Capítulo 48

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◇◇◇◇
Então né mores, reta final!
Esse é o antepenúltimo capítulo. Parece até programado, mas, o final será no domingo. Acredito que eu estou mais ansiosa que vocês. Espero que gostem.
◇◇◇◇

Aquilo não estava ajudando em nada a manter minha auto estima. Pensando em como eu poderia me sentir melhor, lembrei que havia lido em algum lugar que o “papai da mais nova família”, como os livros gostavam de colocar, “tinha um papel super importante em apoiar, entender e dar amor à mamãe”. Como aquele era um período conturbado, em que “muitas coisas estariam mexendo com o interior da mulher e blá blá blá”, era importante o diálogo entre o casal, a busca de um equilíbrio e do bem estar mútuo, e mais algumas coisas que eu não me lembrava. 
– Amor, tudo bem? 
Pisquei algumas vezes até encontrar Bruno sentado à minha frente na cama. Valentina estava mamando às 04:30h da manhã. 
– Por que está acordado? Já disse pra você parar com isso, você tem chegado muito tarde e…
– “E precisa descansar”. Eu sei. 
– E por que não voltou a dormir? 
– Porque eu olhei pro lado e vi vocês aí. 
Continuei encarando-o com meu mais novo olhar reprovador de mãe. 
– Ei, você não pode me culpar por gostar de ficar assistindo vocês duas. 
Aquela havia sido a primeira vez que Bruno se referia não só a Valentina, mas a mim também. E isso me pegou tão desprevenida, principalmente quando meus pensamentos estavam vagando pelos limites da minha carência, que eu não consegui segurar o sorriso. 
– Nós duas? - Perguntei, esperando uma confirmação. 
– É… - Ele respondeu, provavelmente não entendendo o motivo da minha dúvida - É difícil querer voltar a dormir depois de uma cena dessas. Corei. Mesmo que eu soubesse que a cena a que Bruno estava se referindo consistia em Valentina mamando e eu fosse só um peito com leite naquele processo, era bom ouvi-lo me incluir na equação. É claro que o centro das atenções dele era ela, e ainda haveria de ser provavelmente pelo resto da vida, mas receber um pouquinho de consideração naquele momento foi bom. Foi bom porque eu sentia falta dele, e porque, mesmo como mãe, eu tinha inseguranças que melhoravam com um simples ato de atenção. Não que eu quisesse a mesma atenção que ele dava (e deveria dar mesmo) à nossa filha - obviamente -, mas só um pouco dela. O mínimo necessário. 
– Nós estaremos aqui quando você acordar. - Respondi com um novo humor, me permitindo incluir a mim mesma na sentença - Durma. Ele sorriu um daqueles sorrisos simples, calmos.
– Espero que estejam. - Bruno concluiu, chegando mais perto de mim e beijando o meu ombro - Eu dependo disso. 
… 
– Amor, eu tenho uma notícia. - Bruno proclamou meio desanimado ao entrar pela porta. Continuei encarando-o com uma expressão neutra, talvez pensando se deveria me preocupar com o fato da tal “notícia” possivelmente ser tão importante que precisava ser anunciada. 
– Está tudo bem? - Falei de repente, cansada de esperá-lo desfazer o nó na gravata.
– Mais ou menos… Temos alguns probleminhas na empresa, e…
Respirei fundo. Eu sabia da competência de Robert para não deixar nada de grave acontecer à sua empresa, e mesmo que esse não fosse o caso, era bom saber que os probleminhas em questão eram relacionados ao trabalho, e não à vida pessoal de Bruno. 
– … E aí o pessoal vai ter que fazer uma viagem… 
– Viagem? - Voltei a prestar atenção. 
– É, mas é só por uma semana, depois nós voltamos… 
– Você vai? - Perguntei, um pouco surpresa. Ele me encarou confuso.
– É, eu vou… Você estava me escutando? 
– Mais ou menos… - Admiti - Você vai viajar por uma semana? 
– Sim. Nós vamos pra Bristol, e depois pra Liverpool. 
Pensei por algum tempo. 
– Quem vai? Só você? 
– Não, eu e mais algumas pessoas. 
Me perguntei se havia alguma mulher dentre aquelas “algumas pessoas”. Poderia haver mais de uma, inclusive. Eu deveria estar pensando naquilo? Aquilo deveria estar me incomodando? 
– Robert vai? - Perguntei, tentando soar normal. 
– Vai. 
Ótimo. O pai dele iria. Ele não ousaria fazer alguma besteira com o pai lá. Ele não ousaria fazer alguma besteira de forma alguma, certo? Como continuei calada, ele prosseguiu.
– E nós vamos amanhã… 
– Amanhã? - Perguntei surpresa.
– É… O vôo é de manhã, às 9h… Mas nós voltamos em uma semana, eu juro. E minha mãe vai estar aqui o tempo todo… 
Eu sabia que Hérica me ajudaria, mas não queria que Bruno se afastasse. Por algum motivo eu gostaria muito que ele não saísse do meu lado. 
– Eu sei que vai ser ruim… - Ele continuou, quase fazendo beicinho - Eu também não sei como vou conseguir passar uma semana longe de vocês agora… 
“Nós”. “Longe de nós”. 
Aquela era a segunda vez que ele me incluía nas suas demonstrações de amor, e eu estava começando a me sensibilizar com isso. Por mais que a falta da qual ele falava fosse obviamente muito mais direcionada a Valentina do que a mim. 
– Bom… - Comecei, já meio derrotada - Você pode aproveitar o resto de hoje. 
Sim, aquilo foi uma tentativa de flerte, mas como eu havia imaginado, Bruno não reparou. Provavelmente a anormal naquela história era eu, já que todos os livros que eu havia lido sobre gravidez me informavam que, logo após o parto, era normal as atenções estarem voltadas totalmente para o bebê, e que a mulher particularmente não teria nenhum interesse em sexo. Só que, bom, eu estava começando a ter. 
Então isso provavelmente fazia de mim uma mãe horrível, que ao invés de prestar atenção somente à filha começava a traçar planos de sedução para poder aplicá-los no marido. Será que Bruno já tinha reparado no fim da quarentena? Será que ele tinha reparado que àquela altura nós já poderíamos ter retomado as relações há mais ou menos duas semanas? Os maridos não se ligavam mais nisso? Era eu que deveria estar fazendo essas perguntas?
Não importava. O importante - e um pouquinho frustrante - era que ele havia tomado o meu “aproveite a noite” como uma indicação de que deveria passar mais tempo com Valentina. Em parte, eu concordava. Sabia que ele sentiria saudades dela, e achava mesmo que ele tinha que aproveitar enquanto estivesse por perto. Mas… 
– Você está se tornando bom em fazê-la dormir. - Falei. 
– Eu sei. - Ele brincou, colocando-a no berço com cuidado, mas não sem antes trazê-la até perto do seu rosto e dar um beijo apaixonado em uma das bochechas rosas dela. Meu coração derreteu como calda quente, me fazendo suspirar.
– Vocês ficam lindos juntos… - Soltei sem me dar conta disso, e ele simplesmente sorriu de maneira inocente. Era a mais pura verdade: Eu poderia sentar ali e ficar assistindo os dois sendo fofos um com o outro para sempre. Mas o fato era que, intimamente, eu queria um pouquinho de atenção também. 
– Aaah, não quero ir! - Ele disse de repente, apoiando o queixo no berço enquanto deixava Valentina espremer a ponta do seu indicador entre os dedinhos inconscientemente. 
– Eu também não quero que você vá… - Comecei, aproximando-me dele e mexendo nos fios do seu cabelo. Havia tanto tempo que eu não tocava nele daquela forma - na verdade, de forma alguma -, que por um momento senti a pele dos meus braços ficar ligeiramente arrepiada. Quando o encarei, notei que seus olhos piscavam devagar conforme o movimento que meus dedos faziam. Ele estava quase dormindo. Parei instantaneamente. 
– Eu vou tomar um banho… - Falei, tentando acordá-lo. 
– Hmmm, ok. - Ele respondeu, já bocejando.
Antes que Bruno desse um fim a qualquer iminente tentativa minha, me apressei em dizer:
– Nós poderíamos aproveitar enquanto ela está dormindo… Ver um filme ou algo assim… Sabe, passar algum tempo juntos já que você vai viajar amanhã…
Eu não precisava me explicar tanto. Sempre que fazia isso acabava parecendo um pouco boba, mas eu não queria que ele pensasse que eu era uma idiota que estava disputando a atenção dele com a nossa própria filha. Isso seria deprimente. 
– Ah… - Bruno começou se espreguiçando, e me perguntei se ele tinha entendido o que exatamente eu tinha sugerido - Claro. Eu te espero aqui. 
Depois de dizer isso, ele me beijou com muita delicadeza e se deitou na cama, ligando a tv. Bom, aquilo não parecia muito com um Bruno “cheio de vontade” como eu me lembrava, mas tudo bem. Talvez se eu deixasse que nossas vontades nos levassem, poderíamos ter uma noite interessante sem ser previamente calculada. Talvez não fosse nada selvagem, mas eu só queria ficar um pouco nos braços dele mesmo, por mais exageradamente romântico que isso soasse. Entrei no banho e me ensaboei duas vezes, querendo que o perfume do sabonete cobrisse cada poro meu.
Lavei o cabelo com o shampoo e condicionador mais cheirosos que estavam ali, e depois de finalmente vestir uma camisa social vermelha dele - porque eu não tinha camisola, nunca tive -, saí do banheiro confiante. Unicamente para dar de cara com Bruno dormindo na cama enquanto um programa de animais passava na tv. Suspirei profunda e lentamente. Aquilo me deixou desanimada, mas eu entendia. Sabia que ultimamente ele andava trabalhando o dobro do que sempre trabalhou, e talvez fosse menos egoísta da minha parte deixá-lo descansar. 
Sem muito o que fazer, desliguei a tv, chequei Valentina no berço e me deitei para dormir também.
… 
Eu não sabia se aquilo era possível, mas achava que Valentina estava com saudade de Bruno. Não tinha como definir uma coisa dessas, mas eu tinha a impressão de que ela andava não só entediada como também mais mal humorada. 
– Mas ela está bem? - Ele perguntou pela quinta vez. Estávamos falando no telefone havia quarenta minutos, dos quais trinta e cinco foram focados nela.
– Já disse que sim. Só acho que ela está cansando da minha cara. Hoje ela chorou quando eu troquei a fralda… 
– Mas ela nunca gosta quando você troca. 
– Eu sei que não! - Respondi um pouco irritada - Mas ela nunca chorou. Hoje foi a primeira vez… 
– Ela tem dormido direito?
– Sim… Ela só demora um pouco pra voltar a dormir depois que acorda… 
Ele suspirou do outro lado da linha. 
– Se for possível voltar antes, eu volto. 
Eu não sei por que, mas a impressão que eu tinha era de que Bruno estava dando a entender que eu não sabia tomar conta da nossa filha sem ele.
– Não precisa. - Respondi meio seca. 
– Mas ela está sentindo a minha falta… 
– Mas ela consegue viver sete dias sem você. 
Ele não respondeu, e conforme os segundos de silêncio passavam eu me dava conta de que havia sido rude. Não só isso, como também injusta, tanto com Bruno quanto com Valentina. Eles gostavam da companhia um do outro, e eu não tinha o direito de dizer nada para impedir que eles matassem as saudades. 
– Certo… - Ele pigarreou - Você deve estar cansada, eu ligo amanhã. Dê um beijo nela por mim. 
– Me desculpa…
– Tudo bem. Eu tenho que ir agora. Um beijo. 
E desligou. Ótimo. Perfeito. Bruno provavelmente me achava uma mãe possessiva que queria mantê-lo longe da nossa filha para que eu pudesse ficar com ela. Ou então, que Valentina fosse a única pessoa ali que estivesse sentindo a falta dele. Talvez ele achasse as duas coisas, e as duas coisas não poderiam estar mais longe da verdade.
No dia seguinte, ao ligar outra vez, ele não pareceu abalado. Fez as mesmas perguntas padrão e me contou um pouco do que sua equipe estava fazendo lá, sempre em um tom bastante casual. Quando tentei pedir desculpas outra vez pela minha atitude infantil do dia anterior, fui impedida de me explicar, ouvindo dele que “estava tudo bem”. E foi assim até o último dia da sua viagem. 
– Eu devo chegar amanhã por volta das 21h. 
– Você quer que a gente vá pegar você no aeroporto? 
– Nem pensar! Está muito frio na rua. Não se preocupe, eu vou correndo pra casa assim que pousar em Londres. 
– Tudo bem… - Respondi, sentindo corar aos poucos - Estou com saudades… 
Ele suspirou do outro lado da linha. 
– Também estou… Mas é só até amanhã. 
Eu sabia. Era só até o dia seguinte, mas aquela semana sem ele havia despertado um lado bastante passional em mim. Se já era difícil dormir direito de noite, porque Valentina sempre acabava me acordando, a tarefa se tornava impossível sem Bruno ao meu lado. Eu já tinha me acostumado com a presença dele, já havia me acostumado a dormir com o corpo dele perto do meu. O vazio do outro lado daquele colchão enorme me dava uma sensação de solidão esmagadora, e talvez minha saudade estivesse mais corrosiva porque eu ainda me sentia culpada pelas palavras rudes que havia dito a ele. Assim, no dia seguinte, contando as horas para revê-lo, dei um banho caprichado em Valentina, alimentei-a e fiquei brincando um pouco com ela no meio da cama. Ela fazia uns barulhinhos engraçados com a boca, e eu acho que aquilo me hipnotizava, porque eu não vi as horas passarem. De repente, depois de sabe-se lá quanto tempo, ouvi um barulho de carro na frente da casa. Um minuto depois - o que era um recorde, dado o tamanho daquele lugar -, o maior urso de pelúcia branco que eu já havia visto na vida entrou pela porta com Bruno agarrado à suas costas. 
– Voltei! 
Ele deu a volta, deixando o urso ao pé da cama e indo para perto de Valentina. Ela sempre parecia um besourinho com a casca para baixo, balançando lentamente os braços e as pernas enquanto continuava soltando pequenos estalos com a língua. 
– Você sabe como foi difícil ficar longe de você? Sabe? - Ele perguntou enquanto beijava sua barriga. Seus bracinhos abraçaram a cabeça dele como se ele fosse um travesseiro - Que saudade de você!
Os olhos dela continuavam arregalados, como se dormir fosse a última coisa que ela quisesse fazer. Valentina e Bruno continuaram “conversando” animadamente, onde ele perguntava uma coisa e ela respondida com um estalinho baixo da língua. Eles ficaram naquilo por mais ou menos um minuto, e eu fiquei ali assistindo toda aquela fofura sem falar nada. 
– Ei, o urso é seu! - Ele disse de repente, se pondo de pé e agarrando a pelúcia esquecida perto da cama - Embora eu ache que você precise crescer um pouquinho pra brincar com ele. 
Ele colocou o urso ao lado de Valentina no colchão. Ela devia ser do tamanho de uma das pernas do bicho.
– E isso é pra você. - Ele falou, voltando a sentar no colchão e chegando perto de mim pela primeira vez. No momento seguinte, Bruno segurava uma caixa de joia nas mãos, e eu já estava pronta para agredi-lo fisicamente. Mas quando ele a abriu, me mostrando o que havia dentro, não consegui conter a admiração. - A pedra é um citrino. 
Era um cordão de couro, diferente das jóias absurdamente caras que ele costumava me dar. Do meio pendia um pingente em forma de coração, com entalhes dourados muito delicados nas bordas. A pedra brilhante era amarela, mas o fascinante era que o amarelo era quase o mesmo amarelo dos olhos de Bruno. 
– Acho que vai ficar bem em você. Gostou? - Ele perguntou. 
– É… Lindo! - Respondi, já colocando-o no pescoço - Obrigada… É da cor… 
Ele me interrompeu, me puxando para os seus braços com um pouco de força e me beijando como há muito tempo não fazia. Não ofereci resistência, surpresa demais pela sua atitude. 
– Senti sua falta também. Já disse que não consigo dormir sem você? - Ele falou, ainda muito próximo à minha boca. Meus olhos ainda estavam fechados. 
– Então garanta suas noites de sono e não saia mais do meu lado. - Respondi, beijando-o de leve outra vez. Ele riu. 
– Se dependesse de mim eu não tinha ido. Foram sete dias infernais. Por mais que consigam viver sem mim durante esse tempo, eu não consigo viver sem algumas pessoas… 
Ele piscou e sorriu para mim, mas por mais que parecesse uma brincadeira eu estava convencida de que Bruno tinha ficado chateado com as minhas palavras. O simples fato de lembrar delas já provava isso.
– Eu só disse aquilo porque parecia… 
– Já passou, deixa isso… 
– Parecia que você estava insinuando que eu não conseguia cuidar dela tão bem quanto você. - Continuei me explicando, como se ele não tivesse me interrompido. Bruno arregalou os olhos. 
– Eu jamais insinuaria isso! É uma coisa idiota de se pensar… 
– Não, não é. - Concluí meio triste - Você é muito melhor nisso do que eu. Você sabe lidar com ela. Ela gosta mais de você… 
Ele segurou meu rosto de uma maneira firme nas mãos, me forçando a encará-lo e parar de falar. 
– Não seja boba. Você sabe lidar com ela melhor do que ninguém. E ela não gosta mais de mim. 
– Qual é, Bruno. Você sabe que isso é verdade. Eu não estou reclamando… 
– Você tem uma visão muito deturpada das coisas. Talvez não note como ela fica quieta quando você brinca com o cabelo dela, ou como ela olha pra você quando está mamando, ou como ela gosta de sentir o cheiro da sua pele. 
Fiquei calada por um momento, talvez pensando se o que ele dizia poderia ser verdade. 
– De onde você tirou isso… 
– Eu vejo o que você não vê. - Ele concluiu - Se ela procura em mim alguém que a divirta, ela busca em você alguém que a acalme. Não quer dizer que ela goste mais de mim. Quer dizer que temos papéis diferentes na vida dela. 
De onde ele tinha tirado aquilo? De algum livro de auto-ajuda? E por que ele tinha conseguido me convencer?
– Você é uma mãe excelente. - Ele concluiu - Não deixe que sua insegurança a convença do contrário. 
Eu estava quase me debulhando em lágrimas e pulando no colo dele por simplesmente confiar em mim daquela forma, mas foi nesse momento que notei o urso gigante caindo de barriga no colchão, consequentemente soterrando a minha filha.
– Ai, meu Deus! 
Tirei a pelúcia de cima dela, encontrando-a se debatendo e contorcendo as perninhas e os bracinhos desesperadamente. Oh, sim, eu era uma excelente mãe. Uma mãe que deixava a própria filha ser esmagada por um urso de pelúcia assassino. 
– Oooh, ela se assustou! - Bruno disse, não conseguindo segurar o riso. Valentina soltou um choro fraco, manhoso, como se estivesse realmente magoada com quem tivesse permitido que aquela tragédia tivesse acontecido. Peguei-a no colo e a abracei, silenciosamente pedindo desculpas pela falta de atenção. Chequei se ela tinha se machucado, o que obviamente não tinha acontecido, e a beijei até fazê-la parar de chorar.
– Esse bicho vai ficar longe dela até que ela consiga sair debaixo dele sozinha se precisar! - Falei meio nervosa, o que fez com que Bruno risse ainda mais da minha cara. 
– Sim senhora. - Ele respondeu, prestando continência.
Naquela noite Bruno ficou com Valentina até dormir. Isso se repetiu o resto da semana, e eu achava justo deixá-los se curtirem depois de tanto tempo afastados, ainda mais porque ainda me sentia mal pelo que havia dito a ele. É claro que aquilo significava que eu havia sido momentaneamente deixada de lado, o que, como consequência, aflorou minha carência e uma vontade abdicada por um bom tempo.
Mas talvez já estivesse na hora de lembrar Bruno que eu era a mulher dele.
– Estava procurando você. - Ele falou ao entrar na sala de vídeo enquanto tirava o casaco do avesso para vesti-lo da maneira certa. Eu estava esperando-o sair do banho havia alguns minutos, largada no sofá e assistindo qualquer coisa na tv. Eu havia vestido a camisa social vermelha que um dia tinha sido dele. Foi proposital, eu sabia que Bruno gostava de me ver com ela. 
– Você parece cansado. - Falei, abrindo os braços para ele enquanto tentava parecer sexy. Obviamente fracassei.
– Por quê? Estou assim tão acabado? - Ele riu, ignorando meu abraço oferecido e sentando no sofá, já me puxando para o seu colo. Tirei o casaco das mãos dele e o joguei longe. Ele não precisava se vestir, por mais fria que a noite estivesse. 
– Você nunca está acabado. - Deixei um beijo suave nos lábios dele, pensando em como abordar aquele assunto - Estou com saudade.
Ele sorriu de maneira simples e me encarou por um momento antes de retribuir o beijo, dessa vez sendo um pouco mais intenso. Sua mão encaixou no meu pescoço, e me lembrei como eu adorava quando aquilo acontecia. 
– Eu também estou com saudade… - Bruno parou por um momento, mordendo meu lábio inferior e me apertando contra si - Muita saudade… 
Beijei-o outra vez, agora com força, lembrando de como aquilo era bom. Ele parecia se lembrar da mesma coisa, porque fez questão de aprofundar o beijo enquanto me prendia nos braços. Àquela altura eu duvidava que mais alguma coisa precisasse ser dita para fazê-lo entender quais eram os meus planos. Agarrei os cabelos da sua nuca, quase sentindo saudades de fazer isso. Suas mãos passearam por cima do pano da camisa que eu vestia, no início apertando minha cintura com gentileza, depois se tornando um aperto um pouco mais agressivo. Puxei-o mais para mim e ele entendeu. Sem muito esforço, Bruno me levantou um pouco e me fez deitar no sofá, se deitando em cima de mim enquanto beijava e lambia meu pescoço. Meu corpo todo começou a pegar fogo, como se implorasse pelo toque dele. Quando suas mãos começaram a subir vagarosamente pela minha perna, fazendo cada centímetro da minha pele se arrepiar, ouvi um choro agudo e baixinho vindo do lado de fora. 
Bruno soltou um gemido de lamento perto do meu ouvido, e embora aquilo não tivesse sido para me excitar, me excitou. 
– Ela deve estar com fome… - Falei ofegante contra sua boca, enquanto ainda enrolava inconscientemente os dedos nos seus cabelos. 
– É… - Ele falou em uma voz triste. 
– Eu vou lá… Você… 
– Eu espero. - Ele concluiu, beijando meu pescoço em um ponto muito sensível, ao mesmo tempo que forçava seu corpo contra o meu, me mostrando o quão “animado” ele estava. 
– Eu não vou demorar… 
Beijei-o como uma breve despedida, mas não consegui desgrudar nossos lábios. Ele também não se esforçou para isso, e quando estávamos quase nos apertando a ponto de virar agressão, o choro se tornou ainda mais agudo.
– Hmmmmfff… Eu tenho… Que ir…
Ele respirou profundamente e saiu de cima de mim. Me levantei um pouco zonza, mas fingindo ter controle sobre mim mesma. Encarei-o com cara de choro e, silenciosamente, implorei para que ele me esperasse mesmo. Mas sua ereção evidente me dizia que ele estava disposto a se manter acordado.
– Vai… 
E eu fui. Cheguei no quarto e encontrei Valentina se debatendo e se esgoelando. O típico choro de fome. Peguei-a no colo e sentei na cama, fazendo-a abaixar um pouco o volume dos berros. Provavelmente ela já sabia que aquele procedimento antecedia o leite. Quando ela alcançou meu peito, começou a mamar como uma faminta desesperada, da forma que sempre fazia. 
– Como é que consegue caber tanto leite dentro de você? - Perguntei baixinho, passando os dedos pela cabecinha dela. Valentina continuou compenetrada na sucção, os olhos arregalados e fixos nos meus. Minha pergunta foi respondida depois de vinte minutos, tempo necessário para que ela terminasse de jantar. Ao posicioná-la no colo para fazê-la descansar da mamada ou arrotar, colocando sua cabeça por cima do meu ombro, acabei sendo completamente vomitada. Havia leite não só no meu ombro, como também nos meus cabelos, pescoço e braços.
– Não cabe tanto leite dentro de você. - Respondi a mim mesma em voz alta. Alcancei um pano limpo rapidamente e sequei a boca dela, tentando fazê-la se sentir melhor. Mas ela parecia calma como se só estivesse esperando o tempo passar. 
– Viu só o que acontece com bebês gulosos?
Estendi uma toalha na cama e depositei minha filha em cima dela. Troquei suas roupinhas, descartando as sujas e deixando-a limpa outra vez. Ela já estava quase dormindo, e me perguntei se havia sobrado algum leite dentro dela. Pela quantidade que estava na minha roupa, não. E nesse momento Bruno chegou no quarto. 
– Uau… Você apertou a barriga dela? - Ele perguntou, parecendo se divertir. 
– Ela come mais do que pode… - Respondi. Ele a pegou no colo e a ajustou nos braços, colocando-a deitada ali, e começou a niná-la. Quase que instantaneamente Valentina dormiu. 
– Eu sou mesmo bom…
– Claro. - Respondi debochada, assistindo-o levá-la até o berço e deixando-a lá. Ele me encarou outra vez. 
– É… - Comecei, tentando ver o meu próprio estado. Resumindo, eu estava toda vomitada e cheirando a leite azedo. 
– É. - Ele pontuou.
– Eu acho que seria bom me limpar…
– É, acho que sim. 
Ficamos em silêncio por um momento. 
– Então eu vou tomar um banho… 
– Ok.
– Vai ser um banho rápido. - Frisei. 
– Vou estar aqui. 
Ele se deitou na cama, encostando a cabeça nos travesseiros, e eu sabia que aquilo não ia dar certo. 
– Não durma. - Pedi, pegando a primeira peça de roupa limpa dobrada em uma pilha em cima da poltrona. 
– Ok. - Ele riu, colocando as mãos atrás da cabeça em posição de espera.
Corri para o banheiro e tomei um banho rápido, como prometido, mas ainda assim caprichado. Me esfreguei com o sabonete de camomila e usei meu shampoo habitual, fazendo bastante espuma para tirar qualquer resquício de leite dali. Me sequei sem muito cuidado e vesti a única peça de roupa que havia trazido comigo: Um casaco com zíper verde escuro de Bruno, três vezes maior que eu. Me penteei rapidamente e passei meu creme de amêndoas nos ombros e no peito, querendo deixá-lo mais excitado mesmo. Estava pronta para ter a minha “primeira noite” com ele outra vez, o que, depois de algum tempo de abstinência, estava me deixando bobamente ansiosa. 
Deixei o casaco um pouco aberto, propositalmente caído em um dos ombros - minha ridícula tentativa de ser sexy -, e depois de dar uma última olhada no espelho (me certificando de que todos os defeitos que deveriam ficar escondidos estavam escondidos e que o que poderia ser mostrado estava à mostra), saí confiante do banheiro. Mas ao entrar no quarto mergulhei em um ambiente escuro e silencioso. 
Só consegui ver a silhueta de Bruno esparramado na cama. As luzes estavam apagadas, enquanto ele e Valentina dormiam tão profundamente quanto mortos. Puta que pariu… Suspirei, não conseguindo conter a tristeza. Eu poderia acordá-lo a socos e exigir que ele cumprisse com seus deveres de marido. Também poderia acordá-lo com beijos e já deixá-lo “pronto” para a nossa noite. Mas eu não faria isso. Sabia o quanto ele vinha trabalhando, e por mais que achasse que Bruno deveria sentir até mesmo mais falta de sexo do que eu, eu não seria desagradável a ponto de interromper seu descanso de um dia trabalhoso para saciar minha vontade. 
Me arrastei desanimada de volta ao banheiro, pegando um elástico qualquer e prendendo os cabelos em um rabo-de-cavalo mal feito. Subi o zíper para proteger minha pele ainda úmida do frio do quarto, vesti uma calcinha confortável e dei uma última checada em Valentina, como fazia todas as noites. Por fim, escalei a cama enorme e me deitei derrotada, virando de lado e esperando que o sono chegasse. 
– Ficou com sono de repente? - Ouvi sua voz ao pé do meu ouvido no escuro e pulei de surpresa. Seu braço deu a volta pela minha cintura e seu corpo se moldou às minhas costas. Ele beijou e mordeu minha orelha com pouca força, e isso fez com que meu corpo todo tremesse.
– Eu pensei que você estivesse dormindo… - Falei, tentando disfarçar o tremor na voz. 
– Eu disse que não ia dormir. - Sua mão alisou minha coxa e subiu para minha barriga por dentro do casaco. Respirei fundo. 
– Mas eu pensei…
– Acho que vou ter que te acordar de novo. - Ele falou com uma voz estupidamente sexy, e no mesmo segundo sua mão que antes brincava na minha barriga foi parar dentro da minha calcinha. 
– Não precisa… - Me esfreguei contra o corpo dele como uma minhoca - Já estou bem acordada.
Bruno ficou brincando com os dedos como se tivesse um piano entre as minhas pernas. Eu já estava ofegando tanto e tão alto que me perguntei se aquele som não acordaria Valentina, que dormia tranquilamente no berço ao nosso lado. Ele arrancou minha calcinha de qualquer jeito e se inclinou um pouco sobre mim, alcançando a gaveta do criado mudo ao meu lado e tirando de lá um preservativo e um tubo de lubrificante.
– Você tem camisinha? - Perguntei surpresa, olhando para ele. 
– Tenho.
– Você disse que não tinha… 
– Eu disse isso quando eu realmente não tinha. 
– E por que agora você tem? 
Ele me encarou parecendo se divertir com a minha pergunta. 
– Você já quer engravidar de novo? 
Parei pra raciocinar um pouco, chegando à brilhante conclusão de que ele estava certo. 
– Você tem que voltar a tomar os anticoncepcionais, porque eu não consigo te comer direito com essa porra dessa borracha… 
Era verdade, transar com e sem camisinha eram sensações bastante diferentes. Mas o fato era que eu tinha que procurar um anticoncepcional que não afetasse a amamentação e que conseguisse se adaptar bem ao meu corpo, então aquela tarefa ficaria para depois. Por hora, mesmo que não fosse o ideal, preservativos estavam de bom tamanho para apagar o meu fogo. 
E o meu fogo estava começando a queimar de verdade.
Me virei de frente para ele e pulei em seu colo, arrancando com as unhas suas calças de qualquer jeito. 
Bruno me agarrou pela cintura e se sentou, colando seus lábios nos meus enquanto forçava meu corpo contra o dele em um movimento de ondas. Ele estava duro como uma pedra, graças a Deus. 
Agarrei seu membro com as duas mãos e fiz os movimentos certos, lembrando de como era bom tocá-lo daquela forma. Ele encostou sua testa na minha e ficou imóvel por algum tempo, talvez lembrando como meu toque era bom também. Depois de algum tempo suas mãos alcançaram a embalagem do preservativo esquecido ao nosso lado e a abriu de uma vez. Tomei-o das mãos dele e enrolei a borracha por toda a extensão do seu membro, tomando cuidado em vesti-la da maneira certa. Por mais excitada que estivesse, minha lubrificação não estava normal. Segundo o médico, isso estava relacionado à diminuição nos níveis de estrogênio, que consequentemente diminuíam a irrigação sanguínea na vagina… Ou algo assim. 
De qualquer maneira, Bruno se lembrava melhor do que eu dessa explicação, e por isso já tinha se adiantado e deixado a postos o lubrificante para facilitar a coisa toda. 
– Não! - Falei em um tom baixo perto do seu ouvido assim que ele se virou para acender a luz do criado mudo. 
– Por quê? Eu quero te ver…
– Valentina está dormindo… A claridade vai incomodar…
Era mentira. Não era por medo de incomodá-la que eu queria as luzes apagadas - até mesmo porque Valentina dormiria tranquilamente até com o sol na cara dela -, mas sim porque eu não queria que ele me visse. Meu corpo ainda estava muito estranho, meio desproporcional e com manchas e cicatrizes. Podia ser bobeira, mas eu me sentiria mais à vontade daquela forma. Minha auto-estima não estava tão sólida àquela altura. 
Ele aceitou meu pedido, embora ainda um pouco contrariado. Esperei seus dedos mágicos passarem todo aquele líquido em mim e, depois, lambuzar seu próprio membro já vestido. 
– Talvez eu te machuque. - Ele começou contra a minha boca. 
– Não vai machucar… - Respondi, já me levantando um pouco no seu colo e tomando-o em uma das mãos para posicioná-lo no lugar certo. 
Interrompi sua frase sentando de uma só vez nele. Era verdade que tinha doído um pouco, mas era uma dor absolutamente suportável, quase possível de ser ignorada. Talvez porque eu estivesse mais concentrada no gemido baixo que saiu da boca dele assim que o senti me invadir completamente.
Me movimentei devagar no seu colo, tomando um certo cuidado para não fazer barulho, por mais que tivesse certeza que Valentina não acordaria. Bruno fechou seus braços ao redor da minha cintura com força, reforçando os movimentos suaves que eu tentava fazer. Como de costume, procurei a boca dele no escuro, encontrando-a e a atacando sem o menor pudor. 
Meu Deus, como era bom estar com ele outra vez.
– Deixa que eu faço isso. - Ouvi-o dizer de repente, me levantando sem esforço e me virando até fazer com que eu estivesse deitada de costas na cama. 
Quando ele se colocou entre as minhas pernas e me penetrou outra vez, eu acho que vi estrelas. Senti o zíper do casaco que eu vestia descer um pouco e deixar meu peito exposto, mas o frio momentâneo durou muito pouco - A boca dele já estava ali, cobrindo e molhando com muita delicadeza um dos meus seios. Agarrei seus cabelos com ainda mais força, me concentrando em não gemer alto, mas voltei à realidade quando ouvi um riso baixo. 
– Que foi? - Perguntei, ainda sem ar. Ele demorou um pouco a responder, ainda brincando com a língua naquela região.
– Eu tinha esquecido que agora sai leite. 
– Merda - Tentei puxar o casaco para limpar o líquido - Eu tinha que fazer a ordenha manual antes da gente… 
– Não… Não tem problema. - Ele segurou minhas mãos e afastou o casaco. 
Quando meu peito estava livre de novo, ele abocanhou o mesmo seio outra vez e começou a chupar, como se aquilo fosse uma coisa completamente normal. E então um pensamento muito esquisito começou a pipocar na minha cabeça. 
– Você está… 
– Mamando. Estou.
– Ai, meu Deus… 
Tentei soltar minhas mãos do aperto dele, mas Bruno era muito forte. 
– Que foi? 
– Isso é… Errado… De muitas formas… - Respondi, tentando não ofegar. 
– Não é bom? 
– É errado principalmente porque é bom! 
Ele riu enquanto passava a língua no bico de forma provocante, e meus olhos reviraram. 
– Eu tenho certeza que você consegue separar as coisas. - Ele concluiu. É óbvio que quando a nossa filha mamava era uma sensação completamente diferente de quando Bruno fazia aquilo. Mas era estranho porque, na prática, era a mesmíssima coisa. Eu poderia acabar psicologicamente fodida, relacionando uma sensação à outra e deturpando questões de moralidade e tudo mais. Já havia lido relatos de mães que pararam de amamentar por não conseguirem estabelecer as diferenças necessárias entre o papel do seio na amamentação e na relação sexual, e já tinha lido também relatos de pais que se recusavam a tocar na esposa daquela maneira. 
Bruno aparentemente não via problema algum naquilo, e se eu fosse levar em consideração a forma como ele parecia disposto a não parar o que estava fazendo, eu diria que o problema era só comigo mesmo. 
Para tirar a minha atenção dali, ele resolveu voltar a se mexer dentro de mim de um jeito muito bom. Devia ser todo aquele tempo sem uma boa transa, mas o fato era que eu estava achando cada toque muito, muito melhor do que costumava ser. Talvez a gravidez tivesse me deixado mais sensível, ou talvez ele simplesmente tivesse ficado ainda melhor naquilo mesmo. Bruno se ajoelhou na cama entre as minhas pernas e segurou minha cintura com força, me fazendo ficar imóvel no colchão enquanto metia em mim com vontade.
Agarrei um travesseiro próximo e o enfiei quase todo dentro da boca, tentando conter os gemidos que saíam cada vez que o pau dele voltava para dentro de mim. Era impossível controlar. Os movimentos se mantiveram assim por algum tempo. Ele devia estar cansado, mas eu não estava prestando atenção. Fechei os olhos e me concentrei na sensação do encaixe dos nossos corpos. Era perfeito demais. Mesmo no escuro, pude ver a forma como o corpo dele se contorcia. Ele não precisava anunciar, eu sabia que estava perto de ter um orgasmo. Como eu também estava quase explodindo, tentei fazer com que nós dois gozássemos juntos, mas não consegui e fui primeiro. Ele me seguiu tentando estrangular o grito também, o que, no meu caso, só foi possível porque eu quase havia engolido o travesseiro.
– Merda… - Ele sussurrou sem nem terminar de gozar - Merda, eu… Odeio… Essa… Borracha…! 
Esperei até que ele proferisse outros palavrões e xingamentos contra o preservativo, mas Bruno se calou. Depois de algum tempo retomando a respiração, ele finalmente deitou em cima de mim e permaneceu um pouco ali, cansado e suado, mesmo com o frio que fazia naquela noite. 
– É sério… - Ele começou perto do meu ouvido, ficando calado por alguns segundos como se estivesse com preguiça de terminar a frase - Da próxima vez eu vou gozar fora. Não uso essa merda de novo nunca mais. 
Sorri. Não me importava o que ele dizia: Eu estava bem demais para prestar atenção. Afaguei seus cabelos como de costume, talvez agradecendo em silêncio por ele me fazer tão bem. Bruno parecia estar aproveitando o momento assim como eu, e foi depois de muito tempo que ele voltou a falar:
– Senti sua falta.
Eu tinha certeza de que ele já estava dormindo, por isso me assustei. Demorei um pouco a responder. 
– Mesmo? 
– Claro. Eu sempre sinto. 
– Então por que não me procurou?
Ele apoiou o queixo no meu peito para me olhar. 
– Porque eu estava “respeitando o seu espaço”. 
Encarei-o de volta meio confusa.
– Que espaço? 
– Eu sei que tem todo esse lance de se adaptar depois do parto, que vocês só se ligam no bebê, e eu não queria te pressionar… Queria respeitar as suas vontades e tal… Não queria que você achasse que eu estava doido pra isso. Bom, na verdade eu estava, mas deixei pra que você decidisse… 
– Tá. - Interrompi-o. Eu já tinha entendido - Está me dizendo que sabia que a quarentena já tinha acabado?
– Claro… - Ele deixou um beijo fofo entre os meus seios - Mas você não falou nada a respeito, então eu fiquei na minha. Acho que trabalhar demais e chegar em casa cansado me ajudou a “resistir”. 
Continuei olhando para ele. 
– Você tem chegado tarde de propósito? 
– Não! - Ele parou, pensando um pouco - Só às vezes… 
– Desde quando você quer? - Ele riu, como se a pergunta tivesse sido boba. 
– Desde que nós paramos de fazer. Não é óbvio? 
– E se eu só fosse querer daqui a muito tempo?
– Eu teria que esperar, né? - Ele pontuou com uma expressão meio triste, voltando a me beijar - Mas você já voltou a querer, então sorte a minha. 
Por um lado, aquilo era lindo. Ele estaria disposto a controlar seus hormônios enfurecidos para respeitar a minha fase de adaptação àquela novidade. O mínimo que se deveria esperar de um pai era um pouco de compreensão, mas eu sabia que era difícil. Se dispor a esperar e não tocar no assunto, com medo de que eu me sentisse pressionada, era adorável. Entretanto, por outro lado, eu já poderia ter “mandado ver” há dias. 
– Eu realmente acho que temos que exercitar a prática do diálogo entre nós dois. 
– Por quê?
– Por nada. 
Beijei-o apaixonadamente e nos virei na cama, tirando-o de cima de mim e me levantando. 
– Ei! Vai aonde? 
– Tomar outro banho.
– Mas eu nem te sujei… - Ele falou, fazendo uma careta e apontando para a camisinha ainda vestida. Ri da sua reação. 
– Você colocou a boca onde a sua filha põe também. Eu tenho que me lavar. - Cheguei perto dele de novo e mordi sua orelha de leve - Quer vir junto? 
Ele olhou para mim, depois para o preservativo, depois para mim outra vez. 
– Posso gozar fora? 
Fiz cara de reprovação, caminhando para o banheiro.
– Só estou te chamando pra um banho, Bruno. Não seja depravado. - Mas antes de sair da vista dele, voltei a falar: - E sim, você pode gozar fora. 
Obviamente, ele veio atrás de mim.

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