Tive a certeza de que ele havia oferecido uma boa quantia para que o processo fosse acelerado, e sabia que a quantia era suficientemente boa para que a oferta fosse prontamente aceita. Na terça-feira, Bruno pareceu desapontado quando Hérica o informou de que ele não poderia nos acompanhar aquele dia. 
– Por que não? - Ele perguntou, com cara de cachorrinho abandonado na chuva. 
– Porque vamos experimentar o vestido, os adereços, a maquiagem e o penteado.
– Eu posso esperar no carro…
– Querido… - Hérica começou de forma gentil - Por que não liga para os contados das mesas, cadeiras, postes de iluminação, músicos… Temos ainda muita coisa para decidir. E, além do mais, você tem que fechar todos os papéis do casamento.
Depois de alguns minutos tentando convencê-lo de que aquilo era mesmo o melhor a ser feito, fomos de carro até uma rua comercial um pouco movimentada, onde, nas vitrines, mostravam-se roupas próprias para casamentos, incluindo trajes de noivos, madrinhas, daminhas e tudo que se podia imaginar. 
Naquela rua havia uma outra unidade da loja que Jhulie e eu visitamos no shopping, só que maior. Não precisamos informar sobre o vestido. Jhulie simplesmente disse seu nome e uma das atendentes da loja nos encaminhou para a área dos provadores, onde, em uma das cabines, o vestido já nos esperava. Pendurado em um cabide alto, o vestido não era exatamente como eu me lembrava. Esse apresentava bordados por toda a extensão do tecido, um fio muito fino e dourado cruzado em forma de losango na área da barriga e mangas largas, além das justas que já existiam por baixo, de seda branca com detalhes de renda. Meu coração começou a bater mais rápido. 
– Eu dei a ideia dessas modificações pequenas… - Jhulie começou no meu ouvido - Mas se você não gostou, podemos voltar ao original.
O vestido parecia brilhar diante dos nossos olhos. Ao lado dele, em uma pequena bancada, estava uma gargantilha com aparência de gotas de vidro que combinava perfeitamente com o vestido, dando o toque final do que eu achava ser a perfeição.
– Está… Lindo! - Consegui falar depois de algum tempo. Não foi preciso muito para me colocar dentro dele com a ajuda da atendente. 
Me olhei no espelho apenas para constatar o que eu já sabia: Ele era perfeito, em cada detalhe, em cada costura. Eu parecia uma princesa, um anjo ou qualquer coisa mágica, e precisava me lembrar de agradecer a Jhulie pelo resto da vida. 
Quando saí do provador, as duas me olharam como se eu estivesse brilhando. Hérica soltou um suspiro enquanto seus olhos se enchiam d’água. 
– Eu sou foda. - Ouvi Jhulie falar - Pode dizer: É ou não é perfeito? 
– Realmente é. - Respondi, olhando em volta para todos os espelhos que me davam visões de ângulos diferentes do meu corpo. 
– Você está absolutamente linda. - Hérica disse sorrindo, enquanto ajeitava uma das mangas. 
– É o meu presente de casamento. - Jhulie falou baixo ao pé do meu ouvido, e eu agradeci do fundo do coração. 
A atendente que havia me ajudado com o vestido trouxe a gargantilha e a fechou ao redor do meu pescoço. Encarei o espelho mais próximo outra vez para ter uma ideia do conjunto. Fiquei por um bom tempo sem dizer nada, imaginando como seria estar vestida daquela forma no meu casamento. Meu coração acelerou outra vez. 
– Vocês acham que Bruno vai gostar? - Perguntei distraída, ainda encarando o meu reflexo e o das três mulheres à minha volta. 
– Você só pode estar brincando. - Jhulie debochou, segurando meus cabelos e formando um coque provisório - Ele te acharia linda até se você fosse vestida de astronauta. Assim então… 
– Ele vai se apaixonar ainda mais. - Hérica falou de uma forma doce. A atendente não precisou fazer muita coisa. 
O vestido havia sido feito para as minhas próprias medidas: Jhulie tinha trabalhado nisso, e eu sabia. A bainha já estava ajustada à minha altura, o que indicava que eu não precisaria usar saltos no jardim da casa de Hérica e Robert.
Quando eu já estava usando o vestido por tanto tempo que todas nós já havíamos decorado cada detalhe, me troquei com a certeza de que aquele era mesmo o vestido mais perfeito que eu encontraria, e sequer precisava procurar por outros. Talvez porque eu não quisesse mesmo procurar. 
Deixamos o vestido na loja e fomos em outra loja, também própria para noivas. Escolhemos uma sapatilha simples e linda, completamente plana, com alguns brilhos e bordados delicados. A escolha não tomou muito tempo, por isso, minutos depois já estávamos no carro outra vez, levando para a casa de Hérica os sapatos e o vestido. 
Quando chegamos lá, Bruno foi expulso por Jhulie, assim como Arthur e Diego. Diante dos protestos dos dois últimos por não serem os noivos e, por isso, poderem continuar ali, Jhulie deixou claro que a presença de qualquer homem à minha volta estava proibida. Eles obedeceram mal humorados, indo embora com Bruno. Nós três, sozinhas em casa com as empregadas, almoçamos qualquer coisa e nos preparamos para a visita da equipe de cabeleireiros e maquiadores que Jhulie havia contactado. 
Eles chegaram no horário marcado, trazendo toda a parafernalha própria para aquelas coisas, e eu podia jurar que nunca na vida havia visto tantos tons de rosa para blush. Com o tempo, fomos vendo a mistura de tons claros no meu rosto delinear e valorizar tudo que deveria ser valorizado ali. Ao final da sessão de maquiagem, me encarei no espelho e me surpreendi com o quão bonita eu realmente estava. A maquiagem era suave, mas estava, incontestavelmente, perfeita. Ignorando os protestos de Jhulie quanto às cores claras, passamos para o penteado. 
Experimentamos vários arranjos, passando de simples fios soltos até tranças trabalhadas e mescladas com outros tipos de penteado. Ao final, talvez porque tenha mesmo combinado mais com o formato do meu rosto e o estilo tanto do vestido quanto da própria festa, decidimos que uma trança desfiada, propositalmente bagunçada e caída para frente sobre um dos ombros, era a melhor opção dentre todas elas, dando a mim mesma um ar mais simples e delicado. Quando tudo ficou decidido, já estava escurecendo. 
Esperei que toda aquela equipe fosse embora e tomei um banho rápido para tirar a produção. O vestido, a gargantilha e os sapatos estava guardados em um dos quartos de hóspedes da casa de Hérica, e Jhulie fez questão de prender à porta, sempre fechada, um aviso de que se Bruno ou qualquer outro indivíduo do sexo masculino entrasse lá, o casamento seria imediatamente cancelado. 
Ao final daquela terça-feira, meus pés e minhas costas doíam um bocado. Eu estava faminta, cansada mas feliz. A ideia de que nosso casamento estava chegando começava a me alcançar, proporcionando um leve frio na barriga toda vez que a imagem de Bruno e eu oficializando de uma vez nosso relacionamento vinha na cabeça.

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