Capítulo 23

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◇◇◇◇
Oi, bom dia amores. Não sei se hoje vou ter tempo de aparecer por aqui pra responder comentários, mas, espero qie gostem do capítulo. Sei que a maioria dos capítulos estão extremamente hot, mas, entendam, eles estão matando a saudade e se acostumando a terem um ao outro por perto.
Boa leitura!!
◇◇◇◇

– Que dia é hoje? - Finalmente perguntei, depois de algum tempo em silêncio. 
– 21 de dezembro. 
Voltei ao meu silêncio mórbido, deixando aquele pedaço de informação escorrer como calda quente de pânico da minha cabeça aos meus pés. 
– Está tudo bem, senhorita? 
Tossi algumas vezes, tentando trazer de volta minha voz.
– Sim, claro. Um… Feliz Natal pra você também, Margarida. 
Ela continuava desconfiada de minha reação estranha, mas finalmente se deu por vencida e pegou o elevador, fazendo com que eu me tornasse a única pessoa naquele andar.
Fechei a porta, tentando abranger todas as possibilidades e o tamanho dos problemas.
Primeiro, eu precisava comprar um presente. E se fosse levar em conta que Bruno havia me dado, para dizer o mínimo, uma casa de presente, esse nível seria difícil de atingir. 
Segundo, eu precisava saber se nós passaríamos o Natal juntos. Pelo que eu sabia, ele tinha família. Em algum lugar do planeta. Era de se esperar que passasse com eles, fazendo com que tudo se tornasse um pouco mais complicado para mim: Se ele fosse e me deixasse aqui, o que eu achava mais provável, as coisas ficariam ainda mais confusas dentro da minha cabeça já perturbada. Se ele me levasse junto, eu entraria em algum tipo de crise de pânico. 
Terceiro, eu precisaria da ajuda de Duda para resolver essas questões. 
Respirei profundamente, tentando oxigenar o máximo possível meu cérebro, e ainda com a mão na maçaneta, fechei a porta. Fiquei algum tempo tentando entender como era possível ficar alheia ao Natal, mas no final das contas, ao lembrar de tudo pelo qual havia passado naqueles últimos três meses, já não estava mais surpresa em estar tão completamente perdida. 
E de repente, o frio invernal da época natalina começou a fazer sentido. 
Decidi que falaria com Duda no dia seguinte, de alguma forma. Infelizmente, isso implicaria em deixar Bruno ciente disso, já que não havia como ter contato com ela sem o intermédio dele, mas eu imaginava que, uma vez deixado claro que o assunto entre nós duas era particular, ele não insistiria em saber do que se tratava.
Como não tinha muito mais o que fazer, e como me preocupar com essas coisas não adiantaria de nada - embora eu não conseguisse deixar de lado a preocupação - resolvi me ocupar com coisas pequenas e aleatórias até o momento em que já não estivesse mais sozinha. 
Fiz uma busca em minhas malas pelo carregador do meu celular, há meses esquecido sem bateria. Quando finalmente consegui ligá-lo, fui bombardeada por milhares de mensagens na caixa postal e ligações perdidas. 
Sem muito interesse, deixei-o em cima da cama sem procurar saber de quem eram as chamadas.
Me permiti ligar o aquecedor da sala e do quarto de Bruno, já que a noite havia trazido um frio ainda mais intenso. 
Tomei um banho quente e, ignorando o arrepio que percorreu minha espinha ao sair do banheiro, vesti a camisa dele que ainda estava pendurada atrás da porta do quarto.
Rumei para minha nova parte preferida do apartamento, achando o interruptor e acendendo as luzes dentro e em volta da piscina. 
Não era demais, nem de menos: A iluminação e a sensação que ela passava ali eram simplesmente perfeitos. 
Toquei a superfície gelada de leve com os dedos, mexendo um pouco com a água, e sentei em uma das cadeiras de madeira, fitando os azulejos iluminados e as ondulações na superfície.
Encostei na cadeira e respirei fundo. Para minha alegria, as coisas pareciam estar se tornando gradativamente mais fáceis. O motivo eu não sabia, mas, diferente de antes, minha cabeça não trabalhava freneticamente em busca de respostas. 
Era como se a exaustão mental pela qual eu estava passando estivesse sendo substituída por algum tipo de aceitação, e embora isso pudesse acabar me machucando a qualquer momento, a sensação de calma fazia com que eu não precisasse remoer pedaços do passado ou dúvidas do que seria o futuro a partir de agora. 
O tempo que fiquei ali era incerto. Embora o dia tenha sido cansativo ajudando Margarida com a casa, eu não estava cansada. Por isso, me mantive acordada, mesmo com o ambiente relaxante. Não sabia que horas eram, e não queria saber, porque isso implicaria em relacionar imediatamente os ponteiros do relógio com a chegada de Bruno, transformando minha paz momentânea em ansiedade. 
Ouvi um barulho muito baixo, o que imaginei ser a porta da sala. Meu coração, como de costume, começou a pular freneticamente no peito, mas me mantive imóvel, tentando com tanta vontade me forçar a ficar calma que deixaria qualquer monge budista orgulhoso. 
Os passos dele foram ficando cada vez mais rápidos conforme o tempo passava, então me perguntei se isso poderia significar um pânico crescente por não me encontrar em nenhum dos outros cômodos. Meu impulso foi gritar para que ele viesse logo e me visse ali, mas me contive, ainda imóvel, enquanto exercitava minha respiração. 
Ele entrou de repente, já se preparando para dar meia volta e continuar me procurando pelo resto da casa. Quando me viu ali, suspirou alto, e me perguntei se essa era sua nova mania ao me encontrar em qualquer lugar.
– Quer, por favor, parar de fugir de mim? 
– Ainda estou dentro da sua casa, não? - Respondi, e me surpreendi com o tom calmo em minha voz, enquanto sentia meu estômago dar voltas de 360 graus em todas as direções. 
Ele não respondeu. 
Ao invés disso, se aproximou devagar enquanto mexia no cabelo. Bruno ainda vestia o blazer enorme de inverno preto, o que o deixava, além de lindo, extremamente elegante. 
Foi quando ele me alcançou que pude notar a única flor que ele trazia em uma das mãos, que agora me era oferecida. Peguei a camélia branca sem pensar, sentindo as pontas dos dedos formigarem levemente, e como se pudesse estudá-la, fiquei olhando para ela por algum tempo. 
As pétalas eram de uma perfeição hipnótica. 
Levantei o rosto, ainda nervosa e sem saber o que responder, mas foi a reação no rosto de Bruno que me fez ficar calada. Sua expressão era de surpresa, seus olhos estavam iluminados com um brilho intenso, sua boca esticada em um sorriso torto tão absurdamente lindo que fez com que meu estômago desse mais algumas voltas involuntariamente. 
A percepção do que estava acontecendo veio como um estalo, e então me dei conta de que eu mesma estava sorrindo de forma simples e verdadeira. 
O presente inesperado fez com que eu esquecesse de armar minha barreira contra Bruno da forma que vinha fazendo, e sem querer deixei escapar o que realmente estava sentindo. Isso pareceu iluminá-lo de uma forma inexplicável, mas quando entendi o que estava acontecendo, abaixei o rosto um pouco mais constrangida do que deveria. 
– Obrigada. - Falei de forma simples. 
– Que bom que você gostou. - Ouvi sua voz dizer acima de mim, e então senti o toque suave de seus dedos em meus cabelos, trazendo para trás da orelha uma grande mecha que servia como uma espécie de cortina entre nós dois.
Sem saber o motivo, minha voz pronunciou o primeiro pensamento que me veio à cabeça. 
– Você esqueceu de me falar de uma pessoa.
Ele parou por um momento, tentando processar a informação. Olhei para ele e vi que, agora, Bruno parecia querer entender de quem exatamente eu estava falando. E pelo que tudo indicava, ele suspeitava da pessoa certa. 
– Hoje é segunda, não é? - Ele perguntou, em uma voz baixa. 
– É.
– Ahm… Então, você e Margarida se conheceram? 
– Sim. 
Ele sustentou meu olhar, fazendo uma pergunta interna para si mesmo e decidindo se deveria ou não verbalizá-la. 
– Ela te tratou… Direito? 
Eu conhecia Margarida havia menos de 24 horas, e ainda assim poderia dizer que ela trataria “direito” qualquer pessoa. 
Bruno, conhecendo-a por alguns anos, sabia disso muito melhor do que eu. Mas o fato era que eu sabia do que ele realmente estava falando.
– Ela me tratou como as outras. Mas a culpa não foi dela. 
Sua expressão se contorceu no que parecia ser um desespero contido. Ainda conseguindo adotar uma voz surpreendentemente calma, continuei: 
– Eu expliquei a situação… Bem, mais ou menos. Ela entendeu, então está tudo bem. 
– Me desculpa. - Ele se apressou em dizer - Eu era diferente… 
– Tudo bem. - Menti. 
Embora eu não tivesse o direito de ter ciúmes de qualquer mulher que Bruno teve ou deixou de ter, simplesmente não conseguia conter a raiva em imaginá-lo com tantas outras.
E levando em consideração o meu passado, isso fazia com que aquela situação soasse ridiculamente irônica. 
Ele continuou me encarando com uma expressão de arrependimento, e quando nenhum de nós dois tinha mais o que falar, me levantei.
– Está frio aqui. Acho que o aquecedor não chega até essa parte da casa. - Falei em um tom casual. 
– Essa blusa é minha? 
Senti meu rosto queimar de vergonha. Eu havia esquecido que, primeiro, estava vestindo só uma camisa, e que, segundo, havia pego uma peça de roupa dele sem pedir permissão. 
– É… É que eu fui pega de surpresa essa manhã, foi a primeira coisa que encontrei no seu closet… Desculpa, eu não tive tempo… 
– Fica muito melhor em você do que em mim. - Ele me interrompeu, enquanto seus olhos famintos varriam meu corpo de cima a baixo sem a menor discrição.
Fiz uma força sobre-humana para não deixar o arrepio que percorreu minha espinha se transformar em um tremor constrangedor, desviando o olhar e caminhando para a porta com mais pressa do que o necessário.
Rumei para fora com Bruno atrás de mim. 
À medida que sentia o calor do aquecedor se chocar contra minha pele com maior intensidade, me senti cada vez melhor. Quando parei, sem perceber, me vi de pé ao lado da cama dele, e eu sabia que minha atitude, mesmo automática, o havia deixado feliz outra vez. Me mantive de costas para não ver o sorriso presunçoso de vitória que eu sabia estar em seu rosto, e comecei a me xingar pela minha mais nova e irritante mania de agradá-lo sem querer. 
– Eu vou tomar um banho rápido. - Ele começou, interrompendo meus pensamentos enquanto tirava seu blazer pesado - A TV é toda sua.
Não respondi, mas Bruno parecia estar se acostumando à minha falta de modos. Então, sem dizer mais nada, entrou no banheiro e me deixou ali sozinha.
Respirei fundo e decidi fazer algo que já deveria ter feito, caso tivesse tido a oportunidade. 
Achei um jarro comprido de decoração e o enchi de água, depositando minha camélia dentro e colocando-a em meu quarto. Revirei por algum tempo nas malas, finalmente encontrando o que procurava na última bolsa. 
Retirei de lá uma pasta com alguns envelopes, escolhendo dentro de um deles um papel específico. Guardei tudo outra vez e, por fim pegando uma caixa de comprimidos, voltei ao quarto dele, sentando-me na cama enquanto esperava que Bruno saísse do banho. 
Algum tempo depois, a porta foi aberta e eu tive que esperar um pouco para que meus pensamentos, antes na ponta da língua, voltassem a fazer sentido. 
Tudo isso porque o desgraçado, obviamente de propósito, vestia nada além de uma boxer azul-marinho que delineava os músculos das pernas e do abdômen com uma perfeição angustiante. Seus cabelos estavam completamente molhados e o cheiro do sabonete nele me deixava um pouco tonta. 
– Não está muito frio pra isso? - Perguntei, sentindo uma raiva irracional do meu próprio descontrole. 
– Não. Aqui está um forno, o aquecedor está forte demais.
– Então diminua o aquecedor e ponha uma roupa. 
– Por quê? 
Para que eu possa parar de babar como um cachorro faminto.
– Você vai pegar um resfriado. 
– Não se preocupe com a minha saúde. O que é isso? 
Bruno apontou para os itens em minhas mãos, me fazendo lembrar do que eu deveria fazer.
– Coisas que eu queria te mostrar. 
Ele se sentou ao meu lado na cama - excessivamente perto, fazendo com que todos os perfumes do banho recém tomado me aturdissem mais um pouco - e analisou com interesse o papel que eu segurava.
– São exames. - Comecei, entregando a ele a folha dobrada - Eu sempre fiz a cada três meses. Você sabe, exames de rotina necessários pra… mim. 
Aquele assunto era delicado, e se eu não tomasse muito cuidado com as palavras, nossa noite se tornaria extremamente desagradável de uma hora para outra. Naquela folha estavam exames que provavam o que eu havia dito a ele na noite anterior: eu estava limpa de qualquer doença que pudesse vir a ter por causa do meu passado. 
– Esses exames foram feitos há um mês atrás. - Indiquei com o dedo a data na extremidade superior do papel - E eu juro que não estive com ninguém, desde o dia em que você foi embora até o dia que você voltou. 
– Eu acreditei ontem. - Ele disse, numa voz baixa e um pouco seca, mas ainda analisando o que dizia o papel. 
– Mesmo assim, pra você não ter dúvidas… 
– Eu parecia ter alguma dúvida ontem, quando te comi três vezes sem camisinha? 
– Eu só queria provar, ok? - Me surpreendi com minha própria voz, que saiu mais alta e mais séria do que jamais havia ouvido antes. 
Bruno pareceu notar isso também, então tudo o que fez por um bom tempo foi me encarar com uma expressão séria, mas leve. 
Então, sem ter mais nenhuma forma de levar o assunto adiante, ele finalmente se rendeu.
– Ok.
Tirei o papel de suas mãos com um pouco mais de força do que desejava, mas não me desculpei.
– Esse é o anticoncepcional que eu tomo. - Mostrei a cartela com os comprimidos, ainda no início - Você também não vai ser pai antes da hora.
Ele encarou a embalagem em suas mãos, sem dizer nada. Suspirou profundamente, me entregando de volta sem nenhuma reação.
– É uma pena que você precise me mostrar essas coisas pra se sentir melhor. 
– Eu achei que você fosse ficar mais tranquilo se visse. 
– E eu achei estar claro que confio em você. Não precisa me provar nada, basta dizer e eu acredito. Por acaso eu também preciso mostrar algum exame pra que você tenha certeza… 
– Você sabe que é diferente!
– Não é. Minha palavra deveria valer pra você a mesma coisa que a sua vale pra mim. E se isso não significar nada, devo lembrá-la que eu também já tive muitas mulheres?
– Não precisa. - Falei seca. 
Outra vez, ficamos em silêncio. 
Infelizmente, aquele se tratava do silêncio antigo, o velho conhecido que se expandia entre nós de uma forma desagradável. Sem pensar, tomei de volta os remédios da mão dele e me levantei rapidamente, na iminência de correr para o meu quarto e ficar por lá. 
– Não me deixa sozinho aqui. Por favor… - Ele falou, segurando meu braço sem força, mas com firmeza. 
– Vou dormir no outro quarto essa noite. 
Me desvencilhei de seus dedos e saí sem olhar para trás. Entrei no meu quarto, fechando a porta atrás de mim. Joguei em cima do criado mudo as coisas que trazia nas mãos e fui escovar os dentes. Não me preocupei em ligar o aquecedor, apagando a luz e me enfiando de uma vez só por baixo das camadas do edredom fofo e quente, mergulhando na quase total escuridão do quarto, que só era comprometida pela pouca luz que vinha do lado de fora e entrava pela janela. 
Fiquei ali remoendo aquele sentimento ruim, sem sequer saber o motivo de estar sentindo aquilo ou o que poderia ser. Me cobri até a cabeça, tentando ficar mais tranquila, mas não conseguia. 
Por que eu estava irritada com Bruno, afinal? Só porque ele queria confiar em mim e eu não deixava? Isso fazia algum sentido?
Qual era o meu problema? 
Fiquei imóvel, esperando o sono chegar, mas ele não veio. Talvez porque eu não estivesse cansada, mesmo depois de um dia de trabalho, ou talvez - e o que era mais provável - porque eu estava angustiada com a ausência dele. 
Embora não quisesse admitir, eu desejava desesperadamente que ele entrasse por aquela porta a qualquer momento, nem que fosse para perguntar qualquer coisa idiota.
Conforme o tempo passava, eu ia me convencendo de que ele não apareceria. 
Considerei a hipótese de me levantar e ir dormir ao seu lado, mas logo desisti da ideia ao chegar à conclusão de que se Bruno ainda não havia ido me ver, é porque não queria me ver.
A escuridão do quarto se tornou sufocante. 
Uma chuva fina começou a cair do lado de fora, fazendo um barulho tão discreto contra as janelas de vidro que talvez eu não notasse, se não estivesse prestando atenção. 
De repente, senti um nó na garganta, o tipo de dor que eu sabia que precedia o choro. Tentei me sentir menos sozinha, convencendo a mim mesma de que, no fundo, eu não passava de uma criança idiota e carente, e que, pelo amor de Deus, ele estava no quarto ao lado!
Me dando conta pela primeira vez da dependência que havia desenvolvido da sua companhia, cheguei à conclusão de que não obteria sucesso. 
Então, fui pega de surpresa com o barulho da maçaneta na porta. Mantive meus olhos abertos, voltados para a janela, de costas para ele, e por algum motivo que eu não saberia explicar, fingi estar dormindo. 
Ele ficou em silêncio por algum tempo, talvez observando meu “sono”. Mas o momento foi rápido, então ouvi a porta ser fechada outra vez. Amaldiçoei minha covardia por deixá-lo ir embora daquela forma, sendo que tudo o que eu queria era tê-lo ali, comigo. Mas nenhuma das minhas atitudes ultimamente faziam sentido, então não era como se de repente eu fosse ter algum surto de sobriedade. 
Meus xingamentos imaginários foram interrompidos com o que senti logo em seguida. O colchão ao meu lado afundou lentamente, o edredom sendo suavemente puxado, e no segundo seguinte, um braço contornava minha barriga e um nariz respirava em meu pescoço.
– Desculpa se eu fui grosseiro. Não era minha intenção. 
Não respondi, completamente imóvel, deixando que a presença de Bruno ali me cobrisse pouco a pouco com uma alegria quente e maravilhosa. 
– Só queria que você entendesse que eu confio em você. Não importa o que aconteceu ou deixou de acontecer na sua vida, eu só preciso ouvir o que você tem a dizer. Me desculpa se te magoei de alguma forma. 
– Tudo bem. - Eu falei, instintivamente agarrando com força a mão que ele mantinha na minha barriga. 
Eu queria dizer mais do que “tudo bem”, queria dizer que ele não precisava pedir desculpas por algo que não fez, e queria dizer que a grosseria naquela situação havia partido de mim. Mas tudo o que consegui fazer foi me agarrar ao seu braço com toda a força e aproveitar o alívio e a leveza de tê-lo comigo outra vez. Bruno aplicou beijos suaves e inocentes em meu pescoço, fazendo um tipo de carinho com os dedos na minha barriga. 
– Você disse que queria dormir nesse quarto, mas não falou nada quanto a dormir sozinha. 
Ele pontuou a frase abrindo o botão de baixo da camisa que eu vestia, e de repente notei que a única coisa inocente ali era eu. 
– Posso ficar aqui com você? - Ele perguntou ao pé do meu ouvido, suas mãos percorrendo a extensão da camisa e fazendo com que mais três botões fossem desabotoados com uma rapidez assustadora. 
– Não acho que nós vamos conseguir dormir se você continuar fazendo isso. 
Reuni toda a força que existia em mim para pronunciar as palavras sem deixar escapar um gemido. Talvez eu mesma estivesse guiando sua mão para os botões restantes, eu não saberia dizer. 
– Eu não perguntei se podia dormir aqui. 
Soltei o ar com força, sentindo meu corpo ferver por debaixo do edredom, enquanto a ponta dos dedos de Bruno faziam círculos deliciosamente provocantes que iam do meu umbigo até os limites das áreas mais sensíveis do meu corpo. 
- Você pode fazer o que quiser, contanto que fique aqui… 
Era para ser um pensamento, mas é claro que saiu em alto e bom som. Mesmo assim, não me importei em ficar constrangida, porque isso implicaria em deixar de aproveitar todas aquelas sensações que as benditas mãos dele me davam enquanto exploravam meu corpo.
E não poderia haver nada no mundo que me tirasse da nossa bolha particular.
Bruno me virou lentamente, enquanto abria o último botão ainda fechado na blusa que eu vestia. 
Outra vez, agi por impulso, agradecendo em silêncio por não estar raciocinando, e beijei-o às cegas, com tanta vontade que meus lábios doeram.
Ele me puxou para perto dele, retirando completamente a camisa que eu vestia, e senti seu peito incrivelmente quente tocar o meu.
Ele nos virou na cama, se deitando em cima de mim e depositando beijos molhados e luxuriosos por toda a extensão do meu peito exposto. Imaginei estar me sentindo bem com a escuridão no quarto por fazer com que minha vergonha fosse menor, mas a verdade era que tê-lo daquela forma - nas sombras e, ao mesmo tempo, tão entregue - estava me excitando de uma forma perigosa. 
Me dei conta de que, em algum momento, ele havia acendido o abajur do criado mudo, e ao invés de me incomodar, senti uma grande satisfação em poder enxergar o que ele fazia agora. 
Sua boca foi descendo pela minha barriga, deixando um rastro molhado que se tornava automaticamente gelado pelo ar invernal. Conforme ele descia, carregava consigo o edredom, e quando sua língua decidiu parar no meu umbigo e brincar um pouco por ali, senti o frio do quarto se chocar contra minha pele, mas o ignorei. 
Apertei os dedos nas mechas de seus cabelos quando Bruno resolveu puxar para baixo minha calcinha, de forma torturante e lenta. 
Sua língua ainda explorava os vários pontos sensíveis em meu umbigo, e eu tinha total noção de que me contorcia nos lençóis feito peixe fora d’água. 
– Posso te perguntar uma coisa? 
– Pode fazer o que quiser… - Tentei falar sem parecer ofegante demais, mas falhei miseravelmente. 
– Já fizeram oral em você?
Suas palavras me colocaram em choque imediato, e minha reação involuntária foi fechar as pernas, mas ele foi mais rápido. Com firmeza, mas sem me machucar, senti suas mãos segurarem minhas coxas e afastá-las novamente, se colocando agora perfeitamente entre elas.
– Ninha… - Ele começou, chamando novamente minha atenção - Já chuparam você? 
– Não! - Respondi, minha voz mais estridente do que o normal, enquanto, inconscientemente e com desespero, tentava soltar suas mãos das minhas pernas. 
– Não quer saber como é? 
– Não! - Gritei, ainda desesperada. 
– Por que não? 
Eu ia tentar responder, mas nesse momento Bruno resolveu descer sua boca até meu centro nervoso e jogar lufadas de ar propositalmente intensas ali, sem sequer encostar em mim, mas fazendo com que meus olhos revirassem nas órbitas. 
– P-pára! 
– Por que não quer saber como é? 
Cada letra sibilada que ele pronunciava resultava em novas sensações, porque sua maldita boca estava tão próxima a mim que seus lábios, ao se movimentarem, me tocavam sem querer (ou não), de uma forma extremamente suave, mas que estava me deixando completamente louca. 
– Eu não sei! - Falei, quase em um sussurro, sendo absolutamente sincera quanto ao motivo pelo qual eu tentava impedi-lo de continuar. Eu não sabia como era, porque nunca havia sido tocada daquela forma, mas não era ingênua a ponto de não saber que devia ser muito, muito bom. 
– Por que não me deixa fazer isso? Pode confiar em mim. Você manda eu parar, eu paro. 
Meu controle estava se esvaindo rápido demais. A expectativa e a sensação de ter seu rosto a centímetros do ponto onde eu queria que ele me tocasse estavam me deixando tão absurdamente excitada que tive que reunir toda a força existente em mim para conseguir me manter consciente. 
Nunca poderia imaginar o quão sensível eu era naquela área, mas Bruno estava ponto à prova toda a minha resistência.
Não respondi, e como afronta, ele suspirou de forma proposital. Meu corpo tremeu violentamente, então senti meus músculos se contraírem com tanta intensidade que chegaram a doer. 
Fechei os olhos com força, provavelmente arrancando mechas de cabelo da cabeça dele com meus dedos desesperados. 
– Eu já sonhei com seu cheiro mais de uma vez. - Ele começou - Mas você é mais doce do que eu pensava. 
Ele inspirou profundamente, e sem saber exatamente como ou quanto tempo levou, meu corpo se contorceu em uma explosão de prazer tão grande e quente que, por um bom tempo, fiquei completamente aturdida e fora de órbita.
E assim, sem mais nem menos, eu gozei. 
Esperei de olhos fechados minha respiração normalizar. Meus dedos, ao contrário do resto do meu corpo, estavam gelados e doídos pela força que eu fazia. Estava frio, eu sabia, mas mesmo assim não conseguia sentir. 
À medida que fui voltando a mim, fui sentindo novamente o toque das mãos dele envoltas nas minhas pernas e sua respiração fraca ainda no mesmo lugar.
O silêncio foi suficientemente longo a ponto de permitir que eu voltasse do clímax e ainda conseguisse notá-lo.
Abri os olhos lentamente e olhei para baixo, encarando-o, sem saber como agir. 
– Você gozou? 
Ele parecia mais confuso e aturdido do que eu, mas tudo que pude fazer foi confirmar com a cabeça. Bruno continuou me encarando por algum tempo, e por um momento tive uma visão do que seria sua reação explosiva.
Outra vez, tarde demais.
Senti sua aproximação violenta, enquanto suas mãos apertavam minhas pernas com a força necessária para deixar marcas. 
Mas a dor era a última coisa que eu poderia sentir naquele momento, simplesmente porque a língua dele estava dentro de mim, e de uma forma nada convencional.
Os movimentos eram precisos, fazendo com que meu corpo ondulasse pelo colchão. Era de se imaginar que ele fosse bom naquilo, não só porque costumava ser bom em tudo - principalmente no que dizia respeito a sexo - mas porque ele teve bastantes oportunidades de ganhar experiência. 
Ainda assim, eu não imaginava que seria necessário tentar impedir que meu corpo explodisse em um novo orgasmo tão cedo.
Assim, tive que me refrear para não chegar ao clímax outra vez entre mordidas estratégicas, beijos intensos e lambidas provocantes. 
Se senti-lo respirar contra minha pele sensível havia sido bom, não havia palavras que descrevessem a sensação de ser chupada por ele. 
A intensidade do prazer resultou em algum tipo de reação estranha, então me dei conta de que minhas mãos e meus pés ficaram completamente dormentes.
Não me importei. 
Se o informasse disso, Bruno acabaria parando o que estava fazendo para me dar alguma assistência médica, mas a última coisa que eu queria era que ele parasse. Minhas mãos pendiam soltas nas mechas dos seus cabelos, sem fazer força. Minha boca estava completamente seca, e talvez eu estivesse prestes a ter alguma coisa muito séria, mas me permiti ser irresponsável e não interromper a melhor noite de sexo da minha vida. 
Para o meu desespero, meu segundo orgasmo se aproximou com uma força inesperada.
– Br… Eu vou g… 
Puxei seus cabelos para cima com força, tentando fazer com que ele saísse dali, mas Bruno era muito mais forte do que eu, e ao que tudo indicava, não iria a lugar algum. Por isso, não foi difícil segurar meus pulsos com força e me deixar completamente atada, me impedindo de fazer qualquer coisa que fosse. 
Gritei de prazer enquanto sentia sua língua me penetrar no ritmo dos espasmos, minha cabeça ficando completamente vazia e meu rosto tanto quente quanto dormente. Minha garganta doía, resultado tanto dos gritos quanto da força que eu havia feito para não gritar ainda mais. Meu corpo se assemelhava a fios desencapados, sentindo uma pontada de choque em cada centímetro que o corpo de Bruno entrava em contato com o meu. 
Ele se levantou completamente ofegante e me encarou. Meus olhos, possivelmente desfocados, conseguiam ver apenas um borrão da silhueta dele, logo acima de mim. 
– Vai ser rápido, eu prometo. - Ele disse, e mais uma vez me senti ser invadida.
Dessa vez, ele havia me penetrado da forma convencional, deixando seu corpo pesar sobre o meu enquanto fazia movimentos bruscos e fortes dentro de mim. 
Eu não conseguia respirar direito, mas isso não era importante. Fui surpreendida por um beijo, me sufocando ainda mais, e imediatamente identifiquei o gosto diferente na língua dele. 
– Você é uma delícia…
Embora eu discordasse, aquelas palavras fizeram o efeito que deveriam fazer. Pela terceira vez, meu corpo começou a queimar e se contorcer em espasmos curtos, servindo como aviso de que uma nova onda de prazer me assolaria em pouco tempo. Tirando forças não sei de onde, envolvi minhas pernas em seus quadris, reforçando o movimento que ele fazia dentro de mim, e me deixando sentir as ondas do corpo dele ditarem nossa dança sincronizada. 
Como ele havia dito, foi rápido.
Alguns minutos depois, me senti ser preenchida pelo gozo quente dele, que escorria dentro de mim como prova de uma noite perfeita e incrivelmente prazerosa. Como se não bastasse, de alguma forma - e eu não sabia como aquilo podia ser sequer possível - consegui ter um quarto orgasmo, o que foi o suficiente para fazer com que meu corpo parecesse gelatina derretendo. 
Me mantive muito quieta, incapaz de dizer qualquer coisa, enquanto me concentrava no som que sua respiração, gradativamente mais calma, fazia perto do meu ouvido. 
Minhas mãos e pés começavam a formigar um pouco, me fazendo lembrar que eu ainda tinha extremidades. Aos poucos, voltei a sentir o frio do quarto se chocando contra minha pele um pouco úmida, e dei graças a Deus que o corpo dele estivesse me cobrindo.
Depois de um longo tempo em silêncio, me fazendo pensar por um momento que ele havia adormecido, Bruno se levantou devagar, me deixando completamente exposta e com frio. Não fiz força para abrir os olhos, esperando que ele entendesse o que estava acontecendo comigo. Não era cansaço, era diferente. 
Senti meu corpo ser suspenso com facilidade do colchão quente, mas não me importei. Segundos depois, estava embaixo de uma ducha morna e revigorante, me fazendo voltar um pouco à realidade e me dar conta de que, afinal, eu conseguia ficar de pé. 
Notei também que os braços dele estavam em volta de mim, tentando ao mesmo tempo me ensaboar e não me deixar cair.
– Tudo bem… Pode deixar. - Consegui falar, num tom de voz muito baixo. 
Mesmo assim, ele pareceu entender, então tratei de me lavar enquanto Bruno apenas se mantinha atento a mim e à minha falta de coordenação motora.
A ducha foi desligada, e eu já me sentia mais alerta. 
Fiz menção de pegar a toalha de suas mãos, mas ele ignorou minha atitude e me secou como se eu fosse uma criança de cinco anos. Não reclamei, mas achei engraçado. 
Fui levada de volta à cama, me cobrindo com o edredom ainda quente e fofo. Ouvi um ruído agradável do aquecedor, agora ligado, e esperei que o calor fosse o suficiente para fazer com que eu parasse de tremer. Virei de lado e me cobri até o rosto, esperando pela aproximação dele. 
Quando já estava começando a me sentir deprimida pela demora, senti o colchão afundar ao meu lado, e no segundo seguinte seus braços já me abraçavam por trás outra vez, formando uma concha protetora ao meu redor. Sem pensar, coisa que eu estava adorando fazer, me aproximei mais dele, sentindo sua pele fresca e perfumada colada à minha, e finalmente suspirei. 
– Agora… Posso dormir aqui? 
– Você realmente pode fazer o que quiser. - Respondi, num tom baixo. 
– Não me provoque. - Ele sorriu contra meu pescoço, me trazendo mais para perto dele e me abraçando com mais força. 
– Não estou provocando. - Respondi, dizendo a verdade - Pelo menos, não de propósito. 
– Então pare de ser provocante sem querer. 
Sorri sem motivos, ainda contente em senti-lo tão próximo.
Ficamos calados outra vez, e minha alma parecia mais tranquila ao constatar que era o silêncio confortável que estava lá. 
Ao que tudo indicava, nosso convívio tornava-se menos complicado aos poucos. Imaginei até onde iria se me permitisse fazer tudo por impulso, já que o maior dos meus problemas era pensar demais.
Imaginei um dia em que seríamos um casal qualquer, sem contas a resolver, sem motivos para ter medo de nos expressarmos, e como seria bom estar ao lado dele sem o receio de pescar do passado, acidentalmente, qualquer coisa que o magoasse. 
Qualquer coisa que me magoasse. 
Cheguei à conclusão de que, talvez, esse dia jamais acontecesse, e uma pequena pontada de decepção brotou em mim, abalando um pouco, mas não completamente, a alegria que eu estava sentindo. Ainda assim, se antes eu me agarrava à ideia de que tê-lo era impossível, agora minha racionalidade já havia admitido abertamente a derrota, me permitindo sonhar com meu conto de fadas particular.
E não importava do que meu lado pessimista tentasse me convencer: Se o príncipe em questão fosse Bruno, com todos os seus defeitos e suas complicações, então definitivamente era um sonho pelo qual valia a pena ter esperanças.

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